29.11.07

Não são somente os cubanos

Continuação

Primeiros dias de reencontros e festas. A família dela era maior. Ela tinha passado menos tempo fora do Brasil, tinha laços de amizade mais intensos. Ele tinha família menos numerosa e poucos amigos restavam em sua lista desatualizada de telefones. Mas os parentes queriam mesmo era conhecer o pequeno americano de sangue brasileiro.

Chegou a hora de procurar trabalho. A boa reserva financeira que trouxeram não duraria a vida toda. Foi aí que começou a dificuldade. Toca a procurar emprego. Não achavam nada que pagasse mais que dois salários mínimos. Uma miséria em relação ao que estavam acostumados a ganhar. Um terror. Viram a vida cair vertiginosamente de padrão. Nada mais de eletrodomésticos de última geração. As compras no supermercado ficaram caras demais. O plano de saúde estava fora do alcance.

O trabalho que ele mais gostou foi em uma escola de mergulho. Além de administrar o escritório, ele conheceu muitas pessoas e ainda tomou curso de mergulho profissional. Foi algo que iria lher servir mais do que ele poderia imaginar.

A insatisfação profissional foi crescendo. Começaram a ficar preocupados com o futuro do filho. Afinal, ele era americano, teria direito a maiores possibilidades. Quando o irmão do meio ligava de lá para conversar, a dor no peito aumentava. O arrependimento crescia vertiginosamente. Em um ímpeto decidiram voltar.

Como?

O filho era americano. Para a mãe ainda seria possível retornar, pois o visto para os Estados Unidos, apesar de difícil de ser conseguido, normalmente permite múltiplas entradas no país e tem duração longa. Ainda estava na validade. Para ele, no entanto, seria impossível.

Foi então que lembraram dos vários casos de imigrantes que entravam nos Estados Unidos ilegalmente via México. Um particularmente havia marcado a lembrança. O imigrante havia entrado nadando no país. Um barco o deixou perto da costa e o imigrante seguiu batendo braços e pernas na água. Não eram somente os cubanos que faziam isso. Talvez fosse a única solução, uma vez que as entradas terrestres estavam mais que vigiadas.

Ele resolveu então tentar do mesmo modo. Nadando. O curso de mergulho seria mais do que útil nesse momento. Ela chorou, achou que ele poderia morrer. Mas aceitou, não tinha uma outra possibilidade.

Compraram as passagens. O visto para o México ainda não era obrigatório como hoje. Ele viajou direto para lá, enquanto ela partiu para os Estados Unidos com algumas roupas e documentos dele. No México ele pagou alguns milhares de dólares para um homem que organizaria tudo.

O barco o deixou a uma distância da praia que seria impossível para alguém com pouco fôlego e sem preparo. Na praia, exausto, caminhou até encontrar o próximo vilarejo e um telefone público. Para ligar para o irmão.

- Cheguei. Estou bem. Venha me pegar.

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