19.11.06

Os dias

O acesso à internet, lá onde trabalho, ficou ainda mais restrito. Nada de bate-papo, Orkut, etc. Até aí tudo bem. Mas agora até os pobres blogs têm restrição. Ou seja, impossível acessar o Festa dos Sentidos durante algum intervalo rápido de trabalho. Um saco.

Ando gastando os neurônios na elaboração de outras palavras e o resultado é que o blog anda sem combustível. Mas isso não significa que acabou. É só uma fase em que outras linhas estão com prioridade.

Conheci esta semana uma québecoise. Para quem não sabe, é a pessoa nativa da província do Québec, no Canadá. Fui apresentado a ela pela minha professora de francês, que também é canandense. Foi ótimo poder passar quase duas horas de aulas conversando em francês. Sim, já consigo entender boa parte dos diálogos e consigo me expressar em frases simples.

A canadense mora em Montréal e veio a Salvador fazer uma visita técnica em projetos sociais desenvolvidos aqui na cidade. Ela tem somente 26 e tem aparência de mais jovem. Ela trabalha com intercâmbio de jovens canadenses que vão para outros países para passar um tempo, ter experiência cultural e trabalhar em atividades sociais ligadas a comunidades carentes. Os jovens de países ricos precisam deste tipo de vivência para ampliar a sua visão de mundo. Interessante.

Como o brasileiro convive bem próximo da pobreza, não faz tanto sentido viajar para trabalhar em projetos sociais. Aqui ocorre uma coisa mais perversa. O jovem de classe média ou alta, via de regra, fecha os olhos para os seus vizinhos pobres, que estão por todos os lados. Nas sinaleiras, nas invasões, nas calçadas pedindo esmolas, na favela da rua ao lado. Os jovens colocam vendas nos olhos e se concentram na dura sobrevivência de terminar os estudos, fazer faculdade e se arriscar no mercado de trabalho, cada vez mais restrito e difícil

Isso vai perversamente fazendo com que as pessoas isolem mentalmente da realidade. Seria um instinto de auto-proteção?

Outro dia passou uma reportagem bizarra no Fantástico. No calçadão de uma praia do Rio de Janeiro, havia um mendigo embalado em um cobertor (talvez uma lona preta, não lembro bem). As pessoas passavam, tiravam fotos da paisagem perto dali – era uma bela praia, próxima de uma grande pedra. Só que a “embalagem” não era um mendigo. Era um cadáver. O homem estava morto e ninguém se dava conta. Posavam para fotos, bem ao lado.

Trata-se de cegueira coletiva ou a imagem de uma pessoa enrolada e caída na rua virou lugar-comum em nossas calçadas? Tristes trópicos.

12.11.06

Novidades gastronômicas

O suplemento Veja Salvador, em sua edição 2006/2007, chegou às casas e bancas. Dá para notar, a cada ano, que as opções de bares e restaurantes se ampliam em Salvador. Todo ano faço uma lista do que há para conferir. Desta vez, a relação está maior. Muita coisa abriu na cidade desde o final de 2005. Há várias novas opções de bares, restaurantes e até casa de shows. Fica visível que os empresários baianos e de fora estão investindo pesado na área de alimentação e diversão.

De algumas das novas opções eu já tinha visto ou ouvido falar. Mas o guia Veja Salvador traz coisas que eu nem imaginava. Resta separar grana e espaço no estômago. E malhar para perder os acúmulos.

7.11.06

Volver

Tive o prazer e o privilégio de ver a pré-estréia de Volver, de Almodóvar, em sessão para jornalistas. Penelope Cruz deslumbrante no papel de Raimunda, uma mulher batalhadora e geniosa. É o melhor papel dela, até hoje. Um trabalho de uma magnitude que não foi possível antes em Hollywood. Ela está bem mais solta na fala e nos gestos. Tem-se a impressão de que ela precisou voltar à sua língua original para brilhar intensamente.

O tema do filme é a teia de relações entre as mulheres, sejam elas amigas ou parentes. Almodóvar parece querer provar que as mulheres estão próximas da auto-suficiência emocional. Ou, pelo menos, diluem as carências nas relações de amizade. Situação diferente de Fale com Ela, que mostrava a dependência feminina nas mãos de homens sensíveis.

O roteiro do filme é fantástico. Além do talento de diretor, Almodóvar tem a capacidade de escrever histórias fabulosas e envolventes. Muito talento em uma pessoa só. Ele continua transgressor. Em Volver, a família de Raimunda (mãe, irmã e filha) tem trajetória pouco convencional.

Maravilha. Mas eu continuo sentindo falta, nas últimas produções, daquele humor escrachado de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, Kika, De Salto Alto. Mas acho que o diretor não retorna mais a este ponto. A sua carreira tomou outro rumo. É pura nostalgia minha.

2.11.06

Convite

Imagine receber um convite para participar de um projeto muito interessante, nos moldes como você imaginou. Imagine realizar um trabalho com gente que você admira. Gente inteligente, capaz e produtiva. Um trabalho que você mal sabe por onde deve começar, mas que depende principalmente da emoção, daquilo que vem de dentro da sua alma. Da sua vontade, dos seus sonhos e delírios.

Um trabalho que, apenas pelo fato de estar participando, você já sente um friozinho na barriga, com uma pontinha de ansiedade e outra de grande satisfação.

Isso está acontecendo comigo. Só que não posso dar mais detalhes agora, pois as coisas só estão engatinhando. Participei de uma reunião e foi algo divertido, consistente e muito bom. Depois conto mais. Vou ter que apertar ainda mais a minha agenda, mas vai valer a pena.