Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
28.5.06
Em casa
Domingo nublado e chuvoso, desisto de ir ao cinema. Este ano estou novamente com a carteira de estudante, o que facilita tudo. Mas simplesmente não tenho estômago para shoppings cheios de gente nos dias sem sol em uma cidade de praia. Concluí o texto, empurrando com força, para vez se o carro pega.
Madruga
Para escapar do sono e não perder o prazo de entrega de um texto, me entupi de café. Deu certo, mas a madrugada avança rápida e estou de olhos arregalados. Torço para que uma dose de scotch faça as pálpebras pesarem.
Mais cedo fui ver uma peça com texto de M. Rubens Paiva. Produção grande, cheia de anunciantes e patrocinadores, uma sorte na secura baiana. Teatro luxuoso, hall bem iluminado, público composto na maioria de moçoilas de nariz empinado e cabelos escovados e rapazotes bem-nutridos, criados à base de sucrilhos Kellog's. Achei o texto fraco, algumas cenas pareciam esquetes de um desses programas de humor televisivo que beiram a idiotia, do tipo Zorra Total.
Salva-se o ator Marcelo Prado, que confere bastante comicidade ao seu personagem. O mérito é todo dele, não das falas do seu personagem. Incrível como ele consegue passar do drama para a comédia em um piscar de olhos. Os demais atores fazem um trabalho correto. Mas o texto é muito raso, adolescente, não empolga. Não vi ninguém se levantar para aplaudir, o que normalmente acontece no teatro baiano.
Saindo do plano teatral, tenho pensado sobre as relações entre as pessoas. Acho interessante como há gente que precisa de limites. Não apenas precisam, mas também pedem. Exigem. Será algum tipo de carência? Acho que sim. É uma pena, pois não precisaria ser assim. Cada um deveria saber avaliar o alcance das suas ações por si só. Mas já que insistem...
Mais cedo fui ver uma peça com texto de M. Rubens Paiva. Produção grande, cheia de anunciantes e patrocinadores, uma sorte na secura baiana. Teatro luxuoso, hall bem iluminado, público composto na maioria de moçoilas de nariz empinado e cabelos escovados e rapazotes bem-nutridos, criados à base de sucrilhos Kellog's. Achei o texto fraco, algumas cenas pareciam esquetes de um desses programas de humor televisivo que beiram a idiotia, do tipo Zorra Total.
Salva-se o ator Marcelo Prado, que confere bastante comicidade ao seu personagem. O mérito é todo dele, não das falas do seu personagem. Incrível como ele consegue passar do drama para a comédia em um piscar de olhos. Os demais atores fazem um trabalho correto. Mas o texto é muito raso, adolescente, não empolga. Não vi ninguém se levantar para aplaudir, o que normalmente acontece no teatro baiano.
Saindo do plano teatral, tenho pensado sobre as relações entre as pessoas. Acho interessante como há gente que precisa de limites. Não apenas precisam, mas também pedem. Exigem. Será algum tipo de carência? Acho que sim. É uma pena, pois não precisaria ser assim. Cada um deveria saber avaliar o alcance das suas ações por si só. Mas já que insistem...
25.5.06
No hotel
Estou em um encontro de trabalho em um hotel bacana de Salvador, localizado à beira-mar. A falta do sol, neste pré-inverno, não tira o charme da praia. As refeições se sucedem em ritmo interminável e sem descanso. Não resisto e me entrego profundamente às carnes, peixes e mariscos.
Terminadas as atividades do dia, jantar caudaloso, madrugada avançando, as pessoas cantam incessantes ao som do violão. Tocando e desafinando, mas o que vale é a animação e a farra. O repertório passa da MPB ao brega. Teclo na sala ao lado, aproveitando o acesso gratuito. É bom ver pessoas alegres em eventos de trabalho, uma coisa que nem sempre possível acontecer.
Durante as discussões de trabalho, temas interessantes vinculados à educação, incluindo responsabilidade social de empresas.
Preciso descansar, pois mais tarde a batalha será intensa: um longo e fantástico café-da-manhã. Como visto em poucas ocasiões.
Terminadas as atividades do dia, jantar caudaloso, madrugada avançando, as pessoas cantam incessantes ao som do violão. Tocando e desafinando, mas o que vale é a animação e a farra. O repertório passa da MPB ao brega. Teclo na sala ao lado, aproveitando o acesso gratuito. É bom ver pessoas alegres em eventos de trabalho, uma coisa que nem sempre possível acontecer.
Durante as discussões de trabalho, temas interessantes vinculados à educação, incluindo responsabilidade social de empresas.
Preciso descansar, pois mais tarde a batalha será intensa: um longo e fantástico café-da-manhã. Como visto em poucas ocasiões.
20.5.06
Enrolando
Sem saco para ler os textos que tenho que ler, fico jogando Freecell no computador. A minha consciência sempre fica pesada pela perda de tempo. Ler que Chico Buarque, antes de começar a escrever, costuma ficar jogando paciência no computador, me deu certo conforto. Somos todos humanos. Nem sempre com o mesmo talento, é claro.
Prefiro ler textos que tratam de comunicação. Quando eles se referem a temas da administração sempre tenho mais preguiça e sinto que preciso fazer mais esforço. Os assuntos de comunicação fluem de modo mais fácil para mim. O curso que estou fazendo é uma mistura das duas áreas.
Nos atuais tempos de trabalho, descobri uma tendência em mim. Descobri que gosto de trabalhar com assuntos sociais. Até com uma certa inclinação para a promoção de algumas causas. E eu que sempre achei marketing um porre, me vejo estimulando pessoas a ajudar, a doar, a trabalhar. Enfim, penso que o objetivo compensa o esforço de trabalho e acho que é isso que tem me motivado.
Esta semana vou novamente, como no ano passado, dormir dois dias em um hotel bacana em Salvador. Vai ser uma mistura de trabalho e diversão. Bom para sair da rotina que me sufoca.
Fui ver a apresentação de um amigo no Cabaré dos Novos, no Teatro Vila Velha. Inspirado em um conto de Caio Fernando Abreu, o nome do espetáculo é Primeiro, Ato-me. Pena que é curto, não chega a 40 minutos. Muito bom conferir a evolução dele como ator, que já realiza um ótimo trabalho de mímica corporal-dramática. A sala ficou cheia só de amigos e parentes, dele e da diretora, que é estudante da Escola de Teatro.
Prefiro ler textos que tratam de comunicação. Quando eles se referem a temas da administração sempre tenho mais preguiça e sinto que preciso fazer mais esforço. Os assuntos de comunicação fluem de modo mais fácil para mim. O curso que estou fazendo é uma mistura das duas áreas.
Nos atuais tempos de trabalho, descobri uma tendência em mim. Descobri que gosto de trabalhar com assuntos sociais. Até com uma certa inclinação para a promoção de algumas causas. E eu que sempre achei marketing um porre, me vejo estimulando pessoas a ajudar, a doar, a trabalhar. Enfim, penso que o objetivo compensa o esforço de trabalho e acho que é isso que tem me motivado.
Esta semana vou novamente, como no ano passado, dormir dois dias em um hotel bacana em Salvador. Vai ser uma mistura de trabalho e diversão. Bom para sair da rotina que me sufoca.
Fui ver a apresentação de um amigo no Cabaré dos Novos, no Teatro Vila Velha. Inspirado em um conto de Caio Fernando Abreu, o nome do espetáculo é Primeiro, Ato-me. Pena que é curto, não chega a 40 minutos. Muito bom conferir a evolução dele como ator, que já realiza um ótimo trabalho de mímica corporal-dramática. A sala ficou cheia só de amigos e parentes, dele e da diretora, que é estudante da Escola de Teatro.
18.5.06
Desabafo
O tal Cláudio Lembo, atual governador de São Paulo, deu uma entrevista irada para a jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo. Com a crise da segurança pública, acuado pela opinião pública e pela ação de FHC, Serra e Alckmin - que querem se livrar de qualquer tipo associação com a explosão da violência em São Paulo, o ninho dos tucanos - , o governador desceu a marreta na burguesia paulista, acusada de ser incapaz de agir para realizar melhorias sociais.
A jornalista jogou mais álcool no braseiro, dizendo que a burguesia paulista é capaz de pagar 900 reais por uma dose de certo conhaque no badalado Fasano. O suficiente para quase três salários-mínimos para três famílias. O governador lembrou até do velho conceito da casa-grande-e-senzala.
Há tempos não vejo um discurso tão inflamado. Nem entre os mais radicais da esquerda. E não é que ele tem razão?
O Brasil é do jeito que é não só por causa do governo. Mas também por causa da população. Não a população pobre ou classe média, que luta muito para ter uma vida digna. Esses até ajudam alguns necessitados. Que muitas vezes são os seus parentes ou amigos.
Os ricos é que não dividem nada. Uma classe social de mente pouco iluminada, que só quer acumular mais riqueza. A cada dia, mais brasileiros entram nas listas dos bilionários. A economia do país é uma das maiores do mundo. Por que há tanta pobreza e tanta riqueza concentrada? Porque os ricos não vêem aquele outro, o pobre, como um igual. Vêem-no como um ser inferior. Há vários preconceitos embutidos no olhar sobre a pobreza. Infelizmente essa é a herança nefasta da escravidão.
Os governantes, por sua vez, são um espelho da população, pois foi a própria população quem os colocou no poder. Eles são incapazes de realizar mudanças para diminuir privilégios. Ou instituir mecanismos de desenvolvimento e controle orçamentário, financeiro e de justiça. Mudanças que seriam úteis para grande parcela da população, mas aqueles que ganham vantagens fazem tudo para não perdê-las. O compadrio é um traço de comportamento endêmico entre os brasileiros. Sempre se dá um jeitinho de acobertar as coisas mal feitas pelos colegas e amigos. Vemos isso em todos os níveis. Casos de assédio moral e sexual se acumulam e são abafados com aposentarias nas empresas.
A burguesia brasileira é muito cruel. Salve-se quem puder.
A jornalista jogou mais álcool no braseiro, dizendo que a burguesia paulista é capaz de pagar 900 reais por uma dose de certo conhaque no badalado Fasano. O suficiente para quase três salários-mínimos para três famílias. O governador lembrou até do velho conceito da casa-grande-e-senzala.
Há tempos não vejo um discurso tão inflamado. Nem entre os mais radicais da esquerda. E não é que ele tem razão?
O Brasil é do jeito que é não só por causa do governo. Mas também por causa da população. Não a população pobre ou classe média, que luta muito para ter uma vida digna. Esses até ajudam alguns necessitados. Que muitas vezes são os seus parentes ou amigos.
Os ricos é que não dividem nada. Uma classe social de mente pouco iluminada, que só quer acumular mais riqueza. A cada dia, mais brasileiros entram nas listas dos bilionários. A economia do país é uma das maiores do mundo. Por que há tanta pobreza e tanta riqueza concentrada? Porque os ricos não vêem aquele outro, o pobre, como um igual. Vêem-no como um ser inferior. Há vários preconceitos embutidos no olhar sobre a pobreza. Infelizmente essa é a herança nefasta da escravidão.
Os governantes, por sua vez, são um espelho da população, pois foi a própria população quem os colocou no poder. Eles são incapazes de realizar mudanças para diminuir privilégios. Ou instituir mecanismos de desenvolvimento e controle orçamentário, financeiro e de justiça. Mudanças que seriam úteis para grande parcela da população, mas aqueles que ganham vantagens fazem tudo para não perdê-las. O compadrio é um traço de comportamento endêmico entre os brasileiros. Sempre se dá um jeitinho de acobertar as coisas mal feitas pelos colegas e amigos. Vemos isso em todos os níveis. Casos de assédio moral e sexual se acumulam e são abafados com aposentarias nas empresas.
A burguesia brasileira é muito cruel. Salve-se quem puder.
14.5.06
Antes do inverno
Chove e faz frio em maio como há muito não se vê em Salvador. Aproveito para dormir e ler. Costuma-se dizer que, com a passagem do tempo, o sono das pessoas vai diminuindo. Eu não tenho esse problema. Dormir é uma das coisas que acho mais prazerosas na vida. Adoro cochilar durante o dia, quando é possível. Com as horas ocupadas da semana, é nas tardes livres dos sábados e domingos que sobram os minutos para descanso. O sono reparador é uma benção para a saúde.
Com o sono eu aproveito para empurrar para depois o artigo para entregar e as postagens no blog - que caminha devagar há algum tempo, mas é resistente. Tomo café para despertar. Vou tentando, tentando, até que surge alguma coisa e as palavras começam a fluir pela frente.
Em domingo de restaurantes lotados de famílias, fiquei em casa, fiz uma massa italiana com frango (que estava semi-pronto, temperado, desfiado e congelado), azeitonas e tomates secos.
Durante o Festival Sala de Arte, assisti ontem a Uma Mulher Contra Hitler (Sophie Scholl - Die Letzten Tage, Alemanha, 2005), direção de Marc Rothemund, que ganhou 2 Ursos de Prata no Festival de Berlim, nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Atriz (Julia Jentsch), e foi indicado ao Oscar 2006 de filme estrangeiro.
Uma visão diferente dos filmes sobre o nazismo: a insatisfação dos alemães com o governo de Hiltler durante a Segunda Guerra. Sophie Scholl e seu irmão são estudantes universitários em Munique e fazem parte da Rosa Branca, uma organização contrária a Hitler. Eles são presos e julgados por distribuírem panfletos criticando o governo.
O clima é lento e angustiante. O roteiro é muito inteligente e informativo. A racionalidade e o pragmatismo dos alemães sempre presentes. É como se o filme dissesse que a dor deva ser sofrida calada, como se fosse uma missão a ser cumprida. Ou paga. Bem diferente da cultura latina que está próxima de nós.
Com o sono eu aproveito para empurrar para depois o artigo para entregar e as postagens no blog - que caminha devagar há algum tempo, mas é resistente. Tomo café para despertar. Vou tentando, tentando, até que surge alguma coisa e as palavras começam a fluir pela frente.
Em domingo de restaurantes lotados de famílias, fiquei em casa, fiz uma massa italiana com frango (que estava semi-pronto, temperado, desfiado e congelado), azeitonas e tomates secos.
Durante o Festival Sala de Arte, assisti ontem a Uma Mulher Contra Hitler (Sophie Scholl - Die Letzten Tage, Alemanha, 2005), direção de Marc Rothemund, que ganhou 2 Ursos de Prata no Festival de Berlim, nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Atriz (Julia Jentsch), e foi indicado ao Oscar 2006 de filme estrangeiro.
Uma visão diferente dos filmes sobre o nazismo: a insatisfação dos alemães com o governo de Hiltler durante a Segunda Guerra. Sophie Scholl e seu irmão são estudantes universitários em Munique e fazem parte da Rosa Branca, uma organização contrária a Hitler. Eles são presos e julgados por distribuírem panfletos criticando o governo.
O clima é lento e angustiante. O roteiro é muito inteligente e informativo. A racionalidade e o pragmatismo dos alemães sempre presentes. É como se o filme dissesse que a dor deva ser sofrida calada, como se fosse uma missão a ser cumprida. Ou paga. Bem diferente da cultura latina que está próxima de nós.
6.5.06
Em dias de chuva
A chuva voltou para deixar a cidade restrita aos shoppings. Fui em um abrigo deixar material de limpeza recolhido por doações. Almocei com um amigo que não via há oito anos. Horas e horas de conversa. A chuva dá sono. Muita preguiça para fazer o texto que tenho que entregar.
A população da gatolândia diminuiu aqui em casa. A gata foi morar em uma fazenda. Para a minha tranqüilidade, soube que uma garota de seis anos, que mora lá, se encantou com a felina e pediu ao pai para adotá-la.
Ontem vi Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas, no Teatro Vila Velha. A peça rendeu indicação de Iara Colina à categoria de Melhor Atriz no prêmio Braskem. Com o sucesso obtido no Cabaré dos Novos, o espetáculo re-estreou no palco principal.
Comédia sobre três mulheres: uma divorciada depressiva, uma viúva evangélica carente e uma vegetariana-perua, Glória (Colina), que tem um caso com um homem casado. O texto é do venezuelano Gustavo Ott. Sem nada de excepcional, mas há alguns diálogos interessantes. As personagens beiram os clichês, as atrizes sustentam com determinação. Viviane Laert ótima como a evangélica.
Mais uma vez, ao freqüentar estréias e re-estréias, há a coincidência de haver um coquetelzinho rolando. Tomei dois copinhos de batida, belisquei alguma coisa e voltei para casa.
A população da gatolândia diminuiu aqui em casa. A gata foi morar em uma fazenda. Para a minha tranqüilidade, soube que uma garota de seis anos, que mora lá, se encantou com a felina e pediu ao pai para adotá-la.
Ontem vi Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas, no Teatro Vila Velha. A peça rendeu indicação de Iara Colina à categoria de Melhor Atriz no prêmio Braskem. Com o sucesso obtido no Cabaré dos Novos, o espetáculo re-estreou no palco principal.
Comédia sobre três mulheres: uma divorciada depressiva, uma viúva evangélica carente e uma vegetariana-perua, Glória (Colina), que tem um caso com um homem casado. O texto é do venezuelano Gustavo Ott. Sem nada de excepcional, mas há alguns diálogos interessantes. As personagens beiram os clichês, as atrizes sustentam com determinação. Viviane Laert ótima como a evangélica.
Mais uma vez, ao freqüentar estréias e re-estréias, há a coincidência de haver um coquetelzinho rolando. Tomei dois copinhos de batida, belisquei alguma coisa e voltei para casa.