30.6.06

Não se avexe

Se avexe não...
Amanhã pode acontecer tudo
Inclusive nada.

Se avexe não...
A lagarta rasteja
Até o dia em que cria asas.

Se avexe não...
Que a burrinha da felicidade
Nunca se atrasa.

Se avexe não...
Amanhã ela pára
Na porta da tua casa

Se avexe não...
Toda caminhada começa
No primeiro passo
A natureza não tem pressa
Segue seu compasso
Inexoravelmente chega lá...

Se avexe não...
Observe quem vai
Subindo a ladeira
Seja princesa, seja lavadeira...
Pra ir mais alto
Vai ter que suar.

Ô coisa boa é namorar,
Ô coisa boa é namorar.

(Acioly Neto)

“Se avexe não” tem me feito pensar. Acho que é porque relaciono com o momento que estou vivendo. No filme A Máquina ( direção de João Falcão) há uma cena linda embalada pela canção. Em um baile de máscaras no sertão, tipo carnaval veneziano, uma velhinha canta, enquanto o rapaz procura a moça entre os mascarados. A voz da senhora é profunda, uma mistura de dor e alegria, de arrepiar.

Participei de um curso no qual a música foi utilizada em certo momento. Lembrei logo do filme. E procurei absorver a mensagem da letra. Não é que deu resultado? A lição que fica é que tudo tem o seu tempo, tudo tem a sua hora, não adianta ter agonia.

Mas nem sempre a gente acredita nisso.

24.6.06

Debaixo de chuva

A cidade está vazia, morta. Quase todas as lojas estão fechadas. As ruas dormem esquecidas pelos veículos. Não existe feriado ou qualquer outra data que esvazie tanto a cidade da Bahia quanto o São João.

Normalmente, nos finais de semana e nos dias em que não há trabalho, as pessoas vão às praias, às ruas. Tem sempre bastante movimento nas ruas. No São João, não. É a grande festa do interior. As estradas é que ficam cheias e os ônibus lotados. Qualquer canto do Estado é recanto para festa ou para descanso. Comida farta nas casas, é a grande tradição do interior.

Nunca gostei muito da festa de São João. Já fui a vários forrós em várias cidades, em várias regiões da Bahia. Atualmente prefiro descansar em Salvador, enquanto a cidade fica tranqüila. Aproveitei para ver um filme e colocar as leituras em dia.

O forró corre solto no Pelourinho. As ruas estreitas ficam apertadíssimas para tanta gente, para aqueles que não se atreveram ou não tiveram dinheiro para viajar. E o pior foi que caiu a maior chuva ontem na cidade, dessas de alagar tudo em minutos. Vi na TV que as pessoas dançavam debaixo de guarda-chuvas. Quanta coragem, ó brava gente.

Tive um convite super-legal para viajar para o interior, para a bela fazenda de uma amiga. Foi uma pena que o trabalho e o cansaço tenham me impedido de pegar a estrada.

15.6.06

Tem pagode no feijão

Sábado passado tive aula o dia inteiro, manhã e tarde. O povo na maior preguiça. Eu ficava me perguntando o tempo todo o que era que eu estava fazendo ali. Procurava respostas e não as achava. Fico sempre pensando: em breve haverá um assunto pelo qual eu me interesse, haverá algo que me motive. Mas fico sempre com uma pontinha de dúvida. O que acho bacana é conhecer novas pessoas, gente de todas as idades. Interessante como os papos variam. A turma vai se aproximando aos poucos, tem bastante gente de relações públicas, o que significa que boa parte gosta de se comunicar e se relacionar. Ou pelo menos deveria.

Da aula saí correndo para o aniversário de uma amiga, uma feijoada com motivos da copa. Acho bacana a criatividade nas variações das camisetas com motivos verde e amarelo. Também tem cinto, brinco, lenço, bandeirolas (estamos em época de São João), toalha de mesa, talher plástico e até confeito de bolo, tudo verde-amarelo.

As garotas ficaram dançando pagode na festa. Acho interessante que baianos e baianas parecem preferir dançar pagode em grupos do mesmo sexo. Apesar de a dança ter características sexuais visíveis, por causa do requebrado, a preferência no pagode é dançar só ou em um grupo, no qual todos fazem os mesmos movimentos. Uma coisa meio exibicionista, digamos assim. Mais baiano impossível.

Mofo

Semanas corridas de aulas e trabalho. Blog anda esquecido. Muita coisa passa pela cabeça e não registro. Penso em escrever, não dá tempo, esqueço. Outras tantas coisas escrevo e não publico, ficam nos garranchos. Parei de rascunhar e não conseguir passar para o computador. As letras repousam no papel aguardando que um dia eu consiga terminar de digitá-las. Escrevi páginas e páginas em um caderno de capa amarela, durante uma viagem que fiz há algum tempo, mas não tenho sequer a coragem de relê-las. Comecei a escrever peças, algumas têm várias páginas escritas, mas não consigo terminá-las. Algum dia vou conseguir? Que farei com tanto rascunho?

A publicação no blog é rápida e indolor. Pelo menos não mofa na gaveta.

14.6.06

O blog anda em ritmo lento. Escrevo algumas coisas, mas não publico. Novo ano astral começa agora, mas ainda resta um tantinho do cansaço das comemorações de ontem. Volto já.

3.6.06

O transporte e a vida

A greve de ônibus acabou, mas o movimento na cidade ainda não está regular. Algumas pessoas, principalmente aquelas que teriam que chegar ao trabalho, afirmam de forma veemente que os ônibus ainda não estão circulando. Quem saberá qual a realidade? Alguns dizem que a realidade é própria de cada um, mas nesse caso é preciso um filósofo para discorrer sobre o assunto.

Pobre população de uma das maiores cidades do país, que não conta com nenhum tipo de transporte urbano alternativo. Nem as peruas dão certo por aqui. Nada de metrô, nem bonde, nem de barco, na cidade rodeada de águas. Se nem o ex-ministro dos transportes, futuro candidato a governador do Estado, conseguiu concluir as obras do metrô, o que a população poderá esperar?

O pior é que o povo tem memória curta. Ninguém lembra que um certo comunicador e ex-político, hoje com grande sucesso na comunicação, durante a sua gestão pública foi acusado de responsável por gigantescos desvios de verbas que impediram a finalização do metrô de Salvador. E hoje o tal comunicador posa de paladino da justiça, denunciando ações nebulosas do governo e de empresas. A memória da população é volátil, desaparece no ar, infelizmente.

Em Salvador, nem as kombis e peruas funcionam. Em Recife, além de existir metrô, o transporte alternativo possibilita, até com certo conforto, o deslocamento das pessoas. Pobre Salvador, pobre povo.

(Continua no post abaixo)
Às vezes tenho vontade de deixar o carro em casa e ir trabalhar via transporte urbano. Penso duas vezes e desisto. Carro custa caro: gasolina, manutenção, impostos, seguros, aluguel de garagem (até isso tenho que pagar!). Mas, na terra-sem-lei que é a cidade do São Salvador, é desconfortável andar de transporte público.

Quando vim morar em Salvador, tive um choque com o transporte urbano. Eu morava no interior, a família tinha carro. Não ia na esquina à pé, ia de carro. Chegando na cidade grande, me deparei com o caos. Precisava ir às aulas na Faculdade e, por conseqüência, precisava andar de ônibus. Foi, no mínimo, educativo. Terapia de choque.

Eu detestava ter que acordar cedo para pegar ônibus. Só conseguia chegar atrasado nas aulas. Acostumado com as distâncias curtas da cidade pequena, achava um absurdo, um pesadelo, ter que acordar mais cedo para vencer os atrasos do trânsito engarrafado. O resultado foi que levei bomba em quase todas as matérias do primeiro semestre. Compreensível, pois eu tinha apenas dezessete anos, estava afastado da família e tinha que enfrentar uma nova rotina.

Eu morava no centro da cidade e estudava no campus da Universidade Federal situado nos bairros vizinhos de Ondina e Federação. Quando as aulas aconteciam em Ondina, era necessário descer e subir escadarias gigantescas que separavam os prédios, pois os ônibus passavam pela Federação.

Para quem não conhece, o bairro da Federação é um dos mais altos de Salvador. Já o bairro de Ondina fica no nível do mar. As salas onde aconteciam as aulas se espalhavam pelos dois locais. Dá para imaginar a quantidade de degraus a galgar. Outro dia, em visita a uma das Faculdades, vi o projeto de um teleférico para facilitar a vida dos alunos. O projeto está no papel até hoje.

No ano seguinte à minha chegada em Salvador, as coisas melhoraram um pouco. Minha irmã veio morar comigo e a família desalugou o imóvel que estava ocupado. Mudamos para lá, fiquei mais perto da Faculdade, mas senti muita falta dos amigos com os quais dividia o apartamento no centro da cidade. Foi um ano de muita aprendizagem, tanto nos estudos quanto na vida pessoal. Percebi que eu tinha dificuldade em estabelecer laços afetivos, de amizade ou amorosos.

O ano passou, o planeta Júpiter teve a delicadeza de transitar pelo meu signo. As coisa melhoraram profundamente. Ganhei um carro. Usado, mas que quebrava um galho muito grande. Caí na farra. Fiz novas e intensas amizades, que duram até hoje.