
Se por um lado, essa curiosa estrutura social e financeira gerou obras fundamentais da literatura brasileira, principalmente pela criatividade de Jorge Amado, ela causava outros tantos de desconforto pela exibiçao de riqueza e distanciamento entre pessoas. Muitos se consideravam pertencentes a classes distintas e elevadas. O distanciamento atingia todas as faixas etárias, inclusive no colégio em que estudávamos.
Mas a nossa turma nao se reverenciava àquela estrutura, mesmo porque ninguém pertencia à alta classe. Havia gente que nao queria nada com o estudo. Tinha gente que era pobre e se esforçava para ter sucesso no colégio e na vida. Havia gente com a veia artística acentuada. Tinha gente que só queria uma vida alternativa. Havia gente que tentava encontrar o seu papel e o seu caminho. Enfim, adolescentes.
Cada um escolheu a sua área de estudos e trabalho, mas, nas férias, a gente sempre voltava para Ilhéus e fazíamos farras e festas deliciosas. Eu tinha a impressao que aproveitava mais da minha cidade natal quando já nao morava mais lá.
Passada a época da universidade, os caminhos se distanciaram ainda mais. Os trabalhos, estudos aprofundados e os amores mudaram as pessoas de cidade, de estado, de país, de continente. No entanto, as relacoes nao foram perdidas. Eventualmente os astros ajudam e os amigos se encontram. O carinho e a alegria do reencontro continuam intactos.
Felizmente, a tecnologia evolui e surgiram as maravilhas da redes sociais na internet. A turma volta a se reunir, cada um teclando do seu canto, por intermédio do Facebook.
Toda essa introduçao foi para contextualizar um bate-papo regado a lembranças que tivemos nos últimos dias, iniciado pela publicaçao de uma foto da nossa antiga escola.
Em Ilhéus havia um pequeno comércio de batidas (coquetéis, se quisermos chamar assim), chamado Ligante do Almirante. Lembro que o meu pai falava que conhecia desde a juventude. Uma delicia, cremoso, feito de várias frutas. E subia a cabeca de tal jeito que a gente achava que o Almirante, o proprietário e fabricante, adicionava alguma substância extra e misteriosa, nao informada, talvez nao permitida pela saúde publica. O Almirante resolveu expandir o seu negócio, levando o seu Ligante para as festas, shows e eventos. A nossa turma descobriu a bebida e curtimos muito, tomando porres e mais porres.

Foi entao que uma das amigas, que continua morando em Ilhéus, me disse que eu estava enganado. O Ligante continua a ser fabricado por um filho do Almirante. Mas sem o mesmo sucesso. Talvez sem aquele extra na receita, que tanto embalou os festeiros no passado, que fazia a diferença e que ninguém conseguiu descobrir o que é. Alguns se arriscam a dizer que é um famoso xarope que causa esquecimento no dia seguinte. Ou um comprimido que reduzia o apetite e fazia perder o sono. Mas isso parece ser lenda urbana.
No comments:
Post a Comment