15.8.05

Problema antigo

A peça A Invasão, de Dias Gomes, está em cartaz até o próximo final de semana na Escola de Teatro, no Canela. A encenação é o resultado de disciplina de conclusão de graduação de alguns atores.

O texto, encenado pela primeira vez em 1962, é atualíssimo. Segundo a sinopse dos jornais “trata da ocupação de um prédio por um grupo de sem-teto”. Ao ler isso, pensei que se tratava de uma releitura, uma adaptação de texto aos acontecimentos dos nossos dias. Que nada. É o texto original.

Os sem-teto e suas ocupações são um nó mais antigo do que eu imaginava. Dias Gomes elaborou um texto muito bacana, com vários personagens, quase uma novela. Há momentos de emoção nas famílias que passam a morar na invasão, seja fugindo da seca ou da pobreza, com as poucas opções que lhes restam na vida. Há ataques dos policiais que querem retirar os invasores. Há o político que aproveita para exercer a demagogia e ganhar votos. Há o intermediário que cobra aluguel dos sem-teto. Há o malandro que sonha ficar rico cantando. Há o louco que se acredita profeta visionário.

Todos esses personagens, freqüentes nos imóveis ocupados e nos jornais da atualidade, já existiam antes do golpe de 64 e da ditadura. Nada foi resolvido. Há poucos dias, o Caderno 10 de A Tarde, voltado ao público juvenil, publicou uma reportagem muito interessante, na qual traçava perfis de moradores jovens dos prédios invadidos.

A dureza é pensar que, em um país que se enriquece mais a cada dia, a situação permanece idêntica, com o agravante de presenciarmos a ruína das esperanças políticas.

A direção de A Invasão é de Harildo Déda. No elenco, alguns destaques promissores. Outros, menos eloqüentes.

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