Em torno de um
ano e meio antes da Copa do Mundo, o aeroporto de São Paulo não me mostrou ampliação
ou melhoria importante, desde a última vez em que estive lá, no ano passado. Na época, vi
tapumes e isolamentos de obras. Neste ano, eles não estavam mais lá, me levando
a crer, inocentemente, que os trabalhos foram concluídos.
Há poucos dias, o que vi de mais marcante foram pessoas sentadas em volta de algumas colunas do saguão, buscando avidamente por recarga elétrica para seus laptops, iPhones, iPads. Pessoas plugadas nas tomadas que talvez originalmente tenham sido criados para os serviços de limpeza. Pesssoas sentadas no chão, esparramadas em torno de colunas do aeroporto, sem direito a qualquer tipo de assento.
Há poucos dias, o que vi de mais marcante foram pessoas sentadas em volta de algumas colunas do saguão, buscando avidamente por recarga elétrica para seus laptops, iPhones, iPads. Pessoas plugadas nas tomadas que talvez originalmente tenham sido criados para os serviços de limpeza. Pesssoas sentadas no chão, esparramadas em torno de colunas do aeroporto, sem direito a qualquer tipo de assento.
O mundo se moderniza, as pessoas se atualizam,
mas as estruturas demoram a mudar. Ou dependem da licitação. Ou estão presas na burocracia. Ou estão
emperrados na disputa entre as empreiteiras. O Brasil é assim. Mas o brasileiro
é adaptável, diria-se quase um gênio para achar uma solução para todos os
entraves.
Hoje uma garota
aqui em Salvador me deu uma prova disso.
Eu estava em um café quando ela chegou. Ela tinha o cabelo quase totalmente
raspado e descolorido. O que restava de fios longos eram dois dread locks compridos,
louros e finos. Dois daqueles cachos de
cabelos grudados, que os rastafáris e seus fãs usam, pendentes do lado direito
do crânio. Junto com os piercings no nariz e nos lábios e a mochila cheia de
manchas de tintas, não tive dúvida, tasquei o rótulo : estudante ou
profissional de artes plásticas.
A garota-artista-punk
levara o seu notebook para o café com certeza para aproveitar do sinal gratuito
de internet. Eu estava sentado perto de onde ela chegou e se sentou. Estava do
mesmo lado, o que me dava vista privilegiada do que ela fazia, sem muito
esforço. Quando ela abriu o laptop, eu vi que o papel de parede era a foto de uma
pintura bem sugestiva, que possivelmente revelava ainda mais das suas inclinações
profissionais e sexuais. Mas que não
cabe aqui relatar do que se tratava a imagem.
Percebendo que a única
e disputada tomada elétrica estava ocupada, ela não se incomodou. Conversou com
a pessoa que estava usando e, com um sorriso, tirou da mochila a solução de
todos os problemas : um tê, um benjamim, ou como quer que se chame aquela
peça que transforma uma tomada elétrica em duas, três, quatro ou mais. A peça da garota transformava a saída elétrica
em três. Ela conectou o tê na parede,
colocou de volta o fio que estava antes conectado, enfiou o dela e alegremente
ligou o seu laptop, resolvendo o impasse.
O aeroporto de
São Paulo, a porta de entrada mais importante do país, bem que poderia achar uma solução parecida, já
que a reforma definitiva parece que vai deeeeemooooorar de chegar. Seria distribuir peças
como aquela da garota em torno das colunas do aeroporto. Uma solução rápida e
barata para o congestionamento na Copa do Mundo!
Imagine só o amontoado de
gente em torno das colunas, sem direito a sofá ou tamborete. Seria perfeito
para mostrar aos turistas estrangeiros como os brasileiros não têm receio de se
aproximar uns dos outros. Ou
talvez servisse como uma instalação artística, uma obra de arte meio
experimental, coisa de sair bem na foto, todos juntos e conectados, sabe?