29.1.05

Saiu
A receita do coquetel que criei foi publicada hoje, sábado, no encarte Circuito Smirnoff que saiu em A Tarde. Quem não me conhece ao vivo, pode conferir uma pequena foto na terceira página, na seção em que os drinques foram publicados.

A receita saiu com um erro. Aí vai a correta:

Porto da Barra

Uma dose de Smirnoff Citrus Twist
Uma dose de suco de abacaxi
Duas doses de água mineral com gás
Meia dose de licor de menta
Folhas de hortelã picadas
Gelo e açúcar a gosto

Na versão impressa, está constando somente ½ dose de suco de abacaxi.

Para diferenciar das profissões dos demais retratados, o jornalista que editou o encarte colocou a minha primeira formação: engenheiro químico. Ficou interessante porque tinha a ver com a composição do drinque, do álcool, das misturas, da alquimia.

27.1.05

Perto Demais
A fotógrafa Anna (Julia Roberts) é casada com o médico Larry (Clive Owens), mas cede à sedução do escritor Dan (Jude Law), que vive com a ex-stripper Alice (Natalie Portman). Abandonado, o médico busca consolo com a companheira do seu oponente. Jogos de manipulação e crueldade ficam visíveis em Perto Demais (Closer, EUA, 2004), mas são totalmente verbais.

É um filme discursivo, no qual fala-se muito mais do que se mostra. Herança do texto teatral no qual o roteiro é baseado. É um drama que vai fundo ao mostrar o que as pessoas são capazes em seus relacionamentos. Mas nem por isso deixa de ser belo e envolvente.

A direção é de Mike Nichols, que dirigiu a série televisiva Angels in America. Julia Roberts está em um papel diferente: despojada, natural e com pouca maquiagem. Os destaques na atuação são Clive Owen (Rei Arthur) e Natalie Portman, que já ganharam os prêmios Globo de Ouro de ator e atriz coadjuvante e estão indicados aos Oscars nas mesmas categorias. Uma boa surpresa é ouvir a cantora brasileira Bebel Gilberto, que anda fazendo muito sucesso no exterior e também aqui no Brasil, entre os que apreciam a bossa eletrônica.

25.1.05

Calendário de festas
Neste ano, de modo contrário aos anteriores, tive vontade de ir à Festa do Bonfim. Já faz algum tempo que a festa perdeu os trios elétricos, ficou mais espaçosa e confortável, mas conserva a alegria do espírito sagrado-profano das pessoas na rua, que caracteriza as festas populares na Bahia. O foco retornou à celebração intimamente ligada à data religiosa, como em sua origem.

Lembro daquele único ano em que fui a pé até o Bonfim. Bebendo, brincando, acompanhando as bandas e batucadas. Em tempos de estudante, com pouco dinheiro no bolso, as festas populares eram sempre ótimas e baratas opções. Só era preciso o dinheiro da cerveja. O retorno do Bonfim é que foi doloroso. Sem dinheiro para o táxi, o jeito foi vir andando, morto de cansaço, até alcançar algum ônibus.

Eu não trabalhava, pois não dava tempo para conciliar com o horário do curso na Universidade Federal, com aulas espalhadas pela manhã e pela tarde. Ou se estudava ou se trabalhava. Só se começava a estagiar no final da Faculdade, quando a responsabilidade começava a gritar e algumas matérias, já profissionalizantes, eram oferecidas durante a noite.

Lembro de uma vez em que sai quase correndo do estágio em uma empresa do Pólo Petroquímico de Camaçari, fingindo que tinha trabalho escolar para fazer e me dirigindo celeremente ao Rio Vermelho, para a festa de Iemanjá, em fevereiro. A recompensa valia. Som, alegria, dança, amigos, cerveja.

Uma vez rolou uma feijoada na casa de uma amiga, lá mesmo no Rio Vermelho. Além dos meus conhecidos, havia a presença de componentes da banda Chiclete com Banana e de Carlinhos Brown, antes de se tornarem estrelas nacionais. Brown sentado no chão da cozinha. Magro, com cara meio enfezada, tênis americano, grande óculos escuros, já inaugurando a mistura do tribalismo baiano com o multiculturalismo globalizado. Uma captação antecipada de tendências. A amiga, dona da casa, então estudante de comunicação, logo a seguir viria a fazer a assessoria de imprensa do cantor.

A feijoada foi uma delícia. Era início da década de 90, éramos mais jovens, mais tolos e achávamos que a vida era só alegria - ou apenas queríamos acreditar nisso.

22.1.05

Calor
A cidade parece estar vivendo um clima de ressaca do Festival de Verão. Hoje, pleno sábado de sol escaldante, as ruas estavam meio que vazias. O restaurante em que almoço e que normalmente fica cheio, estava na metade da ocupação. Deve ser o Festival de Verão.

Carnaval a menos de quinze dias, calendário apertado de festas. Cidade coalhada de turistas. Restaurantes cheios, filas imensas nas baianas de acarajé do Rio Vermelho. O abará de Cira estava péssimo na sexta-feira à noite. Para quem vem de fora, é uma beleza. Para quem mora na cidade, um transtorno. Mesmo assim, o verão sempre deixa saudades.

17.1.05

Estação da música
O verão ferve em Salvador. No curto espaço de algumas semanas até o Carnaval, as opções de festas se multiplicam na cidade. Vários shows ocorrendo, e, o que é melhor, de graça. Fui vez a Noite de Santo Amaro, na Concha Acústica, no projeto Sua Nota é um Show. Mais de três horas de música com as presenças ilustres de Dudu Nobre, J. Veloso, D. Edith do Prato, Mariene de Castro, Edson Cordeiro, Miúcha, Daniela Mercury e do dono da festa: Caetano Veloso.

Nem a persistente chuva, às vezes mais grossa, às vezes mais fina, foi suficiente para desanimar o público, que ficou aglomerado nos poucos espaços cobertos: próximo ao palco e na parte superior, perto do bar. Em pleno verão baiano, uma cena de inverno europeu: pessoas sob os guarda-chuvas ouvindo os sons de músicos e cantores de Santo Amaro e de amigos da cidade - ou, pelo menos, de Caetano

Edson Cordeiro fez apresentação muito legal. Cantou Babalu e se arriscou a cantar I Will Survive acompanhado só com violão. Depois de vários sambistas, o público não se incomodou e ainda aprovou. Dudu Nobre cantou o tema da Grande Família, que é uma delícia. Daniela Mercury mostrou por que é uma estrela. A mulher incendiou o palco, cantando Maimbé Dandá e puxando Caetano para um dueto em Cotidiano. Caê, em sua versão "solteiro em Salvador", ficou babando por ela, que estava linda e simples, apenas de branco: calça, blusa e sapato. Ela deveria se vestir sempre assim. O dia em que Daniela resolver se vestir de maneira simples, ela se vestirá melhor.

No sábado fui fazer umas fotos para uma matéria publicitária que talvez irá circular no jornal A Tarde do próximo sábado. Acreditem, caros amigos, depois de balzaquiano, me convidam para posar. O trabalho foi divertido e interessante. É o lançamento da vodca Smirnoff aromatizada, tridestilada (35% de volume, quase uma bomba!) e adoçada, nos sabores citrus, red fruits e orange. Além de posar, cada convidado tinha que preparar um drinque, junto com o qual seria fotografado. O que inventei - na hora - ficou bonito e uma delícia: Uma dose da vodca Citrus, uma dose de suco de abacaxi concentrado, duas doses de água mineral com gás, gelo, hortelã picada, um pouquinho de açúcar e uma dose de licor de menta, que ficou depositado no fundo do copo alto. O nome escolhido foi "Porto da Barra", pela tonalidade amarelo-esverdeada do drinque e pela bela vista do local onde estávamos: o restaurante japonês Sato, ao lado do restaurante Pereira, próximos da famosa praia da Barra.

A sessão foi divertidíssima, pois todo mundo queria experimentar as criações. A única vez em que havia me aventurado a dar uma de modelo foi em um desfile em um shopping da cidade em que morei por um tempo, no oeste da Bahia. Tive que tomar vários goles de uísque (da garrafa que eu mesmo levei, já antevendo a vergonha de desfilar, e que foi apreciada por todos os "manequins"). A experiência foi ótima - para não repetir.

No domingo, no Parque da Cidade, o show do músico e cantor Peu Meurray, acompanhado da banda Os Pneumáticos. Meurray é o mentor do Galpão Cheio de Assunto, um espaço de eventos musicais que fica nas Sete Portas e que eu não conheço. Ando meio sem saco para o "pop baiano", acho tudo pouco interessante. Mas o show foi uma surpresa deliciosa. É um som meio funk, que passeia com tranquilidade pelo samba e por ritmos baianos, acompanhado por grandes pneus transformados em tambores. Lembrava Jorge Benjor e, em alguns momentos, o antigo grupo A Cor do Som. Meurray estava com um visual diferente: trancinhas grudadas no couro cabeludo e sem óculos, trajando um macacão cor-de-abóbora, daqueles da empresa de coleta de lixo da cidade. Diferente do visual que normalmente usa, que é uma grande cabeleira black power e óculos gigantes. O visual, a energia e a qualidade da música me lembraram Carlinhos Brown no início da carreira. Com um diferencial: Peu Meurray tem uma boa voz. Tomara que o sucesso o encontre. Talento ele tem.

15.1.05

Caros leitores, por gentileza retomem os seus lugares. Estou de volta.

Há dias sem vir por aqui, o trabalho a consumir as minhas preciosas horas e a energia do dia. Tenho escrito palavras, mas sem o auxílio de teclas. Independentes, livres, palavras soltas a correr pelos espaços entre os meus dedos. Sentado confortavelmente, deitado de pernas para cima, palavras acima da minha cabeça. Elas são o conforto do dia corrido, cheio de ações.

As palavras voltam para me sintonizar com o mundo, com as pessoas, com a energia e a nesga de beleza que a vida urbana oferece. Sinto palavras doces que passam flutuando como folhas a dançar no vento da tarde, que persiste em terminar em tons lilases-alaranjados. A música das horas e do ritmo dos passos me convidam a relaxar e a deixar de lado o mundo fechado no qual costumo me esconder da realidade. Procuro um refúgio da correria que amo e detesto.
Guerra de opiniões
Dirigido pelo premiado Oliver Stone (Platoon), Alexandre (Alexander, EUA, Inglaterra, Alemanha, 2004) conta a saga do famoso general da Macedônia, país vizinho da Grécia, que expandiu os seus domínios até o Oriente distante, chegando até à India. O elenco inclui Colin Farrel, Angelina Jolie, Val Kilmer e Anthony Hopkins, os dois últimos quase irreconhecíveis pela caracterização dos personagens.

Orçado em 150 milhões de dólares, o filme não vem obtendo a bilheteria esperada. Entre outros aspectos, o diretor foi acusado pela crítica especializada de abordar mais as crises existenciais e detalhes da vida privada do que as conquistas do general.

As cenas de batalhas, especialmente a dos elefantes, são bem filmadas. O resultado da produção, de quase três horas, é superior ao de Tróia, outro filme épico exibido há pouco tempo. Alexandre foi elaborado a partir da biografia do guerreiro, tem o mérito de aproximar o expectador dos fatos históricos e mostrar as artimanhas de um grande líder.

Alexandre é pouco compreendido. É um filme que incomodou, basicamente por mostrar claramente - e de forma delicada - o romance do guerreiro com um dos seus generais. O que mais se ouve no cinema são as risadinhas nervosas nas cenas em que há declarações amorosas. Parece que o público não está preparado para ter à sua frente um amor gay de forma séria e romântica ao mesmo tempo. Em ainda mais proveniente de um guerreiro. O Exército não deixa de ser um dos grandes símbolos da masculinidade. Parece difícil para o mundo ocidental perceber o que era a cultura pré-cristão, com menores restrições comportamentais. Antes de toda a culpa que a Igreja conseguiu incutir na civilização.

Quando vi Alexandre, após já ter lido algumas críticas, tive a impressão de que o filme só terá o seu valor reconhecido daqui a alguns anos. Fiquei satisfeito ao saber que o diretor teve a mesma impressão. Em entrevista à Folha de SP, Oliver Stone revela que ficou chateado com a avalanche de críticas negativas e acha que o trabalho só será compreendido no futuro.

O filme tem reconstituição histórica fabulosa. Dá curiosidade de ler o livro no qual a produção foi baseada. As cenas que retratam a Pérsia e os seus guerreiros remetem àqueles filmes antigos das mil e uma noites. A batalha dos elefantes é muito interessante. Assim como o comportamento político de Alexandre ao estimular os seus soldados para lutar e as alianças com os países conquistados. Não há como escapar da grandiloquência, mas como fazer um épico de outra forma? Achei que o diretor foi muito feliz em conjugar os conflitos íntimos e as batalhas que fizeram a expansão do império Macedônico.

Embora não seja um parâmetro muito confiável, por ora deve-se aguardar o que Mr. Oscar vai dizer.

6.1.05

Rebelde
Lutero (Luther, 2003, EUA, Alemanha) é a cinebiografia de Martim Lutero, o monge alemão que, insatisfeito com as práticas religiosas adotadas, desafiou a Igreja Católica há 500 anos. Após vários livros publicados, passa a ser perseguido e pressionado para que se redima publicamente. Lutero, no entanto, se recusa a negar suas teses. Excomungado, foge e inicia sua batalha para mostrar que seus ideais estão corretos.

O fato gerou a Reforma e deu origem à Igreja Protestante. A tradução da Bíblia do latim para o alemão, feita pelo monge, teve grande influência na formação da língua alemã. Apesar do caráter didático, o filme é interessante e movimentado. Uma boa aula de história, co-produzida pela Igreja Protestante dos Estados Unidos.

Dirigido pelo Canadense Eric Till, o filme traz no elenco o inglês Joseph Fiennes (de Shakespeare Apaixonado) como Lutero. A escolha não foi bem recebida pela crítica, que o considerou de aspecto pálido e frágil, em oposição à constituição forte e mais para um rude camponês que foi o verdadeiro Lutero. Mas o ator segura bem o papel.

3.1.05

Lar
Neste início de ano, seduzidas pelas altas temperaturas do sol de verão, as palavras parecem não querer fazer destes escritos a sua morada. Só querem passear por aí e não perder nada das cores e dos raios de luz. Elas têm lá suas razões. O calor é uma fonte de intranquilidade, pelo menos dentro de casa. Calor bom é na praia, refrescando-se nos banhos de mar e tomando sorvete de tangerina da Ribeira. E elas não querem outra vida. Ô palavrinhas geniosas, acalmem-se e voltem para o seu recanto. Prometo cuidar bem de vocês.