31.1.06

Na lembrança e no peso extra

Comer e beber são dois dos maiores prazeres do ser humano. É uma pena que exercitá-los além da conta traga tantas inconveniências. Quais? Mais que conhecidas: acúmulo de peso, gorduras abdominais salientes, problemas para a saúde, efeitos estéticos indesejados. Jorge Amado disse uma vez que o seu maior sonho era comer e não engordar. Sonho. De muita gente.

Fico impressionado como a vida sedentária consome poucas calorias. Sentado na frente dos computadores, gasta-se pouquíssima energia física. De carro para cima e para baixo, menos ainda. Depois de passar da barreira dos 30 anos, para manter a forma, reduzi enormemente a quantidade de comida ingerida. Fico espantado como a gente precisa comer pouco para sobreviver. E mesmo assim, para garantir o corpitcho, ainda tenho ido à academia, o templo apolíneo da era moderna. Aqueles lugares onde a gente se esforça para depois poder comer mais.

Eu gosto da arte da gastronomia. Gosto de comer bem, de experimentar coisas novas. Gosto de ler sobre culinária. Gosto de provar pratos bem-feitos. Como a feijoada do domingo passado, uma melhores que já comi. Estava leve (se é que isso é possível) e deliciosa. Percebi que era de qualidade antes mesmo de provar. O cheiro, que invadia o ambiente, ao ser posta na mesa, já denunciava as delícias que me esperavam.

Consequência: dois pratos de feijão sem clemência. Havia sobremesas divinas. Uma torta de limão muito bem-feita, com a parte da massa bem fininha e o suspiro sequinho e crocante. Um pavê de abacaxi, receita de família, inesquecível. Não consegui chegar no sorvete de coco com calda. Não havia mais espaço.

Resultado: as gorduras abdominais que andavam sob controle voltaram a se alegrar e colocar as mangas de fora. Grrrrr. Assim, não tem academia que dê jeito. É, não há alternativa. Regime, só depois das férias.

28.1.06

Sol, praia e batucadas

Antes das férias é sempre o mesmo esforço: buscas e mais buscas na internet de passagens, hospedagens, restaurantes, roteiros. Este ano, a manutenção da casa impedirá vôos distantes. Troca da janela – que melhorou significativamente a ventilação do quarto -, novo aparelho de ar-condicionado, pintura do apartamento, taxa extra de condomínio, etc., etc.

Sempre sobram alguns pequenos paraísos aqui ao lado: praias do litoral norte e Morro de São Paulo, a menos de duas horas de Salvador via lancha rápida. Ilhéus, para ver a família. Quero também ir a Canavieiras, pertinho da terra de Gabriela, que não visito desde que era criança. Não dá para reclamar de morar no litoral da Bahia. Não dá vontade sequer de sair daqui durante o alto verão.

Gosto de viajar nos meses de março, outubro e novembro. O sol está quente e os preços não estão exorbitantes. A diferença entre alta e baixa estação é estúpida. Este ano, no entanto, alguns compromissos a partir de março anteciparam as viagens.

De Salvador para Morro de São Paulo dá para ir de catamarã, uma lancha grande que faz o trajeto em torno de uma hora e meia. Na última vez em que fui, tomei um comprimido para evitar enjôos. Deu um sono que me deixou meio grogue. Confiante na experiência da viagem, na volta deixei o comprimido de lado. No final da viagem eu estava prestes a vomitar quando felizmente o barco alcançou as águas tranqüilas da Baía de Todos os Santos. O balanço diminuiu e o meu estômago ficou calmo.

Morro é uma delícia. Adoro uma praia que fica próxima de uma fortificação. Quando o mar sobe, os recifes formam uma imensa piscina. A noite tem uma programação bacana, com sons interessantes, desde a música ao vivo até bares dançantes improvisados em cabanas de praia.

Havia uma época em que o local era dominado pelos sons da axé music. A presença maciça de estrangeiros mudou o cardápio: música eletrônica e hip hop marcam o território.

Mas, antes de pensar em viajar, há agenda a cumprir por aqui. Última semana de trabalho, atividades para concluir. Na quarta, a estréia de Nzinga, no Theatro XVIII, que está prometendo. Tive uma provinha do espetáculo durante a reinauguração do teatro e é forte de arrepiar. Os jovens do projeto Axé trazem elementos da cultura de Angola, um dos nossos países-irmãos africanos. Na quinta tem a movimentada festa de Iemanjá aqui no Rio Vermelho. Vou mesmo precisar de férias para descansar.

25.1.06

O dia seguinte

Hoje eu acordei sentindo falta de alguma coisa. Do frio na barriga, da adrenalina percorrendo os caminhos do sangue. Senti falta dos meus personagens, das minhas falas. Senti falta de estar perto de todos vocês. Senti falta do palco.

Acordei sentindo falta de Dona Mariélia, de Seu Armindo e Dona Rita. De Dona Marilu, de Telma, de Gracinha, de Dona Vilma, de Dona Sheila, de Doutor Ênio, de Doutor João, de Doutor Frederico, do profissionais de RH, do pessoal do escritório, da contabilidade e tantos outros. Acordei sentindo falta daquelas criaturas que a mente fértil de Filinto criou, com a providencial ajuda das suas vivências e das histórias dos seus alunos.

Antes da estréia, as palavras do diretor concretizaram o que eu suspeitava: apesar da longa preparação, no teatro é tudo muito intenso e rápido. O teatro é volátil. O teatro é um perfume no ar. Por isso, tentei absorver cada instante. Tentei domar a insegurança, tentei controlar os pensamentos para não desconcentrar e facilitar a vida do companheiro de cena.

De uma hora para outra, o meu dia de trabalho voltou a ser rotineiro. Com menos luzes, menos cores, com menos caras e bocas, de gestos mais contidos. Um pouco mais triste, mas um pouco mais feliz. Mais alegre por ter realizado algo que nunca me imaginei disposto a fazer. Mais feliz por ter compartilhado com tantas pessoas bacanas tantos instantes em que o companheirismo é tão importante. O teatro definitivamente não é feito por um só. É o maior exemplo de trabalho em equipe. Algo que as empresas deveriam realmente aprender.

Parafraseando Dr. João: "Ao longo desses meses"... aprendi a soltar os braços, a fazer caretas, a me sentir menos desconfortável em tantas situações sociais, de trabalho ou não. Aprendi a descer o barraco. Aprendi a dizer palavras doces. Aprendi novas frases, algumas exaltadas, outras contidas. Por vários momentos fui pessoas que gostaria de ter sido. Em outros, fui pessoas que detestaria ser. Exercitei ser o outro. Fui vários outros que extraí de dentro de mim - e que nunca pensei que existissem.

A vida é uma grande peça teatral em que a gente vai se vestindo e se despindo dos nossos personagens: o profissional, o filho, o amigo, o namorado, o marido, o amante, o colega de trabalho, entre outros tantos. Com a prática do teatro, a mudança de um para o seguinte fica mais rápida e mais tranquila.

Agradeço aos colegas pelos esforços conjuntos, pelas risadas, pelas piadas, pelas horas de alegria. A Filinto, Renan e Nilton pela força e pelo talento de tantas habilidades para conseguir transformar matéria bruta em um espetáculo de muito brilho.

A gente se vê por aí. Beijos e abraços.

E-mail enviado para os colegas e pessoal do “Todo Mundo Faz Teatro”, após a encenação da peça “Trabalhando sem Parar”.

22.1.06

É amanhã!

Amanhã e depois acontecem as duas apresentações da turma do curso básico Todo Mundo Faz Teatro. Estou cansado, mas também animado e um pouco ansioso, como seria esperado. Há três finais de semana, sábados e domingos, quase que totalmente me dedico aos ensaios. As férias ficaram para fevereiro. Ainda não tive tempo para raciocinar com calma sobre as transformações que o teatro vem me causando.

Só sei que tenho me sentido exausto. Mas é um cansaço bom, relaxado. Normalmente, falar muito me cansa. Por isso, o teatro é um exercício de desenvolvimento para mim. Concentração, memorização, esforço. Sinto que a arte do ator é incorporar gestos, entonações vocais, expressões faciais e movimentos aos seus personagens. Aquilo que não está escrito e que o diretor não chega a sugerir, mas que aceita com boa vontade.

Só espero não esquecer o texto. Hoje é dia de revisar tudo.

A peça chama-se "Trabalhando sem parar" e acontece no Teatro Módulo.

17.1.06

Aquele abraço

O Abraço na Sala de Arte foi um sucesso. Cobertura maciça dos meios de comunicação, participação apaixonada de artistas, intelectuais, jornalistas, políticos e amigos daquele cinema. Marcado para as 16 horas do domingo, aguardou-se o final da sessão das 14h30 para começar a manifestação, o que ocorreu às 16h25.

Com balões brancos nas mãos e vestindo as camisetas da causa, os participantes saíram pelo portão principal, de mãos dadas, descendo a Avenida Princesa Leopoldina, até chegar ao outro portão do Clube Bahiano de Tênis e encontrar o outro grupo, que vinha caminhando pelo lado de dentro, passando pelo estacionamento.

Após o encontro, os balões foram estourados e vários gritos de guerra foram entoados: “Sala de Arte, Sala de Arte”; “A gente não quer só comida, a gente não quer só comida...”, em alusão à rede de delicatessens. Foi emocionante ver senhoras de mais de 80 anos, que costumam freqüentar a sala, participando ativamente da manifestação.

As presenças de representantes do prefeito, secretaria de cultura do município e de deputados atestaram a importância que o evento tomou.

E a coisa realmente funcionou. Ontem, a Comissão de Defesa da Sala de Arte no Bahiano foi informada que as negociações foram reabertas. Sala de Arte, Perini e Bahiano estão discutindo a melhor forma para realocação do cinema. Enquanto isso, continuamos atentos.

Até entrevista para rádio e TV eu tive que dar, representando a Comisão. Logo eu, que não gosto de ficar na frente das câmeras. Praticar teatro tem ajudado... e como.

12.1.06

Mobilização cultural

A campanha em prol da permanência da Sala de Arte no Bahiano de Tênis está a todo vapor. Matérias em jornal e TV, adesão de muitos frequentadores e amigos do cinema. Foi formada a "Comissão de Defesa da Sala de Arte no Bahiano". O abaixo-assinado está rolando. No domingo, dia 15, às 16h, vai acontecer o "Abraço da Sala de Arte", no Bahiano. Camisetas em prol da causa estarão à venda, a preço de custo. Participe. Leve o seu apoio.

Imperadores em marcha

Um documentário é o filme francês mais visto nos Estados Unidos até hoje. A Marcha dos Pingüins (La Marche de L'Empereur, 2005), de Luc Jacquet, mostra a trajetória dos pinguins imperadores, habitantes da Antártica, que saem do oceano e seguem, em fila indiana, em busca de terra firme para fazer a procriação.

As fêmeas permanecem no local apenas o tempo necessário para gerar os ovos e voltam para o oceano em busca de comida. Os imperadores machos permanecem em grupo, guardando os ovos e juntos se protegendo do frio. A Antartica é o local mais inabitável da Terra. Após 4 meses, nos quais os machos nada comem, os filhotes começam a nascer. Entretanto, eles só conseguem sobreviver por 48 horas sem comida, dependendo do retorno das fêmeas, que voltam trazendo comida do oceano.

O filme não teve grande esquema de divulgação nos Estados Unidos. O boca-a-boca foi o maior responsável pela sucesso de público. Na versão americana, a dublagem foi feita pelo ator Morgan Freeman. No Brasil, por Patrícia Pilar e Antônio Fagundes. O filme é interessante e tocante, com imagens curiosas e detalhadas da vida dos pinguins, mas parece mais uma dessas produções de canal de Tv paga. Curioso é pensar que, se é difícil para os pingüins permanecerem naquelas condições de clima, para a equipe de filmagem deve ter sido um terror.

2.1.06

A Sala de Arte do Bahiano em perigo

A Sala de Arte do Bahiano, que funciona há cinco anos no Clube Bahiano de Tênis, está correndo o risco de ser expulsa daquele local. Para quem não sabe da história, o grupo Perini, uma rede de delicatessens de Salvador, alugou a sede do combalido clube para transformá-la em mais uma de suas casas comerciais, com direito a vários ambientes para venda de comidas e bebidas.

O problema é que o grupo Sala de Arte terá que sair do seu local atual e investir na construção de duas salas menores, dentro do próprio clube. Pelo projeto da reforma, o espaço atualmente ocupado pelo cinema será transformado em uma grande adega. O grupo Sala de Arte tem interesse em construir as duas salas de menor porte, mas não tem recursos para investir na reforma. Ao contrário do grupo Perini, que está trazendo investimentos de capital estrangeiro para o projeto da nova loja.

A classe cultural de Salvador e os freqüentadores da Sala do Bahiano precisam se unir para lutar pela preservação daquele espaço, que possibilita o acesso da população da cidade a uma fatia fundamental da produção cinematográfica mundial, mas que não é exibida no circuito comercial.

A Sala promove diversas sessões para estudantes, inclusive da rede pública, e funciona como ponto de encontro para significativa porção dos habitantes, de várias faixas etárias, dos bairros da Graça, Barra, Canela e Ondina, que têm poucas opções culturais de qualidade na região. Além dos cinéfilos de outros pontos da cidade, que se dirigem ao local em busca de bons filmes.

Na ante-sala é possível degustar um bom café e confortavelmente ler jornais e publicações culturais, disponibilizados gratuitamente. A Sala ainda funciona como galeria de arte e espaço para exposição de projetos de decoração.

Caso a negociação não seja concluída, a Sala terá de deixar o Bahiano. Algumas manifestações estão sendo programadas, para que os interessados entrem em um acerto justo. Faça a sua parte, proteste, escreva para a Perini (www.perini.com.br), registre a sua indignação. O Bahiano e os baianos não podem ficar sem a Sala de Arte.

Filmes digitais

Vinícius, na Sala de Arte do Museu, está sendo exibido em versão digital. A diferença entre um filme em película para um digital é marcante. Na versão digital, no cinema, não há aqueles estalos nem os chuviscos característicos. O som é bem melhor. Alguns fotógrafos e diretores de fotografia não gostam da qualidade das imagens, acham que se perde um tanto da profundidade de campo e nuances de cores e sombras – o que é verdade. O filme acaba perdendo um certo charme, fica com cara de DVD. Freqüentemente há avanços rápidos das imagens, o que dá um aspecto artificial. Mas são coisas pouco perceptíveis para quem está menos atento. Achei o ganho do som fundamental, principalmente porque havia muitas cenas musicais.

O que acho curioso é que os grandes exibidores ainda não passaram para a versão digital, que é até mais econômica para a distribuição. Por enquanto somente as pequenas distribuidoras estão trabalhando com os digitais. Parece que os grandes estúdios ainda não estão satisfeitos com a qualidade que é oferecida pelo novo formato. Será que é isso mesmo ou há outro motivo?

Festa do início

O reveillon rolou em uma casa grande no Rio Vermelho. Festa fechada, com venda de convites, bebida e comida à vontade. Antes da virada do ano, passamos na casa de P. e de lá fomos andando para a festa, que ficava bem perto. Uma turma legal, em torno de 15 pessoas. Foi bom ir com um grupo grande, pois não conhecia os demais participantes da festa.

O ponto fraco foi o som. Rolou de tudo: rock dos anos 50, disco music, mangue beat, rock nacional dos anos 80 e outras pepitas. O problema é que lá pelas 4 da manhã entrou um DJ que colocou somente rock pesado. Um grupo de aficionados não arredou o pé da pista. Mas quem prefere Carnaval e música baiana para finais de festa, ficou a ver navios. Voltei para casa um pouco antes dos primeiros raios do dia. Não consegui esperar o café da manhã que seria servido. O saldo foi bom, gostei da festa.

O domingo foi dia de reencontro com velhos amigos e muitas risadas. Almoçamos no Bella Napoli do Itaigara, visitamos outro amigo que está adoentado e depois fomos ao cinema ver Vinicius, na Sala de Arte do Museu.