24.4.07

A vida, a vida

O título do post é o nome de uma série da TV daqui.

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O ônibus é silencioso, as pessoas praticamente não conversam. O oposto do que acontece no Brasil e, principalmente, em Salvador. Muitas pessoas, principalmente os mais jovens, andam com seus iPods para cima e para baixo. Alguns preferem fones de ouvido maiores, do tipo "head fone", para o barulho do transporte não incomodar. O caminho continua no metrô. No mesmo espaço cabe gente de toda cor, de diferentes traços étnicos. É tudo muito diferente. O metrô segue. Entram até senhoras com cadeira portátil com rodas. Com direito a cesta para caber a bolsa. Para caminhar e depois descansar, se não houver assento disponível.

Muitos jovens se espalham pelas ruas, calçadas e estações de metrô, jogados, bêbados e drogados. Pedem esmola. Para comprar um prato de comida. Ou cigarros. Ou bebidas. Os prazeres são caros por aqui. Tatuagens, piercings e cabelos de todas as formas. Eles estão quase sempre acompanhados de cachorros. Alguns fingem tocar violão. A busca por uma vida alternativa, mas que parece sem futuro e sem alegria. Ok, o Estado pagará o seguro-desemprego. Se eles resistirem até lá.

O governo paga bolsas de Estudo na faculdades e escolas técnicas. Ao contrário da "bondade" dos juros brasileiros, aqui o jovem tem desconto. No final do curso, paga-se menos do que o governo emprestou. Mesmo assim muitos não querem saber de estudar, uma vez que qualquer trabalhador da construção civil ou da limpeza pública ganha a mesma coisa ou até mais do que outros profissionais mais qualificados. Isso porque ninguém quer pegar no pesado e todos os serviços são valorizados. Os serviços custam mais caro do que muitos produtos industrializados. Com o salário de um mês, um faxineiro, ou "cleaner", compra um laptop. E ainda sobra dinheiro.

Nos lugares mais frios e distantes do país, especialmente no norte, onde o clima é polar, trabalha-se somente nos meses mais quentes. No resto do ano, o governo paga o benefício mensal. Na cidade, os caixas automáticos dos bancos se espalham por todos os locais da cidade. Sem policia por perto. Não há necessidade.

As pessoas lêem muito nos ônibus e metrô. Jornais são distribuídos gratuitamente. Algumas pessoas estudam. Eu mesmo, depois de esquecer de fazer a atividade em casa, fiz o dever no metrô. Aqui viaja-se sentado na maior parte do tempo. Os horários são organizados para que todos possam chegar, com o maior conforto possível, na escola e no trabalho. Os trabalhadores da industria entram às 7 da manhã. Os estudantes começam às 8. O comércio e os bancos iniciam às 9 horas. Os horários de volta para casa começam às 4 da tarde. Às 6 e meia, o movimento no metrô já está reduzido. Uma boa parte das pessoas já está em casa.

O lado doloroso é que o número de suicídios é grande. Maior que o de mortos no trânsito, que é super-bem-organizado. Alguns dizem que a culpa é do frio, mas ninguém consegue explicar ao certo a razão.

19.4.07

Línguas que circulam

Uma confusão de francês misturado com inglês. De vez em quando algumas palavras em espanhol. Mandarim, japonês, russo, grego, português, italiano. Os negros que falam inglês vêm da Jamaica. Os negros que falam francês vêm do Haiti. O Canadá se destaca como um país multicultural.

A diferença começa na história do próprio país. Ingleses e franceses o disputaram em muitas batalhas, com períodos de revezamento no poder. Até hoje o Québec, a província francófona, briga para ter mais autonomia. É quase um país dentro de outro país. Alguns plebiscitos já foram realizados, mas até agora, a maior parte dos quebequenses não quer se separar do restante do Canadá. Mas a diferença da votação é cada dia mais apertada.

Continuando a falar sobre língua, mas agora no paladar.

Nas galerias subterrâneas que existem em Montréal, descobri uma praça de alimentação fantástica. Ainda no Brasil, pelas informações que tinha, eu imaginava que era uma galeria extensa e única. Não é bem assim. Em torno de determinadas estações do metrô há shoppings, cinemas, órgãos públicos e até faculdade. Vários andares que entram pela terra abaixo, mas não se interconectam. É preciso parar em cada estação de metrô para ir até onde se deseja. Assim fica-se isolado do frio.

Pois bem, em um dos shoppings descobri um verdadeiro caldeirão da culinária mundial. Até agora já conheci - ou revi - a comida tailandesa, japonesa, coreana e libanesa. Os próximos passos serão a cozinha vietnamita, taiwanesa, grega, e o que mais aparecer.

A comida libanesa tem muita proximidade com o Brasil. Aqui os restaurantes desse tipo fazem aqueles churrascos do tipo "grego", em que as carnes se amontoam no espeto e são cortadas em pequenos pedaços na hora de ir ao prato. Para acompanhar, salada verde bem temperada, pão "pita" (conhecido no Brasil como pão árabe), homus tahine (pasta de grão de bico, que eu adoro), uma pasta deliciosa de alho e arroz com aletria (aquele macarrão fininho). É de suspirar.

No prédio em que eu estudo existe um pequeno shopping center, o "Faubourg Sainte-Catherine", que tem inúmeros pequenos restaurantes. Os estudantes da Universidade Concordia, que fica ao lado, também almoçam por ali. O tailandês de lá foi apontado como um dos melhores da cidade. A comida tailandesa é realmente uma das melhores do mundo.

17.4.07

Cardápio quebequense

Repas quebecóis

Soupe aux pois

Tourtière avec ketchup

Fèves au lard
Pommes de terre bouillies
Ragoût de boulettes avec pattes de porc

Pain crouté

Betteraves - Cornichons sucrés - Olives

Pouding Chômeur avec crème glacée vanille

Bon Appétit

A refeição típica do Québec foi atenciosamente preparada pela minha hospedeira.

A entrada, "soupe aux pois", era uma sopa de feijão branco. A "Tourtière" é uma torta fechada de carne moída, que leva carnes de vaca, porco e carneiro. "Fèvres au lard" consiste no nosso feijão mulatinho, diariamente consumido no Brasil. Só que aqui é adocicado, pois leva o famoso "sirop d'erable", o xarope doce do plátano, a árvore típica do Canadá, cuja folha está estampada em cor vermelha na bandeira do país.

"Ragoût de boulettes avec patte de porc" são pequenas bolas de carnes, tipo almôndegas,servidas junto com pedaços de carne de porco.

"Pain crouté" são as torradinhas. "Beterraves" são beterrabas em conserva, algo bem saboroso. "Cornichons sucrés" são pequenos pepinos em conserva, adocicados e menos ácido que os picles que a gente conhece no Brasil. Olives são, claro, as nossas queridas azeitonas.

"Pouding chômeur avec crème glacée vanille". O pouding chômeur é um delicioso bolo-pudim feito com o sirop d'erable. A minha hospedeira faz bolos deliciosos. E, para acompanhá-los, os canadenses tem o hábito de servir uma bola de sorvete em cima. No caso, o sorvete era de baunilha.

12.4.07

O frio continua

A escola eh bacana, tem gente de todo o mundo. Hah alguns brasileiros, que sempre se reunem, mas nem sempre conseguem falar soh frances. Outros estudam ingles e todos se esforcam. Alguns estao em processo de imigracao.

Montreal talvez nao seja o melhor local para aprender frances. Frente `a dificuldade de compreensao da lingua pelo visitante, os canadenses-quebequenses passam imediatamente para o ingles. Minha professora canadense, em Salvador, havia me alertado quanto a isso. Ela havia me sugerido que eu fosse estudar no interior do Quebec, onde soh se fala frances. Mas acho que vale a pena ficar aqui estudando, pois hah metro e a cidade eh bem maior que as outras da provincia.

Ontem fez um dia de sol, mesmo com a temperatura baixa. Hoje a neve voltou a cair. Ao meio-dia! "Bienvenus `a Montreal", nos disse o professor. Bem-vindos `a loucura do tempo em Montreal. Aqui nao tem essa coisa de o dia ser mais quente que a noite. As vezes eh ate mais frio. E olha que ainda estamos na primavera.

10.4.07

Chegando a Montreal

A viagem de Toronto para Montreal eh bem rapida, menos de uma hora. O sol havia saido, mas o frio continua ate hoje. A neve cai quando a temperatura estah entre zero e -4 graus. Mais frio do que isso nao neva. Pelo menos foi o que me disseram. Andar na rua em um dia de neve eh menos chato do que em dia de chuva. A neve nao molha.

Na primavera normalmente nao hah mais neve. Neste ano, no entanto, o inverno canadense atrasou. A neve se faz presente ateh agora, apesar dos sinais de que quer derreter. A neve eh retirada das ruas e calcadas, mas fica amontoada em alguns locais.

A escola em que estudo fica na Rue Sainte-Catherine, a principal arteria comercial de Montreal, cheia de lojas, cafes, bares e peep-shows. A casa em que estou hospedado eh muito confortavel. A minha hospedeira cozinha muito bem. No domingo de Pascoa ela fez um bolo muito bacana, todo decorado com confeitos e coelhos de marshmallow. Eu tirei ateh foto. Aos poucos vou conhecendo os pratos da cozinha canadense.

Em Montreal hah menos orientais do que em Toronto. O bairro chines tambem eh bem menor, mas muito charmoso. Alias, Montreal eh um charme soh, parece uma capital europeia.

6.4.07

Hamburgueres cafonas

O Canada eh um pais em construcao. As obras estao por todos os lados. Predios altissimos, de mais de trinta andares convivem com predios baixos, daqueles de tijolinho, tipicos de paises frios. Toronto fica na beira do Lago Ontario, uma imensidao de agua que parece mar.


Hoje fui conhecer as Cataratas de Niagara, que ficam a uns 130 km de Toronto. Elas sao bonitas, mas menores do que o cinema americano nos leva a acreditar. Fazia um frio de trincar os dentes. Partes da correnteza ainda estao congeladas, mesmo na primavera. Do outro lado fica a cidade de Buffalo, nos Estados Unidos. Turistas andam por todos os lados, observando a grande queda d'agua e frequentando os restaurantes e cassinos da cidade. Tomei o onibus cheio chineses no bairro de Chinatown. Hoje, Sexta-feira Santa no Brasil, tambem eh feriado no Canada. Por conta disso, a maior parte das lojas do bairro estava fechada.




O almoco saiu de graca, pois os trocados ganhos na maquina de caca-niquel do cassino foram suficientes para pagar sanduiches da Wendy's, uma rede de lanchonetes que oferece hamburgueres 'old fashioned', feito no modo antigo, com mais sabor de carne. Olha que eu nem gosto de muito de hamburgueres. Nao gosto do sanduba do MacDonald's. Mas estou mudando de opiniao depois de conhecer a Wendy's. Para completar a refeicao, ainda havia um delicioso chili, com pouca pimenta, que servia como opcao em lugar das fritas.



5.4.07

Falando de longe

Depois de longa viagem, escrevo de Toronto, a maior cidade do Canada, no estado de Ontario, tomando emprestimo do computador de amigos brasileiros que moram aqui ha algum tempo.

A temperatura de primavera no Canada estah menor do que eu esperava. Hoje a sensacao termica (o efeito do vento junto com a temperatura) chegou a -15 graus. Pela primeira vez vi e senti a neve. Por enquanto, as flores da primavera ainda nao chegaram. As tulipas, que sao as primeiras a aparecer, ainda estao em brotos. As arvores ainda nao tem folhas, elas se foram com o frio. Hah alguma semelhanca com as arvores secas do sertao. Exceto a temperatura, eh claro. Apesar da agua que cai do ceu em forma de flocos, o ar eh seco. A pele e os labios reclamam.

A cidade eh muito bacana, com pessoas de varias nacionalidades: chineses, indianos, paquistaneses, libaneses, italianos, gregos, russos, etc. E, claro, brasileiros que se espalham como praga.

Toronto eh muito organizada e limpa. As cozinhas acompanham os habitos de cada nacionalidade. A comida japonesa eh barata, ao contrario dos restaurantes de Salvador. O cafeh, servido em copos termicos, eh parte integrante da sobrevivencia na cidade, para distrair do frio.

Domingo parto para Montreal, no Quebec, onde a temperatura eh sempre mais baixa que em Toronto. Vou congelar! As aulas de frances comecam na proxima segunda.