25.12.09

Merry Xmas

Ainda bem que a salada de Natal ficou bem gostosa. A partir de uma receita simples de salpicao, feito com batatas, adicionamos outros ingredientes. Fiquei com medo de ter carregado no alho em pó, mas o resultado ficou muito bom. Os condimentos secos nem sempre sao fáceis de serem utilizados, pois os sabores estao concentrados.

O jantar de teve peru com molho de laranja e mostarda, carne assada em estilo brasileiro, porco assado, arroz temperado. Muito vinho espumante com licor de cassis. Coquetel de líchia. Vinho tinto. Uma farra. Para completar, pesquei uma garrafa de Amarula na brincadeira de amigo ladrao.

Natal quase sem neve em Toronto, com temperaturas acima de zero. A pouca neve que caiu já derreteu.

6.12.09

Manha

Colocar o casaco, gorro, luvas, sair para tomar um café logo pela manha, ler calmamente o jornal do domingo, enquanto a cidade acorda. Isto é Canada. Os senhores se reúnem para um bate-papo amigável. Tem gente que fica em frente do computador, trabalhando ou estudando, olhando o movimento na rua. Estao todos sós, temporariamente ou definitivamente, mas estao cercados de gente, do cheiro de café e de pâtisseries. A cafeteria é mais aconchegante do que a mudez em frente à televisao ou internet.

20.11.09

Perfeita (in)definiçao

''Os chineses se perguntam sobre Obama. Não sabem se é a cara amável e momentânea de uns EUA debilitados pelos disparates de Bush e pela crise econômica, ou o novo rosto de uma superpotência adaptada a um mundo mais equilibrado e multipolar.'' Do El País.

4.11.09

Reta final

Livre da matéria mais pesada do curso. Tâches de fin d'année. Tarefas de fechamento e reabertura de balanços anuais. Uff.

3.11.09

Quelques minutes

Alguns minutos antes do intervalo da aula. Antes da merenda. Prova depois do almoço. Em breve termina. O curso passa rápido demais.

3.10.09

Los hermanos

Show do Bajofondo em Montréal. No Le National, na avenue Sainte-Catherine. Teatro antigo, parecendo alguma casa de espetáculos de Buenos Aires. Ótima escolha para apresentaçao, tudo ficou no clima. Encontro a argentina M., minha colega do curso de francês escrito. Ela havia visto esse mesmo show, Mardulce, em sua cidade natal, Neuquem.

Eu nunca tinha ouvido falar nessa cidade. Ela fica no sul da Argentina, bem próxima do Chile e é uma cidade de porte médio/grande, tem em torno de um milhao de habitantes.

O show foi animadíssimo. Houve uma parte mais intimista, somente com bandonéon e instrumentos de corda. Mas quem falou forte foi mesmo o tango eletrônico. Valeu cada huard (dólar) pago.

27.9.09

Antes do tempo

Ainda estou de boca aberta. A minha escritora favorita no Québec (há um link aí ao lado para a sua coluna semanal no jornal Ici) simplesmente cometeu suicídio. Aos 36 anos de idade. É, desde a época romântica tem escritor e poeta que faz isso. Pelo jeito, o hábito nao mudou.

Ela publicou 3 livros, dos quais eu li dois, e o quarto já está pronto, mais ainda nao foi lançado. Curiosamente, o este último trabalho fala sobre o direito ao suicídio. Que coisa.

Ela era uma mulher muito bonita, chegou a ser prostituta antes de terminar o seu mestrado em literatura. A sua experiêcia aparece em parte no seu primeiro livro, «Putain». Mas ela parecia ser uma alma sensível e atormentada, principalmente pelas questoes femininas da beleza, do desejo, da seduçao. É mesmo uma pena. Bon voyage, Nelly Arcan.

23.9.09

Rotina

Nesta minha fase de estudante, a quarta-feira é o dia favorito. Aula só até 12h30. Isso porque passei em todas as matérias e nao preciso fazer recuperaçao, prevista para a quarta à tarde. Depois almoço e soneca. Internet. Talvez natacao mais tarde. Ih, preciso comprar algumas coisas para casa. Pao, leite, geleia, essas coisas.

17.9.09

Au travail

Terminando o primeiro estágio. Aproveito o finalzinho do último dia para arrumar as idéias. Nao é moleza trabalhar em outra língua. Existem as diferenças culturais, existem pessoas que falam muito rápido, de forma ainda quase incompreensível para mim. De forma geral os ambientes sao muito silenciosos. Tenho a impressao que o brasileiro gasta muita energia durante o trabalho por falar demais, em vez de ficar mais tempo em silêncio, se concentrando ou apenas relaxando.

Aqui se trabalha com mais calma, mas a forma de labutar nao muda muito. Sao utilizados os mesmos velhos programas de computador, basicamente a suíte Office: Word, Excell, Powerpoint.

O que pega mesmo é a língua. Que falta me faz poder escrever corretamente com rapidez, poder argumentar com facilidade, poder falar ao telefone tranquilamente. Ainda vai levar algum tempo para que as atividades sejam feitas de modo mais fácil. O conhecimento técnico é muito importante, mas só quando a gente deixa a língua natal, percebe como a comunicaçao é parte fundamental do trabalho.

26.8.09

Com açúcar, com afeto

Que belo filme é Julie & Julia. Meryl Streep é Julia Child e Amy Adams é Julie Powel. É a adaptação da diretora Nora Ephron, a partir de dois livros de memórias: Julie & Julia, de Julie Powel, e My Life in France, de Julia Child com Alex Prud’homme.

Julia Child é um clássíco da televisão americana. Foi ela quem se prontificou a ensinar as receitas da cozinha francesa aos americanos, depois de ter passado uma longa estadia na Europa. Julie Powell, por sua vez, apaixonada pela culinária e aborrecida com o seu trabalho de escritório, cria um projeto para obter visibilidade e sucesso: cozinhar, durante 365 dias, mais de 500 receitas de Julia Child, com todas as alegrias e pecalços relatados em um blog.

É um filme que consegue emocionar, sem desandar para qualquer tipo de dramalhão, interligando as histórias de duas mulheres apaixonadas pela cozinha, cada uma com os seus objetivos. Fica bem clara, e isso não é nenhuma novidade, a estreita relação entre a culinária e o amor.

25.8.09

Entre línguas

Fini l'examen d'anglais. Ouf! Imagine, mal dominando o francês, ter que traduzir termos técnicos do inglês para o francês. Olha que loucura: fournitures (móveis, inglês; material de escritório, francês). Se o texto estiver em inglês, a traduçao de fournitures para o francês entao será meubles. E, nao tem como escapar, o raciocínio sempre vem em português. :-P

22.8.09

Volta, vem viver outra vez nos meus braços

Eu preciso voltar a escrever. Preciso pensar em português.

It's english now

Eu adoro o sotaque dos anglófonos do Québec. Do Québec, não, de Montréal. Pois só em Montreal se fala inglês no Québec.

O sotaque inglês do Québec é alguma coisa diferente da pronúncia anasalada (e chata!) americana e da impostação inglesa. É um sotaque simplesmente lindo. Adoro. Ouça Leonard Cohen para saber do que estou falando. Eu adoro a língua inglesa.

9.8.09

Andanças

Hoje eu vi o verde. Hoje eu vi os rastros espalhados na grama. Vi litros de alegria e preguiça. Hoje eu ouvi o som que vem do tempo. O som que vem da longevidade. Ouvi palavras estranhas, mas que me parecem familiares. Ouvi sons que me emocionaram, que disseram mais a mim do que o que tentaram me impor, mais do que era acreditado e cultuado. Vi imagens de um tempo perdido, imortal, atemporal, que os anos não levam embora. Eu comecei a ver cores nos espaços onde elas costumam não estar. Vi coisas que pareciam ocultas, mas que estavam sempre debaixo dos meus olhos, sem que eu me desse conta. Eu vi e ouvi segredos bem guardados. Senti que tempo e espaço são relativos, que as belas palavras são imortais, que as cores são infinitas e que as emoções não são culturais, são humanas. Sei que tudo faz parte de um equilíbrio delicado. Sei que tudo muda, sei que cada etapa tem o seu tempo, mas gostaria de prolongar as cores do verão.

Vi e ouvi o show de Leonard Cohen na televisão pública de Vermont. O velhinho de Montréal joga duro. Gostei mais do que qualquer outra coisa francófona que já ouvi antes. Sorry, mes amis, mas música, ah, música, isso é em inglês.

13.7.09

Em Toronto

Eu viajei para o Canada. Estou em Toronto, na casa dos meus amigos R & B. Quando se sai do Quebec, tem-se a impressao de mudar de pais, jah que se muda de lingua. Toronto tem mais ar de metropole que Montreal. Eh maior, tem predios altissimos, muitas e muitas construcoes. A cidade eh um canteiro de obras. Crise? Que crise?

A greve dos lixeiros estah corroendo a imagem de cidade limpa e bem cuidada, mas Toronto ainda guarda os seus encantos. A orla do lago Ontario eh bem bacana, no domingo muita gente passeava por lah, aproveitando o sol de verao.

Os meus amigos tem uma cachorrinha Bulldog que chama a atencao na ruas. As pessoas param, acariciam, chegam ateh a tirar fotos! O canadense medio parece gostar mais de animais do que de gente.

Comer fora em Toronto estah mais em conta do que em Montreal. Na Yonge Street, uma das principais arterias da cidade, varios restaurantes orientais oferem cardapio a 6 dolares (antes das taxas). Dah para comer sushi super-bom e barato. Uma festa para os olhos, para o paladar e para o bolso. Menos para a silhueta.

7.7.09

Casa nova

Após a semana de mudança de casa, alguns dias de descanso, que ninguém é de ferro. O novo apartamento é pequeno, mas tem tudo. O condomínio disponibiliza até Tv a cabo, e eu nem sabia. Consigo também conectar na iternet via rede sem fio. O sinal não é grande coisa, interrompe com frequência, mas dá para ler os e-mails, os sites de notícias, ir no Orkut, Facebook, etc.

Daqui dá para ir a pé para quase todo canto da cidade. Como o endereço fica bem no centro, em um raio de 30 minutos de caminhada é possível chegar nos pontos mais interessantes de Montréal. Isso inclui a Place des Arts (onde acontece o Festival de Jazz), a rue Saint-Catherine, o Plateau Mont-Royal e o Parc Lafontaine.

Apesar de ser uma cidade grande - a região metropolitana conta 3 milhões de habitantes -, Montréal é tranquila, como todas as cidades do Canadá. Aqui na rua, mesmo sendo região central, mal passa uma pessoa pela calçada. De vez em quando é que passa um carro. Imagine no inverno. Vai ser um paradeiro total.

16.6.09

Números, números, números

Desde janeiro em aulas, a minha cabeça começa a liberar tênues sinais de fumaça. De tanto lidar com números. Esta semana está uma dureza só. Deveríamos estar de férias, mas a escola decidiu empurrá-las para julho. Entao estamos com vários testes e exames acumulados. O adiamento da folga tem seu lado bom porque julho é o mês em que tudo acontece em Montréal. Os festivais, as festas, as piscinas externas, pernas de fora, turistas e o calor.

Até aqui foram quase seis meses ininterruptos de aulas, seis horas por dia, somente intervalos de 5 minutos a cada hora e mais uma hora de almoço. Tem uma hora que isso cansa. Percebe-se uma leve irritaçao coletiva na sala.

Mas, felizmente, ainda existem dois feriados até as férias começarem. Dia 24, Sao Joao, que é padroeiro do Québec. É a festa nacional da província que se considera uma naçao dentro de outra. E o dia primeiro de julho, que é a data nacional do Canadá.

14.6.09

La quarantaine

Comemorei o meu aniversário acompanhado das festividades na avenida do Mont-Royal, a rua onde moro. Foi uma feliz coincidência, pois da varanda dá para ver tudo o que está rolando na "Nuit blache sur le tableau noir", uma festa de rua com apresentações artísticas, música, quiosques dos restaurantes e mesas dos bares nas calçadas. Uma mistura de festa de largo da Bahia com feira livre, na qual as lojas, bares e restaurantes aproveitam para fazer promoções dos seus artigos e aumentar as vendas.

Quase todo mundo que convidei veio bater ponto. A maior parte de brasileiros, mas havia gente do Québec, iranianos, turca, filipina, ucraniano, jamaicana, mexicana e por aí vai. A multiculturalidade imperando. As pessoas trouxeram suas bebidas, algo bem comum aqui. Providenciei salgadinhos, patês, queijos, pães, kibe assado, salada. Bolo de aniversário e parabéns, que não poderiam faltar. Cantamos em português, francês e inglês.

A festa rendeu, não imaginei tanto. Os últimos convidados saíram com o dia amanhecendo, quase às cinco da madruga.

Foi realmente tudo muito gostoso, fiquei muito contente. Foi também a despedida do belo e grande apartamento do Plateau. No próximo mês mudo de casa, para um lugar não tão espaçoso, mas também muito agradável.

8.6.09

A fazer

Acho que vou voltar a escrever mais por aqui. Inspirado pelo Twitter, vou experimentar manter os textos mais curtos, mas nem sempre consigo.

Agora é mês de providências e de arrumação de mudança. O apartamento já está alugado e o contrato está em mãos. Ele fica bem perto do parque Lafontaine. É pequeno, mas tem tudo: geladeira, fogão, cama, mesa de sala, mesa de computador, cadeiras, televisão, cômoda, armários embutidos. Estou pensando em comprar uma bike, já que vou estar perto do parque. Aqui em Montréal andar de "vélo" é parte da vida urbana.

Providências para o estágio, renovação da carteira de seguro-saúde, vários testes e exames antes das férias de julho. Tudo em francês, muita coisa para fazer. Bate cansaaaaço.

7.6.09

Andando por aí

Passear a pé é uma das boas coisas a se fazer nesta cidade. Hoje foi um domingo sem sol, mas ainda sem calor, com muitos ciclistas na rua, pois aconteceu o "Tour de l'île", ou seja, a volta na ilha de Montréal. A volta havia terminado, mas muita gente ainda circulava.

Fomos até uma patîsserie francesa, no bairro de Mille End, próximo daqui onde moro, o Plateau Mont-Royal. Experimentei uma pizza deliciosa, com folhas de espinafre, cogumelos, azeitonas e temperos. Quase não havia queijo, apenas algumas lascas raladas grosseiramente. Estava ótima, sem o frequente excesso de gordura do queijo mussarela. De sobremesa uma massa folhada com recheio de geléia de maçã.

Depois fomos no Café Olimpico, uma cafeteria italiana onde já havia ido outras vezes. Lá tem um café muito bom, bem melhor do que o das redes de cafeterias norte-americanas, como Tim Hortons, Van Houte, Second Cup. E agora, com o aumento da temperatura, o Café Olimpico abriu a sua área exterior, com mesas e bancos. A área vive sempre cheia de gente, batendo papo e apreciando o sabor de poder ficar ao ar livre. Uma possibilidade que dura no máximo uns seis meses por ano neste país gelado.

6.6.09

Na grama

Sabe aquele hábito que os habitantes dos países frios têm de se extenderem nos gramados dos parque? Sou o novo adepto. Nunca me imaginaria nessa situação. Baiano, nascido, crescido e amadurecido (ops, ainda não totalmente!) na beira da praia, eis que resolvo me mudar para o hemisfério norte, distante somente algumas centenas de kilômetros da calota polar. Resultado: os dias de sol são preciosos e merecem ser totalmente aproveitados.

Eu que achava o hábito um tanto ridículo, me vejo fazendo a mesma coisa. E sabe que ficar no parque, estender a toalha (manto, lençol, edredon, canga, ou o que aparecer) e curtir o sol, a sombra das árvores, o lago com patos, a fonte, os pássaros, é bem agradável? No centro da cidade, é um refesco para o cansaço e o estresse, um refresco para o corre-corre. Sem o calor e o suor da praia, mas também sem a água do mar. Contando com a tranquilidade e a segurança fornecida pela polícia da cidade.

Vou me mudar para perto de lá no próximo mês.

13.5.09

Atualizando

Uma volta pelos blogs brasileiros me fez lembrar que há quase um mês não publico nada aqui. Não sei o porquê. Preguiça mesmo. A mente está voltada para o curso que estou fazendo. O que, diga-se de passagem, me consome muita energia.

Tenho lido bastante em francês. Li À ciel ouvert e Folle, da quebequense Nely Arcan. Bye, bye, blondie, da francesa Virginie Despentes, e Quoi mettre dans sa valise, do quebequense Alain Roy. Agora resolvi voltar para o inglês e estou lendo (bem lentamente e com ajuda do dicionário) o livro Anjos e Demônios, de Dan Brown. Quero ver se termino antes de ver o filme, mas acho que não vai dar tempo. O livro, versão de bolso, tem 700 páginas.



Visitei há duas semanas a capital da província, a cidade de Québec. Um tesouro histórico do Canadá. Parece o cenário de um filme. A cidade é linda, vale a pena conhecer. Fomos de carro, éramos cinco pessoas. Uma rodovia de pista dupla liga Montréal à capital, a viagem dura umas 3 horas. Ficamos em um albergue.

Eta cidade que faz frio. Enquanto Montréal já dava os primeiros passos no calor, Québec ainda conservava o frio em plena primavera.

A foto é do Parlamento.

13.4.09

Trop blanc

Eu estou branco como nunca estive. Ou, pelo menos, ao máximo que a minha pele brasileira mestiça alcança. Aqui há uma piada que diz que, depois de 5 meses de inverno, até os negros que vêm do Haiti se tornam brancos. Já os brancos do Canadá se tornam quase transparentes. Com o frio e o ressecamento causado pelos aquecedores, a pele fica fina e sensível. E debaixo da touca de lã o cabelo acaba ficando com uma textura mais sedosa do que a normal. Coisas do clima.

1.4.09

Nao pode chamar de feia - Coisas do Canadá

Os bares de dançarinas peladas fazem parte da cultura cultura norte-americana. Em inglês, a dancinha-popozuda se chama "pole dance", ou dança do poste.

Os proprietários dos estabelecimentos negam veementemente que estes sejam locais de prostituiçao, mas isso funciona como tentar fazer um adolescente acreditar em Papai Noel.

Em Montréal, cidade conhecida pela vida noturna animada e liberal, existem inúmeros bares de "danseuses nues". Principalmente na avenida Sainte-Catherine, a preferida dos turistas estrangeiros. Lojas de griffe e restaurantes badalados convivem com os bares das peladonas.

Para atrair a clientela, a dona de um bar da regiao de Pierrefonds, colocou na placa do seu "Cabaret Bazar" a seguinte inscriçao: 12 dançarinas, sendo 10 bonitas, uma gorda e uma feia.

Claro que deu certo. A polêmica se instalou, o movimento aumentou e atraiu a mídia, com direito a foto e matéria no "Journal de Montréal".

A dona se defende dizendo que nao há nada na lei que impeça de dizer que alguém é gordo ou feio. É tudo questao de gosto. O politicamente correto norte-americano reclamou. As feministas se revoltaram. A prefeitura pediu ao estabelecimento que alterasse a placa.

"Depois de gorda e feia, o que mais vai haver? Deficiente física e negra?", reclama a Prefeita.

Enquanto isso, a placa do Cabaret Bazar continua, pois a Prefeitura só pode dispor sobre o seu tamanho e nao sobre o seu conteúdo. E a proprietária continua feliz e saltitante com o lucro atraído pela gordinha e pela feinha.

Journal de Montréal, 1o. de abril, página 7.

30.3.09

Na primavera

No sábado foi o aniversário da minha nova amiga de infância, a turca Buse. O nome dela faria qualquer brasileiro, povo sempre tirado a engraçadinho, soltar alguma piada. Lá fomos nós, em uma turma de umas 8 pessoas, tomar umas cervejas em um boteco da rua Prince Arthur, perto da esquina com a Saint-Laurent.

Depois que eu apresentei para ela a cerveja branca, essa é sempre a nossa primeira opção. Uma delícia, a cerveja branca leva trigo na composição e é opaca, como se tivesse sólidos em suspensão. Nossa, essa expressão eu tirei do baú, mais precisamente da época da engenharia química. Sim, além de jornalista, eu também sou engenheiro, apesar de nunca ter exercido essa profissão. Mas, como o universo tem lá os seus segredos, quinze anos depois de muito esforço para obtenção do diploma - isso foi em 93 -, chego eu de mala e cuia no Canadá. Graças ao certificado da velha Escola Politécnica da Ufba.

Então, depois da cerveja branca fomos dar uma caminhada pela Saint-Laurent. Primavera chegou, frio começa a partir, é possível passear pelas calçadas e ruas. As pessoas devolvem ao armário os grossos casacos de expedição polar e de lá tiram os casacos de meia-estação. Em cada 10 pessoas, umas 6 estavam usando jaquetas de couro ou imitação.

Resolvemos entrar em um bar-boate, o Tokyo. Interessante, havia um espaço aberto no fundo, para os fumantes e para os que gostam de ar livre. O tempo ainda está frio, então são colocados alguns aquecedores em forma de poste com chapéu. Explico. É uma espécie de aquecedor a gás, como se fosse uma boca de fogão, mas revestida por uma tela e com uma cúpula para o calor descer. Dá uma boa ajuda para melhorar o clima.

Som meio chatinho, praticamente só hip hop e algumas coisas empoeiradas dos anos 80 (até Thriller, de Michael Jackson). Público bem jovem e mix. É interessante ver como a nova geração de Montréal é misturada. Nada muito branco. Muitos árabes, vários latinos, alguns negros. A cor branca-loura canadense, fundadora desta nação, daqui a algumas gerações, vai ser minoria.

27.3.09

Dia-a-dia

O curso segue, os professores têm elogiado a turma. É interessante ouvir isso. Nunca havia passado por essa experiência, de ter professores que se derramam em elogios. Eu atribuo uma boa parte deste sucesso ao fato de que vários alunos já tem experiência profissional (e idade!), o que os torna, talvez, mais concentrados e dispostos. Não sei se é bem isso, ou se será uma boa conjunção astral, o fato é que está sendo bem proveitoso.

Estou fazendo o processo inverso. Voltei a estudar coisas que sabia na prática, mas que nunca havia estudado na teoria. Normalmente é o contrário, não é? Bom, além de qualificação técnica, percebo que a minha compreensão do sotaque local melhora a cada dia. Consigo entender as piadas e os diálogos dos demais, o que não acontecia há uns dois meses. Mas, ainda assim, é um grande esforço entender a língua e absorver os novos conhecimentos.

A professora de redação técnica em francês me elogiou, disse que já estou escrevendo melhor do que muitos canadenses. Ela disse (não a mim, um colega me contou) que eu me preocupo em utilisar termos, digamos, não usuais, mais elaborados. E ainda isse que é um prazer me ter como aluno. Eta que o ego foi lá para cima, não consegui segurar a satisfação de ouvir tudo isso.

Para continuar melhorando o meu francês, estou tentando fazer uma rotina de leitura. Além do que li quando estava o Brasil, estou no segundo livro de Nelly Arcan (tem um link aí do lado), escritora que tem uma coluna no jornal semanal Ici. Mulher moderna e liberada, ela não tem receio de abordar temas picantes, inclusive na mídia impressa.

Um fato bacana é que ela retrata o bairro em que estou morando, o Plateau Mont-Royal. Ela cita inclusive nomes de ruas, bares, academia de ginástica, cafés. O trabalho dela é interessante para entender - ou ao menos conhecer mais - a cabeça das pessoas de Montréal e ficar atento ao que se passa.

Biblioteca do Plateau

Acabei de pegar o livro na biblioteca do "arrondissement", ou seja, do bairro. Ela fica na saída do mêtro, no caminho de casa. Fiz isso sem pagar nada, com direito a ficar com ele durante três semanas. Coisas boas da vida nesta cidade.

Sempre há boas opções, além de baratas, nas livrarias dos usados. Mas, como não tenho onde colocar mais nada, descobri que prefiro não comprar livros. Só pegar emprestado. Economizo grana, reciclo, colaboro para diminuir a poluição do mundo e não junto tralhas.

21.3.09

Pequenos pedaços de aprendizagem

Datas, fotos, pessoas, saudade, emoção. Folhear a vida. O filme que passa à frente, que desperta tempos que não voltam. Alegria que nasce do chão, da energia que contamina. Quanto de importância havia nisso e não foi reconhecida. Ou foi. Tudo teve o seu lugar, o seu instante. Lições que garantiram uma longa aprendizagem, nem sempre agradável, nem sempre tolerável, nem sempre feita com paciência. Um tanto de birra, um tanto de intolerância, outro tanto de comodismo, mais um pouco de receio do porvir.

A beleza da doação ficou na estrada. Ela precisa ser retomada. Em cânticos, em danças, em pedaços de frases, em letras, em atos. Aos poucos o rumo se apruma. Os seres encantados fizeram parte do pedaço mais viçoso da estrada.

18.3.09

O gelo começa a derreter

Caminhando para os noves meses no Canadá. O tempo passa rápido. A primavera vem chegando, mas neste ano, felizmente, a temperatura começou a subir um pouco antes do período normal. O termômetro já chegou a nove graus. É quase verão para o povo daqui.



E é mesmo uma bela época. Os pássaros iniciam o retorno do exílio em terras quentes, os pombos voltam a invadir as praças e os esquilos saem da toca para procurar comida. Por outro lado, o gelo derrete e tudo que ficou por baixo, coberto pela capa branca das camadas de neve, começa a aparecer. Milhares de tocos de cigarro, cocô e xixi de cachorro congelado, pedaços de papel, plástico e tudo mais que as pessoas costumam "esquecer" nas calçadas e ruas.

Andar na rua fica menos cansativo. Caminhar na neve lembra um pouco o esforço de caminhar na areia fofa da praia. Até o barulho é parecido. E também fica menos perigoso, pois o risco de escorregar diminui.

A neve cai, branca e bela. A temperatura sobe acima de zero, vem a chuva. Forma-se uma camada de gelo, liso e escorregadio como um cubo de gelo dentro do copo de uísque. Para prevenir os tombos, a Prefeitura espalha pelas calçadas um cascalho bem fino. As pessoas mais idosas colocam uma proteção anti-derrapante no sapato.

A partir do zero grau, sem chuva, é possível caminhar na rua sem sentir a pele ardendo por conta do frio. Abaixo de -15, ninguém se anima sequer a sair de casa para comprar o jornal ou tomar um café. Menos de -20, a televisão recomenda que as pessoas evitem de sair de casa. Pois, com o auxílio precioso do vento, a sensação térmica pode chegar a -30 graus. Isto quer dizer que mesmo que o termômetro esteja indicando -20, mas você vai sentir um frio de -30 na pele. É hora de ficar no conforto de casa.



Uma proposta da cidade para esquentar o clima foi a Igloofest, uma festa de música eletrônica, ao ar livre, no velho porto, à beira do rio Saint-Laurent congelado. Bom som, música de qualidade, esculturas de gelo, iluminação feérica. Uma grande fila para entrar, consolada por uma estratégica garrafinha de rum no bolso. E muito frio, que tira bastante do prazer de estar em uma festa. Mesmo assim, as pessoas adoram.

Resumo da ópera: a neve é linda, mas o frio muito frio tira a vontade de sair de casa. No entanto, os quebecois, os valentes habitantes desta terra inóspita, não deixam por menos. É a hora dos esportes de inverno.

Preparando para descer a ladeira

Ski, patinação no gelo, motoneige (moto que desliza sobre a neve), glisser. Glisser significa deslizar na montanha, seja com o auxílio de um trenó ou uma prancha. Mas também vale tudo, até papelão e cartaz de propaganda política, que aqui são feitos de plástico. As crianças, de todas as idades, adoram. Os parques que possuem elevações ficam cheios.

Os ônibus e o metrô ficam mais apertados, pois, além de mais utilizados para evitar o frio, os passageiros aumentam de volume. Os grossos casacos e as várias camadas de roupa fazem qualquer pessoa ter uma silhueta de botijão de gás. Ainda assim, existem coisas interessantes no transporte público durante o inverno. De vez em quando é possível ver, em pleno metrô, uma senhora distinta portando uma estola ou casaco de pele. Sem medo de ser assaltada.

Como a neve chegou mais cedo - no final de outubro de 2008 ela já dava as caras - também está indo embora mais cedo. Diferente de 2007, quando estive no Canadá pela primeira vez. Naquela época, em abril, o inverno estava atrasado e a neve ainda estava bem presente. Agora, com a proximidade da chegada da primavera, espero que as folhas voltem logo. As árvores, fora os bravos pinheiros, continuam todas peladas.

9.2.09

Oásis

Aproveitando o pequeno intervalo de aula para escrever alguma coisa aqui. O que há para falar do inverno canadense, além da oscilaçao da temperatura? Acho que mais nada. Entao tá. No final de semana passado, ou seja, até ontem, a temperatura ficou acima de zero. Uma verdadeira festa. Gente andando pelas ruas e entrando nas lojas. Em frio abaixo de -20 é desconfortável andar na rua. Só o mínimo necessário para chegar ao trabalho, a escola ou entrar em algum café. Ou ir no shopping subterrâneo, o oásis do frio de Montréal.

2.2.09

O Rio Vermelho e Iemanjá

Uma das coisas difíceis para mim em deixar de morar em Salvador é não poder participar do ciclo de festas populares. Festa do Bonfim, do Rio Vermelho (de Iemanjá) e o Carnaval.

No ano passado, o dia dois de fevereiro caiu no sábado de Carnaval. Viajei para Salvador e aproveitei todo o pacote de eventos, já em clima de despedida do Brasil. Festa estava mais tranquila do que normalmente, pois o povo estava dividido entre a Barra, Ondina e o Rio Vermelho. Havia várias atrações musicais, muitos encontros com amigos queridos. Pessoas que todos os anos passam pelas ruas do bairro. Bebendo, dançando, curtindo. Vi novamente Carlinhos Brown cantando, depois de vê-lo aqui em Montréal, na abertura do Festival de Jazz de 2007. Vi e ouvi Caetano Veloso e Mariene de Castro.

Não vou negar que estou sentindo uma saudade enorme de tudo isso. De sair caminhando de casa, levando a cervejinha na mão, e chegar na festa. De deixar flores no mar. De ver os barcos saindo, cheios de enfeites. Dos amigos que sempre encontro. Sempre encontro! Recuso-me a usar o verbo no passado.

Lembro que, na época em que era estudante universitário, cheguei a filar o estágio para poder ir para a festa. Dei uma desculpa de que precisava fazer um trabalho extra da faculdade e fui embora para cair direto na farra.

Não sinto falta do verão em Salvador. Não sinto saudade dos bares e barracas de praia lotados, da dificuldade em estacionar, dos preços inflacionados que restringem as saídas, da preocupação com assaltos, do calor infernal. Não sinto mesmo. Mas da festa de Iemanjá e do Carnaval... Ah, isso "me manque beaucoup". Isso me faz muita falta. Odoiá Iemanjá!

12.1.09

Cervejando

No último sábado, estava prevista uma reunião na casa de A., colega brasileiro da turma de francisação. Ele se mudou para um apartamento bacana e queria apresentá-lo aos colegas. Como alguns não poderiam ir, o anfitrão desistiu e adiou o evento. Mas, para os mais próximos, o convite continuou valendo.

Aqui no Canadá a coisa funciona assim: cada um leva alguma coisa para beber e para comer. É o tal do pot luck, a panela da sorte, consagrada na cultura americana. Bom porque não sobrecarrega o bolso de ninguém.

Levei algumas cervejas Hek, québecoise de souche, fabricada em Montréal. Para comer alguns legumes (cenouras baby, salsão e pepino japonês, os dois últimos cortados em talos) para serem mergulhados em molho rosé temperado com alho. E um saco de batatas fritas. Club size.

Olha que turma multicultural estava lá. Uma japonesa casada com um québecois. Un inglês noivo de uma québecoise de origem grega. Uma turca e três brasileiros.

O resultado foi que o papo rendeu até altas horas. Até gamão aprendi a jogar. Dureza foi na hora da volta. Disposto a economizar o táxi, saí determinado a pegar o transporte noturno público. O frio não deixou. Duas esquinas adiante, acenei e fiz o motorista de um taxi parar. A sorte é que moro perto de onde havia saído.

Por falar em temperatura, esta semana promete. As temperaturas ameaçam a chegar a -25.

4.1.09

Esqui de pobre

Em dias em que a temperatura varia em torno de -10 C, não resta muito a fazer além de ficar em casa, ir para algum lugar fechado (o que pode ser um grande leque de opções) ou fazer algum esporte de neve. Perto de onde moro, há o Mont-Royal. No verão serve para tudo: local de pique-nique, espaço musical, agradável bosque urbano, pista de ciclismo e corrida, local turístico, vista panorâmica da cidade e o que mais se desejar fazer por lá. No inverno, o Lago dos Castores, no topo do monte, se torna uma pista de patinação. E a encosta mais baixa, sobre a Avenue Du Parc, se torna espaço para fazer esqui-bunda.

Esse talvez seja o nome que algum brasileiro possa achar para denominar essa atividade de inverno, quase um esporte, da população de Montréal, especialmente das crianças. Trata-se de deslizar sobre a encosta nevada, com o auxílio de algum equipamento, como um trenó ou uma prancha. Isso para quem é mais organizado. Na prática, o povo usa tudo: pedaços de papelão, caixas de computador, bóias infláveis, tapetes plásticos, e até os cartazes plásticos utilizados como propaganda política, com foto do candidato. Boa reutilização e reciclagem de plástico poliondas.

A prefeitura organiza bem a bagunça, instalando uma tela de proteção e fardos de feno amortecedores, para que os esquiadores não encerrem a descida debaixo das rodas dos carros que transitam pela avenida.

As crianças se divertem horrores. A criança aqui não vê a hora de comprar o seu tapete plástico para começar a descer o morro deslizando sobre a neve. Ou achar um cartaz perdido da última campanha política. Ah, e rezar para continuar inteiro e caminhar sem dores no dia seguinte.