Calendário de festas
Neste ano, de modo contrário aos anteriores, tive vontade de ir à Festa do Bonfim. Já faz algum tempo que a festa perdeu os trios elétricos, ficou mais espaçosa e confortável, mas conserva a alegria do espírito sagrado-profano das pessoas na rua, que caracteriza as festas populares na Bahia. O foco retornou à celebração intimamente ligada à data religiosa, como em sua origem.
Lembro daquele único ano em que fui a pé até o Bonfim. Bebendo, brincando, acompanhando as bandas e batucadas. Em tempos de estudante, com pouco dinheiro no bolso, as festas populares eram sempre ótimas e baratas opções. Só era preciso o dinheiro da cerveja. O retorno do Bonfim é que foi doloroso. Sem dinheiro para o táxi, o jeito foi vir andando, morto de cansaço, até alcançar algum ônibus.
Eu não trabalhava, pois não dava tempo para conciliar com o horário do curso na Universidade Federal, com aulas espalhadas pela manhã e pela tarde. Ou se estudava ou se trabalhava. Só se começava a estagiar no final da Faculdade, quando a responsabilidade começava a gritar e algumas matérias, já profissionalizantes, eram oferecidas durante a noite.
Lembro de uma vez em que sai quase correndo do estágio em uma empresa do Pólo Petroquímico de Camaçari, fingindo que tinha trabalho escolar para fazer e me dirigindo celeremente ao Rio Vermelho, para a festa de Iemanjá, em fevereiro. A recompensa valia. Som, alegria, dança, amigos, cerveja.
Uma vez rolou uma feijoada na casa de uma amiga, lá mesmo no Rio Vermelho. Além dos meus conhecidos, havia a presença de componentes da banda Chiclete com Banana e de Carlinhos Brown, antes de se tornarem estrelas nacionais. Brown sentado no chão da cozinha. Magro, com cara meio enfezada, tênis americano, grande óculos escuros, já inaugurando a mistura do tribalismo baiano com o multiculturalismo globalizado. Uma captação antecipada de tendências. A amiga, dona da casa, então estudante de comunicação, logo a seguir viria a fazer a assessoria de imprensa do cantor.
A feijoada foi uma delícia. Era início da década de 90, éramos mais jovens, mais tolos e achávamos que a vida era só alegria - ou apenas queríamos acreditar nisso.
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