17.6.05

Livros, frio e calor

As águas do rio Guaíba, em Porto Alegre, devem conter algum fermento que faz crescer uma população de escritores ao seu redor. Estava tranqüilamente a ler Berkeley em Bellagio, do gaúcho João Gilberto Noll, quando me deparo com uma referência ao belo rio-lago. Lembrei logo do fantástico pôr-do-sol às suas margens, que tive o privilégio de ver na última viagem que fiz. Nunca pensei que, em um lugar sem litoral, pudesse haver um espetáculo como aquele, que rivaliza com os melhores fins de tarde da praia do Porto da Barra, em Salvador.

Começo a ler Na mesa ninguém envelhece, livro de crônicas gastronômicas de um jornalista e apresentador de TV. Descubro que o autor, José Antônio Pinheiro Machado, é gaúcho. E lá está novamente o Rio Guaíba, passeando entre as páginas do livro.

Na frente das câmeras, o jornalista encarna o Anonymus Gourmet, personagem-cozinheiro criado no seu livro O brasileiro que ganhou o Prêmio Nobel, que comanda panelas e ingredientes em programas de culinária na TVCOM e RBS TV, ambas gaúchas.

No Rio Grande do Sul não há apenas muitos e bons escritores. Há editoras de grande porte, de alcance nacional. Também como estímulo à escrita, suspeito que o clima frio predispõe à concentração, estimula a introspecção e desencoraja as saídas noturnas. Coisas que parecem importantes para a criatividade. Vento frio, chazinho, agasalho. Sofá, poltrona ou cama, que tal? Tudo dá vontade de ficar em casa. A imaginação começa a correr solta - sobre o que pode está acontecendo ou pode acontecer lá fora.

Aqui na Bahia, temos que aturar um calor incessante. No atual pleno inverno, eu, por exemplo, durmo com o ar-condicionado ligado. Por aí dá para imaginar no verão. É dureza agüentar o calor em casa. Os baianos, escritores ou não, parecem preferir sair pulando atrás das estrelas dos trios elétricos e da axé-music, tomando muita cerveja gelada.

Todo calor e agitação da Bahia, no entanto, não impediram o despontar do brilho de Jorge Amado e de João Ubaldo Ribeiro. Este último, aliás, quando homenageado como tema de Carnaval, publicou uma crônica deliciosa sobre a sua emoção de receber a ovação pública em cima de trio elétrico. Deve ter sido um calor danado.

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