Uma pessoa ganha um prêmio em dinheiro. Um bom prêmio, mas não estratosférico. Uma grana que, se bem administrada, dá pra viver o resto da vida sem fazer muito esforço. A pessoa é merecedora do prêmio. Leva uma vida ascética e quase monástica, na qual o trabalho realizado tem um caráter humanitário que, somado às características expansivas pessoais, confere um carisma que não se encontra facilmente na ruas e nos cantos escuros da sociedade.
Com o prêmio, a pessoa ajuda alguns irmãos e parentes da extensa família. Procura se aproximar mais ainda das pessoas. De repente ocorre o escândalo. Um parente de segunda geração, um sobrinho pelo qual a pessoa tinha o maior carinho, entra na justiça alegando ser detentor de metade do prêmio. Na justiça! Solicitando inclusive o bloqueio dos bens adquiridos depois da premiação, e do restante do dinheiro ganho. A alegação foi que havia depositado, em certa época, um dinheiro - prontamente devolvido -, na conta da pessoa.
Anos antes, a pessoa havia ajudado o familiar. Antes mesmo de ganhar o prêmio. Ela o tinha como um filho. Nos bastidores sabe-se que o tal familiar tinha andado pelo exterior, onde ganhou muito dinheiro e suspeita-se, quase certeza, de forma e com substâncias ilícitas.
A vida é um filme. Fiquei impressionado. E triste por ter um exemplo tão torpe de ser humano rodeando uma pessoa conhecida.
O ser humano precisa resgatar urgente os seus valores. Não os monetários. Os humanos.
Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
30.4.06
29.4.06
28.4.06
Mais gente
Ele chegou ainda bebê, com passos titubeantes amparando novas descobertas. O amarelo dos olhos compartilha a cor do tom mais escuro do pêlo. As patas brancas formam luvas compridas, que se emendam com a barriga recoberta de pêlos cor de neve. Sempre alvos, como só os gatos conseguem manter, com o providencial auxílio dos banhos de língua.
Logo no início ele despertou o ciúme dos outros. Miados se tornaram quase rugidos dos donos da casa. O pequeno, com a inocência das crianças, parecia imune às hostilidades. Nada abalava o seu apetite, entregava-se ágil à comida oferecida. Alguns dias depois, uma surpresa. A gata o adotou. Saudosa da ninhada que foi distanciada dela, recolheu o novato e passou ao chamego total. Ele não é filho, mas é neto. Filhote de uma das gatas da ninhada do ano passado.
Ao observar com mais cuidado, notei que o filhote passou a recorrer com freqüência às tetas da avó castrada e gorda. Curioso, fui checar. Incrivelmente havia leite. Em minha ignorância, eu imaginava que uma gata castrada fosse incapaz de produzir alimento para filhotes.
O veterinário me esclareceu a situação. Assim como nos humanos, o leite não é produzido pelo ovário, mas por outra glândula, se não me engano a hipófise, localizada no cérebro. E o que causa a produção do leite é o estímulo da sucção do filhote. Fiquei sabendo também que no reino animal até os machos podem produzí-lo.
O filhote agora está gordinho e grande. E ainda vai buscar a teta para mamar. A natureza é mais sábia que a gente pensa.
Ah, o nome dele é Cuca Lilico. Acredite.
Logo no início ele despertou o ciúme dos outros. Miados se tornaram quase rugidos dos donos da casa. O pequeno, com a inocência das crianças, parecia imune às hostilidades. Nada abalava o seu apetite, entregava-se ágil à comida oferecida. Alguns dias depois, uma surpresa. A gata o adotou. Saudosa da ninhada que foi distanciada dela, recolheu o novato e passou ao chamego total. Ele não é filho, mas é neto. Filhote de uma das gatas da ninhada do ano passado.
Ao observar com mais cuidado, notei que o filhote passou a recorrer com freqüência às tetas da avó castrada e gorda. Curioso, fui checar. Incrivelmente havia leite. Em minha ignorância, eu imaginava que uma gata castrada fosse incapaz de produzir alimento para filhotes.
O veterinário me esclareceu a situação. Assim como nos humanos, o leite não é produzido pelo ovário, mas por outra glândula, se não me engano a hipófise, localizada no cérebro. E o que causa a produção do leite é o estímulo da sucção do filhote. Fiquei sabendo também que no reino animal até os machos podem produzí-lo.
O filhote agora está gordinho e grande. E ainda vai buscar a teta para mamar. A natureza é mais sábia que a gente pensa.
Ah, o nome dele é Cuca Lilico. Acredite.
23.4.06
Chuva e cinema
Final de semana chuvoso, a população de Salvador, sem saber o que fazer, deslocou-se para os shopping centers, que ficaram entupidos de gente. Até as primeiras sessões de cinema da tarde estão com ocupação maior que o normal. Atualmente são as minhas favoritas. Além de mais vazias, custam quase a metade do preço. Não sei por que cargas d’água os donos de cinema não fizeram essa redução de preço antes. Melhor aumentar a freqüência, a preço mais baixo, do que ficar com o cinema vazio.
Vi Armações do Amor (Failure to Launch, EUA, 2006), com Sarah Jessica Parker e Mattew Matthew McConaughey. Comédia romântica sobre um trintão (McConaughey) que não quer sai da casa dos pais. Dispostos a se livrar do filho, eles contratam uma mulher (Parker) para conquistá-lo e tirá-lo de casa.
A grande curiosidade do filme é ver Sarah Jessica Parker atuar no cinema depois do sucesso do seriado Sex And The City. E ela não desaponta. É a mesma personagem, só que um pouco mais contida e menos auto-confiante que no seriado. Especial para agradar aos fãs - que esperam um replay de Carrie Bradshow - ou pouca versatilidade da atriz?
O outro filme foi Sra. Henderson Apresenta ( Mrs. Henderson Presents, Inglaterra, 2005), com direção do ótimo Stephen Frears e com Judi Dench no papel-título. Uma viúva rica compra um teatro e aproveita uma brecha nas leis inglesas da década de 1940 para produzir peças com cenas de nudez. Judi Dench dá um show de interpretação em um ótimo papel cômico.
O filme é um comédia inteligente e engraçadíssima com aquele humor inglês irônico e refinado. Teve duas indicações para o Oscar: Melhor Atriz (Judi Dench) e Melhor Figurino. Interessante por mostrar os bastidores do teatro musical na época da Segunda Guerra Mundial, quando os espetáculos tinham que conviver com as bombas nos arredores.
Vi Armações do Amor (Failure to Launch, EUA, 2006), com Sarah Jessica Parker e Mattew Matthew McConaughey. Comédia romântica sobre um trintão (McConaughey) que não quer sai da casa dos pais. Dispostos a se livrar do filho, eles contratam uma mulher (Parker) para conquistá-lo e tirá-lo de casa.
A grande curiosidade do filme é ver Sarah Jessica Parker atuar no cinema depois do sucesso do seriado Sex And The City. E ela não desaponta. É a mesma personagem, só que um pouco mais contida e menos auto-confiante que no seriado. Especial para agradar aos fãs - que esperam um replay de Carrie Bradshow - ou pouca versatilidade da atriz?
O outro filme foi Sra. Henderson Apresenta ( Mrs. Henderson Presents, Inglaterra, 2005), com direção do ótimo Stephen Frears e com Judi Dench no papel-título. Uma viúva rica compra um teatro e aproveita uma brecha nas leis inglesas da década de 1940 para produzir peças com cenas de nudez. Judi Dench dá um show de interpretação em um ótimo papel cômico.
O filme é um comédia inteligente e engraçadíssima com aquele humor inglês irônico e refinado. Teve duas indicações para o Oscar: Melhor Atriz (Judi Dench) e Melhor Figurino. Interessante por mostrar os bastidores do teatro musical na época da Segunda Guerra Mundial, quando os espetáculos tinham que conviver com as bombas nos arredores.
O peixe na rede
Fazendo busca no contador de acessos do blog, verifiquei que uma pessoa o acessou por meio da consulta “Origem da receita de peixe na folha de bananeira” no Google. O post sobre o assunto está logo aí abaixo.
Refiz a pesquisa e descobri várias coisas interessantes. No Sul do Brasil também há costume de assar peixe em folha de bananeira. Na foto ao lado há algo dessa categoria. Mas só na Bahia há a presença do dendê.
Continuei a acessar a listagem da pesquisa no Google e verifiquei que o Festa dos Sentidos estava em mais outro resultado. Como eu havia notado outras vezes, boa parte dos visitantes que chega aqui via pesquisa vem procurando alguma coisa sobre culinária baiana.
Mas o mais interessante foi achar um link para o site da Faculdade em que estudei. O link levava para um trabalho de reportagens feito sobre o dendê. Feito por quem? Por mim. Eu sabia que o trabalho estava disponível on-line, só não sabia onde achá-lo. Na verdade nunca nem havia procurado. O site da Faculdade é um verdadeiro labirinto. Cheio de mistérios e monstros, difícil de encontrar alguma coisa. Tenho medo de me perder ali e dar de cara com algum minotauro da semiótica, estética ou cibercultura.
O trabalho pode ser acessado aqui. A primeira parte é um relato sobre a confecção do próprio trabalho, chamado de memória. O nome do arquivo é o do meu orientador, atual diretor da Faculdade.
Refiz a pesquisa e descobri várias coisas interessantes. No Sul do Brasil também há costume de assar peixe em folha de bananeira. Na foto ao lado há algo dessa categoria. Mas só na Bahia há a presença do dendê.
Continuei a acessar a listagem da pesquisa no Google e verifiquei que o Festa dos Sentidos estava em mais outro resultado. Como eu havia notado outras vezes, boa parte dos visitantes que chega aqui via pesquisa vem procurando alguma coisa sobre culinária baiana.
Mas o mais interessante foi achar um link para o site da Faculdade em que estudei. O link levava para um trabalho de reportagens feito sobre o dendê. Feito por quem? Por mim. Eu sabia que o trabalho estava disponível on-line, só não sabia onde achá-lo. Na verdade nunca nem havia procurado. O site da Faculdade é um verdadeiro labirinto. Cheio de mistérios e monstros, difícil de encontrar alguma coisa. Tenho medo de me perder ali e dar de cara com algum minotauro da semiótica, estética ou cibercultura.
O trabalho pode ser acessado aqui. A primeira parte é um relato sobre a confecção do próprio trabalho, chamado de memória. O nome do arquivo é o do meu orientador, atual diretor da Faculdade.
14.4.06
Moqueca de peixe na folha
Há um prato na culinária baiana pouco conhecido, até mesmo em Salvador. A iguaria tem origem no Sul da Bahia e, pelas características, parece reunir influências africana e indígena. O prato é chamado de Moqueca de peixe na folha. A maiúscula é minha, uma pequena homenagem.
Um dos poucos livros de cozinha baiana, em que há registro da receita, é aquele de Paloma Jorge Amado, no qual ela reúne os pratos citados pelo pai em seus livros.
Toma-se um peixe carnudo e saboroso, de preferência o robalo. Tira-se a espinha central e aquela superior, que sustenta a barbatana. A cabeça é mantida. Prepara-se o tempero e deixa-se marinando por um tempo.
Perto da hora de assar, faz-se uma farofa úmida com um pouco de dendê e aproveitando os temperos da marinada. Envolve-se o peixe até que a massa fique com a espessura de um dedo. A seguir o peixe deverá ser empacotado em folhas de bananeira, amarrado por barbantes e levado ao forno.
A farofa torna-se uma massa deliciosa que lembra um pirão com crosta crocante. Se a farofa for mais seca, o revestimento ficará mais crocante. Se for mais úmida, o resultado lembrará um pirão saboroso. Bom dos dois jeitos.
Na hora de servir parte-se o peixe em fatias. No prato chegam os pedaços de carne branca do rei robalo, acompanhado do amarelo do dendê. O robalo é uma delícia que habita as águas dos encontros de rio e mar.
O prato tem características indígenas, pois é assado em folhas de bananeira. O dendê é a colaboração africana. E não adianta substituir o invólucro pela praticidade e modernidade do papel alumínio. O sabor não será o mesmo, pois as folhas transferem parte do seu sabor para o assado.
Tenho o privilégio de pertencer a uma família sul-baiana que prepara essa receita. Desde que os meus avós e tios-avós moravam na Fazenda Cachoeira, na estrada que liga Ilhéus a Itabuna.
A Moqueca de peixe na folha foi o prato de resistência do almoço da Sexta Santa. Os dois robalos assados sumiram questão de minutos. Ainda ficaram o vatapá, o caruru, o camarão, a moqueca de bacalhau, a moqueca de peixe, o feijão de leite. Uma lista quase sem fim. Mas isso é uma outra história.
Um dos poucos livros de cozinha baiana, em que há registro da receita, é aquele de Paloma Jorge Amado, no qual ela reúne os pratos citados pelo pai em seus livros.
Toma-se um peixe carnudo e saboroso, de preferência o robalo. Tira-se a espinha central e aquela superior, que sustenta a barbatana. A cabeça é mantida. Prepara-se o tempero e deixa-se marinando por um tempo.
Perto da hora de assar, faz-se uma farofa úmida com um pouco de dendê e aproveitando os temperos da marinada. Envolve-se o peixe até que a massa fique com a espessura de um dedo. A seguir o peixe deverá ser empacotado em folhas de bananeira, amarrado por barbantes e levado ao forno.
A farofa torna-se uma massa deliciosa que lembra um pirão com crosta crocante. Se a farofa for mais seca, o revestimento ficará mais crocante. Se for mais úmida, o resultado lembrará um pirão saboroso. Bom dos dois jeitos.
Na hora de servir parte-se o peixe em fatias. No prato chegam os pedaços de carne branca do rei robalo, acompanhado do amarelo do dendê. O robalo é uma delícia que habita as águas dos encontros de rio e mar.
O prato tem características indígenas, pois é assado em folhas de bananeira. O dendê é a colaboração africana. E não adianta substituir o invólucro pela praticidade e modernidade do papel alumínio. O sabor não será o mesmo, pois as folhas transferem parte do seu sabor para o assado.
Tenho o privilégio de pertencer a uma família sul-baiana que prepara essa receita. Desde que os meus avós e tios-avós moravam na Fazenda Cachoeira, na estrada que liga Ilhéus a Itabuna.
A Moqueca de peixe na folha foi o prato de resistência do almoço da Sexta Santa. Os dois robalos assados sumiram questão de minutos. Ainda ficaram o vatapá, o caruru, o camarão, a moqueca de bacalhau, a moqueca de peixe, o feijão de leite. Uma lista quase sem fim. Mas isso é uma outra história.
Prêmio de teatro
O Prêmio Braskem deste ano coroou o trabalho do diretor João Lima e do ator Lúcio Tranchesi, de O Sapato do Meu Tio, uma beleza de peça clown que diz muito sobre a aprendizagem. Diz não, apresenta. Ou representa. Não há falas e o espetáculo é majestoso, lírico e delicado, de levar às lágrimas. É a história de um palhaço mambembe (Tranchesi) que passa o conhecimento do seu ofício para o sobrinho, vivido por Alexandre Casali, que também seria merecedor da premiação de melhor ator.
É interessante que o espetáculo, sem nenhuma palavra articulada, também concorreu ao prêmio de melhor texto. Coerência ou falta de opção para indicações? Não sei responder.
A apresentação do prêmio foi ágil e dinâmica, sem se tornar chata por muitos falatórios. Gostei das imagens de Sofia Federico e dos dançarinos no palco. A arte teatral está nos premiados, não era preciso de mais espetáculo no palco.
Achei o coquetel fraco em relação aos anos anteriores. Bebidas à vontade, mas a comida estava regrada. Apesar de ter tomado somente 3 doses de uísque, acordei no dia seguinte meio ressaqueado. Acho que o rótulo de escocês era uma farsa.
Estou em Ilhéus, teclando depois do lauto almoço da Sexta-feira Santa.
É interessante que o espetáculo, sem nenhuma palavra articulada, também concorreu ao prêmio de melhor texto. Coerência ou falta de opção para indicações? Não sei responder.
A apresentação do prêmio foi ágil e dinâmica, sem se tornar chata por muitos falatórios. Gostei das imagens de Sofia Federico e dos dançarinos no palco. A arte teatral está nos premiados, não era preciso de mais espetáculo no palco.
Achei o coquetel fraco em relação aos anos anteriores. Bebidas à vontade, mas a comida estava regrada. Apesar de ter tomado somente 3 doses de uísque, acordei no dia seguinte meio ressaqueado. Acho que o rótulo de escocês era uma farsa.
Estou em Ilhéus, teclando depois do lauto almoço da Sexta-feira Santa.
8.4.06
Em dias
Consegui sobreviver à poeira e ao cheiro das tintas. Empurra móvel para lá e para cá, coloca as coisas dentro de caixas, cobre tudo com lona plástica. Como nenhum acontecimento chega sozinho, a pintura do apartamento ocorreu na mesma semana que as aulas do curso de pós-graduação começaram.
Agenda, pasta, crachá, carteira, chaves, objetos pessoais tinham que ficar em um local muito bem reservado, pois eu corria o risco de enlouquecer, caso não achasse alguma coisa necessária para sair de casa e conseguir chegar ao trabalho e às aulas.
Os gatos também sobreviveram à confusão. Acho que até gostaram, pois passearam bastante por cima e por dentro das montanhas negras formadas pela lona.
Neste semestre não estou fazendo teatro. E estou morrrrrrrendo de preguiça de estudar. No primeiro módulo tive aulas com uma excelente professora da USP, que é a papisa da comunicação organizacional aqui no Brasil.
Agora no segundo módulo, as aulas do professor são bem interessantes e divertidas. Ele é inteligentíssimo, culto, teatral e quase um comediante. O que não gosto muito no curso de forma geral é a ênfase nos aspectos da Administração. Palavras como gestão organizacional e planejamento estratético parecem doce na boca dos professores. Fico meio enjoado, pois é um discurso que canso de ouvir lá no trabalho.
Eu preferiria estar estudando cultura, cinema, teatro ou literatura. Só que esses temas têm poucas ofertas de cursos lato senso. Mas, enfim, estudar é preciso, sempre. E tenho que admitir que o curso está efetivamente relacionado com o meu trabalho.
De resto, sou quase uma assombração na sala. São só três homens perdidos num mar de quarenta e duas mulheres, entre jornalistas, publicitárias, marqueteiras, relações públicas e até secretárias. Na época da Faculdade, a quantidade de mulheres era maior, mas a diferença não era tão massacrante. Definitivamente faço parte de uma minoria.
Agenda, pasta, crachá, carteira, chaves, objetos pessoais tinham que ficar em um local muito bem reservado, pois eu corria o risco de enlouquecer, caso não achasse alguma coisa necessária para sair de casa e conseguir chegar ao trabalho e às aulas.
Os gatos também sobreviveram à confusão. Acho que até gostaram, pois passearam bastante por cima e por dentro das montanhas negras formadas pela lona.
Neste semestre não estou fazendo teatro. E estou morrrrrrrendo de preguiça de estudar. No primeiro módulo tive aulas com uma excelente professora da USP, que é a papisa da comunicação organizacional aqui no Brasil.
Agora no segundo módulo, as aulas do professor são bem interessantes e divertidas. Ele é inteligentíssimo, culto, teatral e quase um comediante. O que não gosto muito no curso de forma geral é a ênfase nos aspectos da Administração. Palavras como gestão organizacional e planejamento estratético parecem doce na boca dos professores. Fico meio enjoado, pois é um discurso que canso de ouvir lá no trabalho.
Eu preferiria estar estudando cultura, cinema, teatro ou literatura. Só que esses temas têm poucas ofertas de cursos lato senso. Mas, enfim, estudar é preciso, sempre. E tenho que admitir que o curso está efetivamente relacionado com o meu trabalho.
De resto, sou quase uma assombração na sala. São só três homens perdidos num mar de quarenta e duas mulheres, entre jornalistas, publicitárias, marqueteiras, relações públicas e até secretárias. Na época da Faculdade, a quantidade de mulheres era maior, mas a diferença não era tão massacrante. Definitivamente faço parte de uma minoria.