12.6.07

Os palavrões

As aulas começaram na UQAM, a "Université du Québec à Montréal". O meu nível melhorou, agora já consigo entender televisao e escutar programas de rádio. Estou no curso de francês língua segunda, junto com canadenses anglófonos de outras províncias, um mexicano, um espanhol, uma colombiana, uma filipina que imigrou para o Canadá e uma búlgara que mora em Ottawa, cujos pais imigraram para o país há alguns anos.

Aqui no Canadá há uma mistura maluca e interessante das nacionalidades. Na sala há um canadense com nome árabe, filho de filipina e indiano. Os pais se conheceram no Canadá. Ele nasceu em Toronto mas mora na província de Nova Escócia, próxima do Québec, no lado do Atlântico.

Orgulhoso de suas raízes, ele resolveu se juntar à outra filipina da sala, atualmente cidada canadense. Na aula os dois falaram um pouco da cultura das Filipinas e cantaram o hino nacional. Foi aí que fiquei sabendo que o país já esteve sob o domínio espanhol e posteriormente domínio americano.

A multiculturalidade traz esse aspecto bacana de uniao e aprendizagem. Na escola as crianças aprendem a língua (ou as línguas) do país em que vivem. Em casa, quase sempre falam a língua materna, que pode ser mais de uma, caso os pais tenham nacionalidades diferentes. Ou seja, os filhos de pais imigrantes sao criados tendo acesso a duas, três ou mais línguas.

Outra colega minha, agora do curso de conversaçao, tem traços orientais e aprende francês. Magra, alta e bonita, ela foge do padrao físico típico chinês e trabalha com moda em Montréal Os pais dela sao de Hong Kong, mas ela nasceu na Nova Escócia, no Canadá, que fica no lado atlântico. Foi educada em inglês. Em casa, ela aprendeu cantonês, que é a língua da regiao de Hong Kong e proximidades, e mandarim, que é a língua mais falada na China.

Ela veio para Montréal estudar na Universidade McGill, cujos cursos sao totalmente em inglês. Ela trabalha com pessoas que falam inglês e agora exercita o francês para poder falar corretamente com as pessoas da cidade. Ufa!

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Fui a um bar que toca música brasileira. Conheço o cantor, ele é canadense, mas é louco por música brasileira. E - milagre! - canta em português impecável. A noite foi bem interessante, brasileiros e gringos se requebraram aos som de samba, axé e MPB.

Os músicos de Montréal e outras pessoas com cultura mais extensa, admiram e respeitam a música brasileira. Meu professor de francês na UQAM simplesmente fala português! Volta e meia, durante a aula, ele faz algum comentário sobre a cultura brasileira. Ele estudou com outra professora da UQAM, uma brasileira de Minas Gerais.

O Canadá, talvez por lidar melhor com a junçao de várias culturas, demonstra mais interesse pelas demais línguas e culturas da América. Bem diferente dos Estados Unidos. A UQAM abre as portas para diversos pesquisadores brasileiros. Aqui já conheci duas baianas que fazem doutorado na Universidade. Duas nao, uma. Uma é de Salvador. A outra é gaúcha, mas é professora na UESC, em Ilhéus, a minha terra natal. Veja só. E eu que nao conhecia ninguém da UESC, vim conhecer aqui.

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Agora que o verão se aproxima, faz muito calor. O dia acorda às 4 da manhã e a noite só chega às 9 horas. O dia fica muito comprido. É uma boa compensaçao para um país que passa um tempão com os dias frios e curtos. Em pleno verão, a luz do dia só termina às 10 das noite. Por enquanto, a temperatura está quente mas ainda suportável. A previsão para julho é de muito calor. No ano passado, a sensação térmica (temperatura mais umidade, que se sente na pele) chegou a 40 graus.

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No estudo das línguas, os palavrões são sempre um capítulo interessante. Na maior parte das línguas, os palavrões têm conotação sexual. Seja em português, inglês, espanhol ou francês, é sempre assim. Menos no Québec.

Depois de séculos de influência maciça católica, qual a coisa mais transgressora que poderia existir? Falar em vão o santo nome das coisas da Igreja. Então ficou combinado assim. Depois de topar o dedão do pé na perna da mesa, apertar o dedo na porta, ou mesmos xingar uma pessoa, nada melhor do que citar os santos nomes da Igreja Católica. Nomes sagrados, que não deveriam ser pronunciados em qualquer ocasião. Cálice, óstia, sacramento, tabernáculo. Para quem não sabe - eu mesmo não sabia - tabernáculo é o "pequeno armário ou caixa com tampa que contém as hóstias da Eucaristia e ocupa, geralmente, numa igreja, o meio do altar". Quando se emenda um nome no outro, é uma loucura. O palavrão fica mais pesado, aumenta a potência. Cálice-da-óstia-do-sacramento-do-tabernáculo é um terror. Sai de baixo.

Falar essas palavras no dia-a-dia significa proferir palvrões. Durante a missa católica, é claro, não há problema. Para quem vem da cultura latina, isso parece algo engraçado e até ingênuo. Mas são coisas da cultura de um outro povo.

1 comment:

Vanessa e Muryllo said...

Oi Danilo, ça va?

Peguei um pedaço do seu texto para explicar a razão dos palavroes do Québec fazerem referencia a igreja ok?

à bientot