Andar de ônibus em Salvador é sempre uma viagem. Nos dois sentidos, o do deslocamento e o da constatação que sempre ocorrem fatos inusitados, às vezes bizarros, às vezes de beleza arrebatadora das pessoas, ruas, encostas e águas, que atravessa os vidros das janelas e fecunda a mente do viajante.
Os vendedores estão com entrada restrita nos ônibus. De cara, há o aviso que proíbe a carona. Mas eles não são os que mais incomodam os passageiros. O mais estranho - e incômodo – é a fauna bizarra de loucos, de físico doente ou não. Tipos que freqüentam sempre gratuitamente os ônibus, amparados pela bondade dos motoristas.
Eta gente que sofre, passageiros e caronistas. A população da cidade parece pagar por pecados cometidos por não se sabe quem. Salvador é a única, entre as grandes cidades brasileiras, a não contar com um mísero quilômetro de metrô, há séculos presente em outros países e cidades. As pessoas vivem indefesas de um lado para o outro sacolejando em ônibus velhos e desconfortáveis.
O que alivia é a beleza da orla marítima, que faz o passeio de ônibus trazer o brilho do mar para os olhos. Em inverno suave, há o sol que se arrisca de longe com a brisa fresca. O cheiro do acarajé que se dissolve nas esquinas. A beleza do povo que caminha sentindo o cheiro do sal e dos mariscos. Os pescadores que puxam juntos o barco do mar, como se fosse uma lança. O berço da tradição da cidade que reduz a pressa dos carros. A claridade que quase ofusca a preguiça que o calor traz. Bem-estar das cores. A orla da cidade.
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