28.11.15

MultCult#2

MultCult#2 A herança portuguesa pelo mundo não é notada somente por azulejos, pastéis de natas e outras belezas e delícias. Sobrenomes portugueses estão espalhados por todos os continentes, não só entre os recém-chegados aos países, os novos imigrantes. Datam de séculos de colonização em locais inimagináveis. Lembrei disso nos últimos dias, ao finalmente ser transferido para um escritório mais perto de casa.

Antes de chegar no novo local de trabalho, verifico que, na lista dos novos colegas, há um J. da Rocha. Suponho que será português, de primeira ou segunda geração no Canadá. A particula "da" é portuguesa, não tem escape. Em espanhol seria "de la", assim como no francês. Ao ser apresentado ao novo colega, vejo que ele tem feições orientais. Pergunto a origem do sobrenome. Ele me revela que a família veio de Macau, na China, antiga possessão portuguesa pelos lados de lá do mundo.

Em outra ocasião, eu chegava no clube-academia e vi que alguém tinha esquecido um documento na parte de cima do armário do vestiário. O sobrenome era Pereira. Não havia foto. Fui na recepção entregar a carteira e, por coincidência, o senhor Pereira chegou quase em seguida procurando pelo documento. Era um rapaz indiano, de pele bem escura. Não perguntei, mas supus que se realmente era indiano, deveria ter vindo de Goa, região também colonizada por portugueses.

Um caso curioso é o de um conhecido meu, nascido do Canadá, que tem o sobrenome Gomes. A familia dele veio da Guiana, na América do Sul. Ora, se a Guiana foi colonizada por ingleses, a família dele deve ter o nome de algum português - ou brasileiro - que resolveu mudar de país. Há algum tempo ele achou um site (http://forebears.io) que faz um mapeamento dos nomes de família. E ficou impressionado com o número de Gomes que existem pelo mundo. Só no Brasil são 1,7 milhões. Detalhe: segundo o site existem mais Gomes em Bangladesh do que em Portugal.

21.11.15

MultiCult#1

MultCult#1 Chego na ótica para fazer exame de atualização dos óculos de leitura. Sim, eles são inevitáveis em algum ponto da vida. Os optometristas, que possuem traços orientais, são possivelmente os donos do local. O atendimento é feito em um inglês carregado de sotaque áspero, mas gentil ao mesmo tempo. No Canadá os exames de visão para compra de óculos não são feitos por médicos oftalmologistas, e sim por técnicos especializados, que vão ao College para conseguir a qualificação para prestar o serviço.

O consultório fica na própria loja, em uma parte reservada. Sou atendido por uma optometrista magra e bem bonita, de cabelo bem longo. Ela parece ser iraniana, mas, pensando melhor, mais provável que seja indiana de pele mais clara. O seu sotaque é bem norte-americano, deve ter nascido aqui.

Ao sair do consultório, me deparo com a loja cheia. Uma mulher filipina com suas três crianças. Um senhor negro idoso e desajeitado, provavelmente jamaicano. Um outro casal de meia-idade, pele escura, de aparência tranquila, diria que do Leste da Africa, da Somália ou Etiópia. Um outro rapaz chinês.

Os optometristas chineses correm para atender todo mundo, organizar os exames, preencher os papéis e conseguir as autorizações do sistema de saúde. Fazendo esforço para compreeender os clientes e falar de maneira inteligível. Estão lá gerenciando o negócio, criando emprego, ajudando gente a enxergar melhor, pagando impostos e dando exemplo para o mundo de como a imigração desenvolve um país.