27.8.12

Destrua o vestido de noiva

Durante os passeios de bicicleta pela cidade, principalmente nos sábados à tarde, vejo uma cena que se repete com frequência. Um casal de noivos, ela de vestido branco de casamento e ele de terno, fraque, ou qualquer outro traje apropriado, quase sempre com buquê de flores nas mãos, acompanhados por um fotógrafo, perambulando pela cidade em busca de boa locação para fotos do álbum.

A cena é mais comum na beira do lago ou nos parques, obviamente, pela beleza. Mas eu já vi trio fotógrafo-noivo-noiva andando pelo viaduto Broadview. Onde, acredito, a atratividade do local consiste de carros passando em alta velocidade.

Canadenses não se importam em usar trajes diferentes. Seja para atrair a atenção ou para testar se a política da indiferença com a vida alheia, tão querida e apregoada por este povo, continua firme. Então de vez em quando passa alguém fantasiado de Batman pela rua. Não importa se é época de Halloween ou não. Não importa se a pessoa está chegando ou saindo de alguma atuação teatral. Não importa se está indo para alguma festa a fantasia. O importante é ser criativo. 

Fotógrafos e noivos parecem levar a criatividade aos últimos consequências. Para quem é estrangeiro, é estranho, mas acaba sendo divertido. Na praia da beira do lago, vi que um grupo de espanhóis beberrões ficou olhando para os noivos com ar de espanto e comédia. Um deles não aguentou e foi tirar foto, com seu proprio iPhone, com o casal, que meio sem jeito, o acolheu no meio. A foto deve ter ficado com cara de ménage à trois.

No Brasil o trabalho do fotógrafo seria impossível. Haveria fila de pessoas querendo tirar fotos com o casal, assovios para a noiva, piadinhas sobre a vida sexual, pedidos de convite para a festa do casamento. Só alguns exemplos da interação que os brasileiros gostam de fazer com aquilo que lhes parece exótico, divertido, estranho , atraente ou exibicionista.

Mas a onda das fotos criativas do casamento norte-americano vai além. Existe um modismo de poses depois da festa. É o “Trash the Dress”. É a destruição do vestido, o vestido vai para o lixo. Então tem noiva que, passados casamento, festa, lua-de-mel, viagem e entrando na monotonia do cotidiano, resolve se vingar.

Sob os olhares atentos e os cliques rápidos do fotográfo, ela posa para fotos depois de rolar na lama, de queimar partes do vestido, de encharcá-lo na água, ou depois de qualquer outro método de destruição escolhido.

Parece estranho, quando se poderia simplesmente doar o vestido, já que não se quer mais guardá-lo ou não se tem mais espaço para armazenar o trambolho. E, efetivamente, pode haver acidentes, como o que ocorreu no Québec.

Primeiro pensei que se tratava de uma notícia falsa, pelo tom quase inacreditável. Mas foi verdade. A noiva entrou no rio para encharcar o vestido. O vestido ficou pesado demais e a correnteza a arrastou. O fotógrafo não conseguiu resgatá-la e ela morreu afogada. Uma bela mulher de 30 anos. Adeus vestido, adeus casamento, adeus noiva.

Confira aqui:
http://www.ctvnews.ca/canada/caution-urged-after-bride-s-photo-shoot-death-1.930467

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