14.11.11

Do tempo da sala de aula

Eu tenho sonhado com pessoas que fizeram parte do meu passado. Pessoas que fizeram parte da minha história, mas que não foram muito próximas de mim. Colegas de escola e colegas de Faculdade. Pessoas com quem conversava de vez em quando, mas que não posso dizer que fossem meus amigos. Gente que até já morreu. O que será que isso significa? Nostalgia do passado, provavelmente. Mas por que sonhar com pessoas com as quais não tinha muito vínculo? Não haveria gente mais interessante e atualizada para pensar?  É como se o subconsciente me disesse: "Veja só, essa pessoa existiu, você conheceu, o que será que ela anda fazendo no mundo, como estará?"

Existem pessoas com as quais simpatizei, que me davam a impressao que poderiam ser mais próximas, mas que a amizade nunca ocorreu. Sei listar várias pessoas assim. Talvez um estilo de vida diferente, ou mesmo, no fundo, nem tanta afinidade assim, tenha sido o motivo da falta de aproximação. Vá entender.

Keith Haring
Um fato curioso na minha história de estudos é que nunca as minhas turmas escolares e universitárias foram muito unidas. Vejo conhecidos organizando eventos de reencontro de seus grupos: churrascos, passeios, até viagens. Na minha turma de escola em Ilhéus as pessoas eram distantes e eu percebia muita concorrência. Primeiro, por causa do vestibular e pelas vagas em universidades. Depois profissionalmente. Muita comparação entre sucessos e aquisições. De chegar a ponto de piada, com impressão de que alguns comparam entre si a lista de bens da declaração de imposto de renda. Eu achava que só eu notava isso, até que uma antiga colega também comentou comigo, em tom de chacota, que percebia a mesma coisa. O resultado é que um grande reencontro teria pouca possibilidade de sucesso. Dá para imaginar o papo.

Já na minha primeira Faculdade, o clima bélico era bem mais visível. Existiam duas turmas simplesmente inimigas, de chegar às vias de fatos, às agressões físicas. Havia uma diferença de classe social, talvez. Ou mesmo de cor, na  velha afro-Salvador. Os provenientes de classe média alta, apelidados de "branquinhos" pelo grupo oponente. Esses eram mais boas-vidas, mais vivedores, mais despreocupados com o futuro. Do outro lado, uma turma mais esforçada, mais preocupada, mais "moreninha", digamos assim, e sem tanto apoio familiar. Eu me sentia alheio a tudo, nem de um lado, nem de outro.

Na minha segunda Faculdade, a minha interação com os colegas foi menor. Eu trabalhava e quase não tinha tempo livre para interagir. E não era sem inveja que eu via os colegas, em tempo de aula vaga ou de greve, indo para algum boteco enquanto eu ia para o trabalho.  Mesmo com o tempo restrito, guardei bons amigos, com os quais ainda mantenho contato.


Tenho um primo, hoje médico, proveniente também da minha cidade, que terminou a escola há mais de três décadas. E que se reúne com a sua turma quase todos os anos. Hoje na faixa dos 50 anos, os colegas ainda organizam jantares de reencontro e acho que ainda vão continuar organizando. Mas penso que é uma exceção.

Talvez as características da minha geração, a tal da X, a tornem mesmo uma incógnita. Cheia de yuppies com seus desejos e lutas sem fim por sucesso e riqueza, o que termina por afastar as pessoas. O que é uma pena.



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