A janela e a varanda estão esbranquiçadas. Uma imensa nuvem de poeira fria cobre a cidade, anunciando que o inverno chegou e vai ficar. A neve cai sem parar, o vento piora o frio, os casacos se enchem de flocos gelados, os carros ficam lentos, os tratores passam urrando, espalhando sal grosso, como se estivessem espantando maus-olhados. Mas estão só fazendo derreter a neve acumulada, que vai mudando de cor e passando do branco imaculado para o marrom sujo e conturbado.
A noite continua a chegar cedo, as luzes estão acesas, é mais fácil ver os bares, lojas e restaurantes por dentro. Existem muitas surpresas, locais antes não notados, aconchegos agora revelados. Cozinhas do mundo inteiro convidam a novas experiências. O ser humano é hospitaleiro, ainda que tente provar o contrário. Casa, comida e conforto estão na essência de todas as tribos, de todos os povos e de todas as religiões.
Sigo na Parliament Street em direção norte. Vejo restaurantes tailandeses, indianos, jamaicanos, chineses, portugueses, gregos. Alguns me convidam para levar a comida para casa. Outros me chamam para entrar, fugir do frio, sentar e aproveitar os sabores com calma. Todos tem direito a algum instante privilegiado na vida cotidiana, como atrações envolventes, seduzindo um turista em sua própria moradia, explorador de banalidades e de maravilhas, em intervalos mais rápidos ou mais longos.
Os que convidam para levar têm sempre alguma mesa ou balcão apertado para a refeição rápida. Os que convidam para ficar têm sempre algum garçon atencioso, ou nem tanto, que ficará feliz com o adicional que irei pagar. Em cada um deles terei um momento privilegiado, talvez inesquecível. Economizarei trabalho e dispensarei dividendos.
Fico contente com a profusão de escolhas à minha frente. Alguns cafés e seus balcões parecem mais atraentes do que nunca, eram vistos pela luz do dia, que ofuscava e escurecia os interiores. Dá vontade de parar, de interromper o passo, de sentir a atmosfera, de esquentar o corpo, de perceber o que é oferecido, de conversar, de ler o jornal, de deixar o tempo passar. Mas estou com pressa. O frio não deixa ninguém parar, o frio me dá energia, um café poderia reiniciar tudo. É a pausa, é o recomeço. Mas estou com pressa.
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