28.6.05

Depois do exílio

O encontro de pai e filho na Argentina dos anos oitenta, imediatamente após a ditadura militar, é retratado no filme Ilusão de Movimento (Argentina, 2003), de Hector Molina. Gerardo (Carlos Resta) regressa a Rosario, sua terra natal, para conhecer David (Matías Grappa), de sete anos, de quem desconhecia a existência. A mãe do garoto fora assasinada durante o regime militar. O pai tenta se aproximar do filho, que, por sua vez, mantém certa distância.

O cinema argentino atual vem produzindo excelentes trabalhos, mas não é o caso de Ilusão de Movimento, marcado por direção e montagem irregulares. Há cortes abruptos, que não proporcionam continuidade da narrativa de forma agradável. As sequências basicamente intercalam a convivência de pai e filho com as lembranças em preto-e-branco da violência da ditadura. O resultado é pífio tanto em uma situação como na outra. Arrisque por conta própria.

27.6.05

Carnaval, que nada


Alguém ainda duvida que o São João é a festa mais popular do Brasil? Enquanto o Carnaval torna-se cada vez mais elitista, pois é preciso pagar para participar de blocos, camarotes e escolas de samba, os festejos de São João são mais democráticos. Em cada pequena cidade há pelo menos um trio de sanfona-zabumba-triângulo tocando. E muita gente participando. Gente que mora no campo, ou perto dele, e não tem muitas opções de diversão.

A festas juninas fazem o resgate orgulhoso das origens rurais da população brasileira. No Nordeste, a cada ano as comemorações vêm obtendo mais espaço na mídia e atraindo visitantes, ajudando a consolidar a indústria do turismo em época também de inverno. Viva São João!

26.6.05

Fim de festa

O São João foi de muita chuva na Bahia. A chuvarada impediu até os passeios no Pelourinho para conferir a decoração. A cidade ficou vazia com o êxodo, desta vez urbano.

Antes do feriado, as lojas dos shoppings estavam cheias de gente procurando roupa para vestir nas festas. Vi loja com fila na porta, com acesso controlado para entrada dos clientes. Uma loucura. Um amigo comentou que, também e principalmente entre as pessoas que moram na zona rural, é tradição comprar roupa nova no São João.

Na quinta-feira à noite fui para a casa de amigos que fizeram uma delícia de ceia junina, com bolos, salgados, patês e um prato quente. Uma especialidade mineira: canjiquinha com bisteca de porco. A canjiquinha é feita com o milho quebrado (chamado de quirera ou xerém) e cozido, formando uma espécie de pirão. É muito bom. O autor do prato em breve estará lançando um site de culinária.

No sábado fui, até que enfim, conhecer o restaurante La Lupa, no Pelourinho, que ganhou o título de melhor italiano da cidade, concedido pelo guia Veja. De entrada, pedi bruschettas, que estavam deliciosas, em três versões: tomates picados em suave vinagrete, azeitonas pretas e berinjelas. O prato principal foi papardelle (uma massa chata e larga) com cogumelos porcini secos e camarões.

Quer saber o que achei? Esperava mais do prato, que era a sugestão da Veja. Estava bem feito, mas achei que o sabor forte do funghi se sobrepôs demais ao do camarão. O creme que envolvia a massa tinha um toque de acidez, possivelmente era aceto balsâmico. Prefiro o creme mais suave. Havia também, ao meu ver, salsa em demasia. Da próxima vez, vou tentar outro prato.

25.6.05

Cara e focinho novo

Ufa! Depois de várias horas de trabalho, consegui alterar a cara do blog. O template anterior começou a dar um problema, tentei consertá-lo, desisti. Parece que o modelo foi alterado no servidor. Bom, foi a oportunidade para mudar o visual da página.

Primeiro, tratei de fazer backup dos textos. Depois alterei o modelo do blog no servidor e fui fazendo as alterações: links, comentários, contador. Fui catando milho, trabalhando no código html da página. Até que demorei menos que na primeira vez que trabalhei na edição.

Horas depois, eis a nova cara. Nada foi perdido, nem textos, nem comentários. A fonte está maior para facilitar a leitura. Espero que os meus caros leitores gostem.

21.6.05

Blogs
Atualizei os links aí ao lado. Consertei alguns endereços e adicionei novos.
Eles estão de volta

Depois de um tempo sem aparecer, os camarões voltaram a reluzir nas mesas e na minha cozinha. A pesca estava proibida, pois era época de reprodução. Agora, eles estão de volta, e o que é melhor: graúdos. Trouxe de Ilhéus alguns pacotes de camarões rosa. Vieram com casca, mas sem as cabeças. O primeiro pacote já foi para a panela – e para o estômago.

Sempre fico em dúvida no preparo dos camarões. Eles cozinham com a casca? Melhor descascá-los ainda crus? Os camarões são misteriosos. O que tenho certeza é que, ao lavá-los ainda crus, não se deve jogar vinagre ou suco de limão diretamente neles, pois ficam borrachudos. Para tirar a maresia, costumo colocar um pouco de vinho branco no cozimento.

Ok, com essas informações e sem disposição para tirar as cascas, dei uma fervida rápida só com água. Evitei o sal para não desidratá-los. Depois passei na manteiga, salpicando um pouco de sal com alho. Para arrematar, um pouco de manjericão seco, posto no final, para não queimar. Ficou uma delícia.

Algumas pessoas dizem que os camarões devem ser preparados e consumidos com as cascas, para preservar o sabor. Acredito que só os maiores exemplares – e fritos - podem ser desse jeito. Não faz sentido servir camarões com casca no bobó, moqueca ou outro prato com caldo. Definitivamente, não fica bom.

Os camarões colocados no molho dos abarás e acarajés, servidos nas ruas da Bahia, têm as cascas preservadas. É impossível retirar a casca do camarão seco e defumado, ingrediente com o qual normalmente se prepara o acompanhamento dos bolinhos típicos baianos.

No dia seguinte ao cozimento, peguei os camarões que restavam na geladeira, em torno de meio quilo, e descasquei-os. Quando os camarões estão frios é mais fácil para descascá-los. Parece que a casca fica mais solta. No mínimo, não há o risco que queimar as mãos.

Piquei uma cebola, refoguei na manteiga até deixá-la transparente. Piquei um tomate, coloquei junto e continuei a refogar. Pus um pouco de sal com alho, adicionei os camarões descascados. Por fim, um pouco de manjericão seco, mais ou menos uma colher de chá. Deixei tomar gosto. Juntei um pouco do peixe cozido e desfiado que repousava (isto é, estava sobrando, hehehe) na geladeira. Deixei tudo esquentar bem e joguei uma caixinha de creme de leite. Mais um pouco de sal. E só. Servi com espaguete. O queijo ralado não foi nem necessário. Vou deixar a modéstia de lado e informar que ficou muito bom. De deixar saudade. Uma delícia.

Está na hora de apreciar o sabor dos camarões. Eles estão grandes e fáceis de achar a preço bom. É o momento de aproveitar enquanto a horda de turistas não chega, parecendo gafanhotos, devorando e inflacionando tudo. Ainda não é verão, os hotéis e restaurantes ainda não empreenderam a cozinha-extermínio de camarões.

17.6.05

Livros, frio e calor

As águas do rio Guaíba, em Porto Alegre, devem conter algum fermento que faz crescer uma população de escritores ao seu redor. Estava tranqüilamente a ler Berkeley em Bellagio, do gaúcho João Gilberto Noll, quando me deparo com uma referência ao belo rio-lago. Lembrei logo do fantástico pôr-do-sol às suas margens, que tive o privilégio de ver na última viagem que fiz. Nunca pensei que, em um lugar sem litoral, pudesse haver um espetáculo como aquele, que rivaliza com os melhores fins de tarde da praia do Porto da Barra, em Salvador.

Começo a ler Na mesa ninguém envelhece, livro de crônicas gastronômicas de um jornalista e apresentador de TV. Descubro que o autor, José Antônio Pinheiro Machado, é gaúcho. E lá está novamente o Rio Guaíba, passeando entre as páginas do livro.

Na frente das câmeras, o jornalista encarna o Anonymus Gourmet, personagem-cozinheiro criado no seu livro O brasileiro que ganhou o Prêmio Nobel, que comanda panelas e ingredientes em programas de culinária na TVCOM e RBS TV, ambas gaúchas.

No Rio Grande do Sul não há apenas muitos e bons escritores. Há editoras de grande porte, de alcance nacional. Também como estímulo à escrita, suspeito que o clima frio predispõe à concentração, estimula a introspecção e desencoraja as saídas noturnas. Coisas que parecem importantes para a criatividade. Vento frio, chazinho, agasalho. Sofá, poltrona ou cama, que tal? Tudo dá vontade de ficar em casa. A imaginação começa a correr solta - sobre o que pode está acontecendo ou pode acontecer lá fora.

Aqui na Bahia, temos que aturar um calor incessante. No atual pleno inverno, eu, por exemplo, durmo com o ar-condicionado ligado. Por aí dá para imaginar no verão. É dureza agüentar o calor em casa. Os baianos, escritores ou não, parecem preferir sair pulando atrás das estrelas dos trios elétricos e da axé-music, tomando muita cerveja gelada.

Todo calor e agitação da Bahia, no entanto, não impediram o despontar do brilho de Jorge Amado e de João Ubaldo Ribeiro. Este último, aliás, quando homenageado como tema de Carnaval, publicou uma crônica deliciosa sobre a sua emoção de receber a ovação pública em cima de trio elétrico. Deve ter sido um calor danado.

16.6.05

Divulgando

Artistas e produtores culturais da Bahia poderão inscrever seus
projetos de artes cênicas, música, exposições, idéias (palestras e seminários) e programa educativo (oficinas, cursos etc.) para a etapa Salvador do Circuito Cultural Banco do Brasil, que será realizada de 12 a 25 de setembro de 2005, no Teatro Castro Alves, em Salvador.

O regulamento e o formulário de inscrição estão disponíveis no
endereço www.bb.com.br/cultura. A inscrição e o material dos projetos deverão ser entregues no Banco do Brasil - Superintendência Estadual da Bahia, Núcleo de Comunicação, na Rua Direita da Piedade, 25, 11º andar, Centro, com Marcus Ramalho, no período de 10 a 24 de junho.

14.6.05

Rápido?
Às vezes tenho a impressão que o mundo gira a 100 km por hora, enquanto eu ando a 20.

13.6.05

Nesta data

Até que não achei chato trabalhar no dia do aniversário. Inicialmente, tinha previsto descansar. Com os eventos que ocorreram em Ilhéus, negociei a folga na sexta-feira, voltei a Salvador no domingo à tarde e encarei o trabalho hoje.

Recebi muitos parabéns e comemoração à moda baiana, com acarajés e abarás. Ganhei da minha amiga V., a mulher rodeada de gastrônomos, um interessante pacote de berinjelas secas, vindo de Lençóis, cidade turística da Chapada Diamantina que vem se especializando na produção de frutas e legumes secos e cristalizados.

Em Ilhéus, no sábado, houve comemoração do aniversário do meu tio L., que decidiu comemorar os 50 anos de forma bem-humorada. Descolou uma fantástica casa na praia de Olivença e encomendou um serviço de bufê para o "Boteco 50". Eta família que gosta de fazer festa!

As mesas tinham cardápios com todos os tira-gostos e bebidas que seriam servidos. O bar da piscina foi decorado como se fosse um boteco: máquina de café, estufa de salgados, xícaras e talheres organizados em fileiras. Pendurados no teto, havia salames, queijos e até peças de bacalhau. Tinha também placa comemorativa em madeira esculpida, na forma de tampinha de garrafa. Nas mesas, as tigelas de tira-gostos possuíam o logotipo da festa.

No boteco ficava um barman servindo roskas, batidas e sucos. Havia cachaças finas de várias procedências. No quadro de giz, pendurado ao lado, constava o cardápio do dia: feijoada. Mais as saladas: verde, mexilhão, bacalhau com grão-de-bico. Garçons serviam cervejas, refrigerantes e água de coco.

De sobremesa, frutas cristalizadas, ambrosia, cocada de leite condensado e doce de groselha em calda, que além de belo é delicioso. O cupuaçu cristalizado, feito na região, é coisa de ci-ne-ma!

Tive uma surpresa ótima ao receber os parabéns, via e-mail, de H., uma amiga de longa data, mas com quem atualmente não tenho muita convivência ao vivo. Ela se lembrou do meu aniversário e me revelou que é leitora frequente deste blog - eu não sabia, pois ela nunca havia deixado comentário. Fiquei muuuito feliz.

10.6.05

Foi para o Beleléu

O regime foi para o Beleléu. Ai, Jisuss. Estou em Ilhéus, participando de um jantar em família. Tirei um intervalo para acessar a internet. Cardápio? Salmão com molho de uvas e alcaparras. Arroz de brócolis. Maionese de camarão. Batatas ao molho branco gratinadas no forno. Um filé fantástico que não consegui nem chegar perto. Salada de macarrão em forma de arroz, com manjericão e tomate seco. Três tipos de tortas na sobremesa: maracujá, suspiro com coco, goiaba com ameixa. Isso sem contar com o vinho chileno que está rolando.

Estarei de volta a Salvador no domingo, possivelmente com algumas gramas adicionais. Ah, depois perco.

9.6.05

Cigarros em câmera lenta
Grande parte das produções do cinema europeu, especialmente as que são feitas na França, são diferentes dos filmes de Hollywood. Ritmo lento, conflitos psicológicos, finais abruptos e inconclusos. O que se vê na tela aproxima-se da velocidade em que os fatos acontecem na vida real. Para o espectador acostumado com filmes de ação, é um aprendizado.

Em Confidências Muito Intimas (Confidences Trop Intimes, França, 2004), direção de Patrice Leconte, ao deparar-se com problemas no casamento, Anna (Sandrine Bonnaire) busca um terapeuta. Por engano, ela entra no escritório de um consultor financeiro, a quem irá relatar seus problemas.

O engano torna-se envolvimento amoroso, que vai amadurecendo devagar, regado a cafés, cigarros, vinhos e conversas. Um humor leve perpassa a narrativa e contrasta com o mistério que a mulher sugere. Será que ela deseja realmente abandonar o marido?

7.6.05

Comida de praia

O novo lançamento do engenheiro e gastrônomo Guilherme Radel, A Cozinha Praiana da Bahia, tem ilustrações e fotos impressas em alta qualidade, no nível das publicações de gastronomia internacional.

A cozinha baiana proveniente do litoral é formada basicamente por frutos do mar: peixes, crustáceos e moluscos. As receitas são simples, à base de cebola, alho, tomate e coentro.

Radel faz uma introdução extensa, na qual aborda aspectos biológicos, geológicos e sociológicos do litoral e recorda o seu passado em Salvador. Antes de cada seqüência de receitas, há informações e dicas de manejo e de preparo dos alimentos.

Um aspecto interessante para os aficionados da gastronomia é verificar quais os moluscos disponíveis no litoral da Bahia e a correspondência com aqueles presentes receitas das cozinhas internacionais. Pelo livro, fica-se sabendo que o papa-fumo corresponde ao vôngole e o paco-paco corresponde à vieira. E que há o interessante peguari, retirado de um búzio, com o qual se faz uma famosa moqueca.

A Cozinha Praia na Bahia é a segunda etapa do projeto iniciado com o livro A Cozinha Sertaneja da Bahia. O próximo passo é A Cozinha Africana da Bahia, que completa a trilogia da culinária baiana.

5.6.05

A cidade sob as chuvas
Salvador está parecendo um queijo. Por causa dos buracos, ora bolas! As chuvas desabam e o asfalto vai se dissolvendo. Buracos e mais buracos vão surgindo da noite para o dia, pondo em risco carros, motoristas, passageiros e pedestres. Do bairro pobre ao bairro rico, do subúrbio ao centro, tá tudo se acabando. O prefeito, empossado no início do ano, iniciou obras em alguns locais, mas, com o retorno da chuvas, os serviços foram interrompidos. Tem que dirigir com o maior cuidado, pois as crateras ficam escondidas em tranqüilas poças d’água.

4.6.05


A Queda - As Últimas Horas de Hitler (Alemanha, Itália, 2004) é um retrato dos últimos dias de poder do ditador alemão e dos comandantes nazistas. Refugiados em fortaleza subterrânea (bunker) em Berlim, eles conferem a derrota dos seus exércitos e aguardam a tomada da cidade pelos soviéticos, representantes dos países aliados.

Na Europa, o filme foi criticado por mostrar o ditador de forma humanizada demais, gentil ao tratar com sua secretária e cuidadoso com o seu animal de estimação. Mas a arrogância também está presente. O ator alemão Bruno Ganz (um dos anjos do clássico Asas do Desejo, de Win Wenders) encarna Hitler de forma marcante e definitiva. Não tem como não lembrar dele como o Führer daqui para a frente.

A Queda é um filme tenso e angustiante, mas é uma aula de história. Aliás, o cinema da atualidade é responsável por grande parte da fixação, na mente do público, de fatos e personalidades que marcaram época. Como não associar imagens e cenários históricos ao que é visto nas telas de projeção?