Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
31.5.12
Leitura leve
Estou descobrindo (ou reconhecendo) uma das melhores vantagens de um eReader, o leitor eletrônico: a leveza. Estou lendo um livro de 600 páginas, The Son of the Circus, do americano John Irving. Leitura, na maior parte das vezes, feita na cama, antes de dormir. Então fico olhando para o meu pequeno leitor eletrônico, levinho de 180 gramas e imaginando o peso e o volume que estaria carregando se estivesse com um exemplar impresso de 600 páginas nas mãos. Os braços agradecem.
27.5.12
Tem quibe no tabuleiro
Não faz pouco tempo que conheço comida árabe. Desde criança fui acostumado a saborear quibes - nas versões frita, assada e crua! -, esfirras, homus tahine, tabule, mejandra, charutinhos. A culinária árabe, especificamente síria e libanesa, chegou ao Sul da Bahia na bagagem dos imigrantes em busca de riquezas. Jorge Amado fez a parte dele, colocando personagens libaneses, sírios e
turcos marcantes em seus livros. Especialmente no ótimo "A Descoberta da América
pelos Turcos".
O meu pai gostava muito de comida árabe e minha mãe procurava aprender novos pratos. Em alguns finais de semana, a gente frequentava o restaurante de um árabe (sírio, acredito) que ficava em uma belíssima localização, de frente para o mar de Ilhéus e servia pratos bem feitos. Onde houvesse comida árabe de boa qualidade na cidade, lá íamos nós experimentar. A cozinha do Oriente Médio é rica e delicada. Os sírios e libaneses costumam servir pequenas porções de uma infinidade de pratos deliciosos.
A força comunidade de origem árabe possibilitava encontrar nos mercados da cidade produtos como o tahine, a pasta feita de gergelim, que dá o sabor levemente tostado ao homus, que é feito de grão-de-bico cozido e moído, alho e limão, basicamente.
Aqui no Canadá me deparei com uma quantidade enorme de restaurantes árabes fast-food. Eles são diferentes da rede brasileira Habib's, que basicamente vende lanches árabes prontos e sanduíches. Os restaurantes fast-food daqui sempre têm um buffet de saladas, molhos, carnes e acompanhamentos. Que podem ser servidos com arroz ou enrolados em pão árabe, bem fino, para montar um wrap (sanduíche enrolado) bem saboroso. O sanduiche fica nutritivo, pois tem bastante salada, pequenos pedaços de frango ou carne grelhada, homus tahine e molho de alho. Quibe é que, infelizmente, nunca encontrei por aqui, embora tenha ouvido falar que existe em alguns resturantes.
O frango e a carne são preparados na grelha giratória, do tipo que no Brasil se conhece por "churrasco grego". Onde as carnes são amontoadas e vão grelhando aos poucos. Para a minha insatisfação, toda vez que peço um wrap, a quantidade de homus colocada é bem pequena. Acho que eles ficam economizando. Compenso a vontade de comer a tal pasta preparando grandes quantidades dela em casa.
As famílias árabes do Sul da Bahia deixavam as famílias baianas com água na boca e ávidas por conhecer as receitas. Todos queriam aprender a cozinhar o que os Midlej, Ganem, Rabat, Maron, Medauar, Hage, Chaui, Challoub faziam em casa. Minha mae aprendeu a fazer homus tahine, eu copiei a receita e eu não vivo sem isso. Faço a pasta com frequência, e em quantidade enorme, regada com azeite extra-virgem. Devoro com pão, substituindo o queijo e presunto, reduzindo a consumo de gorduras animais. E, sem querer me gabar, e já me gabando, o homus que preparo é bom-bom. Quem provou disse que é tão bom ou melhor que o dos restaurantes. Também preparo saladas de trigo, inspiradas no tabule, variando os ingredientes, passando pela ricota, cenoura ralada, pepino, ervilha e até pelo tofu grelhado com alho. Quando encontro hortelã no mercado, é uma festa, a salada fica genial. Quando nao acho, o coentro quebra o galho.
A cozinha do Oriente Médio caiu nas graças dos canadenses - e do mundo - pelo sabor delicado e pelos ingredientes leves. O homus é adorado por carnívoros e herbívoros. Aqui acha-se ele pronto, com diversos sabores adicionados: alho grelhado, pimentões, cebolas grelhadas, azeitonas, etc.
Quando comecei a pesquisar sobre cozinha baiana, na época da Faculdade de Comunicação, conversei longamente com senhoras de algumas dessas famílias vindas do outro lado do mundo. Fiquei impressionado com a paixão pela culinária, com as lembranças que as comidas traziam, com os procedimentos de preparo. Com a emoção de falar das melhores recordações que a comida traz. Quase que eu mudo o foco do meu trabalho. Quase que paro de falar do dendê e do acarajé e vou falar da cozinha árabe do Sul da Bahia. Da presença do quibe no tabuleiro da baiana.
O meu pai gostava muito de comida árabe e minha mãe procurava aprender novos pratos. Em alguns finais de semana, a gente frequentava o restaurante de um árabe (sírio, acredito) que ficava em uma belíssima localização, de frente para o mar de Ilhéus e servia pratos bem feitos. Onde houvesse comida árabe de boa qualidade na cidade, lá íamos nós experimentar. A cozinha do Oriente Médio é rica e delicada. Os sírios e libaneses costumam servir pequenas porções de uma infinidade de pratos deliciosos.
Swarma Wrap |
Aqui no Canadá me deparei com uma quantidade enorme de restaurantes árabes fast-food. Eles são diferentes da rede brasileira Habib's, que basicamente vende lanches árabes prontos e sanduíches. Os restaurantes fast-food daqui sempre têm um buffet de saladas, molhos, carnes e acompanhamentos. Que podem ser servidos com arroz ou enrolados em pão árabe, bem fino, para montar um wrap (sanduíche enrolado) bem saboroso. O sanduiche fica nutritivo, pois tem bastante salada, pequenos pedaços de frango ou carne grelhada, homus tahine e molho de alho. Quibe é que, infelizmente, nunca encontrei por aqui, embora tenha ouvido falar que existe em alguns resturantes.
O frango e a carne são preparados na grelha giratória, do tipo que no Brasil se conhece por "churrasco grego". Onde as carnes são amontoadas e vão grelhando aos poucos. Para a minha insatisfação, toda vez que peço um wrap, a quantidade de homus colocada é bem pequena. Acho que eles ficam economizando. Compenso a vontade de comer a tal pasta preparando grandes quantidades dela em casa.
Churrasco "grego" |
A cozinha do Oriente Médio caiu nas graças dos canadenses - e do mundo - pelo sabor delicado e pelos ingredientes leves. O homus é adorado por carnívoros e herbívoros. Aqui acha-se ele pronto, com diversos sabores adicionados: alho grelhado, pimentões, cebolas grelhadas, azeitonas, etc.
Quando comecei a pesquisar sobre cozinha baiana, na época da Faculdade de Comunicação, conversei longamente com senhoras de algumas dessas famílias vindas do outro lado do mundo. Fiquei impressionado com a paixão pela culinária, com as lembranças que as comidas traziam, com os procedimentos de preparo. Com a emoção de falar das melhores recordações que a comida traz. Quase que eu mudo o foco do meu trabalho. Quase que paro de falar do dendê e do acarajé e vou falar da cozinha árabe do Sul da Bahia. Da presença do quibe no tabuleiro da baiana.
19.5.12
Atores da vida urbana
Os dois seres subiram no ônibus em um intervalo rápido. O primeiro era um rapaz com várias tatuagens, inclusive no rosto. Ele usava um casacão vermelho e preto que mais parecia uma grande capa. Ele tinha a pele morena, mas os olhos claros, verdes. Quando ele abaixou o capuz, pude ver o cabelo crespo e curto, quase carapinha, tingido de vermelho. Ele tinha minúsculas tatuagens verticais nas maças do rosto, que lhe davam um ar triste, quase de choro, como se fossem lágrimas saindo dos olhos. O cabelo crespo e os olhos claros revelavam a mistura de raças que resultou naquele personagem sentado quase de frente para mim nos últimos bancos do onibus.
As tatuagems nos dedos e todos os outros apetrechos completavam o visual de rapper, com influências de punk: grandes anéis, colar de elos grossos, o cabelo descolorido e tingido. Parecia que a qualquer momento ele poderia pular do banco e comecar a cantar alguma coisa em um tom agressivo. O seu visual para mim queria dizer violência urbana e revolta. Desencaixe e incertezas. Talvez criatividade, com um pouco de sorte.
Ele só não era mais estranho do que a jovem que entrou logo a seguir. Pele bem branca, cabelo bem preto, unhas pintadas de preto. Ela entrou como um raio e se sentou no banco junto de um rapaz louro, que usava casaco de lã e boina e que continuou impassivelmente a escutar as suas musicas preferidas com os fones dentro do ouvido, sem dar a minima atenção a quem se sentava ao seu lado.
A garota parecia estar sob efeito de alguma substância alucinógena. Ela se contorcia, olhava para todos os lados, tremia as maos. O pescoço virava quase em 360 graus, ela olhava para todas as direçoes. O rapaz ao seu lado saiu do transe musical e passou a olhar desconfiado para o que estava acontecendo ao seu redor. Acho que ele comecou a ficar receoso de qualquer reaçao extremada da mulher transtornada que nao conseguia ficar quieta. Ou ficou com medo de tomar alguma cacetada. Mas a polidez canadense o impedia de qualquer reclamaçao pelo incômodo.
O ônibus continuava seu percurso na rua Sherbourne. Mais algumas paradas, a garota deu um salto do banco onde estava sentada, abriu a porta do veículo e ganhou a rua, correndo para encontrar um homem que estava sentado nas escadarias de um pequeno prédio logo ali perto do ponto de ônibus. Ela rapidamente chegou até ele e se sentou ao seu lado, calmamente iniciando uma conversa indecifrável para quem passase por perto. Um conversa de loucos.
O rapaz de cabelos vermelhos continuou o seu percurso. Possivelmente iria descer no ponto da estaçao do metrô. Talvez estivesse indo encontrar o seu grupo grupo musical. Ou sua gang. Nao pude conferir, nao poderia, mesmo se quisesse. Desci antes.
As tatuagems nos dedos e todos os outros apetrechos completavam o visual de rapper, com influências de punk: grandes anéis, colar de elos grossos, o cabelo descolorido e tingido. Parecia que a qualquer momento ele poderia pular do banco e comecar a cantar alguma coisa em um tom agressivo. O seu visual para mim queria dizer violência urbana e revolta. Desencaixe e incertezas. Talvez criatividade, com um pouco de sorte.
Ele só não era mais estranho do que a jovem que entrou logo a seguir. Pele bem branca, cabelo bem preto, unhas pintadas de preto. Ela entrou como um raio e se sentou no banco junto de um rapaz louro, que usava casaco de lã e boina e que continuou impassivelmente a escutar as suas musicas preferidas com os fones dentro do ouvido, sem dar a minima atenção a quem se sentava ao seu lado.
A garota parecia estar sob efeito de alguma substância alucinógena. Ela se contorcia, olhava para todos os lados, tremia as maos. O pescoço virava quase em 360 graus, ela olhava para todas as direçoes. O rapaz ao seu lado saiu do transe musical e passou a olhar desconfiado para o que estava acontecendo ao seu redor. Acho que ele comecou a ficar receoso de qualquer reaçao extremada da mulher transtornada que nao conseguia ficar quieta. Ou ficou com medo de tomar alguma cacetada. Mas a polidez canadense o impedia de qualquer reclamaçao pelo incômodo.
O ônibus continuava seu percurso na rua Sherbourne. Mais algumas paradas, a garota deu um salto do banco onde estava sentada, abriu a porta do veículo e ganhou a rua, correndo para encontrar um homem que estava sentado nas escadarias de um pequeno prédio logo ali perto do ponto de ônibus. Ela rapidamente chegou até ele e se sentou ao seu lado, calmamente iniciando uma conversa indecifrável para quem passase por perto. Um conversa de loucos.
O rapaz de cabelos vermelhos continuou o seu percurso. Possivelmente iria descer no ponto da estaçao do metrô. Talvez estivesse indo encontrar o seu grupo grupo musical. Ou sua gang. Nao pude conferir, nao poderia, mesmo se quisesse. Desci antes.
12.5.12
O cheiro e o mau cheiro
Não lembro se foi alguém que comentou comigo, ou se li em algum lugar. Cada estação do ano tem um cheiro diferente. Eu nunca tinha percebido isso, até que essa impressão me veio forte nos últimos dias, ao caminhar pela cidade e sentir um aroma diferente.
Não sei dizer se era bom ou ruim. Acho que o cheiro vinha do pólen recém-nascido nas árvores e flores. Ou talvez seja o cheiro dos brotos de alguma árvore em particular, que me fazia lembrar vagamente o aroma de palha molhada. Então isso pode ser agradável ou não, a depender de cada nariz. O cheiro invadia as ruas e era como se estivesse marcando a instalação da primavera e afirmando que o verde chegou definivamente para ficar. Pelo menos pelos próximos sete meses.
Em outro local, em uma das ruas na rua por onde caminho para chegar em casa, neste época em que a temperatura começa a subir, sempre há um cheiro adocicado e agradável que todo ano chega junto com a primavera. Lembra o cheiro de lírio, mas é mais forte. Parece ocupar a rua inteira. Olho para as árvores, suspeito que seja uma variedade com pequenas flores brancas. Naquela rua estreita e residencial há varios exemplares dessa espécie, então é bem provavel que seja ela a reponsável pelo cheiro.
Se a primavera é a estacão das flores, para mim tambem é a estação dos perfumes. Flores e cheiros estão intimamente ligados, não é nenhuma novidade. Mas não conseguiria dizer se as demais estações teriam cheiros, como ouvi alguém afirmar, ou li em algum canto. Não consigo sentir cheiro da neve. No entanto, percebo o cheiro marcante da chuva na terra seca e quente, por exemplo. O mais marcante da neve é o barulho que faz quando se anda sobre ela. Para quem nunca teve a experiência, é semelhante ao som de pisar na areia fofa da praia.
Neste país de clima frio, as sensações térmicas na pele falam mais forte que os aromas, principalmente quando se está ao ar livre. A sensação de umidade do outono e a secura dos ambientes fechados no inverno são muito marcantes. A secura é provocada pelos aquecedores e pelo vento frio que resseca e parte os lábios,
E, para piorar a época fria, com a pequena circulação de ar, em ambientes fechados e com pouca ventilação, qualquer cheirinho vira uma explosão. Os canadenses são bem tolerantes a tudo mas detestam cheiros fortes. Em muitos locais de trabalho, como hospitais, por exemplo, os perfumes são proibidos. Até o cheiro da comida é criticado. Os indianos, pobres coitados, com seus condimentos e aromas fortes, que invadem os ambientes e mudam o cheiro da pele, vivem sob o exame cuidadoso e detalhado dos chatos de plantão.
Então todo mundo toma - ou deveria tomar - muito cuidado com os cheiros corporais. E com os incidentes. Qualquer pum vira um torpedo nuclear de grandes proporções na nação canadense.
Não sei dizer se era bom ou ruim. Acho que o cheiro vinha do pólen recém-nascido nas árvores e flores. Ou talvez seja o cheiro dos brotos de alguma árvore em particular, que me fazia lembrar vagamente o aroma de palha molhada. Então isso pode ser agradável ou não, a depender de cada nariz. O cheiro invadia as ruas e era como se estivesse marcando a instalação da primavera e afirmando que o verde chegou definivamente para ficar. Pelo menos pelos próximos sete meses.
Em outro local, em uma das ruas na rua por onde caminho para chegar em casa, neste época em que a temperatura começa a subir, sempre há um cheiro adocicado e agradável que todo ano chega junto com a primavera. Lembra o cheiro de lírio, mas é mais forte. Parece ocupar a rua inteira. Olho para as árvores, suspeito que seja uma variedade com pequenas flores brancas. Naquela rua estreita e residencial há varios exemplares dessa espécie, então é bem provavel que seja ela a reponsável pelo cheiro.
Se a primavera é a estacão das flores, para mim tambem é a estação dos perfumes. Flores e cheiros estão intimamente ligados, não é nenhuma novidade. Mas não conseguiria dizer se as demais estações teriam cheiros, como ouvi alguém afirmar, ou li em algum canto. Não consigo sentir cheiro da neve. No entanto, percebo o cheiro marcante da chuva na terra seca e quente, por exemplo. O mais marcante da neve é o barulho que faz quando se anda sobre ela. Para quem nunca teve a experiência, é semelhante ao som de pisar na areia fofa da praia.
Neste país de clima frio, as sensações térmicas na pele falam mais forte que os aromas, principalmente quando se está ao ar livre. A sensação de umidade do outono e a secura dos ambientes fechados no inverno são muito marcantes. A secura é provocada pelos aquecedores e pelo vento frio que resseca e parte os lábios,
E, para piorar a época fria, com a pequena circulação de ar, em ambientes fechados e com pouca ventilação, qualquer cheirinho vira uma explosão. Os canadenses são bem tolerantes a tudo mas detestam cheiros fortes. Em muitos locais de trabalho, como hospitais, por exemplo, os perfumes são proibidos. Até o cheiro da comida é criticado. Os indianos, pobres coitados, com seus condimentos e aromas fortes, que invadem os ambientes e mudam o cheiro da pele, vivem sob o exame cuidadoso e detalhado dos chatos de plantão.
Então todo mundo toma - ou deveria tomar - muito cuidado com os cheiros corporais. E com os incidentes. Qualquer pum vira um torpedo nuclear de grandes proporções na nação canadense.
4.5.12
Um taxi, a noite
Tomei um táxi que me levou até o monte das realezas. O táxi chegou no fim da noite, quando o transporte público ficou inacessível. Quando a espera era impossível do lado de fora, pelo frio. Quando as bicicletas dormiam sob a capa branca. O veículo me conduzia pela cidade com luzes cortando a noite, que seguia pela cidade que não queria dormir, para não esquecer as suas últimas alegrias. Havia uma impressão de conforto nunca experimentada nos trópicos. A introspecção do frio e os novos personagens da noite. O táxi, grande e confortável, aquecido, de estofamento macio, como um último afago da noite no corpo.
A noitada vinha se encerrando aos poucos no trajeto para casa, entre palavras emboladas e a beleza de apreciar o que estava calado pelas horas avançadas. Havia luzes de todas as cores, clareando os ultimos bêbados, os boêmios resistentes, os vendedores de o que quer que seja, os personagens malditos, as roupas colantes,os saltos mal equilibrados, o resto de perfume aprisionado, os gritos da histeria. Havia nomes sagrados despejados no vento sob forma de insultos. Havia o frio que envolvia todos os notívagos. Havia a neve que retinha o ar de pureza, mas que machucava os ossos. Havia o aquecimento do carro para compensar, ainda bem. A cidade dava os ultimos passos, em pernas trôpegas, antes dormir.
O transporte público, por sua vez, estava cheio de últimas chances, de tentativas frustradas, de derradeiras alegrias, da chamada final antes de o bar fechar. Antes que o frio congelasse totalmente os espíritos notívagos, os últimos estertores da juventude, os suspiros de alegria que fugiam com o tempo. A alegria que eles queriam reter a qualquer custo, os melhores momentos que não ficam quietos. Aqueles instantes tão intensos, tão rápidos, tão transcendentes, que não se perdem na brisa gelada, que parecem não existir, que eram praticamente sonhos experimentados, que davam uma vontade intensa e quase incontrolável de parar o tempo, como em uma festa inacabada. Um iceberg gigantesco a esmagar o passado.
Eram novidades que pareciam eternas, disfarçadas de aprendizagem, de pessoas de fala estranha e de novas informações. Um aprendizado contínuo e sem fim, cheio de possibilidades e de quebras no tempo. Seriam caminhos que levariam a estradas lindas e cheias de sabedoria, que passariam pela beleza que não entraria no fogo do desejo nem poderia ser tocada.
O veículo cruzava ruas com nomes de santos e pecadores, em avenidas largas limitadas por calçadas e vitrines, onde o poder do dinheiro e da beleza se encontravam. Eu via bebidas ocultas em sacos de papel pardo, sob casacos escuros e pesados, via bolsos cheios de continuações. De alegria, de energia, de prazer, de ilusões, de perdas. Via novas portas que se abriam para a diversão enquanto outras iam se fechando. A noite continuava para alguns, começava para outros e terminava para uma grande parte. O táxi completa o caminho, para na esquina de nome elegante e segue em frente.
A noitada vinha se encerrando aos poucos no trajeto para casa, entre palavras emboladas e a beleza de apreciar o que estava calado pelas horas avançadas. Havia luzes de todas as cores, clareando os ultimos bêbados, os boêmios resistentes, os vendedores de o que quer que seja, os personagens malditos, as roupas colantes,os saltos mal equilibrados, o resto de perfume aprisionado, os gritos da histeria. Havia nomes sagrados despejados no vento sob forma de insultos. Havia o frio que envolvia todos os notívagos. Havia a neve que retinha o ar de pureza, mas que machucava os ossos. Havia o aquecimento do carro para compensar, ainda bem. A cidade dava os ultimos passos, em pernas trôpegas, antes dormir.
O transporte público, por sua vez, estava cheio de últimas chances, de tentativas frustradas, de derradeiras alegrias, da chamada final antes de o bar fechar. Antes que o frio congelasse totalmente os espíritos notívagos, os últimos estertores da juventude, os suspiros de alegria que fugiam com o tempo. A alegria que eles queriam reter a qualquer custo, os melhores momentos que não ficam quietos. Aqueles instantes tão intensos, tão rápidos, tão transcendentes, que não se perdem na brisa gelada, que parecem não existir, que eram praticamente sonhos experimentados, que davam uma vontade intensa e quase incontrolável de parar o tempo, como em uma festa inacabada. Um iceberg gigantesco a esmagar o passado.
Eram novidades que pareciam eternas, disfarçadas de aprendizagem, de pessoas de fala estranha e de novas informações. Um aprendizado contínuo e sem fim, cheio de possibilidades e de quebras no tempo. Seriam caminhos que levariam a estradas lindas e cheias de sabedoria, que passariam pela beleza que não entraria no fogo do desejo nem poderia ser tocada.
O veículo cruzava ruas com nomes de santos e pecadores, em avenidas largas limitadas por calçadas e vitrines, onde o poder do dinheiro e da beleza se encontravam. Eu via bebidas ocultas em sacos de papel pardo, sob casacos escuros e pesados, via bolsos cheios de continuações. De alegria, de energia, de prazer, de ilusões, de perdas. Via novas portas que se abriam para a diversão enquanto outras iam se fechando. A noite continuava para alguns, começava para outros e terminava para uma grande parte. O táxi completa o caminho, para na esquina de nome elegante e segue em frente.