Às vezes tenho vontade de deixar o carro em casa e ir trabalhar via transporte urbano. Penso duas vezes e desisto. Carro custa caro: gasolina, manutenção, impostos, seguros, aluguel de garagem (até isso tenho que pagar!). Mas, na terra-sem-lei que é a cidade do São Salvador, é desconfortável andar de transporte público.
Quando vim morar em Salvador, tive um choque com o transporte urbano. Eu morava no interior, a família tinha carro. Não ia na esquina à pé, ia de carro. Chegando na cidade grande, me deparei com o caos. Precisava ir às aulas na Faculdade e, por conseqüência, precisava andar de ônibus. Foi, no mínimo, educativo. Terapia de choque.
Eu detestava ter que acordar cedo para pegar ônibus. Só conseguia chegar atrasado nas aulas. Acostumado com as distâncias curtas da cidade pequena, achava um absurdo, um pesadelo, ter que acordar mais cedo para vencer os atrasos do trânsito engarrafado. O resultado foi que levei bomba em quase todas as matérias do primeiro semestre. Compreensível, pois eu tinha apenas dezessete anos, estava afastado da família e tinha que enfrentar uma nova rotina.
Eu morava no centro da cidade e estudava no campus da Universidade Federal situado nos bairros vizinhos de Ondina e Federação. Quando as aulas aconteciam em Ondina, era necessário descer e subir escadarias gigantescas que separavam os prédios, pois os ônibus passavam pela Federação.
Para quem não conhece, o bairro da Federação é um dos mais altos de Salvador. Já o bairro de Ondina fica no nível do mar. As salas onde aconteciam as aulas se espalhavam pelos dois locais. Dá para imaginar a quantidade de degraus a galgar. Outro dia, em visita a uma das Faculdades, vi o projeto de um teleférico para facilitar a vida dos alunos. O projeto está no papel até hoje.
No ano seguinte à minha chegada em Salvador, as coisas melhoraram um pouco. Minha irmã veio morar comigo e a família desalugou o imóvel que estava ocupado. Mudamos para lá, fiquei mais perto da Faculdade, mas senti muita falta dos amigos com os quais dividia o apartamento no centro da cidade. Foi um ano de muita aprendizagem, tanto nos estudos quanto na vida pessoal. Percebi que eu tinha dificuldade em estabelecer laços afetivos, de amizade ou amorosos.
O ano passou, o planeta Júpiter teve a delicadeza de transitar pelo meu signo. As coisa melhoraram profundamente. Ganhei um carro. Usado, mas que quebrava um galho muito grande. Caí na farra. Fiz novas e intensas amizades, que duram até hoje.
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