2.12.07

Na fronteira da sobrevivência

Parece até história de filme. Ou de novela. Ou de blog. No final dos anos 90, o rapaz saiu do Brasil para ir aos Estados Unidos. Insatisfeito com as condições de trabalho, sem formação universitária, foi tentar a sorte em um país rico. Onde ele não precisaria ter que fazer um curso superior meia-boca para ter asseguradas condições razoáveis de vida e de trabalho.

Dificuldades de língua, solidão, saudade. Ele sentiu dificuldades comuns a todos que se aventuram em terras distantes. Fez vários serviços, pouco qualificados, mas que asseguravam grana para pagar as despesas e ainda sobrar um tanto para mandar para a família no Brasil. O tempo passou, mais adaptado, foi entregando pizza que ele começou a ganhar mais dinheiro. Pensou em trabalhar por conta própria. Era empreendedor, como vários outros brasileiros.

Para ajudar a trabalhar na entrega de pizzas, chamou o irmão mais novo, que ainda morava no Brasil. Ele tinha esse irmão, que era o do meio, e mais uma irmã, a caçula. O irmão do meio, mais dedicado aos estudos, havia passado em dois vestibulares. Nessa época, passar em um vestibular ainda era uma grande realização, pois não havia a quantidade imensa de faculdades do tipo "pagou-passou" como hoje.Ele havia sido aprovado em Química, em uma faculdade pública, e em Direito, em uma faculdade privada, mas bem conceituada.

O desejo do irmão do meio era cursar a faculdade de Direito, mas se via impossibilitado, pois não podia pagá-la. Eles haviam perdido o pai ainda jovem. A pensão que a mãe recebia não dava para muita coisa. Apenas para viver dignamente. Então o irmão do meio cursava a faculdade pública, mesmo sendo um curso que não o conquistava.

O irmão do meio decidiu jogar tudo para cima e viajou para os Estados Unidos. Antes de 2001 era mais fácil conseguir vistos para entrar no país. Ele também entrou na atividade da entrega de pizzas, junto com o "brother" mais velho. O dinheiro começou a entrar. Tempos depois foi a vez de chamar a irmã caçula também para se mudar para lá. Do mesmo modo, ela deixou o Brasil em busca de trabalhos mais rentáveis.

O irmão do meio, mais estudioso, fez diversos cursos. Fez faculdade de administração, pagando do próprio bolso. Nada de ajuda do governo americano. Todos os três continuavam ganhando dinheiro, mas continuavam na condição de imigrantes ilegais. Sem direito a saúde, educação ou apoio governamental. Mas pagando impostos.

Anos se passaram. Depois de uma relação tumultuada com uma mexicana, o irmão mais velho reencontrou uma ex-namorada brasileira. A energia do reencontro foi forte. Mesma língua, mesma cultura, até a confiança em alguém que ele conhecera no passado, em sua terra natal. A mesma saudade do dendê e do acarajé. Ficaram juntos. Tiveram um filho que nasceu em solo americano. Americaníssimo o garoto. Mais uma contribuição para o crescimento do país.

O irmão do meio, por sua vez, depois de algumas namoradas, caiu de amores por uma inglesa já naturalizada americana. Entre os participantes do eixo EUA-Canadá-Reino Unido-Austrália é tudo mais fácil. Estão todos debaixo da mesma coroa. Ele se casou com a inglesa e automaticamente virou cidadão americano.

O irmão mais velho, a mulher e o pequeno filho se cansaram daquela vida. Sem poder sair do solo americano, sem poder levar levar o filho para conhecer o país dos seus pais. Sem direito algum dentro de um pais estrangeiro. Decidiram voltar para o Brasil. Voltar para Pindorama. Recomeçar a vida, agora uma família. Tudo seria mais fácil. Eles se achavam mais fortalecidos.

Voltaram.

(Não acabou. Continua no post abaixo)

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