12.5.12

O cheiro e o mau cheiro

Não lembro se foi alguém que comentou comigo, ou se li em algum lugar. Cada estação do ano tem um cheiro diferente. Eu nunca tinha percebido isso, até que essa impressão me veio forte nos últimos dias, ao caminhar pela cidade e sentir um aroma diferente.

Não sei dizer se era bom ou ruim. Acho que o cheiro vinha do pólen recém-nascido nas árvores e flores. Ou talvez seja o cheiro dos brotos de alguma árvore em particular, que me fazia lembrar vagamente o aroma de palha molhada. Então isso pode ser agradável ou não, a depender de cada nariz. O cheiro invadia as ruas e era como se estivesse marcando a instalação da primavera e afirmando que o verde chegou definivamente para ficar. Pelo menos pelos próximos sete meses.

Em outro local, em uma das ruas na rua por onde caminho para chegar em casa, neste época em que a temperatura começa a subir, sempre há um cheiro adocicado e agradável que todo ano chega junto com a primavera. Lembra o cheiro de lírio, mas é mais forte. Parece ocupar a rua inteira. Olho para as árvores, suspeito que seja uma variedade com pequenas flores brancas. Naquela rua estreita e residencial há varios exemplares dessa espécie, então é bem provavel que seja ela a reponsável pelo cheiro.

Se a primavera é a estacão das flores, para mim tambem é a estação dos perfumes. Flores e cheiros estão intimamente ligados, não é nenhuma novidade. Mas não conseguiria dizer se as demais estações teriam cheiros, como ouvi alguém afirmar, ou li em algum canto. Não consigo sentir cheiro da neve. No entanto, percebo o cheiro marcante da chuva na terra seca e quente, por exemplo. O mais marcante da neve é o barulho que faz quando se anda sobre ela. Para quem nunca teve a experiência, é semelhante ao som de pisar na areia fofa da praia.

Neste país de clima frio, as sensações térmicas na pele falam mais forte que os aromas, principalmente quando se está ao ar livre. A sensação de umidade do outono e a secura dos ambientes fechados no inverno são muito marcantes. A secura é provocada pelos aquecedores e pelo vento frio que resseca e parte os lábios,

E, para piorar a época fria, com a pequena circulação de ar, em ambientes fechados e com pouca ventilação, qualquer cheirinho vira uma explosão. Os canadenses são bem tolerantes a tudo mas detestam cheiros fortes. Em muitos locais de trabalho, como hospitais, por exemplo, os perfumes são proibidos. Até o cheiro da comida é criticado. Os indianos, pobres coitados, com seus condimentos e aromas fortes, que invadem os ambientes e mudam o cheiro da pele, vivem sob o exame cuidadoso e detalhado dos chatos de plantão.

Então todo mundo toma - ou deveria tomar - muito cuidado com os cheiros corporais. E com os incidentes. Qualquer pum vira um torpedo nuclear de grandes proporções na nação canadense.

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