As aulas de francês continuam a todo vapor. Além do curso da noite, de escrita, comecei outro curso, de gramática e conversação, desta vez bancado pelo governo. Na entrevista de avaliação, para conseguir ganhar o curso - e a bolsa - fingi ter menos conhecimento do que realmente tenho. Acho que representei bem, agradeço ao curso Todo Mundo Faz Teatro. Fui para o nível intermediário, no qual sou colegas de vários chineses que simplesmente não conseguem pronunciar alguns sons do francês.
Os orientais ainda conseguem se virar no inglês. Mas no francês a coisa é mais difícil. Dizem que chinês e japonês - apesar dos ideogramas que nos parecem qualquer coisa, menos letras e palavras - são línguas de gramática fácil. Francês, português, espanhol e outras latinas é que são complicadas.
Fico impressionado com a capacidade dos russos de aprenderem línguas. Diferente dos que têm o inglês ou francês como língua materna, os russos conseguem falar bem as línguas latinas. Alguém me disse que a razão é porque na língua russa existem muitos fonemas, que abrangem praticamente todos que existem no português e no francês, por exemplo. Então fica mais fácil.
Tenho um amigo ucraniano, russófono, que morou um ano no Brasil. Ele fala português quase sem sotaque estrangeiro. É impressionante. Os outros russos que conheci aqui em Montréal já estão aprendendo bem, falando francês bem melhor do que muitos hispânicos (leia-se mexicanos!), que tem dificuldades com o v (que eles pronunciam b), com o u (que no francês é pronunciado próximo do i) e com o y (que em sua língua materna é pronunciado como j). E olha que as duas línguas tem as mesmas raízes latinas. Nem assim.
Agora, vá tentar aprender russo, para ver o que é dificuldade. Primeiro é preciso decorar o novo alfabeto, o cirílico - se é que se pode chamar aquilo de alfabeto. E depois aprender as novas palavras e as suas declinações. Na hora de ler, o raciocício é dobrado. Primeiro, lembrar do som de cada símbolo. Depois, lembrar do significado da palavra. Que loucura.