MultCult#6. Das diferenças natalinas. A festa de Natal canadense é bem parecida com a celebração brasileira. Família e amigos reunidos, troca de presentes, Papai Noel, árvore enfeitada e peru assado na mesa. O peru é originário da América do Norte e foi levado para a Europa. Faz parte do cardápio festivo do Canadá, principalmente no jantar do Natal e da Ação de Graças (Thanksgiving). Há muito tempo também está presente nas mesas do Brasil, apenas com a diferença dos acompanhamentos.
No Canadá, o peru é sempre servido com ''gravy'', que é o delicioso molho feito com o caldo que sobra na assadeira. Há o ''cranberry sauce'', molho agri-doce, que parece uma geléia feita de cranberry, pequena fruta vermelha de clima frio. Mais purê de batatas e vegetais cozidos. Tem também o delicioso ''stuffing'', que é o enchimento que se coloca dentro da cavidade do peru.
Esse recheio é feito de pequenos pedaços de pão torrado, mais temperos e ervas, frutas secas, nozes, miúdos do peru picados, a depender da receita. O stuffing pode ser colocado dentro do peru e assado junto. Mas muitas vezes prefere-se cozinhá-lo à parte, para diminuir o tempo de forno.
Cada família brasileira faz ligeiramente diferente, mas de modo geral, vejo que há farofa, salpicão (salada de frango, batatas, maçã, maionese, presunto, etc) ou outra salada. Também sempre há algum tipo de arroz festivo, cheio de ingredientes.
A farofa seria algo tipicamente brasileiro na ceia de Natal. Falando em farofa, é interessante notar a reação de estrangeiros, principalmente norte-americanos, ao experimentá-la. A farinha de mandioca tem textura e sabor diferente de tudo que eles conhecem, não existe nada semelhante. O que para nós brasileiros expatriados parece mais com a saudade de casa, para eles parece algo muito diferente - ou muito estranho.
Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
30.12.15
19.12.15
MultCult#5
A família de Ramzia chegou no Canadá quando ela era adolescente. O pai, um engenheiro químico do Paquistão, decidiu levar a esposa e os cinco filhos para morar na América do Norte. Buscando perspectivas de bons estudos, bom trabalho, ambiente seguro. Tudo que motiva imigrantes a arrumar as malas e mudar de país.
Ramzia é muçulmana. O véu que recobre os seus cabelos pretos é feito de um tecido leve, quase transparente. Semelhante ao que as indianas usam. O Paquistão compartilha raízes culturais com a India. A sua pele é clara, ela vem de uma região do Norte do país. Ela poderia ser confundida com uma iraniana.
Depois de alguns anos no novo país, o pai, sem conseguir bom trabalho e sem se adaptar aos invernos canadense, decide voltar ao Paquistão. Só a esposa o acompanhou. Os filhos, dois rapazes e três moças, agora adultos, preferiram ficar.
Ramzia está na casa dos 30. Ela reflete uma parte significante da cultura ocidental adquirida desde a escola. Ela tem preferência por vestir calças e jaquetas modernas, em lugar de vestidos. Mas o véu está sempre presente. Ela continuou os estudos, foi ao College e conseguiu um diploma de Técnica Farmacêutica.
Pouco tempo depois de se formar, Ramzia se casou com um rapaz paquistanês, nascido nos Emirados Árabes. O casal se conheceu em uma das visitas dela ao seu país de origem. Por dois anos eles se comunicaram pela internet, até que decidiram se casar. Ela, já cidadã canadense, solicitou ao governo a ''importação'' do marido.
O casal não se instalou imediatamente no Canada. O marido conseguiu um emprego nos Emirados Árabes e eles ficaram por lá uns cinco anos, onde o filho mais velho nasceu. O trabalho ficou escasso e o casal se fixou de vez em Toronto. O segundo filho chega.
Sem apreciar o seu trabalho no laboratório, ela se inscreve para um emprego no governo municipal. Fez estágio, provas, até que conseguiu. Trabalhando o dia inteiro, ela se desdobra para cuidar da casa, dos filhos e do marido, que, ainda escorado nas tradições do seu país, não quer mover um dedo para ajudar nas tarefas de casa. Ramzia ameaça sair de casa e levar embora os filhos.
O marido estudava na universidade e só conseguia trabalhos temporários. Enquanto estudava, ele fazia treinamentos extras, até que conseguiu um emprego no corpo de bombeiros, o que significa salário acima da média do país. Juntando os dois rendimentos, a família terá um bom padrão de vida. Talvez ele nem volte para concluir a universidade. Ramzia terá trabalho dobrado para convencer o marido a dividir o trabalho de casa.
*Os nomes são fictícios
Ramzia é muçulmana. O véu que recobre os seus cabelos pretos é feito de um tecido leve, quase transparente. Semelhante ao que as indianas usam. O Paquistão compartilha raízes culturais com a India. A sua pele é clara, ela vem de uma região do Norte do país. Ela poderia ser confundida com uma iraniana.
Depois de alguns anos no novo país, o pai, sem conseguir bom trabalho e sem se adaptar aos invernos canadense, decide voltar ao Paquistão. Só a esposa o acompanhou. Os filhos, dois rapazes e três moças, agora adultos, preferiram ficar.
Ramzia está na casa dos 30. Ela reflete uma parte significante da cultura ocidental adquirida desde a escola. Ela tem preferência por vestir calças e jaquetas modernas, em lugar de vestidos. Mas o véu está sempre presente. Ela continuou os estudos, foi ao College e conseguiu um diploma de Técnica Farmacêutica.
Pouco tempo depois de se formar, Ramzia se casou com um rapaz paquistanês, nascido nos Emirados Árabes. O casal se conheceu em uma das visitas dela ao seu país de origem. Por dois anos eles se comunicaram pela internet, até que decidiram se casar. Ela, já cidadã canadense, solicitou ao governo a ''importação'' do marido.
O casal não se instalou imediatamente no Canada. O marido conseguiu um emprego nos Emirados Árabes e eles ficaram por lá uns cinco anos, onde o filho mais velho nasceu. O trabalho ficou escasso e o casal se fixou de vez em Toronto. O segundo filho chega.
Sem apreciar o seu trabalho no laboratório, ela se inscreve para um emprego no governo municipal. Fez estágio, provas, até que conseguiu. Trabalhando o dia inteiro, ela se desdobra para cuidar da casa, dos filhos e do marido, que, ainda escorado nas tradições do seu país, não quer mover um dedo para ajudar nas tarefas de casa. Ramzia ameaça sair de casa e levar embora os filhos.
O marido estudava na universidade e só conseguia trabalhos temporários. Enquanto estudava, ele fazia treinamentos extras, até que conseguiu um emprego no corpo de bombeiros, o que significa salário acima da média do país. Juntando os dois rendimentos, a família terá um bom padrão de vida. Talvez ele nem volte para concluir a universidade. Ramzia terá trabalho dobrado para convencer o marido a dividir o trabalho de casa.
*Os nomes são fictícios
12.12.15
MultCult#4
MultCult#4 As casas móveis da rua Sherbourne. A expansão imobiliária em Toronto tem sido responsável por prédios gigantescos, alguns com mais de 50 andares. Os poucos espaços disponíveis no centro da cidade para construção são muito valiosos e as construtoras fazem de tudo para aproveitá-los. Vale de tudo para achar um novo local. Compensa até gastar dinheiro e mudar enormes casas históricas de lugar, de quebra preservando o patrimônio histórico, e ainda usar todo o processo como atrativo adicional.
A rua Sherbourne tem de tudo. Desde a parte rica das casas de Rosedale, passando pela populosa comunidade de Saint James Town - que tem representante de praticamente todas as nações do globo-, passando pelos os abrigos dos pobres e problemáticos do Moss Park, chegando até a beira do lago.
Um hotel que funcionava, até bem pouco tempo, em uma mansão vitoriana perto da estação de metrô, foi removido e um novo arranha-céu será erigido. É o segundo imóvel histórico que passa por procedimento igual no mesmo quarteirão. O hotel foi hospedagem do escritor Ernest Hemingway em sua estadia de alguns anos em Toronto, enquanto escrevia para o jornal Toronto Star.
O processo de transporte da casa foi bem interessante. Fui acompanhando as etapas, pois o local fica no caminho de casa até a estação de metrô e também da ciclovia. Primeiro, as fundações foram escavadas e gigantescas vigas de metal foram colocadas na base da casa. Depois, grandes toras de madeira foram colocadas por baixo para fazer a sustenção. Uma espécie de base de concreto foi criada mais à frente e finalmente a casa foi arrastada, com a ajuda de caminhões possantes, até a nova base, que será a sua "morada" definitiva.
Gostaria de ter visto a casa ser transportada. Depois de fotografar algumas etapas, eis que passo um dia e já a vejo no novo local. Assim, rapidamente, da noite para o dia, sem aviso prévio nem carta de despedida. Ela agora será o salão de festas, sala de recreação ou qualquer outro ambiente comunitário no prédio de 50 andares que irá surgir atrás dela. Nada muito especial ou diferente do que já existe na cidade, mas, pelo menos, a casa vitoriana do século XIX será preservada e o local em que Hemingway morou em Toronto nos anos 1920 não será esquecido.
A rua Sherbourne tem de tudo. Desde a parte rica das casas de Rosedale, passando pela populosa comunidade de Saint James Town - que tem representante de praticamente todas as nações do globo-, passando pelos os abrigos dos pobres e problemáticos do Moss Park, chegando até a beira do lago.
Um hotel que funcionava, até bem pouco tempo, em uma mansão vitoriana perto da estação de metrô, foi removido e um novo arranha-céu será erigido. É o segundo imóvel histórico que passa por procedimento igual no mesmo quarteirão. O hotel foi hospedagem do escritor Ernest Hemingway em sua estadia de alguns anos em Toronto, enquanto escrevia para o jornal Toronto Star.
O processo de transporte da casa foi bem interessante. Fui acompanhando as etapas, pois o local fica no caminho de casa até a estação de metrô e também da ciclovia. Primeiro, as fundações foram escavadas e gigantescas vigas de metal foram colocadas na base da casa. Depois, grandes toras de madeira foram colocadas por baixo para fazer a sustenção. Uma espécie de base de concreto foi criada mais à frente e finalmente a casa foi arrastada, com a ajuda de caminhões possantes, até a nova base, que será a sua "morada" definitiva.
Gostaria de ter visto a casa ser transportada. Depois de fotografar algumas etapas, eis que passo um dia e já a vejo no novo local. Assim, rapidamente, da noite para o dia, sem aviso prévio nem carta de despedida. Ela agora será o salão de festas, sala de recreação ou qualquer outro ambiente comunitário no prédio de 50 andares que irá surgir atrás dela. Nada muito especial ou diferente do que já existe na cidade, mas, pelo menos, a casa vitoriana do século XIX será preservada e o local em que Hemingway morou em Toronto nos anos 1920 não será esquecido.
A casa agora bem perto da calçada |
5.12.15
MultCult#3
MultCult#3 O despertador toca alto, não deixa dúvida que a hora chegou, não importa se ainda tudo está escuro, mesmo se a contagem já passa do 7. Os olhos ardem e pesam, há um quase-desespero rondando. Um café bem escuro ajuda a clarear o dia. Hora de luvas, cachecol, touca. Capacete, bicicleta pronta.
A primeira pedalada é dolorosa. A perna está endurecida sob o termometro a 3 graus. Tudo que protege é apenas uma jaqueta pouco espessa, só reforçada contra o vento. Nada de proteção extra nas pernas, além da calça nossa de todo dia. Depois de cinco minutos o corpo começa a acostumar, o frio vai embora e o calor começa a chegar, sem longo intervalo. Momento de abrir uma fresta no casaco.
O viaduto se aproxima. Do verde exuberante do vale não resta mais nada, tudo foi destruído pela temperatura inclemente e pelos ventos do outono. Só um céu cinza persiste, com um resto de esperança de alguns feixes de luz solar. O vento sopra forte, os prédios historicos se aproximam, transportando a atmosfera para um lugar imaginário, impossível de ser localizado. Poderia ser em qualquer lugar onde culturas se unem.
Sao tijolos e construções baixas que hospedam restaurantes, cafés, bares, mercados, padarias, lojas, bancos. Tudo que faz uma cidade ser viva, alegre e atraente. O cenário vai se transformando, os arcos gregos e as igrejas dão forma a uma comunidade ativa, que sobrevive e floresce no frio, longe da história e do mar, mas que, nesse instante, ainda parece sonolenta pela hora cinzenta.
A viagem curta vai chegando ao fim, o frio cede lugar para o suor que vai surgindo por debaixo do agasalho. É tempo de procurar abrigo e começar o dia.
A primeira pedalada é dolorosa. A perna está endurecida sob o termometro a 3 graus. Tudo que protege é apenas uma jaqueta pouco espessa, só reforçada contra o vento. Nada de proteção extra nas pernas, além da calça nossa de todo dia. Depois de cinco minutos o corpo começa a acostumar, o frio vai embora e o calor começa a chegar, sem longo intervalo. Momento de abrir uma fresta no casaco.
O viaduto se aproxima. Do verde exuberante do vale não resta mais nada, tudo foi destruído pela temperatura inclemente e pelos ventos do outono. Só um céu cinza persiste, com um resto de esperança de alguns feixes de luz solar. O vento sopra forte, os prédios historicos se aproximam, transportando a atmosfera para um lugar imaginário, impossível de ser localizado. Poderia ser em qualquer lugar onde culturas se unem.
Sao tijolos e construções baixas que hospedam restaurantes, cafés, bares, mercados, padarias, lojas, bancos. Tudo que faz uma cidade ser viva, alegre e atraente. O cenário vai se transformando, os arcos gregos e as igrejas dão forma a uma comunidade ativa, que sobrevive e floresce no frio, longe da história e do mar, mas que, nesse instante, ainda parece sonolenta pela hora cinzenta.
A viagem curta vai chegando ao fim, o frio cede lugar para o suor que vai surgindo por debaixo do agasalho. É tempo de procurar abrigo e começar o dia.
28.11.15
MultCult#2
MultCult#2 A herança portuguesa pelo mundo não é notada somente por azulejos, pastéis de natas e outras belezas e delícias. Sobrenomes portugueses estão espalhados por todos os continentes, não só entre os recém-chegados aos países, os novos imigrantes. Datam de séculos de colonização em locais inimagináveis. Lembrei disso nos últimos dias, ao finalmente ser transferido para um escritório mais perto de casa.
Antes de chegar no novo local de trabalho, verifico que, na lista dos novos colegas, há um J. da Rocha. Suponho que será português, de primeira ou segunda geração no Canadá. A particula "da" é portuguesa, não tem escape. Em espanhol seria "de la", assim como no francês. Ao ser apresentado ao novo colega, vejo que ele tem feições orientais. Pergunto a origem do sobrenome. Ele me revela que a família veio de Macau, na China, antiga possessão portuguesa pelos lados de lá do mundo.
Em outra ocasião, eu chegava no clube-academia e vi que alguém tinha esquecido um documento na parte de cima do armário do vestiário. O sobrenome era Pereira. Não havia foto. Fui na recepção entregar a carteira e, por coincidência, o senhor Pereira chegou quase em seguida procurando pelo documento. Era um rapaz indiano, de pele bem escura. Não perguntei, mas supus que se realmente era indiano, deveria ter vindo de Goa, região também colonizada por portugueses.
Um caso curioso é o de um conhecido meu, nascido do Canadá, que tem o sobrenome Gomes. A familia dele veio da Guiana, na América do Sul. Ora, se a Guiana foi colonizada por ingleses, a família dele deve ter o nome de algum português - ou brasileiro - que resolveu mudar de país. Há algum tempo ele achou um site (http://forebears.io) que faz um mapeamento dos nomes de família. E ficou impressionado com o número de Gomes que existem pelo mundo. Só no Brasil são 1,7 milhões. Detalhe: segundo o site existem mais Gomes em Bangladesh do que em Portugal.
Antes de chegar no novo local de trabalho, verifico que, na lista dos novos colegas, há um J. da Rocha. Suponho que será português, de primeira ou segunda geração no Canadá. A particula "da" é portuguesa, não tem escape. Em espanhol seria "de la", assim como no francês. Ao ser apresentado ao novo colega, vejo que ele tem feições orientais. Pergunto a origem do sobrenome. Ele me revela que a família veio de Macau, na China, antiga possessão portuguesa pelos lados de lá do mundo.
Em outra ocasião, eu chegava no clube-academia e vi que alguém tinha esquecido um documento na parte de cima do armário do vestiário. O sobrenome era Pereira. Não havia foto. Fui na recepção entregar a carteira e, por coincidência, o senhor Pereira chegou quase em seguida procurando pelo documento. Era um rapaz indiano, de pele bem escura. Não perguntei, mas supus que se realmente era indiano, deveria ter vindo de Goa, região também colonizada por portugueses.
Um caso curioso é o de um conhecido meu, nascido do Canadá, que tem o sobrenome Gomes. A familia dele veio da Guiana, na América do Sul. Ora, se a Guiana foi colonizada por ingleses, a família dele deve ter o nome de algum português - ou brasileiro - que resolveu mudar de país. Há algum tempo ele achou um site (http://forebears.io) que faz um mapeamento dos nomes de família. E ficou impressionado com o número de Gomes que existem pelo mundo. Só no Brasil são 1,7 milhões. Detalhe: segundo o site existem mais Gomes em Bangladesh do que em Portugal.
21.11.15
MultiCult#1
MultCult#1 Chego na ótica para fazer exame de atualização dos óculos de leitura. Sim, eles são inevitáveis em algum ponto da vida. Os optometristas, que possuem traços orientais, são possivelmente os donos do local. O atendimento é feito em um inglês carregado de sotaque áspero, mas gentil ao mesmo tempo. No Canadá os exames de visão para compra de óculos não são feitos por médicos oftalmologistas, e sim por técnicos especializados, que vão ao College para conseguir a qualificação para prestar o serviço.
O consultório fica na própria loja, em uma parte reservada. Sou atendido por uma optometrista magra e bem bonita, de cabelo bem longo. Ela parece ser iraniana, mas, pensando melhor, mais provável que seja indiana de pele mais clara. O seu sotaque é bem norte-americano, deve ter nascido aqui.
Ao sair do consultório, me deparo com a loja cheia. Uma mulher filipina com suas três crianças. Um senhor negro idoso e desajeitado, provavelmente jamaicano. Um outro casal de meia-idade, pele escura, de aparência tranquila, diria que do Leste da Africa, da Somália ou Etiópia. Um outro rapaz chinês.
Os optometristas chineses correm para atender todo mundo, organizar os exames, preencher os papéis e conseguir as autorizações do sistema de saúde. Fazendo esforço para compreeender os clientes e falar de maneira inteligível. Estão lá gerenciando o negócio, criando emprego, ajudando gente a enxergar melhor, pagando impostos e dando exemplo para o mundo de como a imigração desenvolve um país.
O consultório fica na própria loja, em uma parte reservada. Sou atendido por uma optometrista magra e bem bonita, de cabelo bem longo. Ela parece ser iraniana, mas, pensando melhor, mais provável que seja indiana de pele mais clara. O seu sotaque é bem norte-americano, deve ter nascido aqui.
Ao sair do consultório, me deparo com a loja cheia. Uma mulher filipina com suas três crianças. Um senhor negro idoso e desajeitado, provavelmente jamaicano. Um outro casal de meia-idade, pele escura, de aparência tranquila, diria que do Leste da Africa, da Somália ou Etiópia. Um outro rapaz chinês.
Os optometristas chineses correm para atender todo mundo, organizar os exames, preencher os papéis e conseguir as autorizações do sistema de saúde. Fazendo esforço para compreeender os clientes e falar de maneira inteligível. Estão lá gerenciando o negócio, criando emprego, ajudando gente a enxergar melhor, pagando impostos e dando exemplo para o mundo de como a imigração desenvolve um país.