O sonho de muitos franceses é passar o verão no Rio de Janeiro. Portugueses, espanhóis, italianos e alemães veem o Brasil ainda como uma terra de oportunidades. Mesmo que a "oportunidade" seja a de ter uma casa de praia a preço acessível. Russos, indianos, chineses e iranianos têm despertado, principalmente nos últimos anos, para um curioso país que vem enriquecendo, é um bom parceiro comercial e tem uma gente simples e receptiva, sem preconceitos típicos de outras civilizações mais antigas. Turistas israelenses veem o Brasil como um lugal tranquilo e sem maiores conflitos para as férias. Canadenses admiram o clima, a natureza, as festas e o notam como concorrente em importância na América. Os americanos continuam a fingir que nada veem.
Às vezes penso que há algum excesso em tudo isso.
O brasileiro é mais do que simpático. O brasileiro é um sedutor.
O verbo seduzir tem vários significados, positivos e alguns negativos. No lado positivo, seduzir significa causar admiração ou atração. Encantar, fascinar.
Essa sedução começa dentro do país. No Brasil há um culto sem fim à beleza. Os especialistas da cirurgia estética são conhecidos mundialmente. Modelos brasileiros, mulheres e homens, são exportados em containers de navios, partindo principalmente da região Sul. Mas também tem gente que sai do Nordeste e vai brilhar no planeta, como aquela baianíssima morena de olhos verdes que ilumina as publicidades da Victoria's Secret.
Os espetáculos de Carnaval mostram pessoas seminuas, homens e mulheres, sambando na tela da tv, cobertas por minúsculos fios de tecido, seduzindo o país e o mundo. Mas a nudez parcial ou total em uma praia urbana pode incitar ao apedrejamento pelo júri popular. Uma revelação das contradiçoes de um povo que não se livra do estigma de ser índio e de ter que cobrir a sua nudez tropical, tão pacífica e natural.
O mestre da sedução |
Mas seduzir também significa ter grande influência sobre alguém. O sedutor, na realidade, não quer apenas agradar. Ele quer ter poder e influência sobre aquele a quem tenta ser agradável. Não necessariamente quer conseguir vantagens imediatas, mas não quer perder alguma possibilidade. Seja financeira, amorosa ou de status social. Quer tornar a sua vida melhor, de algum modo. Seja pelo lado material ou pela harmonia nas relações ou construção de uma rede de relacionamentos (a tal da network), que talvez lhe seja útil para conseguir um emprego mais tarde. Ser considerado "gente boa" é talvez a consagraçao pelo esforço de agradar.
E para isso vale tudo. Até a utilização do seu "capital erótico", como um livro recentemente lançado definiu. É quando beleza e charme de homens e mulheres funciona como moeda de troca em ambientes profissionais.
Neste mundo de população gigantesca e de batalha difícil pelo sucesso, vale tudo. Manter o corpo atraente, a pele bem cuidada, o cabelo caprichado, vestir-se com elegância. Ser simpático e agradável.
As brasileiras são mestras nos aspectos da vaidade e no mundo só acham rivais entre as russas e ucranianas, depois de desbancar, e isso faz muito tempo, as elegantes francesas. As brazucas são ases na difícil ciência de andar de saltos altos. Uma incógnita que deixa várias canadenses, chinesas e muitas europeias sem entender a arte do equilíbrio daqueles movimentos suaves, quase circenses, sobre apoio de superfícies de um simples centímetro quadrado. Do salto do sapato, quis dizer, não do trapézio ou do fio de aço esticado lá no alto.
Já muitos brasileiros cultuam em demasia a boa forma dos corpos. Seja o alheio ou o seu próprio. Além do jeito expansivo que caracteriza o "gente boa". Quando quer agradar, veja bem.
O lado duro é que o excesso de preocupação pode revelar baixa auto-estima e falta de confiança em si próprio. Há mesmo tanta necessidade de beleza e de agradar? Para os italianos, a beleza, em todos os aspectos, é uma questão de vida. É como se não houvesse confiança em mais nada, na justiça, nas instituições, nas relações humanas e restasse apenas a estética. A beleza sagrada das obras de arte, da comida elaborada, do design dos móveis, roupas e objetos, além dos rostos e corpos.
Continuo achando que há um excesso em tudo isso. Em minha reles opinião, aquilo que se realiza pelo outro, o modo gentil de tratamento e a empatia são bem mais marcantes do que o "impacto" causado pela atratividade que a beleza traz.