18.4.12

Metablogagem

Conheci o mundo dos blogs na época da Faculdade de Comunicação. Depois do e-mail, o blog foi o instrumento de comunicação que veio a seguir. O professor de cibercultura usava um blog para fazer os alunos escreverem um resumo da aula anterior. Ao ver aquele instrumento de publicação tão acessível, gratuito, sem limites, eu fiquei muito interessado e cadastrei logo um para mim. Este aqui.

Mas foi depois da conclusão do curso que tive mais tempo e passei a (tentar, pelo menos) escrever com regularidade. Descobri então uma das melhores características de um blog: a resposta imediata do leitor, com a possibilidade de interação pela seção de comentários. Isso fazia diminuir a sensação de estar enviando palavras ao vento ou guardando papéis para o mofo das gavetas. O leitor agora tinha nome ou pseudônimo e estava ao alcance de um clique.

Lendo e publicando online, comecei a participar da blogosfera e conheci vários blogueiros, de Salvador e de outras cidades. A rede social dos blogs unia aqueles que gostavam de escrever e trocar ideias. Acompanhávamos as histórias de vida, os amores, as viagens, os filmes, as peças de teatro, os shows, as mudancas de comportamento, os problemas pessoais, os fatos políticos. Tudo pelos olhos e ouvidos dos blogueiros, agora transformados em relatos. Era como se transferíssemos e expandíssemos os nossos sentidos, dando poderes a outras pessoas com as quais tivéssemos afinidade. E muitas vezes nem conhecíamos ao vivo essas pessoas, tão interessantes e com tanto a dizer.  Mas conhecíamos as suas trilhas na vida - e os seus olhares e percepções.

Lembro de uma ciber-amiga que escrevia um blog muito legal. Ela se mantinha anônima e se permitia extravasar emoções, alegrias e as angústias nos seus escritos, sem a imposição de qualquer auto-censura. Ela atualmente se dedica aos estudos de doutoramento, talvez até ja tenha terminado, não sei, e à sua rede de comunicação no Twitter. Nunca tive o desprendimento e a audácia que ela tinha ao se expor tanto publicamente - protegida pelo anonimato, é claro. Procuro evitar temas íntimos ou muito espinhosos. Coisa de jornalista, possivelmente.

Se as novas redes sociais Orkut, Facebook e Twitter intensificaram a resposta imediata do leitor, elas no entanto espalharam as letras. A velocidade das redes tira parte da energia útil para escrever textos mais longos e um pouco mais profundos do que os 140 caracteres do Twitter ou cinco linhas de uma postagem no mural do Facebook. Mas nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, já dizia a velha lei da ciência aprendida na escola. O que tem acontecido, pelo menos comigo, é que os temas e comentários lançados no Facebook acabam me inspirando, rendendo pequenos posts como este.

O tempo passa rápido, os blogs mais antigos comemoram em torno dos 10 anos de existência. Poucos ainda estão funcionando com regularidade, salvo os ligados aos grandes meios de comunicação. As redes sociais continuam a ocupar o maior tempo dos internautas. A diferença é que agora são milhoes de pessoas no mundo publicando ou republicando diariamente.

De vez em quando volto aos meus arquivos do blog e relembro o passado recente. Leio sobre as mudanças que ocorreram, sobre o que foi marcante. Leio tambem o que não foi dito, o que não foi escrito. Isso talvez seja até mais importante para mim.


12.4.12

Multilinguismo

Há alguns dias recebi um e-mail do grupo Toronto Babel falando que uma rede de tv de Toronto procurava uma pessoa "hiperpoliglota", que falasse seis ou mais línguas, para uma matéria. O Toronto Babel é um evento que ocorre toda semana, às terças-feiras, há mais de um ano, em um bar da cidade. As pessoas que vão a esse encontro buscam praticar línguas estrangeiras, não importa qual seja. Ou inglês, no caso de visitantes ou estudantes no Canadá. Ou mesmo moradores recém-chegados. Então fica gente praticando inglês, francês, mandarim, espanhol, português, russo, italiano e o que mais se imaginar.

O evento é informal, regado a cerveja, vinho e muito bate-papo, terminando sempre no onipresente inglês. Ou no português, como no meu caso, uma vez que os conversadores brasileiros não conseguem deixar de lado a língua pátria quando estão juntos.

A organizadora do evento Toronto Babel, uma estudante de doutorado em Linguística, já virou referência na cidade quando se fala em articulação de pessoas em práticas de linguagem. Por isso os meios de comunicaçao correm para ela quando precisam de fontes.

Falar seis linguas parece algo de seres extraterrestes, mas é possivel em Toronto. Tem gente que vem para o Canadá vindo de pais onde se fala mais de uma língua. Chega aqui e aprende inglês e francês. Adquirido o vício da mala sempre pronta, sai viajando pelo mundo, em estadias mais ou menos longas, vendo novas paisagens, conhecendo gente nova, saboreando pratos desconhecidos e aprendendo novas palavras.

Em outro encontro que às vezes frequento, o de francês, conheci um indiano que me garantiu que falava mais de seis línguas. Ele trabalhava em hotelaria no seu pais de origem e sabia, além de inglês, francês e árabe, as linguas da India: hindi, urdu, bengali, punjabi e outras mais. Além das línguas nacionais, que são o inglês e o hindi, a India tem mais 20 línguas usadas regionalmente. E cada uma delas falada por milhões de pessoas. Como se não bastasse, ainda tem o português que ficou perdido na região de Goa e que ninguém mais fala. Só vi o tal indiano uma vez e não teria como testar se ele falava mesmo a quantidade de línguas que ele prometia. E nem queria essa atribuição para mim. Isso seria trabalho para a rede de tv.

Tenho um outro amigo que com certeza sei que fala cinco línguas: russo, ucraniano - do seu país de origem-, mais inglês, francês e até português, aprendido durante um ano morando no Brasil e que ele fala quase sem sotaque, de uma maneira inacreditável para tão pouco tempo de estadia em terras lusófonas. Sim, este nome pomposo é aplicável a todas as pessoas que falam e aos locais onde se fala português. Ou seja, todo brasileiro é lusófono, queira ou não.

Com certeza a rede de tv deve ter encontrado o seu personagem para fazer a matéria. Os hiperpoliglotas não são seres alienígenas. Com algum esforço eles podem ser encontrados nas grandes cidades do Canadá.

Fiquei pensando se a língua do P poderia entrar na conta das línguas dos hiperpoliglotas.