17.12.06

Crazy. I’m crazy for feelings.

C.R.A.Z.Y- Loucos de Amor é um filme canadense. Do Québec, falado em francês. Foi o representante canadense do Oscar estrangeiro em 2005. Eu tinha visto em DVD, em cópia que consegui de alguém que baixou da internet. Versão sem legendas, não deu para entender quase nada das falas. Só deu para sentir e apreciar. Hoje vi no cinema, na Sala do Museu. A percepção foi bem mais profunda.

C.R.A.Z.Y é um dos filmes mais bacanas dos últimos tempos. Bem feito, tudo está no lugar correto, das sequências previsíveis aos delírios. Imagens primorosas, direção de arte de encher os olhos. Imagens belas e inusitadas. Figurinos, cenários, maquiagem. Personagens e cenários refletidos em óculos ray-ban, em retrovisores, em vidraças. Espelhos estão em toda a parte, até em frente da pia da cozinha. É um filme que celebra a beleza, mesmo quando não parece ser essa a intenção.

E o prato principal é a trilha sonora do filme. C.R.A.Z.Y. tem música de qualidade. Música que envolve e que quase tele-transporta para as décadas de sessenta, setenta e início dos anos oitenta. Pink Floyd, David Bowie, Rolling Stones e vários outros. De dar inveja às melhores produções americanas.

Zac nasceu no dia 25 de dezembro. A cada ano, no Natal, ele tem que comemorar o seu aniversário junto com a festa em família, com seus pais e os outros quatro irmãos homens. Ele é o número quatro entre os cinco rapazes. Sua mãe acredita que, pela data de aniversário e pelas dificuldades do parto, ele tem poderes especiais de cura. O seu pai lhe direciona um carinho especial e projeta nele várias de suas expectativas. O pai é um tipo atencioso que gosta de cantar músicas do francês Charles Aznavour nas comemorações familiares.

Só que, à medida que a sua sexualidade é depertada, Zac percebe que sente atração por outros rapazes. Está criado o vendaval de emoções alimentado pela culpa – ampliada pela religião católica - e pelo temor de desagradar os pais.

Talvez o ponto mais intenso e interessante do filme seja abordar a dificuldade de trilhar um caminho indesejado pela família, principalmente quando se tem um bom relacionamento com os pais. Ou seja, como é difícil fazer rupturas quando o que mais se deseja é agradar pessoas. Não que o outro caso seja pouco difícil, mas o diretor Jean-Marc Vallée, que também é co-autor do roteiro, mostra uma visão diferente daquela que seria esperada - talvez pelo senso comum e, quem sabe até, pelos psicólogos. Passa distante daquele chavão que todo gay teve um pai ausente e uma mãe dominadora. O filme quer mostrar que a definição da sexualidade vai muito além dos lugares-comuns.

C.R.A.Z.Y. é o nome formado pelas iniciais dos nomes dos cinco irmãos. Crazy é a música que ecoa em vários instantes da narrativa: “Crazy, I’m crazy for feelings...”. A canção é entoada pela cantora cantora favorita do pai de Zac. O irmão mais velho de Zac é louco dependente de drogas e traficante. Zac é jovem durante os loucos anos sessenta e setenta. Zac é “louco” por ter trilhado um caminho diferente.

C.R.A.Z.Y. deve ser visto mais de uma vez. E no cinema. Só a sala escura produz a verdadeira magia do envolvimento pela música e pelas imagens dos filmes.

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