La Dolce Vita de Fellini |
O cine-teatro Maria Betânia tinha um bar-café ao lado, onde os amigos se reuniam, depois do filme, para conversar sobre o que tinham visto, discutir temas profundos ou falar bobagens. Em geral, a gente ia aos domingos à noite. E ficava lá, proseando, bebendo, tentando esquecer o início de uma nova semana de trabalhos e estudos. Em um esforço inútil de empurrar a segunda-feira para longe.
Havia também ( acho que ainda há), uma pequena sala na Biblioteca Central de Salvador, a Sala Walter da Silveira, que eventualmente exibia algum clássico ou festival de cinema. Foi lá que vi Os amantes de Pont Neuf, Império dos Sentidos, A Mulher do Atirador de Facas, o Festival Mix Brasil, entre tantos outros.
Saí de Salvador por quase 5 anos e a minha frequência ao cinema ficou limitada ao período de férias, em Sao Paulo, lá mesmo em Salvador ou outra capital.
Para poder assistir a um filme, eu preciso da concentraçao em uma sala escura. Preciso do tempo de me organizar, de sair de casa, de desligar a internet, o telefone e me dedicar totalmente à projeçao. O filme tem que ser o evento de sair de casa. Ou do trabalho. Ou da escola. Pode ser o início da noite. Pode ser a continuaçao do café. Por isso o DVD caseiro nao funciona para mim. Eu simplesmente nao consigo ficar parado dentro de casa e me concentrar para ver um filme.
Nisso eu sou muito diferente do que o meu pai era. Grande apreciador da sétima arte, acostumado a ir com frequência ao cinema na juventude, ele teve uma grande alegria ao adquirir um aparelho de video-cassete, dos primeiros modelos produzidos no Brasil, e poder ver um monte de filmes em casa. E ele via mesmo. Virava noites lhes assistindo. Chegava a alugar uns 10 filmes para ver durante o final de semana. Era uma época em que os cinemas nas pequenas cidades foram fechados e nao restava outra opçao que ver os filmes em casa.
Pois bem, quando voltei para Salvador, uns cinco anos depois, tive a boa surpresa de ver algums amigos envolvidos na administraçao de um cinema. Que nao era só um cinema. Também era café e galeria de arte. Quanta coisa vi ali. Almodovar, Woody Allen, diretores chineses, franceses, iranianos, argentinos, do mundo todo. Uma época de cinema globalizado estava se abrindo em frente aos meus olhos. O filme era o início da noitada. Começava com um café, depois a exibiçao, a seguir o bate-papo com os amigos em algum barzinho e talvez até alguma festa mais tarde.
Gabbeh, do iraniano Mohsen Makhmalbaf |
Após terminar a Faculdade, passei a frequentar as sessoes de pré-estréia para os jornalistas, que aconteciam normalmente às segundas-feiras à noite. Oba! O prazer do final de semana se extendia por mais um dia.
Hoje eu ando um pouco distante do cinema. Como disse antes, nao tenho muita calma para ver os filmes em casa. Entao, quando vou ao cinema, me deparo com uma nova realidade. Os filmes sem legenda.
Em Montréal, filmes franceses ou americanos dublados em francês. Em Toronto, os filmes originais em inglês. Que dificuldade, para quem, além de ter deficiência auditiva, ainda passou toda a vida lendo legendas. E, ainda por cima, ingressos caros. Que saudade dos convites "custo-zero" para jornalistas.
Talvez eu tenha ficado muito exigente comigo. E, por ainda nao compreender tudo que é falado, sobra uma ponta de angústica por perder alguma informaçao importante, por nao conseguir sentir totalmente, fruir, opinar, discutir. Acho que preciso voltar a apreciar sem nenhuma exigência, apenas sentindo. Ou, por enquanto, assistir a filmes estrangeiros, falados em outra língua. Com legenda em inglês.
2 comments:
Dan, acho que assitimos (no meu caso tentei) assistir Cenas de um Casamento de Ingrid... O Maria Betânia era tudo para a galera cult!
Edi, com certeza nós vimos muita coisa naquela época da Faculdade!
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