3.3.06

Jornalismo sem sangue frio

Capote (Capote, EUA, 2005) retrata o jornalista americano Truman Capote, que escreveu o célebre livro-reportagem “A Sangue Frio”. O filme mostra como foi o processo de confecção do livro, que relata o que levou dois homens ao assassinato de quatro membros de uma família do interior dos Estados Unidos.

As artimanhas inicialmente utilizadas por Truman Capote para realizar o trabalho acabam virando o jogo contra ele próprio. As prorrogações de prazo para a execução dos assassinos, necessárias para a coleta de dados, tornaram-se tortura para o jornalista. A partir de certo ponto, ele precisava que a história se encerrasse, para que pudesse concluir o livro e publicá-lo. O processo durou vários anos. O livro foi um sucesso, é uma referência até hoje, mas fez com que a propensão de Capote para a bebida se agravasse.

Capote serve de espelho para jornalistas. Até onde se deve ir para obter informações? Até que ponto é ético chegar? O que se deve dizer às fontes e o que não se deve?

Os dramas de consciência acabaram por atingir em cheio o jornalista, que, durante o trabalho, passou a se identificar com aquele que se revelou o mais cerebral entre os dois criminosos – e que passou a fazer manipulações emocionais, das quais Capote não escapou.

Desempenho fabuloso de Philipe Seymour (Cold Mountain, Quase Famosos), que já ganhou o Globo de Ouro como melhor ator. Dicção perfeita e expressões faciais marcantes. À primeira vista um homem com disposição frágil e hesitante, talvez amplificada pelos trejeitos afeminados, mas de persistência férrea para a realização daquela que viria a ser a sua obra-prima.

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