30.11.04



Há tempo sem vir por aqui
Preciso escrever palavras que não querem sair de casa. Preciso esquecer de escrever para quem se dispuser a ler. Preciso esquecer da crítica e da auto-crítica. Preciso refazer um caminho. Preciso voltar a sentir os meus pulsos e impulsos. Preciso abandonar a racionalidade e optar pela via que me cabe.

Preciso esquecer que existe um mundo construído. Preciso adornar o contorno de pedras lisas. Preciso dormir cada vez mais para ver se me encontro em meu sono. Preciso de uma dose de coragem primitiva. Preciso sair do aprisionamento dos sentidos. Preciso de um bilhete de viagem para uma realidade distante.

Preciso consumir as letras do meu destino. Preciso sacar do bolso os papéis manchados de umidade. Preciso dizer a mim mesmo que o pouco me basta e que a paz vale mais do que o poder. Preciso concluir um ciclo de movimentos. Preciso dormir mais um pouco para que meu corpo se estenda sobre a quietude. Preciso de mais palavras desarticuladas. Preciso não precisar uní-las. Preciso. O que preciso é precioso. O que preciso é ser pouco preciso. Aquilo que preciso é embaçado e desarticulado. O que preciso é desarmar as conexões e os conceitos que tentam a todo o tempo se estabelecer.

Preciso desestruturar o raciocínio para que algo novo apareça. Preciso ouvir as vozes da inquietação. Preciso estabelecer uma série de novos padrões, para destruí-los logo a seguir. Preciso fazer valer as forças renovadoras de Plutão. Preciso ser impreciso.

28.11.04

Carne de fumeiro

O restaurante Caminho de Casa, no Itaigara, serve comida sertaneja de qualidade. Há um tempo, uma das receitas do local foi publicada na revista Cláudia Cozinha, com direito a perfil da proprietária e cozinheira. Foi o "Jacaré Penedense", que na verdade é peito de frango desfiado, com azeite-de-dendê e leite de coco. Uma delícia que experimentei da primeira vez em que estive no restaurante.

Depois que ouvi falar de um lauto sarapatel que ocorreu entre pessoas conhecidas, mas não muito próximas - não fui convidado, portanto -, fiquei saudoso do prato e fui experimentar o do Caminho de Casa. O serviço não decepcionou. Estava uma delícia. Além da boa cozinha, o restaurante é um local muito agradável, com paredes decoradas em estilo sertanejo-moderno-arrojado (o que é isso?!) e mesas ao ar livre.

Legal também é que os pratos estão disponíveis em porções diferenciadas. Meia e inteira, com especificação do peso (350 g de carne, por exemplo). Nunca vi tamanha precisão, é impossível que os pratos obedeçam exatamente à estimativa. Mas é algo excelente, pois diminui a responsabilidade do garçom em estimar a quantidade de pratos de acordo com o número de pessoas.

Com a ½ porção de sarapatel, pedimos, eu e mais dois amigos, carne de porco defumada na chapa, com cebolas. Também conhecida como carne de fumeiro, estava uma delícia, macia e com pouca gordura. Fumeiro, para quem desconhece, é o lugar onde são colocadas as carnes para defumar. Além da farofa e do vinagrete, pedimos pirão de aipim. O lombinho veio fervilhando na chapa sobre a chama do fogareiro.

Ah, eu voltei no tempo. Lembrei do meu pai, que costumava encomendar carne de fumeiro proveniente de Valença, no Baixo Sul do Estado. Nos últimos tempos, com o advento (humpf!) do colesterol, era algo que havia sumido da mesa da minha família. Foi ótimo reviver o prato, feito de modo tão saboroso. Mas a preocupação com o colesterol falou alto. Fui para casa, descansei um pouco e toca a caminhar pela orla de Amaralina para queimar as calorias.

A minha amiga E. (ela não vai gostar de ler isso...) comeu sofregamente. Antes de irmos à comida sertaneja, sugeri algum restaurante de pratos leves, como o Manjericão, no Rio Vermelho, próximo de casa. "Ah, eu fiz regime a semana toda, hoje eu quero é me esbaldar", ela disse. No dia-a-dia, ela almoça pouco e leve, em restaurantes vegetarianos. No sábado, procurando companheiro para o crime, ela me ligou. Para cair matando e se esbaldar nas carnes. E ainda pediu sobremesa. Um cheese cake congelado, que foi o único senão do almoço.

27.11.04

Dos escritos
Toda vez que escrevo alguma coisa sobre cinema e teatro, gosto de checar, após o texto pronto e publicado, o que outros jornalistas e críticos escreveram sobre o assunto. Não qualquer profissional, mas aqueles que mais gosto e respeito. Tenho ficado satisfeito em notar que as minhas percepções coincidem, em grande parte, com as anotações publicadas por aqueles cujo trabalho acompanho.

Há um ano e meio faço uma coluna semanal de cinema que é publicada no house organ da empresa em que trabalho e aqui no blog. Sobre teatro, publico lá no Claque e também aqui. O número de textos sobre teatro não é muito grande, pois a minha frequência ao cinema é mais intensa. Há mais filmes do que peças disponíveis em Salvador.

Escrever sobre teatro é mais intenso e ao mesmo tempo mais delicado. Intenso por ter vivenciado o espetáculo aí, ao vivo, no calor da atuação. Delicado, pois os objetos de observação estão bem próximos, o que é uma coisa melindrosa. (Meu Deus, onde fui achar essa palavra? Heheheh). Ainda assim, acredito que é possível dizer as coisas de forma polida, elegante, sem grosserias. E, desse modo, fazer todas as observações. Admito que prefiro escrever sobre aquilo que me entusiasma. Sobre os filmes e peças que gostei, e dos quais surgem inúmeras anotações.

Procuro respeitar também aqueles espetáculos que não gosto. Acredito que conseguir elaborar um produto cultural é uma vitória. Principalmente concluir um filme ou colocar um espetáculo teatral em cartaz. Existe ali um grande esforço conjunto de várias pessoas e o resultado, melhor ou pior, é consequência da energia utilizada.

25.11.04

Furada
Jean-Paul Sartre foi um dos primeiros intelectuais europeus a se pronunciar sobre o filme Cidadão Kane, de Orson Welles. Em viagem aos Estados Unidos, viu a projeção e escreveu para uma revista francesa. Bateu pesado. Disse que o impacto que o filme havia causado na América era por causa do provincianismo americano. Negou a contribuição técnica de Welles e o acusou de ser um intelectual sem raízes e de não ter respaldo popular. Ainda disse que não achava que o filme fosse um longo caminho a seguir.

Coitado. Cidadão Kane, até hoje, é considerado um dos melhores de todos os tempos.
Comentários no ar
Os blogs ainda vão dar muito o que falar. Não duvide que daqui a algum tempo serão referência para aferir a opinião pública. Nos Estados Unidos, já revelaram o seu poder na eleição presidencial. Aqui na Bahia, em matéria sobre a polêmica da cobrança de estacionamento nos shoppings de Salvador, o jornal A Tarde citou as opiniões de "páginas pessoais", que errôneamente foram chamadas de bloggers. Para os jornalistas, os blogs podem ser ferramentas úteis e rápidas para coletar posicionamentos das pessoas sobre assuntos locais.

A dificuldade é achar algo escrito com opinião. Blog não é molho nem mousse, mas tem que ter consistência. Rárárá.
Ei, mãe, não sou mais menino
Os gatinhos estão crescendo e inauguram os primeiros passos. Os filhotes já tem destino mais ou menos certo. Por enquanto, ainda estão sendo amamentados. A mãe Kika os colocou debaixo da cama do quarto de visitas. Cuidadosa, ela os limpa o tempo todo. E não os deixa escapar do esconderijo.

Os filhotes ensaiam sair andando pela casa. Quando eles se distanciam, a mãe abocanha pelo pescoço e os traz de volta. Não quer deixá-los conhecer o mundo. Alguma semelhança com os humanos?

24.11.04

Dança Comigo?
John Clark (Richard Gere) é um advogado bem sucedido e entediado, que divide a vida entre o trabalho e a casa, a esposa Beverly (Susan Sarandon) e dois filhos adolescentes. Ao retornar para o lar, após o expediente, pelas janelas do trem urbano vê Paulina (Jennifer Lopez), uma bela professora de dança de salão. Ele decide se inscrever no curso só para ficar perto dela. Em Dança Comigo? (Shall We Dance?, EUA, 2004), o que Clark não contava, mais do que o interesse pela professora, é com a súbita identificação com a dança, algo que irá transformar a sua rotina e o fará rever conceitos.

Dança Comigo? é refilmagem de uma montagem japonesa de 1996 e tem números musicais interessantes, especialmente de ritmos latinos. É uma comédia romântica, com bons momentos de diversão, como convém aos musicais que abordam a dança. Ainda que alguns personagens sejam muito estereotipados.

Richard Gere, apesar de esforçado, não convence como bailarino. Por incrível que possa parecer, Jennifer Lopez tem melhor desempenho dramático que ele. Será que é porque ela tem poucas falas? Preste atenção na cena em que Clark e Paulina dançam ao som de tango com arranjo de música eletrônica. Som moderno sem perdar a dramaticidade da dança argentina.

23.11.04

Leis
O mundo gira e há de imperar a paz sobre as cabeças pensantes e não-pensantes. Todos serão iguais ou menos diferentes, no possível. As únicas leis pregadas pelas religiões serão: não faça o mal, a si mesmo e aos outros. O resto será consequência.

As palavras vão se soltando como pequenas explosões no ar, na terra, nos papéis, nas cordas vocais. As frases vão se armando e se articulando para alcançar alturas insuspeitas. De energia elas se formam para subir aos céus e dizer a todos: sejam felizes. Enquanto criaturas humanas, este é o real valor. Não importa dinheiro, projeção, beleza, sucesso, atenção de outras pessoas. Cada um é divino pelo simples fato de existir.

E isso, tão óbvio, parece estar esquecido.
Clima
Inexplicavelmente, a cidade amanheceu fria. Uma chuva fina caindo, o cinza imperando no céu. Estranho, em época de quase verão na cidade. É uma frente fria que vem do sul e promete estacionar por alguns dias.

Durante todo o ano, o tempo deveria ser desse modo. Uns dias de calor, outros dias mais amenos. Para variar, para não cansar, para mudar o astral, para mudar o guarda-roupa, para transformar o ambiente. Para alegrar e entristecer em doses minúsculas. Para renovar as ventos e as forças da mudança.

21.11.04



Chá com bobagem

Foi a revista Veja que indicou como os melhores salgados e doces e salgados da cidade aqueles que saem dos fogões da Casa de Chá Belle's, na Barra. Com a informação em punho, no sábado o encontro foi marcado com ex-colegas da Faculdade - e agora de profissão.

O local não decepcionou, apesar da localização dificultada por falta de uma placa indicativa. No salão, ar condicionado gelado para dar o clima. Salgados excepcionais. O camarão empanado, com um toque de catupiry, é uma coisa. Frente à grande procura, o petisco sai toda hora, vem quentinho. O chocolate quente, hummm, uma diliça. Os pedaços de torta são enormes e os preços estão na média da cidade.

Foi interessante ver a saída de bandejas, já que a casa é fornecedora para eventos. Cada uma mais bacana que a outra. Teve uma hora que saiu uma cascata de camarões que atraiu os olhares de todos. Felizardos os que iriam participar da festa para onde os camarões estavam indo.

Conversa vai, conversa vem, uma das colegas chegou com uma novidade-bomba: ela vai se casar. Contou que conheceu um cara há pouco mais de um mês e resolveu se mudar de mala e sacola para Belém do Pará, onde o tal assessor de imprensa e futuro marido mora. As demais mulheres - a maioria do grupo - ficaram ensandecidas. Uma delas teve uma crise de risadas. Riu tanto que lágrimas verteram dos olhos. Elas não sabiam se riam de alegria, choravam pela atitude precipitada ou se morriam de inveja.

Elas ficaram enlouquecidas por que a noiva era no passado radicalmente contra o casamento. Agora era a "primeira a furar a fila do casamento e passar na frente", como uma delas reclamou. Parecia coisa de filme. Elas já imaginavam a situação na hora de pegar jogar o buquê de flores. Generosamente, queriam até repartí-lo.

Eu só dava risada. Era o único que ja sabia da novidade. Era pura brincadeira acertada para darmos risada no encontro dos colegas. A "noiva" não decepcionou no papel de atriz. Os demais ficaram meio atarantados pela "pegadinha", ensairam fazer bico, mas deram mais risadas no final. Como o casamento mexe com as pessoas...

19.11.04

A moqueca do dia seguinte



No último feriado, troquei a ida à praia pela ida à cozinha, apesar do sol que gritava lá fora. Aproveitei para preparar uma moqueca de peixe, prato que nunca havia me aventurado a cozinhar. A vítima escolhida para entrar na panela foi o peixe cavala que havia comprado um tempo atrás no mercado de frutos do mar de Salvador e que hibernava quieta em meu congelador.

Eu havia descongelado as postas na véspera. Cortei os temperos e pus a tomar sabor desde a noite anterior. A cavala é um peixe de carne deliciosa. Branquinha, sem gordura e de sabor suave, faz uma moqueca excepcional. Curiosamente, não está entre os peixes mais caros. É mais barata que a pescada ou o badejo e um pouco mais cara que o atum, que dizem que também faz uma moqueca deliciosa.

A minha paellera esmaltada azul, espanhola de origem, além de bonita, é a panela das três mil utilidades: serve para fazer risotos italianos, yakissobas, peixadas, arroz de polvo - e até paella.

Há pouco tempo, experimentei uma moqueca muito boa de cavala no restaurante Axego, no Pelourinho. Foi aí que eu fiquei conhecendo o tal peixe. O local é simples, mas os pratos são bem feitos, pelos proprios donos. O cardápio não é sempre o mesmo. Varia de acordo com o que é entregue pelos pescadores.

Pois bem, coloquei bastante limão e temperos na cavala. No dia seguinte, o início do cozimento. A panela larga, tipo caçarola, facilita a montagem do prato. Aí começou a mão-de-obra. Vira o peixe para lá, vira para cá, a fim de incorporar bem o tempero às postas e cozinhar corretamente.

Peixe já cozido, o toque final e indispensável: leite de coco e um pouquinho de dendê, só para dar a cor amarelo-dourado que caracteriza as jóias da culinária baiana.

O prato ficou saboroso, mas achei que poderia ter ficado ainda melhor, pois notei que o tempero não havia se impregnado totalmente ao peixe. Talvez, quem sabe no dia seguinte, se ainda existisse algum vestígio. No outro dia, experimentei novamente e a minha suposição se confirmou. O prato estava uma delícia. Sabor no ponto certo de sal.

Como é interessante a incorporação do sabor pela carne! Por isso, os pratos que têm preparo lento quase sempre são muito saborosos. Eis por que é necessário marinar com antecedência grandes peças de carne. Para o sabor alcançar todo o prato. E invadir o nosso paladar.

18.11.04

Publicado um texto meu sobre a peça Budro, lá no site Claque. Vai lá, vai.

17.11.04

Mundo retrô-futurista

Um mundo totalmente criado em computador, em que elementos do passado, em clima claro-escuro de imagens embaçadas, convivem com máquinas espaciais ultra-avançadas. De quebra, a presença de estrelas de Hollywood. O filme Capitão Sky e o Mundo do Amanhã (EUA, 2004) é fruto da obstinação do diretor estreante Kerry Conran, que começou a elaborar as imagens em seu próprio computador. O projeto ganhou a adesão dos atores Gwyneth Paltrow e Jude Law. Setenta milhões de dólares depois, o trabalho ficou pronto.

O desaparecimento de vários cientistas importantes instiga a repórter Polly Perkins (Gwyneth Paltrow). Com a ajuda do piloto Joe Sullivan (Jude Law), o tal Capitão Sky, ela se propõe a desvendar a trama, numa aventura que os leva a vários locais do mundo. Para isso, contarão com a ajuda da oficial britânica Franky Cook (Angelina Jolie).

Dos filmes de Indiana Jones, às antigas comédias românticas em que o casal briga o tempo todo e às imagens do expressionismo, há muitas referências em Capitão Sky. O resultado é aventura e diversão sem compromisso, em estilo sessão da tarde.

16.11.04

Uh hu!

Ganhei um livro no sorteio feito por um dos meus blogs favoritos. Fui o primeiro fora do eixo Rio-SP a responder o que as atrizes Natalie Wood, Elizabeth Taylor e Melanie Griffith têm em comum. Elas se casaram duas vezes com o mesmo homem: Natalie com Robert Wagner, Liz Taylor e Richard Burton e Melanie com Don Jonhson.

A autora do blog está lançando um livro: O Caderno de Cinema de Marina W. e vai mandar um exemplar para mim. Se o trabalho for tão legal quanto o que ela escreve na internet, será um sucesso. Não vejo a hora de tê-lo em mãos. Valeu, Maria Adriana!

15.11.04



Aula de cinema

Má Educação (La Mala Educación, Espanha, 2004) é um filme que só poderia ter sido realizado por um diretor consagrado como o espanhol Pedro Almodóvar. Até poderia ter sido feito por outro cineasta, mas dificilmente alcançaria a divulgação e o sucesso que vem obtendo. Talvez ficasse restrito às salas do circuito cultural.

O mais novo trabalho de Almodóvar é um filme que trata de assuntos difíceis e delicados, que não são abordados com frequência e coragem, mesmo no cinema autoral. Pedofilia na Igreja Católica, homossexualismo, travestismo, consumo de drogas são mostrados de forma clara, direta e ousada.

O mexicano Gael García Bernal, no papel de Ignácio, reafirma que veio para ficar no panteão dos grandes atores. A sua sensibilidade ao interpretar um travesti cantando (dublando?) a música Quizás, Quizás, Quizás é intensa e delicada. Bernal também protagoniza de forma convincente cenas eróticas fortes.

O diretor soube extrair o melhor do ator. Segundo Almodóvar, "a câmera busca Gael". O resultado são perfeitos enquadramentos de câmera em close-up, seja com o ator travestido ou na versão sem maquiagem. Bernal, que recentemente compôs o herói Che Guevara na juventude, agora se transforma em um baixinho frágil, dissimulado e intensamente sexual.

O roteiro, que levou vários anos para ser elaborado por Almodóvar, é simplesmente genial. As narrativas se intercruzam e vão sendo magistralmente costuradas pela direção, com desfecho coerente e bem-feito, que consegue articular todas as peças.

Má Educação não tem o apelo emocional de Fale com Ela, trabalho anterior do espanhol. Desta vez, o exercício intelectual do texto fala mais alto e é o ponto forte do filme. Almodóvar reforça o seu lugar entre os maiores do cinema atual. O talento é ainda mais brilhante pela conjugação do roteiro e direção na mão da mesma pessoa.

14.11.04

A mídia nos grotões

Uma grande empresa trouxe para Salvador um seminário de comunicação de alto nível. Profissionais de todo o país discutiram a regionalização da mídia. O seminário foi conduzido por ninguém menos que Alberto Dines, do Observatório da Imprensa.

Na quarta-feira, após a abertura do evento, um coquetel muito interessante, perfeitamente dentro da proposta de regionalização: foram servidos acarajés e abararás e no bufê havia escondidinho (purê de aipim com carne-do-sol), casquinha de siri, arrumadinho (carne-do-sol e linguiça em pequenos pedaços, junto com feijão fradinho).

10.11.04

Gaiola de rouxinóis
Visto por mais de sete milhões de pessoas na França e pré-candidato ao Oscar de filme estrangeiro, A Voz do Coração (Les Choristes, França, 2004), de Christophe Barratier, é belo, bem feito e emocionante. Sem cair no melodrama fácil, é capaz de levar o público às lágrimas.

Na década de 40, um músico torna-se inspetor de um colégio interno de meninos problemáticos. Para diminuir os conflitos, monta um coral. Talentos são revelados e as transformações são surpreendentes.

Filmes de professores que realizam mudanças não são novidade nas telas. De Ao Mestre com Carinho, passando por Sociedade dos Poetas Mortos, o cinema utiliza bem o apelo emocional da época escolar, seja com crianças ou jovens. Em A Voz do Coração, a música é o grande agente de transformação e responsável por alguns dos melhores momentos. Imperdível.

8.11.04

Reunião etílica
Recebi um convite para uma reunião com conhecidos. Convite para uma open house, partindo de uma colega de trabalho. Gentilmente, ela convida os companheiros de labuta para apresentar a nova casa. Sutilmente, ela pediu a outra colega para sondar as preferências de bebidas dos convidados. Isto é, a preferência entre as modalidades da "água que boi não bebe".

Imbuído no espírito Amadiano, lembrei do velho Quincas Berro D'Água. Pelos delírios da minha imaginação, não concordei que boi não bebe mais daquela água. Até passarinho anda bebendo água que pinga do alambique. Ou resta alguma dúvida que os atropelamentos de urubus pelos aviões não são por causa do lixo acumulado nos arredores dos aeroportos?

Para mim, não há problemas etílicos. De bom grado aceito água, refrigerante, "Seu Veja", vinho, vodca, gim, tequila, uma dose de boa pinga, catuaba selvagem e suco de cacto. Com toda a boa vontade, sem reclamar, achando bom e querendo mais. Agora é só esperar.

Falando assim, vão me achar um pinguço. Rárárá.

6.11.04


O prefeito eleito de Salvador, João Henrique, concedeu longa entrevista, pelo menos para os padrões televisivos, ao jornal da TV Bahia, que pertence ao grupo oponente. O espaço diponibilizado ao novo governante é um bom sinal. Parece que o clima político será de tranquilidade. Melhor para a cidade, que não suporta mais esperar a realização de obras como o metrô.

4.11.04

Na passarela
A gatinha Kika (ver foto no post dia 29.09) acabou de dar à luz a seis (!) belos exemplares de gatinhos pêlo curto. Preguiçosos, eles ainda não se adiantaram a abrir os pequenos olhos, relutando em perceber o mundo que os rodeia. Dos seis filhotes, dois parecem com o pai Ronrom, de pêlo tigrado preto, branco e cinza. Dois parecem com a mãe, pêlo tigrado preto e amarelo. Os outros dois são tigrados só em amarelo e branco, com focinho rosado.

Frente à impossibilitade de caber tanta gente em um exíguo apartamento, os gatinhos estão sendo oferecidos a pessoas cuidadosas e carinhosas, que gostem de gatos e que se proponham a dedicar um pouco da atenção diária aos bichanos. Em troca terão companhia, com direito a ronronados frequentes após o consumo da ração. Promessa de pêlo sempre macio e limpo por lambidas frequentes. Educado, o gatinho não sujará a casa, pois sempre fará uso do sanitário particular, com granulos de argila sanitária, que pode ser adquirida a baixo custo em algum supermercado.

Solicita-se somente que as unhas sejam frequentemente aparadas, a fim de evitar arranhões não intencionais na pele dos donos e nos móveis da casa. Ah, outra coisa, gatos e plantas não combinam. Os bichanos são estrelas, não gostam de dividir atenção e cuidados.

A retribuição é a presença frequente e elegante, sem barulhos, com caminhadas de muita classe dentro de casa. Não é à toa que a passarela dos desfiles de moda é chamada de catwalk, em inglês. À noite, ele ou ela subirá suavemente na sua cama e silenciosamente lhe fará companhia, a uma distância segura para evitar pernadas ou safanões.

Alguém se habilita?

3.11.04

Garotas ousadas
Numa pacata cidade da Inglaterra, cansadas de palestras sobre as propriedades do brócolis e de aulas sobre geléias e tapeçaria, mulheres de meia-idade resolvem ajudar na melhoria de um hospital. Para angariar fundos, decidem posar nuas para o calendário anualmente produzido pelo Women's Institute. Uma para cada mês, mostrando seus dotes domésticos.

Inspirado em fatos reais, Garotas do Calendário (Calendar Girls, Inglaterra, 2003), é dirigido por Nigel Cole (O Barato de Grace) e traz no elenco Helen Mirren e Julie Waters. Comédia típicamente inglesa, com humor fino e irônico, discute de forma sutil a valorização da pessoas com mais de 50 anos. O filme lembra Ou Tudo ou Nada, também comédia produzida na Inglaterra, em que um grupo de senhores desempregados resolve montar um grupo de strip-tease.

Junto com a boa diversão, é interessante conferir a vida no interior da Inglaterra, que parece perdida no tempo. O que contrasta com a condição de um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo.

1.11.04

Programação cultural intensa no final de semana. Filmes: Place Vendome e Meninos de Deus. Peças: As Feministas de Muzenza e O Evangelho Segundo Maria. Show teatralizado: O Cântico dos Cânticos. Mais aniversário de amigo e almoço festivo em família. Ufa!

Pouca disposição para escrever.