Minha rua começa em um bairro rico. Cheio de casas grandes e confortáveis. Separadas por um viaduto que cobre um imenso vale, que isola endinheirados do resto da cidade.
Minha rua continua a voar, o viaduto pousa sobre uma via importante, caminho de belezas e luxos. Aquela que o metrô segue verde, oculto nas profundezas, sem escolhas, sem desvios.
Minha rua corta e contorna um encontro das Naçõoes Unidas, um emaranhado de prédios, casas de gente do mundo inteiro.
Minha rua prossegue, mostra sua história real, as casas antigas, os abrigos dos perdidos, dos problemáticos, dos que vivem em extremos, em paradas frequentes, carros e sirenes barulhentos, médicos e policiais.
Minha rua é conciliadora e passa por templos de deuses que vivem sem conflitos. Mas quem causa conflitos não são os deuses, ora pois. São os que buscam nos deuses, pobres desculpas, apoio para prepotências.
Minha rua não para, segue o fluxo e se transforma de novo, são lojas de móveis e decorações, margeando o centro do dinheiro, das gravatas e dos passos rápidos.
Minha rua vai até o grande mercado, agora das carnes, dos peixes e dos verdes. Da comida feita para encantar. Logo, logo, chegam prédios vermelhos, varandas, calmas, e praças.
Minha rua vai trocando de roupa no caminho, vai ganhando máquinas e desvios, marcas de índios, enquanto perde buracos. Ela não está pronta, está atrasada, quando bicicletas e volantes têm pressa.
Minha rua não é minha, é bom deixar claro. É da cidade, é de todo mundo, é de quem chegar, de quem quiser e souber usar, como qualquer outro lugar.
Minha rua vai descendo, vai parando na beira do lago, um descanso da cidade. Mas não é ali que ela termina. É ali que ela começa. Ou é assim que os homens quiseram e disseram.
Para lembrá-la que é na água que tudo inicia e não onde acaba.
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