31.8.12

Novo morador

Tenho um novo roommate. Ele ainda não decidiu se vai ficar para morar, está achando o aluguel caro. Mas ele é corajoso, sobe onze andares pelas paredes do prédio em busca de um amendoim perdido ou de alguma maçã em cima da mesa. Ele é boa vida, trabalha divertindo turistas nos parques, só para ter o que comer. Acho que ele quer mesmo é ser pet e ganhar casa e comida de graça. 
Spider, o esquilo-aranha
 

27.8.12

Destrua o vestido de noiva

Durante os passeios de bicicleta pela cidade, principalmente nos sábados à tarde, vejo uma cena que se repete com frequência. Um casal de noivos, ela de vestido branco de casamento e ele de terno, fraque, ou qualquer outro traje apropriado, quase sempre com buquê de flores nas mãos, acompanhados por um fotógrafo, perambulando pela cidade em busca de boa locação para fotos do álbum.

A cena é mais comum na beira do lago ou nos parques, obviamente, pela beleza. Mas eu já vi trio fotógrafo-noivo-noiva andando pelo viaduto Broadview. Onde, acredito, a atratividade do local consiste de carros passando em alta velocidade.

Canadenses não se importam em usar trajes diferentes. Seja para atrair a atenção ou para testar se a política da indiferença com a vida alheia, tão querida e apregoada por este povo, continua firme. Então de vez em quando passa alguém fantasiado de Batman pela rua. Não importa se é época de Halloween ou não. Não importa se a pessoa está chegando ou saindo de alguma atuação teatral. Não importa se está indo para alguma festa a fantasia. O importante é ser criativo. 

Fotógrafos e noivos parecem levar a criatividade aos últimos consequências. Para quem é estrangeiro, é estranho, mas acaba sendo divertido. Na praia da beira do lago, vi que um grupo de espanhóis beberrões ficou olhando para os noivos com ar de espanto e comédia. Um deles não aguentou e foi tirar foto, com seu proprio iPhone, com o casal, que meio sem jeito, o acolheu no meio. A foto deve ter ficado com cara de ménage à trois.

No Brasil o trabalho do fotógrafo seria impossível. Haveria fila de pessoas querendo tirar fotos com o casal, assovios para a noiva, piadinhas sobre a vida sexual, pedidos de convite para a festa do casamento. Só alguns exemplos da interação que os brasileiros gostam de fazer com aquilo que lhes parece exótico, divertido, estranho , atraente ou exibicionista.

Mas a onda das fotos criativas do casamento norte-americano vai além. Existe um modismo de poses depois da festa. É o “Trash the Dress”. É a destruição do vestido, o vestido vai para o lixo. Então tem noiva que, passados casamento, festa, lua-de-mel, viagem e entrando na monotonia do cotidiano, resolve se vingar.

Sob os olhares atentos e os cliques rápidos do fotográfo, ela posa para fotos depois de rolar na lama, de queimar partes do vestido, de encharcá-lo na água, ou depois de qualquer outro método de destruição escolhido.

Parece estranho, quando se poderia simplesmente doar o vestido, já que não se quer mais guardá-lo ou não se tem mais espaço para armazenar o trambolho. E, efetivamente, pode haver acidentes, como o que ocorreu no Québec.

Primeiro pensei que se tratava de uma notícia falsa, pelo tom quase inacreditável. Mas foi verdade. A noiva entrou no rio para encharcar o vestido. O vestido ficou pesado demais e a correnteza a arrastou. O fotógrafo não conseguiu resgatá-la e ela morreu afogada. Uma bela mulher de 30 anos. Adeus vestido, adeus casamento, adeus noiva.

Confira aqui:
http://www.ctvnews.ca/canada/caution-urged-after-bride-s-photo-shoot-death-1.930467

23.8.12

Sobre comida e troca de ideias

Querida amiga,

Estou lendo um livro cuja primeira - e acho que única - indicação para mim foi sua: Afrodita, Cuentos, Recetas y Otros Afrodisíacos, de Isabel Allende. Eu estava na época do trabalho de conclusão de Jornalismo, que tratava da comida da nossa região, e você viajava comigo. Sei que o tema também lhe é muito querido. Então a gente conversava muito nos intervalos de trabalho e você sempre me trazia ideias e sugestões de temas, detalhes, personagens. Nós viajávamos juntos.

Eu creio que, naquela época, o livro da escritora chilena servia de inspiração para a sua criatividade culinária e talvez amorosa, provavelmente. Sei que, naquele tempo, você não era muito próxima das panelas, mas adorava o assunto e adorava viver rodeada de bons resultados no fogão, seja lá de quem viessem. Livros e panelas (ou, melhor, o produto delas) sempre nos atraíram.

Outro dia li um comentário seu sobre o reencontro com amigos de longa data. Sobre o carinho existente, sobre como é bom não precisar medir as palavras, para não correr o risco de ser mal interpretado. Os velhos amigos cumprem bem esse papel, tenho certeza.  

Aqui neste país de línguas estranhas eu vivo uma realidade que adoro. Comidas do mundo inteiro ao alcance fácil das mãos - e do bolso. Livros que nunca imaginei poder ler. E, o que é melhor, em suas línguas originais. O sistema de bibliotecas da cidade me dá acesso a livros em um número inacreditável de títulos em inglês, francês, espanhol e português.

Depois de quatro anos aqui e de bastante esforço - uma tarefa agradável, no entanto -, aprendi a ler sem muita dificuldade em francês e inglês. Com o aumento do vocabulário, entranhamente, até o espanhol ficou mais fácil. Por isso preferi ler Afrodita na versão original, sem recorrer a traduções.

Mas, sabe, acho que o que mais me motivou a escrever esta missiva foi saudade da nossa troca de informações. Algo muito presente entre mim e os meus amigos, algo que sempre tive ao meu alcance. Lembro que você sempre chegava com uma novidade, um detalhe inesperado, um filme inédito, uma peça de teatro estreando, um plano de viagem, fosse ela mental ou a um local distante.

Graças ao céus, aqui também conheço pessoas bacanas e generosas, capazes de grandes gestos de ajuda e companheirismo. Aqui também tenho pessoas instruídas e cultas ao meu redor. Seres de culturas, de origens e línguas diferentes. Mas falta um pouco da viagem. Não aquela aos locais distantes, um gosto compartilhado por todos. Mas a viagem das ideias.

A sobrevivência em um mundo estrangeiro induz ao pragmatismo. E a um certo consumismo, infelizmente. Trava-se uma busca incessante por segurança, pelo aluguel do próximo mês, por realização profissional. Totalmente compreensível. Aqui não se conta com a rede familiar. Aqui parte-se do zero para a construção de uma nova vida. O que é muito bom, mas também tira muito da energia para fruição, do prazer de aproveitar e debater pequenos e grandes detalhes da cultura e dos hábitos em que fomos criados e nutridos. Ou do local em que estamos inseridos e que é a nossa casa atual.

Querida amiga, esta carta é algo de crônica de uma bela lembrança. De um pequeno desabafo, talvez. Somos felizes por poder transformar em letras os pensamentos e sentimentos. E de poder ter com quem compartilhar. 

Se isso for apenas mais uma incumbência para transportar, nessa frágil existência humana, que o fardo seja leve, alegre e traga boas palavras ao mundo.

Um beijo. 

6.8.12

Hamburguer de qualidade

Para quem vive fora da America do Norte, hamburguer eh praticamente sinonimo de McDonald's. Isto significa sanduiche sem graca, gorduroso, com um sabor que beira algo entre plastico e borracha. Quando se conhece mais profundamente o que eh um verdadeiro hamburguer, o gosto muda e a experiencia se intensifica. 

Aqui no Canada existem restaurantes especializados na iguaria, nos quais fica dificil ateh escolher os ingredientes, entre os diversos tipo de carne, queijos e molhos sem fim. Ateh o simples hamburguer que se compra congelado para preparar em casa tem algo de excepcional, como o que acabo de devorar agora, com carne defumada, estilo barbecue feito com lenha de hickory. Para acompanhar, nada mais do que o pao, queijo Cheddar, catchup de boa qualidade e mostarda Dijon. E basta, eh alegria geral.