As cocadas ilheenses voltaram às paradas de sucesso durante as comemorações de São Cosme e Damião. Domingo foi o dia do aniversário de um primo que todo ano comemora a data com um mega-caruru. Reza a lenda que o caruru foi uma promessa feita e que terá que ser repetido todos os anos. Bom para quem fez a promessa e conseguiu alcançar a graça. Ótimo para os trezentos convidados da festa. Trezentos!
A festa ocorre na área verde de um condomínio que fica na orla de Salvador. O caruru acontece há alguns anos e já virou tradição familiar. O casal anfitrião tem o kit pronto para a festa. Pratos, talheres, panelas, toalhas de mesa. Para uma quantidade “econômica” de trezentas pessoas. Caruru é o nome do prato feito com quiabos, mas também é a refeição completa, que inclui vatapá, xinxim de galinha, feijão-fradinho, farofa, arroz e banana frita.
A chuva que estava prevista para todo o final de semana – que havia despencado durante a noite de sexta-feira para sábado - se segurou até as quatro da tarde, dando tempo suficiente para o almoço ser servido e festa transcorrer sem problemas. Os organizadores, no entanto, foram precavidos. Além do grande quiosque do local, montaram toldos para abrigar todas as mesas.
Uma baiana servia abarás e acarajés fritos na hora. Havia uma mesa onde dois rapazes preparavam e serviam caipiroscas de abacaxi, caju, morango e tangerina.
As cocadas ilheenses, como sempre, brilharam na festa. O único problema é que não tem quantidade que chegue para todo mundo, por mais que se reforce o número de bandejas. As cocadas vieram passeando do Sul da Bahia, transportadas por outra prima que veio para a festa. Servidas ao lado da mesa principal, a proposta era que fizessem o papel de sobremesa.
Sobremesa? Alguns convidados não agüentaram esperar e, antes mesmo de entrar na fila para fazer o prato do caruru, já tinha gente atacando as cocadinhas. Delícias macias de coco com leite condensado, chocolate, maracujá, que deixam todos enlouquecidos. Tinha gente que avançava com medo de não restar mais nenhuma na hora da sobremesa.
Na fila para fazer o prato, eu mesmo não perdi tempo e me servi logo de dois belos exemplares, que me ajudaram a reduzir o tempo de espera e a ansiedade pela comida baiana. Sabe como é, não dá para correr o risco de ficar sem nada.
A crônica do dia 06 de julho de 2004 (clique aqui para ler) foi lembrada, virou gozação geral. O tal do desembargador, que da outra vez havia pedido para levar um pratinho de cocadas para a esposa, não teve espaço com a concorrência acirrada. Provavelmente desistiu, ao perceber, talvez, que teria que entrar em luta corporal pelas sobremesas, caso insistisse na idéia.
Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
23.10.06
22.10.06
Buraco com vista para o mar
A chuva que caiu na cidade abriu uma cratera gigantesca no Porto da Barra. O buraco afundou parte da calçada e do asfalto. Passei de carro por perto e vi que poderiam caber uns dois ou três carros ali dentro. O fato interessante é que o muro de sustentação ficou intacto, pelo que pude enxergar. A pergunta que fica é: para onde foi toda aquela terra?
Aqui em Salvador de vez em quando isso acontece. Por causa de obras mal feitas, o escoamento das chuvas vai abrindo buracos enormes por debaixo da pavimentação. Os buracos parecem ser o resultado da ação de vermes que vão abrindo lentamente caminhos em matérias frágeis. Uma hora dessas a cidade toda vai afundar.
Também em Salvador, chegou-se ao cúmulo de a Prefeitura ser acionada pelo Ministério Público para cumprir exigência legais e possibilitar acessibilidade aos deficientes físicos no maior terminal de ônibus da cidade, a Estação da Lapa. As escadas rolantes estão quebradas, não há rampas adequadas, não há nenhum tipo de apoio a quem usa cadeira de rodas ou muletas.
Este é um país em que se chega ao cúmulo de a administração pública precisar ser acionada pela Justiça para dar ao cidadão condições básicas de vida. Seja transporte, saúde ou educação. Ora, a Prefeitura é que deveria dar o exemplo e ser a primeira a cumprir as orientações da lei, pois é ela que fiscaliza – e multa – as obras na cidade que não estão dentro da legislação.
As exigências do MP não fazem parte de nenhum projeto visionário de acesso facilitado para pessoas com deficiência. São recomendações básicas previstas em lei.
Sempre se alega que não há recursos para a manutenção. Cada dia fico mais descrente deste país. Não adiantam privatizações e modernizações se a roubalheira continua, não importa qual o governo, sem nenhum tipo de punição. Apesar de todas as denúncias tornadas públicas pelos meios de comunicação, o que se vê são políticos comprovadamente ladrões voltando ao poder. Cada país tem o governo que merece.
Aqui em Salvador de vez em quando isso acontece. Por causa de obras mal feitas, o escoamento das chuvas vai abrindo buracos enormes por debaixo da pavimentação. Os buracos parecem ser o resultado da ação de vermes que vão abrindo lentamente caminhos em matérias frágeis. Uma hora dessas a cidade toda vai afundar.
Também em Salvador, chegou-se ao cúmulo de a Prefeitura ser acionada pelo Ministério Público para cumprir exigência legais e possibilitar acessibilidade aos deficientes físicos no maior terminal de ônibus da cidade, a Estação da Lapa. As escadas rolantes estão quebradas, não há rampas adequadas, não há nenhum tipo de apoio a quem usa cadeira de rodas ou muletas.
Este é um país em que se chega ao cúmulo de a administração pública precisar ser acionada pela Justiça para dar ao cidadão condições básicas de vida. Seja transporte, saúde ou educação. Ora, a Prefeitura é que deveria dar o exemplo e ser a primeira a cumprir as orientações da lei, pois é ela que fiscaliza – e multa – as obras na cidade que não estão dentro da legislação.
As exigências do MP não fazem parte de nenhum projeto visionário de acesso facilitado para pessoas com deficiência. São recomendações básicas previstas em lei.
Sempre se alega que não há recursos para a manutenção. Cada dia fico mais descrente deste país. Não adiantam privatizações e modernizações se a roubalheira continua, não importa qual o governo, sem nenhum tipo de punição. Apesar de todas as denúncias tornadas públicas pelos meios de comunicação, o que se vê são políticos comprovadamente ladrões voltando ao poder. Cada país tem o governo que merece.
15.10.06
Na praia
O sol brilhante da primavera volta a atrair baianos para a praia. Depois de longa distância, volto a freqüentar as areias do Porto da Barra. Agora vou equipado com algo que possibilita a distância a qualquer tipo de ruído ou de música desagradável: o MP3 Player.
Há tempos não lembrava de que ir à praia poderia ser tão agradável. Músicas chatas sempre faziam diminuir o meu prazer de estar próximo do mar. E os locais com boa música estão cada dia mais escassos. Ou estarei ficando mais exigente?
Fiquei debaixo do sombreiro, ouvindo somente o que queria e vendo a vida passar. De vez em quando desligava o som e lia o texto teatral em francês que comprei em um sebo. Uma frase, dicionário na mão. Mais três frases, dicionário novamente. Assim caminha a aprendizagem...
Apesar de ser um texto mais profundo do que um simples romance, a leitura do texto teatral clássico tem me atraído porque não há aquele problema de perder alguma frase ou parágrafo e perder o fio da narrativa. Na peça teatral os personagens não são em grande quantidade e têm características bem visíveis e delimitadas. Quanto às suas falas, tento ler como se fossem poesia, como se as frases fossem versos e tivesssem seu sentido independente (ou não) do contexto. Para tentar captar o que for possível.
Entre um mergulho e outro, entre músicas e leitura, acompanhei personagens circulando por todos os lados. Perdidos entre letras e entre espaços de areia e mar.
Na volta para casa fui almoçar num daqueles restaurantes chineses da Barra. A comida, que estava saborosa, me fez um mal terrível. Nem tudo é perfeito num dia de sol.
Há tempos não lembrava de que ir à praia poderia ser tão agradável. Músicas chatas sempre faziam diminuir o meu prazer de estar próximo do mar. E os locais com boa música estão cada dia mais escassos. Ou estarei ficando mais exigente?
Fiquei debaixo do sombreiro, ouvindo somente o que queria e vendo a vida passar. De vez em quando desligava o som e lia o texto teatral em francês que comprei em um sebo. Uma frase, dicionário na mão. Mais três frases, dicionário novamente. Assim caminha a aprendizagem...
Apesar de ser um texto mais profundo do que um simples romance, a leitura do texto teatral clássico tem me atraído porque não há aquele problema de perder alguma frase ou parágrafo e perder o fio da narrativa. Na peça teatral os personagens não são em grande quantidade e têm características bem visíveis e delimitadas. Quanto às suas falas, tento ler como se fossem poesia, como se as frases fossem versos e tivesssem seu sentido independente (ou não) do contexto. Para tentar captar o que for possível.
Entre um mergulho e outro, entre músicas e leitura, acompanhei personagens circulando por todos os lados. Perdidos entre letras e entre espaços de areia e mar.
Na volta para casa fui almoçar num daqueles restaurantes chineses da Barra. A comida, que estava saborosa, me fez um mal terrível. Nem tudo é perfeito num dia de sol.
Fontana de Trevi
Muitas senhoras, algumas de idade bem avançada, subindo as escadas que conduzem à saída do Cinema do Museu, davam uma mostra do que estava por vir. O filme Elsa e Fred, do argentino Marcos Carnevale, mostra o romance de duas pessoas idosas, um “romance tardio”, como descrito no site da produção de 2005, que tem nacionalidade Espanha-Argentina.
Suave e envolvente, com um belo roteiro, também assinado pelo diretor, o filme mescla humor com a tristeza da decadência física causada pela idade. E, de quebra, rende uma bela homenagem ao cinema de Fellini, ao reproduzir cenas de A Doce Vida, com Anita Ekberg e Marcelo Mastroianni. Até o título deve ter sido inspirado em “Ginger e Fred”. O bom resultado é amplificado pela atuação de China Zorrilla (Conversando com Mamãe) como a idosa.
Mais uma vez o cinema argentino nos deixa com uma mistura de alegria e expectativa. Alegria por ver um trabalho de tanta qualidade feito pelos vizinhos. Expectativa para conferir se o cinema brasileiro consegue acompanhar o ritmo.
Suave e envolvente, com um belo roteiro, também assinado pelo diretor, o filme mescla humor com a tristeza da decadência física causada pela idade. E, de quebra, rende uma bela homenagem ao cinema de Fellini, ao reproduzir cenas de A Doce Vida, com Anita Ekberg e Marcelo Mastroianni. Até o título deve ter sido inspirado em “Ginger e Fred”. O bom resultado é amplificado pela atuação de China Zorrilla (Conversando com Mamãe) como a idosa.
Mais uma vez o cinema argentino nos deixa com uma mistura de alegria e expectativa. Alegria por ver um trabalho de tanta qualidade feito pelos vizinhos. Expectativa para conferir se o cinema brasileiro consegue acompanhar o ritmo.
12.10.06
Últimas - nem tão novas assim
Ai, ai. Muita coisa acontece e eu não consigo registrar aqui. O novo governador baiano foi eleito no primeiro turno com uma diferença enorme de votos. Nas pesquisas antes da eleição, ele perdia. E a diferença era grande. O que ocorreu na realidade? Todos se perguntam, sem alguma resposta coerente. A “dança das cadeiras” nos cargos públicos estaduais promete balançar estruturas, já que o atual grupo de governo está no poder há dezesseis anos.
Cinema
Pai, Filhos e etc. (Pere et Fils, França, Canadá, 2003) é um dos filmes mais divertidos dos últimos tempos. O ator francês Philippe Noiret está fenomenal no papel do pai que se finge de doente grave para que os três filhos se aproximem. Uma comédia sutil e eficiente, como há muito tempo eu não via. A platéia se dobra de dar risada com simples expressões faciais do ator. Para conferir.
Com direção de Neil Jordan, Café da Manhã em Plutão (Breakfast in Pluto, Inglaterra,Irlanda, 2005) traz o ator Cillian Murphy no papel de um(a?) crossdresser da Irlanda, abandonado na infância, que sai em busca da mãe em Londres. É interessante conferir a caracterização do ator, em um trabalho diferente, corajoso e marcante.
Cinema
Pai, Filhos e etc. (Pere et Fils, França, Canadá, 2003) é um dos filmes mais divertidos dos últimos tempos. O ator francês Philippe Noiret está fenomenal no papel do pai que se finge de doente grave para que os três filhos se aproximem. Uma comédia sutil e eficiente, como há muito tempo eu não via. A platéia se dobra de dar risada com simples expressões faciais do ator. Para conferir.
Com direção de Neil Jordan, Café da Manhã em Plutão (Breakfast in Pluto, Inglaterra,Irlanda, 2005) traz o ator Cillian Murphy no papel de um(a?) crossdresser da Irlanda, abandonado na infância, que sai em busca da mãe em Londres. É interessante conferir a caracterização do ator, em um trabalho diferente, corajoso e marcante.