Depois de mais ou menos um ano, fui ver novamente Esse Glauber , no Theatro XVIII, que eu tinha visto logo depois da estréia. Desta vez, achei que os desempenhos dos atores quando cantam está bem melhor, com mais segurança e leveza.
Na atuação, R. Assemany, como sempre, brilhando, emocionando e arrasando no papel da cordeira (aquela que segura a corda do bloco de Carnaval) Todo Mundo. D. Lopes conduz o papel do cordeiro Qualquer Um com muito talento, cheio do molejo de um baiano “típico”. O texto é primoroso, a peça merece ser vista mais de uma vez, para permitir a absorção de mais informações. A crítica é pesada à indústria baiana do entretenimento carnavalesco.
Esse Glauber é um espetáculo para quem quer conhecer mais da Bahia que fica ofuscada pelas luzes das festa do Carnaval e para saber mais da população de cedeu espaço nas ruas aos camarotes. A praça, antes palco de festas animadas, já não é mais do povo.
A Bahia que, em Estados como São Paulo, virou sinônimo de preguiça e burrice, mas que serve de balneário concorridíssimo entre os mesmos paulistas. A Bahia que paradoxalmente é objeto de escárnio e de desejo. “Quem desdenha, quer comprar”, dizia o meu pai.
As músicas e as epístolas a Glauber Rocha são um capítulo à parte. Os atores se despem momentaneamente dos personagens e se tornam cantores e oradores vigorosos. A direção musical de Jarbas Bittencout é responsável por grandes momentos. Aplaudi o espetáculo, novamente, de pé e com vontade.
Uma provinha de A. Franco:
Canção da Vida de Camarote
"Quando eu morrer
Eu não quero ir pro céu
Quero ir prum camarote (...)
(balançar o meu chicote)
Vivo eu não entro
eu não tô no poder
Não sou gostoso
nem ganho pra ver,
Não sou modelo
Nem ator de TV
Como é que eu entro?
Só se eu morrer
(...)
Num camarote
Não existe "pobrema"
A vida lá é melhor que cinema
tudo de grátis com vista pro mar
é só morrendo que eu vou frequentar."
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