30.12.08

1/2 Aniversário

Seis meses no Canadá! Le temps passe vite. O tempo passa rápido. Hoje a temperatura está em -7C, com um belo sol. Os dias de sol no inverno são os mais frios. Mas são mais bonitos e mais alegres. São melhores do que os dias cinzentos.

10.11.08

Línguas

As aulas de francês continuam a todo vapor. Além do curso da noite, de escrita, comecei outro curso, de gramática e conversação, desta vez bancado pelo governo. Na entrevista de avaliação, para conseguir ganhar o curso - e a bolsa - fingi ter menos conhecimento do que realmente tenho. Acho que representei bem, agradeço ao curso Todo Mundo Faz Teatro. Fui para o nível intermediário, no qual sou colegas de vários chineses que simplesmente não conseguem pronunciar alguns sons do francês.

Os orientais ainda conseguem se virar no inglês. Mas no francês a coisa é mais difícil. Dizem que chinês e japonês - apesar dos ideogramas que nos parecem qualquer coisa, menos letras e palavras - são línguas de gramática fácil. Francês, português, espanhol e outras latinas é que são complicadas.

Fico impressionado com a capacidade dos russos de aprenderem línguas. Diferente dos que têm o inglês ou francês como língua materna, os russos conseguem falar bem as línguas latinas. Alguém me disse que a razão é porque na língua russa existem muitos fonemas, que abrangem praticamente todos que existem no português e no francês, por exemplo. Então fica mais fácil.

Tenho um amigo ucraniano, russófono, que morou um ano no Brasil. Ele fala português quase sem sotaque estrangeiro. É impressionante. Os outros russos que conheci aqui em Montréal já estão aprendendo bem, falando francês bem melhor do que muitos hispânicos (leia-se mexicanos!), que tem dificuldades com o v (que eles pronunciam b), com o u (que no francês é pronunciado próximo do i) e com o y (que em sua língua materna é pronunciado como j). E olha que as duas línguas tem as mesmas raízes latinas. Nem assim.



Agora, vá tentar aprender russo, para ver o que é dificuldade. Primeiro é preciso decorar o novo alfabeto, o cirílico - se é que se pode chamar aquilo de alfabeto. E depois aprender as novas palavras e as suas declinações. Na hora de ler, o raciocício é dobrado. Primeiro, lembrar do som de cada símbolo. Depois, lembrar do significado da palavra. Que loucura.

13.10.08

O outono chegou

A cada dia o tempo fica mais frio. As árvores passam de verde para amarelo, laranja e vermelho. E rapidamente o vento chega e as folhas caem. Em breve elas irão embora e só voltarão no próximo ano, depois do inverno. É o outono no hemisfério norte.

Vieux-Port

Vieux-Port

As folhas formam um espetáculo

No parque do Vieux-Port

23.9.08

Amor ou amizade

A música é antiga. O visual da cantora é antigo. De 1984, em um show em Paris, no início da carreira. Ela tinha uma cara totalmente diferente. O nariz era outro. Os traços eram mais grossos. O cabelo era escuro. Mas a emoção continua a mesma. Ela é muito melhor quando canta em francês. Céline Dion.



D'amour ou d'amitié

Il pense à moi, je le vois, je le sens, je le sais
Et son sourire ne ment pas quand il vient me chercher
Il aime bien me parler des choses qu'il a vues
Du chemin qu'il a fait et de tous ses projets

Je crois pourtant qu'il est seul et qu'il voit d'autres filles
Je ne sais pas ce qu'elles veulent ni les phrases qu'il dit
Je ne sais pas où je suis, quelque part dans sa vie
Si je compte aujourd'hui plus qu'une autre pour lui

{Refrain:}
Il est si près de moi pourtant je ne sais pas comment l'aimer
Lui seul peut décider qu'on se parle d'amour ou d'amitié
Moi je l'aime et je peux lui offrir ma vie
Même s'il ne veut pas de ma vie

Je rêve de ses bras oui mais je ne sais pas comment l'aimer
Il a l'air d'hésiter entre une histoire d'amour ou d'amitié
Et je suis comme une île en plein océan
On dirait que mon coeur est trop grand

Rien à lui dire, il sait bien que j'ai tout à donner
Rien qu'un sourire à l'attendre à vouloir le gagner
Mais qu'elles sont tristes les nuits
Le temps me paraît long et je n'ai pas appris
À me passer de lui

{au Refrain}

24.8.08

A principal avenida

Final de semana de muito calor em Montreal. O verão persiste. Lá fora o clima chega aos 30 graus. O fato de as residências serem feitas de material que acumula calor faz a temperatura dentro de casa ser maior do que na rua. É o contrário do que normalmente acontece no Brasil, onde chegar em casa representa alívio para o sol e o calor da rua.

Agora à noite a temperatura baixou mais um pouco, lá fora está em torno de 25 graus, bem mais agradável. Mesmo assim, dentro de casa os termômetros indicam entre 29 e 28 graus.



Desde a última quinta-feira a avenida Saint-Laurent está em festa, virou um shopping a céu aberto. Depois que vários meses em reforma, agora com novas calçadas, a avenida quer reconquistar o seu público. O trânsito aos veículos é fechado e as lojas põem na rua os cabides, araras e balcões com mercadorias e fazem descontos. Os restaurantes e lanchonetes montam barracas e servem refeições rápidas e lanches. Também há apresentações musicais. Aproveitei o bom preço para comprar um casaco reforçado para o inverno.

A avenida Saint-Laurent divide Montreal no meio, no sentido leste-oeste. É conhecida como "The Main" ou "La Main", pois já foi a principal avenida comercial da cidade. Do lado leste se concentra a população que fala francês. Do lado oeste, a parte inglesa da cidade. Há muitos prédios históricos preservados. Mas a Saint-Laurent perdeu espaço comercial para a Sainte-Catherine, a preferida pelo turistas, que vive entupida deles.



A Saint-Laurent dá uma mostra da mistura de culturas do Canadá. Tem restaurantes e mercearias de várias nacionalidades: portugueses, italianos, gregos, chineses, japoneses, indianos, judeus, etc.

Para chegar na Saint-Laurent caminho sete quadras na direção norte, seguindo a avenida Mont-Royal. Daí é só seguir a movimentação.

19.8.08

Medalhas

O Canadá sobe ao pódio e avança no quadro de medalhas das Olimpíadas de Pequim. Como ninguém nunca está satisfeito, o governo de Ontário lamenta o fato de haver proporcionalmente poucos atletas de sua província na delegação do país. Ontário tem quase 40% da população do Canadá.

O quebequense Alexandre Despatie ganha medalha de prata no salto ornamental, repetindo a sua performance em Atenas 2004.



Os comentaristas da Tv, ao notar que há brasileiros no time de vôlei de praia da Georgia, chegaram a sugerir que o Canadá deveria importar gente do Brasil com talento esportivo. Não é estranho que haja brazucas morando e jogando pela Georgia?

13.8.08

Olimpíadas

A vida segue. No início de setembro retorno às aulas de francês. Vou estudar em uma escola bem perto de casa. Para quem é residente do Canadá o preço é bem baixo, quase de graça. O governo faz o que pode para que os imigrantes falem bem a língua, possam trabalhar e se integrar à sociedade.

Em setembro também começo um curso que vai me ajudar a entrar no mercado de trabalho com mais qualificação. A duração vai ser de um ano.

O Canadá ainda não ganhou sequer uma medalha nas Olimpíadas. A gente acha que só o Brasil tem dificuldade para subir ao pódio. Que nada, é difícil para todo mundo. A não ser para a China e para o nadador americano Michael Phelps.

A mídia está ficando impaciente. A gente nota no tom das piadinhas dos apresentadores de TV. Por sinal, a cobertura das Olimpíadas aqui é total, o dia todo. A programação normal cai fora, com exceção dos telejornais. Isso não acontece no Brasil, onde a população não abre mão das novelas por nada.

5.8.08

Verão com chuva

O verão traz mil festas e festivais a Montréal. Toda hora tem show musical rolando e dezenas de festas acontecendo. O governo investe pesadamente para atrair turistas para o país e suas cidades. Uma coisa interessante é que após cada evento de grande porte há uma prestação pública de contas. Com cobertura na televisão. Quanto o evento rendeu, se deu prejuízo, se houve lucro, se valeu a pena. Tudo é esmiuçado. Fico pensando se tudo consegue ser medido. Se o movimento dos restaurantes, das lojas, dos bares, das boates, dos hotéis e dos cafés consegue ser medido. Mas o importante é que a população tem a resposta aos seus questionamentos. Vale a pena ou não realizar novamente o evento? Quase sempre a resposta é positiva.

Os festivais têm shows gratuitos e pagos. No último final de semana, durante o festival Divers/Cité, vi um show da cantora canadense Debora Cox. Assim, de graça, na praça, com conforto. O canadense não gosta de ficar se apertando junto a outras pessoas. Uma cantora que faz um som dançante e que já vendeu mais de 5 milhões de discos no mundo. O público foi à loucura.

No mesmo festival, a DJ brasileira Ana Paula, que desde o ano passado fez muito sucesso em Montréal, voltou a bombar e fazer o povo dançar. Desta vez ela veio como celebridade e trouxe mais dois DJ brasileiros e a cantora Amannda. Foi uma pena que tenha chovido durante a tarde. Depois da chuva não tive mais pique para acompanhar e ver o show da Ana Paula até o fim. A essa altura eu já estava em casa dormindo.

Recomeço

Toda mudança traz coisas boas e dificuldades. Nem tudo é colorido, nem tudo é cinzento. Recomeçar a vida nem sempre é fácil. Resolver mil documentos, mil coisas, procurar trabalho, decidir entre estudar e trabalhar, ou os dois.

23.7.08

J'aime beaucoup Montréal



Vista panorâmica de Montreal a partir da Île de Sainte-Hélène. Se quiser ver detalhes basta clicar na foto.

17.7.08

Hora de ver gente

Há duas semanas no Canadá, só agora consegui um tempo para ver algumas pessoas que conheci no ano passado. Uma senhora de Montréal que me hospedou e duas colegas do curso de francês. Uma das colegas é filipina e mora no Canadá há vários anos. Ela morou em Toronto e fala um inglês perfeito. Veio para Montréal fazer mestrado em universidade de lingua inglesa e continua morando aqui. O resultado é que ela demorou um pouco para aprender francês. A outra colega é canadense de Vancouver, na Columbia Britânica, do outro lado do país. Ela mora atualmente em Montréal, onde é professora universitária.

O resultado de tudo isso é que as duas só conversam em inglês entre si. E eu terei que falar no encontro que teremos amanhã. Quando tento falar inglês saem algumas palavras em francês, mas acho que elas vão entender.

Já meus vizinhos de apartamento são estudantes anglófonos. O do apartamento ao lado tem uma gata que passa da varanda dele para a minha. Ela é um barato. Chega de mansinho, vem se esfregando em tudo, marcando território. Se eu vacilar, ela entra em casa para explorar tudo. A gatinha tem o pêlo cinzento e lembra o meu antigo Ronrom. Sói que aqui os gatos tem o pêlo mais comprido, possivelmente por causa do frio.

13.7.08

Nova chegada

*Escrevi isso há quase 10 dias, mas ainda tá valendo.

Primeiro foram várias sessoes de despedida, cada uma mais emocionada que a outra, em Ilhéus e Salvador. Depois uma viagem de quase 24 horas, de Salvador a Montréal, passando por Sao Paulo e Toronto. Ansiedade na imigraçao, o inglês ficou travado na garganta. Enfim, tudo correu bem. Céu bonito em todos os aeroportos por onde o aviao passou.

Esta primeira semana serviu para providenciar documentos. Carteira de seguro-saúde, seguro-social, comprovaçao de residência, abrir conta em banco. Para começar a existir no país. Ter vindo a Montéal no ano passado facilitou tudo. Os caminhos já sao conhecidos e a língua é compreendida. Mas nem sempre é fácil. Se uma mosca passa ou se se pensa em outra coisa, perde-se o que foi falado à frente. Mas, felizmente, nao há muitas moscas por aqui. Talvez boa parte delas tenha morrido congelada no último inverno.

A última terça foi feriado nacional. O dia primeiro de julho é o aniversário do Canada. Todo ano a comemoraçao é marcada por um grande show musical em Ottawa, a capital do país. O espetáculo é transmitido pela televisao. Vários artistas canadenses se apresentam. Enquanto isso, o Festival de Jazz de Montreal ferve, com atraçoes do mundo todo. Neste ano nao tem nenhum brasileiro famoso cantando ou tocando.

Parte da avenida Sainte-Catherine, uma das centrais da cidade, fica fechada para os veículos e se torna uma grande passarela cheia de bares, cafés e restaurantes que colocam as mesas na calçada. Há várias tendas com exposiçoes de quadros e artesanato. As pessoas aproveitam para andar para cima e para baixo, curtindo o sol quente, um artigo raro por aqui.

O cansaço de tomar várias providências ainda nao permitiu maiores passeios. Depois conto mais.

21.6.08

Cidade em festa

Depois de muito tempo esquecida das festas, a cidade de Ilhéus volta a ficar animada. Neste ano a festa de São João traz atrações nacionais: Daniela Mercury, Margareth Menezes, Fala Mansa. Se bem que não sei o que as duas primeiras farão nos seus shows, pois os seus repertórios não têm nada de forró. Acho que elas estão na programação somente para fazer a alegria da cidade e dos visitantes. Não estou muito animado, não gosto mesmo de forró, mas talvez vá conferir.

20.6.08

Espaço

Estou sem postar no blog há um bom tempo. A minha cabeça não consegue parar para escrever aqui. Estou novamente de mudança. São tantas emoções que não consigo me concentrar para redigir nada. Em breve relato com mais detalhes.

7.5.08

Raízes

A minha trisavó - é assim que se chama a mãe da bisavó ou do bisavô - ficou viúva cedo. O meu bisavô era pequeno. Ela se casou novamente e teve mais uns cinco filhos com o segundo marido. O meu bisavô teve 8 filhos, entre eles minha avó materna. Os meio-irmãos do meu bisavô tiveram outros inúmeros filhos. O resultado é que a minha avó tinha vários primos carnais. Tanto do lado paterno como do lado materno. Ela faleceu em 2005, aos 90 anos.

Hoje foi aniversário de 90 anos de uma das primas. Até a geração dos bisnetos estava presente. Alguns deles já são adultos.

Um fato curioso aqui em Ilhéus é a pouca mobilidade de algumas famílias. Do lado materno, tenho informações de pessoas que chegaram na cidade em 1822. E seus descendentes aqui permanecem. Seguindo essa linhagem, faço parte da sexta geração, contada a partir de um certo alemão que veio para a Bahia ainda criança e se instalou na estrada Ilhéus-Itabuna, onde plantou cacau.

Em outra linhagem, a partir de um padre, um dos dois primeiros ordenados em Ilhéus - e que não largou a batina! -, também faço parte da sexta geração.

A senhora que aniversariava não teve filhos. Viúva, morava sozinha em Salvador. Foi convencida a voltar para a cidade natal para ficar mais perto das irmãs. Mas ela não entregou os pontos. Mora só, cuida da casa e da comida, tem somente uma faxineira que aparece semanalmente.

Duas de suas sobrinhas, cozinheiras e organizadoras de bufês, prepararam as delícias doces e salgadas. Os amigos, as irmãs, sobrinhos, primos, primos em segundo e terceiro grau (olha eu aí!), sobrinhos-netos e sobrinhos-bisnetos encheram a casa. "Não sabia que eu era tão querida", ela me confessou emocionada.

Encontrei duas amigas de colégio que não via há décadas. Elas são casadas com parentes distantes. Uma ficou grávida adolescente, tem filho adulto. Elas brincaram dizendo que estou conservado em formol. Elas também não ficam atrás, estão bem fisicamente.

Apesar de admirar a permanência no local de origem e a manutenção das raízes, eu quero partir. Vou fazer o caminho inverso dos ancestrais. A diferença é que agora p mundo é outro. As distâncias são menores e mais baratas de serem vencidas. Voltarei sempre para me reabastecer. Não é das raízes que vem a força?

2.5.08

Real

"Amor platônico pode se tornar real, mas amor real não consegue virar platônico. O inverso não é válido. Ele desaparece nos bons modos e na tentativa de reproduzir ou prolongar um afeto antigo.

Amor real é viciado no corpo. Não suporta menos do que foi ou se alimentar da saudade. É uma pena que isso ocorra, é uma decepção diante do nosso romantismo e idealização, registra inclusive uma ausência de esforço.

Amor tem mais chance de dar errado do que certo, porque inventamos restrições e desculpas para não avançar. Amor tem que superar o antivírus das suspeitas e desconfianças. Sua eficácia depende do bombardeio, da pressa, da voracidade, da insistência do ataque. Para derrubar a vontade de se defender da companhia. Demônios coçam os nossos pulsos pelo conforto. Por isso, no início do namoro, os casais não se largam. Não podem se largar. Não podem ficar um minuto sem se falar, para não deixar que se reestabeleça o sistema de proteção."

O cara sabe tudo: Carpinejar.

30.4.08

Sol

Isso aqui tá paraaado... Bem que os astros previam um início de mês tenso. Ainda bem que abril está terminando. Expectativas. Mudanças que demoram a se consolidar. O sol continua a arder no outono deste lugar. Calor sem trégua, sem fim. Mesmo assim melhor do que o cinza das chuvas do inverno. Pelos menos tem a praia e o mar, que fazem recuperar a visão cansada.

21.4.08

Nova moeda

Recebi por e-mail.

NOVA MOEDA BRASILEIRA.
Governo Federal lança moeda que substituirá a de 1 Real: 1 CRÉU.

12.4.08

Eu me recuso

Aqui em Ilhéus, onde moro atualmente, só tem um cinema. Com duas salas de projeção. Aqui não tem o conforto de um shopping center. Nem as salas de multiplex. As duas salas do cinema daqui têm poltronas duras. Poltronas antigas, de quando eu era criança. Elas foram reformadas e parecem até de cinema de shopping. Mas é só sentar que se dá conta imediatamente da diferença.

Busquei na internet a programação do cinema neste fim de semana. Há um único site que se aventura a fazer a divulgação dos horários. Oba. Juno tá em cartaz. Desconfiado como sou, achando que a esmola estava grande demais, fui até o cinema conferir. Que Juno, que nada. Uns dois filmes idiotas em cartaz. Os mais comerciais possíveis. Uma comédia e uma aventura. Eu me recuso a gastar dinheiro com qualquer porcaria. Ainda mais agora que a carteira de estudante expirou.

4.4.08

Espera

Ando inquieto. Ansioso. Um pouco tenso. Preocupado. Às vezes triste. A vida está girando. Tento segurar tudo. Nem sempre consigo, deixo de lado. Uma bola de cristal seria bem-vinda. Existem dois grandes dramas na vida, segundo Oscar Wilde. Um é não realizar os sonhos. O outro é realizar. Enquanto espero sonhos concretos, aprecio a alegria das luzes e das águas.

25.3.08

Semana dos santos e festeiros

A Semana Santa foi marcada por uma série de reuniões familiares. Na sexta, o tradicional almoço, baseado em pratos feitos com peixe. O dia tem restrição de carnes vermelhas, pois deveria se tratar de jejum, por motivos religiosos. Só que o almoço da Sexta-feira Santa acaba sempre sendo um banquete na Bahia. Nas mesas das famílias, especialmente daquelas que moram na capital, recôncavo e litoral, regiões onde a herança africana é mais pronunciada, há fartura de pratos com dendê: vatapá, caruru, feijão-fradinho cozido, farofa, moqueca de peixe. Isso sem contar os acarajés, abarás, casquinhos de siri e caldo de sururu que servem de aperitivos. Quer mais? Não faltaram as tradicionais cocadas ilheenses, de leite condensado e chocolate, levadas para Salvador.

Foi na capital que as pessoas se reuniram para a comemoração dos 50 anos do primo LJ. Vieo gente de São Paulo, de Brasília e de Ilhéus. A festa ocorreu no sábado, no salão de um prédio na Ladeira da Barra. Muita animação da turma toda. Só a quantidade de pessoas da família já seria suficiente para fazer uma festa animada. E foram justamente essas pessoas que foram até a madrugada dançando sem parar. Boa parte dos festeiros embalados por cervejas, uísques e pelo maravilhoso espumante Don Giovanni. O aniversariante estava radiante.

O bolo de aniversário foi um primor de criatividade. O aniversariante, há alguns anos fora apelidado pela sobrinha de "popota", diminutivo carinhoso de "hipopótamo". Ainda que ele nem seja tão assim, digamos, redondo. Pois bem, o bolo tinha um hipopótamo azul, com estetoscópio (ele é médico) e rodeado de livros e papéis (ele gosta de ler e estudar). Olha aí a obra:



Salve Popota!

16.3.08

Na ponta da língua

Um amigo de longa data está na cidade, saímos para bater papo e tomar umas cervas. Ele mora na Inglaterra, em Londres, e trouxe um outro amigo que também mora lá. Só que esse outro amigo é italiano. Entre si eles preferem falar em inglês, mesmo que italiano e português sejam línguas tão próximas. Tudo bem, falamos em inglês a noite toda. De vez em quando escapava alguma coisa em português que o italiano conseguia entender.

O italiano nasceu em Roma, mas tem origens diretas em outro país europeu. A mãe é húngara e o pai é de lá mesmo, da bota. Conversávamos bastante sobre línguas e ele contou que aprendeu a língua húngara em casa. E fez uma pequena demonstração. É uma coisa impressionante. Para dizer uma simples frase de três palavras, é preciso pronunciar uma quantidade de sons equivalente a umas dez palavras em português ou inglês. Foi o caso quando ele falou "Happy New Year" em húngaro. Demos muitas risadas, dizendo que na Hungria se começa falando "Feliz Ano Novo" na festa de reveillon e termina-se na Páscoa.

Foi um encontro muito bacana. O meu amigo de longa data é baiano da gema e descende de judeus. Já esteve em Israel, morou em kibutz por seis meses, aprendeu um pouco de hebraico. Hoje ele mora em Londres, fala inglês, espanhol e tenta arranhar italiano. O rapaz italiano, além da língua natal, fala inglês, húngaro e arranha português. Eta mundo globalizado.

Tenho um outro amigo brasileiro, habitante do Canadá, que estabeleceu um projeto interessante. A cada década de sua vida ele irá aprender uma nova língua. Ele já fala português, espanhol, francês, inglês e russo(!). Qual será a próxima?

Eu penso em estudar uma outra língua, daqui a mais um tempo, quem sabe a partir da proxima década. Mas não sei qual. Talvez alemão ou árabe. Árabe? Sim, acho a língua árabe muito bonita, principalmente a escrita. A escrita árabe é tida pelos seus usuários e admiradores como uma pequena obra de arte. As fontes impressas são reproduções de caligrafias bem feitas. É como se os livros e revistas fossem escritos à mão. Mas não sei não, penso se vai valer a pena. Talvez o alemão seja mais útil - ou não.

Hoje fui almoçar na casa de uma amiga. Olha só a maravilha que ela preparou:


É um salmão inteiro, assado com legumes, acompanhado de purê de batata e arroz. Estava de comer rezando. Pode babar.

10.3.08

Malhação, calor e neve

Mudei a sequência de exercícios da malhação. Mudei não, a instrutora mudou. O corpo vai habituando à rotina, é precido sempre mudar. Caso contrário, a gente acaba enjoando.

Os novos exercícios sugaram a minha energia. Sai morto. A salvação foi a barrinha de cereais (light!) que levei para o lanche. Não vou mais para a academia sem alguma coisa para morder no intervalo. O corpo pede açúcar. A sessão rende muito mais.

=x=x=x=

Fiquei contente ao perceber que estou conseguindo acompanhar um documentário no canal francês TV5 e entender o suficiente para acompanhar o programa. Diferente de alguns meses atrás, quando começava a bocejar e a pensar em outras coisas porque não conseguia pegar o suficiente para manter a minha atenção. Desta vez o assunto também ajudava: o passado e o presente da Champs-Élisées, a famosa avenida e lugar turístico (talvez lugar-comum) de Paris.

Entre as minhas correspondências atuais, troquei e-mails com um visitante do Québec aqui na Bahia. Foi por meio do Couch Surfing, um site no qual se coloca a própria casa ou um pouco de tempo à disposição de turistas que visitam a sua cidade. O que também abre as portas para você quando estiver viajando. Infelizmente, por um capricho do site ou do meu e-mail, não recebi a mensagem do canadense a tempo. Só fui percebê-la, depois de meses, quadro de mensagens do meu perfil no site.

Mesmo assim, escrevi para ele. Ele me respondeu já do Quebec. Disse que gostou muito da Bahia. Durante a viagem, que durou mais de dois meses, o quebequense a mulher passearam na Bahia de Caravelas até Mangue Seco, passando por Itacaré e Morro de São Paulo. Mas não passaram em Ilhéus.

De volta ao Canadá, ele me informa, sabendo que em breve volto para lá, que neste inverno já cairam 4,6 metros de neve. Sim, eu já sabia. E sabia também que durante este final de semana, depois que ele havia escrito, caiu mais ainda. Acho que, depois de conhecer a Bahia no verão, ele ficou sem entender porque eu quero voltar para o Canadá.

28.2.08

Livro e filme

Vendo "O Caçador de Pipas" em arquivo .avi baixado da internet, eu me deparo com uma situação pouco comum, pelo menos para mim. Ver um filme pouco tempo depois de ter lido o livro. "O Caçador de Pipas", o livro, parece já ter sido escrito para o cinema. A narrativa parece um roteiro, pronto para ser filmado. Só que o livro é muito mais rico. Todo o drama que perpassa a alma do protagonista aparece muito pouco no filme. Um bom cineasta talvez tivesse mais habilidade em transpor os conflitos íntimos de Amir para a tela. Mas não, o filme ficou com a cara bem americana, quase um filme de aventura e ação, embalado por um draminha banal. O livro é muito mais intenso. Talvez tivesse sido melhor ter visto o filme antes de ter lido o livro. A expectativa teria sido menor.

21.2.08

Calorias

O regime que estou fazendo me permite passar o dia sem fome. Na hora em que o estômago ronca, é o momento de comer algo, mesmo que uma coisa leve. Fruta, salada de fruta, iogurte desnatado, suco. Às vezes nem lembro de comer nos intervalos das refeições. Combinando o regime e os exercícios físicos, a barriga está sumindo, parecendo milagre. Hoje constato que já consegui perder 5 quilos. Em 37dias. Só tenho mais um para perder, pela meta traçada. Mas quero perder dois, para ficar com margem de segurança. Caso de Estado. O fim de semana já começa prometendo guloseimas a partir de sexta-feira.

Nunca fui adepto de produtos light ou diet. Além de pouco saborosos, quase sempre são caros. Mas, para quem está fazendo regime, eles são ajuda importantíssima. Fica uma coisa meio neurótica, a gente passa a ler o rótulo dos produtos, a ler e contabilizar a tabela de calorias. Fica imaginando quanto tempo de esteira teria que fazer para queimar a quantidade ingerida em uma lata de refrigerante normal. Enquanto um diet simplesmente não tem calorias. Ajuda prá caramba.

11.2.08

Na terra

O Carnaval acabou e a vida volta à realidade. Retornei à academia, para continuar o programa de regime e reeducação alimentar. Depois dos feriados e das festas, todo mundo com muita preguiça estampada na cara.

Consegui não engordar muito, menos de 1 quilo, durante o Carnaval. Que bom, estou dentro da meta traçada pela médica. Não se trata somente de regime por causa da vaidade. É por questão de saúde e prevenção.

Durante o Carnaval vários navios aportaram em Ilhéus. Desta vez vieram vários estrangeiros. Franceses, americanos e outros. E todos os intérpretes sumiram. Soube que o pessoal do receptivo tentou entrar em contato comigo, sem sucesso. Eu estava longe, bem longe, curtindo outra festa. Não posso ficar na dependência de convites esporádicos de trabalho. Tenho mais o que fazer. Viajar, por exemplo.

O finzinho do verão ainda mantém turistas em Ilhéus. Em Salvador, alguns projetos musicais foram mantidos em fevereiro para segurar os visitantes na cidade. Aqui, depois de março a cidade vira uma coisa entre um chuveiro e um deserto de almas. Ou seja, muita chuva e pouca gente nas ruas.

8.2.08

A festa do mijo II

Enfim, cheguei, junto com as cinzas do Carnaval. Voltei para casa, em Ilhéus. Salvador é sempre uma delícia, mas atualmente não é mais minha casa. É um local gentil, para onde pretendo sempre ir, quem sabe um dia voltar a morar, mas, por enquanto, não é mais a minha casa.

Tenho sempre boas lembranças de Salvador. Duas faculdades, trabalho, alguns bons e queridos amigos, parentes, o mar, a cultura, a diversão. Salvador me transformou. Uma parte de mim pertence à cidade, não tenho como negar. Lá vivi por vários anos e tenho fascínio e orgulho pela cultura popular que permeia a vida na capital da Bahia.

A grande festa de Carnaval e as deliciosas festas de largo. A comida dourada do dendê que, felizmente, também chega forte ao Sul do Estado. Fui criado no dendê do acarajé, do abará, da moqueca de peixe, de camarão e no almoço-banquete da sexta-feira santa. Eu, soteropolitano de coração, tive de discutir com colegas de trabalho - nativos de Salvador - sobre a importância da festa de Iemanjá, no Rio Vermelho. É preciso mudar de cidade para ver o que sua própria cidade tem de bom a oferecer.

Em Salvador aprendi que a cultura popular é um dos maiores bens de um povo. Aprendi que a vida é muito mais do que o quadrinômio (esse termo existe?) casa-estudo-trabalho-lazer. Aprendi que há um mundo africano, índio e branco que permeia tudo, tudo, tudo. Por mais que pareçe ser somente branco, envolto em ternos, cabelos pintados de loiro e ares-condicionados.

O Carnaval é a grande prova da mistura, e que parece mesmo não ter fim. No bloco Skol, na terça-feira, durante a apresentação do DJ Fat Boy Slim, as cabeleiras eram basicamente aloiradas e ruivas, as peles claras. Com certeza poucos falavam português. Mas também havia muita, mas muita gente morena e mais escura acompanhando o trio elétrico. A música eletrônica veio para ficar na Bahia.

Fora das cordas dos blocos, em toda o percurso da festa, havia vários garotos catando latas nas ruas. Alguns pequenos, magros e - mais cruel - descalços e sem nada que lembrasse uma luva. Circulavam lado a lado com as placas da Prefeitura apregoando o fim do trabalho infantil no Carnaval de Salvador. A quem as autoridades querem enganar?

Pulei, curti prá caramba, cantei, dancei, encontrei amigos. Tomei muito S. Ice, aquela bebida enlatada de vodca e limão, que estava por um preço bem em conta, pouco mais que uma cerveja, que também estava muito barata. Convenhamos, uma latona de cerveja gelada, de quase meio litro, por apenas 2 reais é de beber até o cu fazer bico. O chato é só a mijação e a disputa por um banheiro químico ou uma parede qualquer. Isso para os homens, porque a última moda entre as garotas no carnaval de Salvador é o truque do short molhado.

Descrição do evento: agacha-se, entre carros ou em plena avenida, deixa-se o mijo escorrer pelo short. Para dar o truque geral, joga-se um pouco de água mineral entre as pernas. A foliã em seguida se levanta, alegre e faceira, como se nada tivesse acontecido. A festa continua. O cheiro também.

Mas o meu Carnaval mesmo, esse mais particular, foi na quinta-feira. Foi uma brasa, mora? Nada de cinzas. Simbora véio.

5.2.08

A festa do mijo

Ontem fiquei ate a madrugada na rua, vendo a animacao e pulando atras dos trios. Segui o Crocodilo, de Daniela Mercury, para mim a melhor cantora da axe music. A participacao da banda Vixe Mainha foi legal, animou o povo. Hoje ainda estou descansando para enfrentar o ultimo dia de folia. Quero ver o DJ Fat Boy Slim. E Daniela novamente, eh claro.

As ruas de Ondina estao cheias. Tenho a impressao de que o movimento de pessoas estah migrando para esse circuito da festa. Ha razoes para isso. As ruas sao mais largas, da para ver os trios e os cantores com mais conforto. Os caminhoes dos trios eletricos estao cada vez mais tecnologicos e mais luxuosos.

Muito lixo e cheiro de mijo nas ruas. Nao tem banheiro quimico que de conta da mijacao coletiva.

4.2.08

Carná

Muitos anos habitando a metrópole da axé music me deixaram com experiência suficiente para transitar com tranquilidade entre os vários pontos carnavalescos da cidade. Este ano, tenho um outro ponto de apoio: o bairro do Canela. Mais próximo do Campo Grande e também próximo do circuito Barra-Ondina. Estou hospedado na maior mordomia.

Acabo de chegar do Campo Grande, onde via a mudança do Garcia e os trios de Ivete e do Ciclete com Banana. Ontem acompanhei Daniela Mercury com o bloco Crocodilo. Anteontem fui à festa de Iemanjá, no querido Rio Vermelho. Fui a um almoço no novo apartamento de uma amiga. Um delicioso arroz de polvo. A festa estava tranquila. O Carnaval fez dividir a população festeira. O resultado é que ficaram no bairro aqueles que realmente gostam do clima da festa de Iemanjá. Havia um palco onde Carlinhos Brown ciceroneou vários artistas. Caetano Veloso, Mariene de Castro, Riachão e até Débora Blando deram as suas palhinhas no palco da festa, em plena Rua da Paciência.

Encontrei muita gente conhecida. Foi muito bom e além de tudo havia chuva chata, como na quinta-feira feira anterior. Nesse dia, eu tinha ficado horas esperando a chuva passar, entre Ondina e Barra, debaixo de marquises e toldos. E sem a menor perspectiva de conseguir um táxi. A sorte foi ter encontrado, já na subida para a Graça, o amigo Mattei, antropólogo holandês em estadia de estudos na Bahia, que nos convidou para tomar um café em seu apartamento, enquanto esperávamos a chuva passar. Junto com ele estavam mais dois americanos e um brasileiro. O papo foi em uma mistura de português e inglês, uma vez que um dos americanos - que eu havia conhecido algumas horas antes na feijoada da casa de uma amiga - não falava quase nada de português.

A chuva só deu trégua quase às sete da manhã. Antes disso, para completar, os taxistas faziam pouco caso para transportar os foliões encharcados para suas casas. Um absurdo.

25.1.08

Enxugamento

Há cerca de três meses entrei em uma academia de musculação. Uma coisa de faço de tempos em tempos, quando a agenda de atividades e trabalho me permite. E a preguiça não impede. Em torno de dois meses depois do começo, os efeitos começam a surgir. Percebe-se que os músculos estão mais rígidos e que a disposição e o bem-estar aumentam. Mas a famigerada barriga não cede. Não tem jeito. Mesmo os trinta minutos de esteira, que dizem queimar gordura, feitos no final da sessão de musculação, após a execução de todos os exercícios nos aparelhos, não são suficientes para fazê-la encolher.

Qual o mistério?

O caso é que, mesmo gastando muita energia na academia, as calorias eram totalmente recuperadas, pois acabava comendo mais, já que o apetite aumentava. Resolvi apelar para os cuidados médicos. Com colesterol alto não se brinca. Principalmente quando se tem histórico familiar de ocorrências coronárias.

Entrei em um frugal regime de 1300 calorias. Por incrivel que pareça, não precisei mudar muito a minha alimentação, pois já consumo bastantes frutas, verduras e legumes. Fui descobrir (isto é, a gente já sabe, mas não quer acreditar) que o que engorda são os extras: o chocolate do meio do dia, a pizza da noite, o bolo do lanche, essas coisas boas, quase sempre doces.

Deixando as guloseimas de lado, investindo no adoçante, seguindo o cardápio traçado e continuando a malhação, já consegui perder dois quilos. Em 10 dias. Acredito que não vai ser difícil chegar no objetivo de perda total de 6 quilos em dois meses. O bom é que - espero - o colesterol irá baixar e a barriga irá enxugar.

Espero que a lição fique. O caso daqui para a frente, depois de encerrar o regime, é não exagerar, manter o peso e fazer exercícios. A lição é velha, mas não existe outra opção.

22.1.08

Referência e inspiração

Acabo de dar uma olhada no site citado no post anterior. O blog que relata a estadia em Tóquio me fez perceber como as impressões registradas nas viagens são interessantes - e fugazes. O talento do autor me fez perceber que eu também poderia ter relatado muito mais do que relatei na minha última viagem. E olha que não foi pouca coisa que escrevi. Quantas impressões sobre pessoas, sobre lugares, sobre clima, sobre cultura ainda ficaram sem registro.

O ato de escrever é uma coisa imprevisível. A gente pensa sobre um assunto, mas no meio do caminho outra coisa se emenda. O que a gente escreve quase nunca sai como a gente pensou. Mas esse não é o maior problema, isso quase sempre é enriquecedor.

Eu ainda tenho uma outra pequena-grande dificuldade: disciplina. Energia ordeira para organizar pensamentos, refazer textos, reler e reescrever coisas antigas, digitar coisas manuscritas. Acho isso tudo muito difícil. Se vou para o computador, sou capaz de passar horas navegando na internet, mas sou incapaz de organizar minhas palavras. Não consigo terminar textos dramáticos longos. Não consigo digitar o que já foi rabiscado. Não consigo nem reler as várias páginas que já estão impressas. O papel foi gasto à toa para que eu tentasse ler no conforto da poltrona, do sofá ou da cama aquilo que fora digitado. Nem assim. Algumas pessoas me dizem que sou muito crítico e que isso me bloqueia. Pode até ser, mas não acho que seja só isso. Penso que eu precisaria de um objetivo. Talvez de um prazo marcado. Talvez de um dead-line para o texto.

Por isso o blog é genial. São pequenos tijolos registrados, pedradas leves que acabam de sair do forno e são imediatamente lançadas no ar. Como agora, nesse breve desabafo.

15.1.08

No mundo

Não sei quando começou, não sei por que acontece, não imagino como vai terminar. Só sei que é um projeto que enviou 16 escritores brasileiros a cidades dos 5 continentes. A partir de cada lugar, encharcados de tudo que vêem, cada um vai escrever um livro que fala de amores. Amores expressos. Se bem que, pelo que li, eles já voltaram ao Brasil.

O site do projeto tá linkado aí do lado. E o melhor de tudo é que cada escritor tem um blog contando os bastidores de sua viagem. Gostei dos relatos de Tóquio, de JP Cuenca. Li o primeiro livro dele faz um tempo. Achei numa promoção nas Americanas.

Sonho de saudade

Hoje à tarde
sonhei com a dor da saudade.
Dizem que saudade só se sente em português
duvido mais uma vez.

10.1.08

Batatinhas

Faz calor nessa terra. Vou para a academia e suo horrores. Durante o dia todo há o mesmo calor, o que ajuda é a brisa do mar. À noite, é o velho e bom ar-condicionado que vem quebrar o galho e suavizar o sono.

Há muitos turistas em Ilhéus, que enchem as lojas, bares e restaurantes. Mas é turismo rápido, boa parte dos visitantes vem de navio e permanece somente um dia. Mesmo assim, a cidade fica bem movimentada. O sucesso turístico deste verão é a versão sul-baiana do projeto Casa Cor. Só que aqui os arquitetos planejaram ambiente temáticos, que reconstituem o Bataclan, o cabaré retratado no livro e na novela Gabriela. No prédio original, restaurado e preservado, também há loja de souvenirs temáticos, galeria de arte e restaurante. A Casa do Artista, outra construção interessante, foi reinaugurada, há programação constante de peças locais. Vou conferir.

Um jogo de futebol movimenta a cidade hoje. É o Colo-Colo, time e paixão local, campeão baiano há pouco tempo, que se apresenta. Daqui de casa ouço o barulho e consigo ver uma parte da movimentação. Fogos de artifícios, batucada, gritos. É uma energia contagiante, que mesmo quem não é adepto da loucura do futebol, consegue ficar isento.


Falando sobre o Bataclan, uma prima minha me contou uma história interessante. O pai dela, hoje falecido, um distinto senhor, simples e de boa índole, que fez de tudo na vida, inclusive de trabalhar em banca de apostas de jogo do bicho, ficou impressionado quando a novela Gabriela foi lançada pela Globo. Ele viu na TV a reconstituição perfeita do tempo em que ele frequentava o local. Ele dizia que as mulheres se vestiam e se comportavam da mesma forma. E ficava impressionado com a semelhança física da atriz global (Heloísa Mafalda) com a sua personagem, a dona do cabaré, a cafetina Maria Machadão.

O senhor de pele bem alva, de grandes olhos azuis, herança dos primeiros alemães que vieram plantar cacau no sul da Bahia, dava risadas contando que se divertia muito no local com as meninas. Que em uma certa época chegou mesmo a ficar às custas de uma delas. E que as meninas eram chamadas de "batatinhas". Mas isso nem Jorge Amado e a Globo sabiam ou se lembram. Na novela elas não tinham esse carinhoso apelido.

6.1.08

Prainha


Depois do réveillon fui passear com o pessoal de Brasília em Itacaré, que fica a uns 60 km de Ilhéus. A antiga vila de pescadores virou um ponto turístico de alcance nacional, com direito a bons restaurantes, pousadas, bares, lojas. Além, é claro, das praias cinematográficas.

Eu só conhecia algumas praias próximas da cidade. Desta vez fui em praias mais distantes, como Engenhoca e Prainha. Para chegar na Prainha, caminha-se uns 40 minutos morro acima e abaixo. Isso para quem conhece bem o local ou vai acompanhado de guia, o que não foi o nosso caso. O nosso trajeto demorou em torno de uma hora e meia, passando por locais de vegetação rala e por outros de plena mata atlântica. Enfim chegamos, valeu a pena. A praia, tida como uma das dez mais belas do país, é realmente deslumbrante, como se confere na foto acima.

A primeira vez que fui em Itacaré tem muitos anos. Não havia nem estrada de asfalto até lá. Os surfistas eram praticamente os únicos que conheciam a cidade. Uma amiga minha conhecia alguém que tinha casa por lá e saiu convidando vários amigos para ficar na casa da tal pessoa para passar o réveillon. No dia combinado, o grupo cresceu além da conta. Eram quase umas quinze pessoas. Claro que não havia vaga para todo mundo. Acho que não havia vaga sequer para uma pessoa. Tivemos que procurar lugar para ficar. Enquanto a situação não se definia, todos esperavam, de mochilas arriadas, na pracinha da cidade.

A solução foi a melhor possível. Alguém conseguiu que uma família deixasse a sua casa e nos alugasse durante o feriado. Coisa impossível de acontecer hoje em dia, devido ao grande fluxo turístico. O resultado é que o melhor da festa foi a convivência do grupo na casa. Passávamos o dia tomando caipiroskas, dançando, batendo papo, fumando, namorando, ouvindo música. Quase uma sociedade alternativa, sempre na paz, harmonia e no amor.

Até que no dia seguinte, primeiro de janeiro, uma das convidadas, neurótica e careta estudante de Medicina, que havia sido levada por uma outra amiga do grupo, se sentiu incomodada com o clima, digamos, liberal, que estava instalado na casa. As duas, junto com mais outra garota, tinham vindo de Salvador de carro para se juntar à turma. A tal recalcada (ou ingênua) deu um "piti" com a amiga que a havia gentilmente conduzido àquele "antro de perdição" e disse que iria embora no mesmo dia. E foi mesmo, de ônibus, para o alívio de todos, que percebiam que ela não tinha nada a ver com o grupo. Eu espero que, para o bem da Medicina, a tal estudante tenha amadurecido e vencido as suas limitações. Talvez ela consiga atualmente aproveitar melhor Itacaré e as demais belezas da vida.

Na virada

Tempo de sol e praia. A cidade cheia de turistas, nem parece o cemitério do inverno. Navios chegam trazendo visitantes. Muitos carros de Brasília, Minas e Goiás. Pousadas cheias, barracas de praia com muito movimento. Passei o reveillon em um barco que ficou dando voltas pela baía do Pontal. Eu e mais umas setenta pessoas. Foi emocionante ver a cidade toda iluminada na primeira noite do ano. A parte histórica, em torno da avenida Dois de Julho, fica ainda mais bacana com as luzes acesas.

A festa foi organizada por um grupo que só tinha a intenção de divertir, sem pensar em lucro. O resultado foi um excelente serviço, inclusive com garçons, bufê suficiente para o dobro de pessoas, música e gente animada, cerveja à vontade, e até prosecco para o brinde. Tudo por um precinho módico. Em Salvador, uma festa do mesmo quilate seria o dobro ou o triplo do preço. Além de tudo isso, tive a companhia de gente de quem gosto muito.


Foto do barco, conhecido como "chalana".