Ficar em Salvador durante o feriado do São João é uma experiência no mínimo interessante. A cidade fica vazia como em nenhuma outra ocasião. Entregue às moscas. Mesmo em feriados prolongados, como na Semana Santa e no Natal, o paradeiro não é tão grande quanto nesta época.
No São João o êxodo é urbano, em direção à folia no interior do Estado. O trânsito diminui, os bares ficam vazios. A cidade se acalma. Há até certa ponta de melancolia no ar. Para quem não gosta de muita festa, é um período excelente para ficar em casa, sob a temperatura do inverno baiano. Aproveitar o tempo para ler, ver filmes ou descansar.
Descansar, aliás, é algo improvável para quem vai para o interior. O Trânsito é pesado nas estradas, há festas e barulho - além do irresistível licor -, em praticamente todas as cidades do interior da Bahia, que descobriram o filão econômico e turístico das festas juninas. Não há clima para recuperar as energias, a menos que se vá para alguma fazenda ou local isolado. Fora isso, nada melhor que descansar na cidade grande e tranquila.
Publicado no Super Fatos de 26.06
Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
26.6.03
11.6.03
O tíquete e as codornas
O Valetik e a cesta-alimentação representam conquistas do funcionalismo do Banco. O valor do tíquete nao é contabilizado para imposto de renda e representa uma grande parcela dos ganhos mensais da maior parte dos funcionários do Banco. Para aquele que está começando na empresa, o valor do tíquete representa mais de 50% do salário líquido.
Com essa força, o tíquete na versão papel se transformara em uma verdadeira moeda paralela. Usava-se em todos os lugares: na padaria da esquina, em lanchonetes, bares, camelôs, vendedores de beira de estrada, e até mesmo em supermercados.
Nestes últimos, o Valetik compra tudo: alimentos, CDs, livros, roupas, pratos e panelas. Conta-se a lenda de que uma funcionária do BB conseguiu comprar um aparelho de DVD com tíquete, apesar da resistência do funcionario do supermercado, que insistia que não era possível comprar eletro-eletrônicos daquele modo.
O desafio do Valetik na atual versão cartão é chegar a todos os locais. Até aquela senhora que vende frangos e codornas assadas, em um forno televisão-de-cachorro, sob a sombra de uma árvore. Na Estrada do Coco, perto de Arembepe. Aquela mesma senhora que costumava exibir a faixa "Aceita-se tíquetes". As codornas, por sinal, sao deliciosas.
Com essa força, o tíquete na versão papel se transformara em uma verdadeira moeda paralela. Usava-se em todos os lugares: na padaria da esquina, em lanchonetes, bares, camelôs, vendedores de beira de estrada, e até mesmo em supermercados.
Nestes últimos, o Valetik compra tudo: alimentos, CDs, livros, roupas, pratos e panelas. Conta-se a lenda de que uma funcionária do BB conseguiu comprar um aparelho de DVD com tíquete, apesar da resistência do funcionario do supermercado, que insistia que não era possível comprar eletro-eletrônicos daquele modo.
O desafio do Valetik na atual versão cartão é chegar a todos os locais. Até aquela senhora que vende frangos e codornas assadas, em um forno televisão-de-cachorro, sob a sombra de uma árvore. Na Estrada do Coco, perto de Arembepe. Aquela mesma senhora que costumava exibir a faixa "Aceita-se tíquetes". As codornas, por sinal, sao deliciosas.
Cinema e discos de vinil
A Sala de Arte do Bahiano é o melhor local para ver filmes em Salvador. Distante dos avanços tecnológicos e da movimentação das salas de shoppings, é o lugar ideal para tomar um café expresso, ler jornais e revistas, ver as exposições e conversar. O estacionamento, fácil e gratuito, é o mesmo do Clube Baiano de Tênis, na Graça.
Não vá para lá quem espera filmes de ação ou os mesmos que passam no circuito comercial. O local é dedicado aos filmes europeus, brasileiros, asiáticos e até americanos, de caráter autoral e que, de forma geral, incitam a reflexão. Para isso, normalmente possuem ritmo lento. Bem diferente dos cortes abruptos da maioria das montagens de Hollywood.
Neste último fim de semana, a exibição do filme brasileiro Durval Discos, com Marisa Orth, Letícia Sabatela e Rita Lee, proporcionou uma série de eventos paralelos: feira de discos de vinil (os velhos LPs), fotos do filme e DJs (disk jockeys) tocando vinis na ante-sala. Alguns dos melhores DJs de Salvador, aqueles que colocam som em festas, estiveram por lá. Assegurando que as inovações tecnológicas são bem-vindas, mas não indispensáveis na música e no cinema.
Publicado no Super Fatos de 10.06.03
Não vá para lá quem espera filmes de ação ou os mesmos que passam no circuito comercial. O local é dedicado aos filmes europeus, brasileiros, asiáticos e até americanos, de caráter autoral e que, de forma geral, incitam a reflexão. Para isso, normalmente possuem ritmo lento. Bem diferente dos cortes abruptos da maioria das montagens de Hollywood.
Neste último fim de semana, a exibição do filme brasileiro Durval Discos, com Marisa Orth, Letícia Sabatela e Rita Lee, proporcionou uma série de eventos paralelos: feira de discos de vinil (os velhos LPs), fotos do filme e DJs (disk jockeys) tocando vinis na ante-sala. Alguns dos melhores DJs de Salvador, aqueles que colocam som em festas, estiveram por lá. Assegurando que as inovações tecnológicas são bem-vindas, mas não indispensáveis na música e no cinema.
Publicado no Super Fatos de 10.06.03
2.6.03
O africano da Piedade
O proprietário do restaurante Healthy Valley, na rua Direita da Piedade, é africano. Nasceu em Gana e passou vários anos na Índia e nos Estados Unidos. Da cultura indiana, como monge yôga, adquiriu o hábito da alimentação vegetariana. E, conforme determinam os preceitos da filosofia, para garantir a boa meditação, nada de alho e cebola na comida.
Falar em comida vegetariana para o baiano, acostumado com a herança africana e carnes sertanejas, é quase uma blasfêmia. Ainda mais sem alho e cebola, peças de resistência na culinária local. O resultado, a princípio inesperado, é que a comida do Healthy Valley é muito bem-feita e saborosa, com pratos que trazem influências de várias partes do mundo, refletindo as andanças do cozinheiro-proprietário.
O problema é a fartura. Por R$ 6,00 come-se quanto quiser, com direito a sopa, suco, sobremesa e chá. Uma tentação para quem prefere gastar uma hora de almoço percebendo cada sabor e conversando com os amigos, achando que comida vegetariana não engorda. Não engorda? Pense em pizza e lasanha integral, feijão com verduras. Bois, elefantes e hipopótamos são vegetarianos.
Publicado no Super Fatos de 04.06.2003
O proprietário do restaurante Healthy Valley, na rua Direita da Piedade, é africano. Nasceu em Gana e passou vários anos na Índia e nos Estados Unidos. Da cultura indiana, como monge yôga, adquiriu o hábito da alimentação vegetariana. E, conforme determinam os preceitos da filosofia, para garantir a boa meditação, nada de alho e cebola na comida.
Falar em comida vegetariana para o baiano, acostumado com a herança africana e carnes sertanejas, é quase uma blasfêmia. Ainda mais sem alho e cebola, peças de resistência na culinária local. O resultado, a princípio inesperado, é que a comida do Healthy Valley é muito bem-feita e saborosa, com pratos que trazem influências de várias partes do mundo, refletindo as andanças do cozinheiro-proprietário.
O problema é a fartura. Por R$ 6,00 come-se quanto quiser, com direito a sopa, suco, sobremesa e chá. Uma tentação para quem prefere gastar uma hora de almoço percebendo cada sabor e conversando com os amigos, achando que comida vegetariana não engorda. Não engorda? Pense em pizza e lasanha integral, feijão com verduras. Bois, elefantes e hipopótamos são vegetarianos.
Publicado no Super Fatos de 04.06.2003