3.2.07

Dois de fevereiro

A festa de Iemanjá, que acontece todo dia 02 de fevereiro, é caracterizada pela entrega de presentes, também chamados de oferendas, para a deusa das águas. Flores, perfumes, pentes, espelhos, estatuetas, miniaturas de barcos. Presentes para agradar a vaidosa deusa dos pescadores. E juntos vão inúmeros bilhetinhos de pedidos.

Há alguns anos um grupo de amigos organiza um balaio de presentes para Iemanjá. A oferenda é montada em uma rua do Rio Vermelho. Eu nunca havia participado. Este ano fui, levei um vidro de alfazema. Derramei por cima do balaio e respinguei por cima das pessoas, do mesmo modo como outros também fizeram.

Balaio completo, saímos pelo bairro carregando os presentes e cantando músicas com o tema de Iemanjá, acompanhados de alguns instrumentos musicais. O cortejo, que parecia até procissão, seguiu até a Praia da Paciência. No caminho, algumas barracas que tocavam arrocha e pagode em alto volume, chegavam a impedir o nosso canto,mas não diminuíam a animação . Pessoas saíam às janelas dos edifícios para conferir aquela cantoria improvisada.

O grupo desceu a escada da Praia da Paciência, ao lado da colônia de pescadores, para levar o balaio até depois das ondas. O mar estava tranquilo, e a lua cheia se anunciava, mas ficou parte do tempo escondida sob as nuvens O balaio seguiu para o mar em um barquinho com quatro pessoas. Da praia, os que ficaram, puderam ver que, mesmo no mar calmo, uma onda balançou forte a embarcação. Era como se a deusa da água salgada estivesse puxando os presentes. O balaio boiou sobre as águas até encharcar totalmente e sumir no escuro do mar da noite.

E, já depois da meia-noite, o grupo não cansava de cantar: “Dia dois de fevereiro, eu quero ser o primeiro, a saudar Iemanjá”. Lá se foram as flores, os cheiros, os santos, os mini-vestidos azuis e os pedidos, engolidos pelo mar profundo.

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