28.4.05

Uvas e vinhos

Na volta da viagem ao Uruguai, trouxe alguns vinhos na mochila. Entusiasmado pela ótima qualidade a preços acessíveis, trouxe o que consegui encaixar na bagagem de mão. Ficou pesado...

Desde que cheguei, dei uma garrafa de presente e tomei outras duas. Restam poucas que ando com uma pena danada de abrir. Dois tintos, um Cabernet Sauvignon e um Tannat. Esta última é a uva típica do Uruguai, também produzida no Rio Grande do Sul. Enquanto na Argentina a uva Malbec virou símbolo nacional, na região cisplatina a Tannat é a mais representativa.

Quando será - se é que este dia chegará - que o Brasil terá a sua uva-símbolo? Eleger uma determinada espécie e aperfeiçoá-la foi uma jogada muito interessante. Malbec e Tannat eram uvas que não produziam vinhos lá muito atrativos na Europa. Nas condições sul-americanas os resultados são muito bons, especialmente na Argentina, em altitudes elevadas. No fundo (da taça?), foi uma estratégia de marketing para fazer concorrência aos importados, que pelo simples fato de serem produzidos em regiões delimitadas, tal como Bordeaux e Borgonha, na França, adquirem credibilidade quase imediata.

Mas o Brasil vem aos poucos conquistando o seu espaço. E o interessante é que sempre aparecem os palpiteiros de última hora querendo provar o contrário. A revista Veja fez uma reportagem dizendo, com todas as letras e infográficos, que só se consegue fazer um bom vinho abaixo do paralelo 30. Em solo brasileiro, isso significa a região ao sul de Porto Alegre, excluindo a tradicional serra gaúcha e municípios produtores como Bento Gonçalves, por exemplo.

Aí vem o melhor. Pouco tempo depois, o Brasil foi selecionado entre vários países para uma exportação recorde de vinhos com destino a supermercados franceses. E sabe onde são produzidos? No Nordeste, na região do São Francisco. Aproximando-se do paralelo 10. Os vinhos Miolo Terranova, nas variedades Shiraz e uma outra uva que não lembro, desses mesmos que a gente encontra em nossos supermercados, agora estão também disponíveis para os franceses. Isso não saiu na Veja, ficou restrito aos jornais locais, infelizmente.

É, de tanto falar de vinho, fiquei com vontade de tomar. Vou abrir um. Volto já.

27.4.05

Sexo pré-revolução sexual
O puritanismo da sociedade americana foi abalado quando, em 1948, o biólogo Alfred Kinsey (vivido por Liam Neeson) lançou o livro "Comportamento Sexual no Macho Humano", resultado de pesquisa aprofundada com milhares de americanos. Anos depois, viria a versão feminina da publicação.

Kinsey - Vamos Falar de Sexo (Kinsey, EUA, Alemanha, 2004) traz para as telas, com humor bem dosado, a biografia do cientista, sem esconder os seus conflitos pessoais, experimentações sexuais e determinação para conseguir e disseminar informações sobre um assunto considerado tabu na época.

Dirigido por Bill Condon, o filme obteve várias indicações - incluindo a boa atuação do irlandês Neeson - no prêmio Globo de Ouro, da associação de criticos estrangeiros. No Oscar, a indicação foi de atriz coadjuvante para Laura Linney, no papel de Clara, a esposa de Kinsey.

25.4.05

Rapidinho
Em breve estarei com acesso rápido à internet. Pois é, durante quase dois anos, este blog foi estoicamente editado com o auxílio de linha discada. Um suplício. Depois da tentativa sem sucesso de instalar a net condomínio aqui no prédio, agora aparece uma oportunidade interessante e de preço razoável. Pelas minhas contas, não vou gastar mais do que já tenho gasto com os pulsos telefônicos em excesso, que irão sumir.

23.4.05

Tudo igual em qualquer lugar

Tenho visto vários filmes. Estou tirando o atraso da viagem, quando praticamente não fui ao cinema.

Bons longas latinos em cartaz, produzidos nos próprios países latino-americanos ou com historias que se passam neles. Vi o chileno Machuca, que se passa no período ligeiramente anterior à ditadura; o colombiano (e americano) Maria Cheia de Graça, sobre o tráfico de drogas pelas mulas, aquelas pessoas que engolem pequenos pacotes de cocaína para passar pela alfândega; e o mexicano Vozes Inocentes, que se passa em El Salvador.





Em todos, as realidades são parecidas. Diferencas sociais, pobreza e conflitos urbanos. Dramas sociais. Dificil escolher o melhor dos três. Machuca e Vozes Inocentes são mais que informativos, são aulas de história. Maria Cheia de Graça é atual, ousado e tenso.
Mas os conflitos e os atrasos não se restringem à América. Em Nossa Musica (Notre Musique), de Godard, tem-se Sarajevo, a 500 km de Roma, sofrendo as dores da guerra pela qual passou.






O filme de Godard é puro discurso. As imagens e o enredo talvez fiquem em segundo plano, em relação aos questionamentos que ali são colocados. Deve ser apreciado com muita concentração, para tentar absorver o máximo possível das idéias. E essa é uma dificuldade, pois a grande quantidade de informações estimula o raciocínio a fazer inúmeras associações e voar longe. Há a necessidade de esforço mental para acompanhar os dois planos: o enredo e os questionamentos filosóficos ali contidos. Apesar do ritmo lento de imagens, a velocidade de idéias é grande. Não dá para cochilar.




Todos os filmes tristemente exibem circunstâncias dolorosas e violentas, parecidas em qualquer lugar, não importa o continente. Fico aliviado em perceber que no Brasil vivemos em um tempo sem ditaduras e sem guerras. Ao menos declaradas.


21.4.05


Em A Intérprete (The Interpreter, EUA, 2005), Nicole Kidman é Silvia Broome, que trabalha fazendo tradução simultânea nas Nações Unidas. Por acaso ela ouve uma ameaça de morte a um chefe de estado africano. Em busca de segurança pessoal, denuncia o fato à CIA e passa a ser vigiada pelo agente Tobin Keller (Sean Penn). Ao mesmo tempo, ela se torna suspeita de envolvimento em conspiração internacional.

Dirigido por Sydney Pollack (A Firma, Tootsie), foi o primeiro longa-metragem a receber autorização para ser filmado dentro do prédio das Nações Unidas. Os trabalhos foram realizados nos finais de semana, para não atrapalhar as atividades do local.

A Intérprete vai agradar ao público que gosta de filmes de ação e suspense político, com direito a atentados a bomba. No entanto, traz uma fórmula pouco inovadora, com Kidman e Penn distantes de suas melhores atuações, dificultadas aqui pelo enredo um tanto confuso e pouco convincente.

20.4.05

Turbinado

O computador esta de volta ao lar. Depois de alguns dias na manutencao para a instalacao de uma saida USB, o disco rigido foi formatado e o windows reinstalado. Agora tudo esta mais veloz.

Em vez de atualizar o meu velho AMD K6, preferi fazer a aquisicao de um palm Tungsten E, que vai possibilitar digitacoes quando eu nao estiver em casa. So falta agora comprar o teclado portatil, por enquanto ainda estou escrevendo na telinha com aquela canetinha miseravel que consome um dedo danado!

16.4.05

Pidão
Estou louco de curiosidade e vontade de ver a peça "Amores Bárbaros", que está em cartaz na Sala do Coro do TCA. Qual o problema? O preço co ingresso. Como faz falta uma carteira de estudante! Alguém aí tem um convite sobrando? Hehehe.

14.4.05

Comédia Musical
Chili Palmer (John Travolta) abandona a indústria cinematográfica para se dedicar à produção musical. Ele então procura Eddie (Uma Thurman), sócia de gravadora falida e jovem viúva, para propor parceria em uma gravadora independente e lançar a promissora cantora pop Linda Moon (Christina Milian). Muita música, violência, humor referencial e afiado estão presentes na comédia Be Cool – O Outro Nome do Jogo (EUA, 2005), dirigido por F. Gary Gray, continuação de O Nome do Jogo.

O elenco estelar inclui Vince Vaughn, Harvey Keitel, The Rock e Danny DeVito, mas o riso não chega facilmente, já que a violência, apesar de suavizada, é onipresente e os produtores musicais de Los Angeles são mostrados como gângsters. O humor beira o politicamente incorreto. Uma homenagem mordaz do cinema à indústria musical americana.

Há várias referencias a outros filmes, inclusive ao primeiro episódio. Na cena em que Travolta dança com Uma Thurman, a lembrança recai imediatamente sobre Os Embalos de Sábado à Noite. Os números musicais transitam do rock (com a presença do grupo Aerosmith) ao rap e até à música brasileira, com as presenças do músico Sérgio Mendes e da voz de Elis Regina.

12.4.05

Exercícios e saldo de gordura

Houve uma época em que eu gostava de me exercitar. Musculação na academia, natação, ciclismo. Gostava de andar de bicicleta quando morava no interior e o tráfego de veículos não me assustava. A natação era consequente: ia pedalando ao clube. Na capital, o exercício ficava circunscrito a locais fechados: as badaladas (ou nem tanto) academias de ginástica e musculação.

O tempo caminhou e Saturno me pegou de jeito. Passou inclemente por Gêmeos e me conduziu a milhares de questionamentos profissionais. Decido voltar a estudar e encarar mais quatro anos de Faculdade. Que dureza. De resultados positivos, consegui novas amizades, novas atividades, novos conhecimentos e percepções. O tempo livre encurtou e eu desaprendi a gostar de me exercitar. Passei a me contentar com algumas parcas caminhadas na orla, no Porto da Barra (quando estava na Graça), em Amaralina ou no Jardim de Alá.

Somente quando o uso do computador faz os músculos doerem, é que me lembro de fazer os alongamentos que me trazem tanto bem-estar. A bicicleta ergométrica fica parada em um canto da sala (ela não cabe no quarto!) e parece ter o fim inexorável de todas as bicicletas ergométricas dentro de casas apertadas: virar cabide, onde as roupas teimam em se amontoar.

São tanto livros para ler, tantos filmes e peças para assistir e tantas palavras a escrever - que vão pingando aos poucos e precisam de um recipiente constante para apará-las. Fiquei mesquinho com a energia e o tempo que me sobram. Recuso-me a sair de casa para ir à academia. Para manter o peso, o jeito está sendo apelar para o regime. Virei marmiteiro. Levo a minha pequena porção para o trabalho, esquento no micro-ondas corporativo, onde outros comensais se acotovelam, e ainda economizo grana. Ao contrário do meu saldo financeiro, o saldo adiposo das férias veio muito positivo. Mas já está sumindo.

10.4.05

Noite do Oráculo, de Paul Auster

Um dos melhores livros que li nas últimas épocas. Ágil, linguagem direta, trama inteligente e bem elaborada. Quase o roteiro de um filme de ação. Auster, que esteve há pouco no tempo no Brasil, na feira de livros de Parati, também escreve para cinema. Várias histórias que vão se abrindo, a partir de uma principal sobre um escritor. Boa descrição de um processo de criação literária. É daqueles livros que a gente lê rapidinho e fica querendo mais.

8.4.05

Quase no mar

O mar do final de verão fica alto,ainda resta um pedaço do azul transparente,e o sol de vez em quando rebrilha forte. As águas do mar quase tocam as ruas e deitam no espaço da areia.Às vezes o mar fica perigoso, o mar fica intenso e quase revolto. O mar fica cheio e gordo, enquanto o resto de praia está vazio. Mas o sol nunca desaparece totalmente no outono-inverno sem frio.

Em dia de sol, em um fim de verão bem quente, as ondas são gentis e brincam de lamber as muretas da Barra. O sol vem acalmar as chuvas que interrompem a alegria da cidade. O mar continua companheiro dos que prolongam as férias. Nas ondas do mar cheio restam os mais cheios de mar:os príncipes das ondas.

7.4.05

Kung Fu em cores fortes
Guerreiros voadores e lutas mirabolantes, que ocorrem desde o ritmo da câmera lenta, evoluindo até golpes em alta velocidade. Belas paisagens nas quais explodem cores vibrantes da natureza, como se as imagens tivessem sido pintadas à mão. O filme O Clã das Adagas Voadoras (China/ Hong Kong, 2004), do chinês Zhang Yimou, reúne características para agradar os gostos mais divergentes entre os cinéfilos.

Na China do século IX, o governo corrupto da dinastia Tang sofre ataques de várias organizações rebeldes. Os policiais Jin (Takeshi Kaneshiro) e Leo (Andy Lau) aproximam-se da cortesã Mei (Zhang Ziyi), suspeita de pertencer ao Clã das Adagas Voadoras. Jin e a cortesã guerreira terminam por se apaixonar.

O chinês Yimou, que dirigiu os aplaudidos Lanternas Vermelhas e Herói, bebe na fonte dos filmes de kung fu (que também inspiraram Matrix e O Tigre e o Dragão, consagradas produções americanas) e das obras do japonês Akira Kurosawa, um dos maiores mestres do cinema.

6.4.05

Educação sexual

Marquinhos tem 11 anos e está na quinta série. Animado e curioso com as novas informações, não se conteve e foi conversar com a mãe, uma enfermeira que procura conversar de modo mais aberto possível com os filhos.

- Mãe, estou aprendendo um monte de coisa nas aulas de educação sexual.
- Que bom, meu filho.
- Mãe, posso te fazer uma pergunta?
- Pode, sim.
- Você faz faz sexo anal com meu pai?
A mãe quase engasga.
- Meu filho, isso é muito particular, depende de cada pessoa.
- Ah, mãe, mas eu quero saber de você.
- Marquinhos, isso é muito pessoal, eu não vou responder.
- E sexo oral, você faz?
- Marquinhos! Eu já disse, eu não vou responder - bradou.
- Ah, mãe, você sempre responde tudo. É porque você faz, não é? - o garoto caiu na risada e a mãe continuou sem graça.

A história, claro, tem nomes e profissões trocadas, mas o diálogo foi exatamente desse jeito. O ensino de educação sexual nas escolas é, sem dúvida, um avanço muito importante e interessante. Só que haja jogo de cintura dos pais para as perguntas, principalmente as dúvidas dos deveres de casa.
Para os que riem além da conta

"Quem acha tudo gozado é faxineira de motel".

Marinete, em A Diarista. Por essas e por outras é que eu considero a sitcom das terças um dos melhores textos da Globo. Tudo simples, direto e muito perspicaz. Bruno Mazzeo, um dos filhos mais talentosos de Chico Anísio, é o roteirista responsável pela redação final.

5.4.05

Putz
Aí é covardia. No blog Blônicas escrevem, entre outras feras, Xico Sá, Rosana Hermann, Antônio Prata, Leo Jaime, Milly Lacombe. É concorrência desleal na blogosfera. Chuif.
Má ingestão
Estou com pena dos vendedores de caldo de cana. Com essa história dos barbeiros na cana-de-açúcar, as vendas devem estar caindo aos barrancos. O caldo de cana é mais uma das particularidades da alimentação popular brasileira. Riquíssimo em nutrientes e uma delícia, o suco esverdeado é uma bebida saudável e recuperadora de energias. Para aqueles que não se importam de encarar aquelas maquininhas com cara de sujas, é claro. O caldo de cana é facilmente encontrado nas rodoviárias e comércios de rua do Brasil, onde quase sempre compõe um belo dueto com o pastel de carne.

Como se não bastasse a pouca higiene dos vendedores, agora, ao beber o saboroso e refrescante suco, ainda há a possibilidade de encontrar o toque especial de azeite de barbeiro triturado, com direito a protozoários, servido junto com o caldo. Aguente. Por que será que a transmissão da doença de Chagas por ingestão da bebida não foi detectada antes? Ou será que nunca havia sido divulgada? Mistéeeerio.

3.4.05

Estou novamente em Ilhéus. Tive que voltar, para dar o último tchau à doce vó Cotinha, que partiu aos 92 bem-vividos anos para a sua viagem ao céu. Alguns fazem apostas que o Papa aguardou a devota senhora para ir junto no mesmo trem. :-)

Ela se foi e deixou saudades tranquilas, sempre arrodeada de filhos, netos, parentes e amigos. A emoção ainda é muito grande para ser traduzida em palavras. Vou falar de outros assuntos, antes que as lágrimas comecem a descer e os jogadores desta lan house comecem a olhar para mim.

Na quarta-feira, as estatuetas do prêmio Braskem foram para Jussilene Santana (melhor atriz, em Budro) e Gideon Rosa (melhor ator, em Arte). Gostei da premiação da moça. Páreo duro, concorrendo com Andrea Elia (genial, em A Prostituta Respeitosa) e Rita Assemany (soberba, em Esse Glauber). Todas as três mereciam. Não assisti à peça com a quarta concorrente, que não lembro agora quem era.

Infelizmente, não vi Arte, não posso tecer comentários. Com a premição de melhor espetáculo, e a consequente volta a cartaz, não vou perder.

A apresentação do prêmio foi rápida, ágil e divertida. Vários conhecidos, principalmente jornalistas.


Harmonia