16.7.05

Inclusão pelo talento

Na quarta-feira à noite ocorreu a pré-estréia em Salvador do documentário A pessoa é para o que nasce, de Roberto Berliner, na Sala de Arte do Baiano. A boa divulgação, com direito a capa de segundo caderno, garantiu a lotação da casa.

As cegas-irmãs-cantoras-ex-mendigas-atrizes-estrelas Regina (Poroca), Maria (Maroca) e Conceição (Indaiá) Barbosa, de Campina Grande, Paraíba, estavam presentes, junto com o diretor, dando entrevistas para a TV. Lindas, pequeninas, com sandálias de couro protegendo os pés que mal alcançam o chão quando ficam sentadas. Elas são uma mistura de fragilidade, sensibilidade, força e grandeza.

Coquetel rolando, um povo diferente, que eu não conhecia. Vários convidados dos patrocinadores, atores e atrizes, gente de cinema e de publicidade. Bufê nordestino, como já está virando lugar-comum por aqui. Caldinho de aipim muito bom. Beijus torrados com manteiga e parmesão. Pequenas porções de carne-seca com purê de abóbora. Mini-bolinhos de estudante. Os convidados se acotovelavam, apertados com os manequins fixos e seus trajes criados por estilistas baianos para comemorar os cinco anos do circuito Sala de Arte.

O filme – Depois do coquetel, a sessão. O documentário com ares de narrativa romanceada é bem interessante. A direção conseguiu explorar o lado cômico das irmãs, deixando propositalmente a cargo do espectador a avaliação – sem esquecer um certo incômodo – da situação financeira das ceguinhas e do cuidado que a família dispensa a elas. Apesar de contar com a ajuda de alguns parentes, elas foram (e ainda são) responsáveis pelo sustento de grande parte dos familiares. Cantando, tocando e mendigando nas ruas.

O questionamento pela exploração da miséria alheia fica visível, mesmo que seja perceptível que elas também se utilizam do mesmo expediente, ao cobrar retorno financeiro da produção. Segundo o diretor, com um prêmio ganho foi comprada uma casa para elas, hoje habitada por familiares. Elas continuam morando de aluguel. Maroca, a irmã mais articulada e autora do título do filme, tem uma frase conclusiva: “Trabalha o feio para o bonito comer”.

O filme tem viés politicamente correto, instrutivo por mostrar características e modos de vida dos deficientes visuais. A música popular das cegas-cantoras foi transformada em CD, que terá 50% dos lucros retornados para elas. Uma parte dos lucros do filme será entregue a elas.

Depois da projeção, houve apresentação das estrelas acompanhadas de músicos de uma banda de forró-eletrônico-moderno. No dia da pré-estréia era aniversário de Poroca (Regina). A platéia cantou parabéns, com direito a flores e bolo, o que fez aumentar a carga emotiva do evento.

Para conhecer mais da história das ceguinhas, visite o site do filme.

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