Couchsurfing, que literalmente significa "surfar no sofá", quer dizer conseguir hospedagem gratuita, para passar uma noite ou alguns dias, em qualquer canto da casa de alguma alma bondosa que abra as portas do seu lar doce lar. Seja para dormir em cama, sofá, colchão ou qualquer outro local com mínimo de conforto.
Essa idéia inicial, gerada a partir de um site internet (www.couchsurfing.org), ganhou o mundo e se tornou um sucesso. O site tem mais de 3 milhões de participantes.
Em um universo de pessoas cada vez mais egocêntricas e fechadas, que vivem focadas em seus computadores, seus interesses e suas redes sociais, é esperançoso ver que existe tanta gente generosa e de cabeça aberta, que abre as trancas e cadeados de suas casas aos viajantes desconhecidos, com o simples intuito de fazer o bem, conhecer pessoas, conversar e intensificar o intercâmbio cultural, seja nacional ou internacionalmente.
Se não quiser hospedar ou conseguir hospedagem, o participante do Couchsurfing pode se disponibilizar apenas para sair para tomar um café ou um drink com o visitante. E, a partir daí, trocar informações sobre a cultura local, ir mostrar a cidade, ou apenas conversar. Ainda que não haja impedimento para isso acontecer, a princípio o Couchsurfing não é um site de paquera.
Existem tambem os grupos das cidades e de temas específicos. Participar em um desses grupos é uma ótima fonte de informações do que está acontecendo. Eventos, descontos, convites, etc. As pessoas combinam as mais diversas programações. Intercambios linguisticos, pique-niques, festas, cafés. Visitantes convidam os nativos para tomar uma cerveja ou um café. Pedem indicações de bons restaurantes, atrações turísticas, bares e casas noturnas. Os moradores da cidade combinam entre si jantares e passeios e aproveitam para ciceronear os visitantes.
A minha aventura Couchsurfing comecou ainda no Brasil, em 2007. Eu me cadastrei no intuito de praticar francês e inglês, durante a minha estadia em Ilhéus, enquanto aguardava o visto canadense. Cheguei a fazer alguns contatos, mas não aconteceu de sair para café, drinque e mostrar a cidade para ninguém.
Chegando no Canadá, a participação tomou corpo. O norte-americano é tido como frio e distante, muito focado em suas ações, mas adora se reunir em grupos, em torno de um objetivo em comum, seja atividade filantrópica ou diversão. Então algum tipo de objetivo é necessário para que os encontros sociais se realizem e as pessoas se aproximem.
Existe um outro site, chamado Meet-up (www.meetup.com), que também é bastante utilizado para organizar reuniões. E, olhe, tem gente se reunindo para tudo, desde caminhar no parque até aprender japonês.
Em Montréal, a partir de um convite para um evento linguístico francês-português do CS, eu, outros brasileiros e mais um grupo de québécois interessados em português e na cultura brasileira, começamos a frequentar um bar e casa de shows chamada Les Bobards, onde aos domingos sempre rola música do Brasil para dançar. A gente ficava tomando cerveja, enrolando a língua, ensinando um pouco da sua linguagem nativa e aprimorando a estrangeira.
Conheci pessoas muito interessantes, com as quais mantenho contato até hoje. Depois da sessão de trocas linguísticas era a hora de música e dança. Havia um outro grupo que aprendia e praticava gafieira, ao som de música mecânica ou do grupo que se apresentava. E que nos dava dicas de como dançar o samba em dupla. Depois de praticar português e francês, era hora de mexer o esqueleto.
Em Montréal, tambem tomei muitos cafes servindo de pretexto para praticar frances e ensinar portugues.
Em Toronto, com menos tempo disponível, a minha participação no Couchsurfing ficou reservada ao Toronto Babel Language, um evento que ocorre semanalmente em um bar e onde as pessoas sao convidadas ao intercâmbio linguístico. Neste evento, um retrato do que é Toronto, é possível conhecer gente do mundo todo e praticar línguas inimagináveis. Até inglês.
No último final de semana participei de um jantar organizado por um participante do Couchsurfing. Ele preparou o jantar, cobrou uma taxa mínima e cada um levou sua bebida. O risotto de parmesão estava uma delícia. Conheci gente bem interessante. Da China, da França, da Tunísia. Até do Canadá! Depois fomos para a despedida de um rapaz italiano que, depois de alguns meses em Toronto e muitos eventos Couchsurfing, estava voltando para o seu país.
Um dos canadenses que estava no jantar faz um trabalho genial. É professor de música e toca carrilhao (o conjunto de sinos) em uma grande igreja de Toronto. Ele promove, gratuitamente, um passeio pela igreja onde trabalha e uma apresentação musical naquele que é um dos 11 carrilhoes do Canadá. Para ser considerado um carrilhao, sao necessários pelo menos 50 sinos.
Por dentro da Metropolitan United Church
Entao na mesma semana, fui ver o pequeno show e conhecer a igreja, que fica em um ponto bem central da cidade. Para conferir a apresentaçao musical as pessoas sobem um monte de degraus em uma escada estreita e em caracol. Em outra etapa, o grupo sobe mais escadas e chega até o teto da Igreja, de onde se tem uma bela vista de Toronto. Depois o grupo saiu para jantar em um restaurante bem canadense. Como sempre, nessas ocasioes, peço a especialidade da casa. Hambúrguer de carne Angus com batatas fritas e salada. Simples e bom.
Vista da outra capela, a partir do teto
Os sinos
O aparelho que faz os sinos soarem
Crédito da foto da dança: Dioni Pereira.
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