29.3.05

Festa na cozinha
No último dia de férias, resolvo cozinhar. O frango temperado, tipo chester, com batatas cozidas e risoto al pomodoro ficou mais de duas horas assando. Adicionei suco de laranja, ervas finas secas e um pouco de curry. Ficou bom, mas meio salgado. E olha que eu não havia colocado nada, o sal foi todo do tempero da ave. Que absurdo, comida industrializada sempre é muito salgada, pois ajuda a conservar o alimento.

Para acompanhar, um tinto cabernet sauvignon. Nacional, bom aroma, mas achei o sabor meio ruinzinho, ácido na ponta da língua, parecendo que a fermentação passou do ponto.

E o presidente Lula ainda quer que as empresas brasileiras invistam forte na exportação. Fica difícil, com tanto imposto no país. Os vinhos argentinos e chilenos, de boa qualidade, estão chegando e enchendo as prateleiras dos hipermercados a preços bem convidativos. Os nacionais melhorzinhos custam mais caros que os similares importados. Mesmo no Rio Grande do Sul, onde são produzidos, os preços são praticamente os mesmos daqui.

27.3.05

Coisas dos lugares

Alguns rápidos dias em Salvador e viajo para Ilhéus, de onde teclo agora em um internet café. As férias vão chegando ao fim. Que pena, que pena.

Vejo a terra natal com uma pontinha de melancolia. Uma sensação de não-pertencimento. Mas quem disse que eu quero pertencer a isso aqui? Sou da minha casa -onde quer que ela seja - e sou do mundo.

De repente, Porto Alegre volta à mente. Fiquei surpreso ao perceber como a cidade respira literatura. No jornal Zero Hora, o maior da cidade, escreve gente do quilate de Luiz Fernando Veríssimo, Moacir Scliar, Marta Medeiros e Lya Luft. No primeiro final de semana em que estive lá, o jornal abriu espaço para uma reportagem sobre a literatura gaúcha, perguntando a vários os escritores o que eles estão produzindo. E publicando pequenos fragmentos nos novos trabalhos.

Cada dia acredito com mais intensidade que cada local tem uma vertente cultural que se destaca sobre as outras. Assim, a Bahia teria a música como a mais proeminente. A de Porto Alegre parece ser a literatura.

26.3.05


Casa de Cultura Mário Quintana

De volta ao país

O retorno a Porto Alegre foi de ônibus da ótima empresa EGA. A indicação foi do site O Viajante. Nunca vi em ônibus brasileiros - e atualmente nem nos aviões - um atendimento tão bom. Das oito da noite às oito da manhã do dia seguinte foram servidos lanche, jantar e café da manhã.

A explicação parecer ser que os argentinos e uruguaios têm costume de realizar viagens e excursões rodoviárias longas, principalmente ao Brasil, e, por conta disso, organizam tratamentos diferenciados. Havia um "comissário de bordo" circulando o tempo todo, distribuindo comida, bebida, travesseiros e outros mimos. Fantástico.

Em Porto Alegre, somente um dia e meio de estadia. Revivência de restaurantes já experimentados: Ateliê de Massas e Brasa Grill. Saída para dançar. Tarde no Centro Cultural Mario Quintana, um belo prédio que homenageia o poeta mais querido dos gaúchos.

O Centro funciona no antigo Hotel Majestic, onde o poeta morou. O quarto 217 é mantido intacto, da forma que Quintana o utilizava. As duas alas do edifício são unidas por passagens nos pisos superiores, o que forma uma praça no térreo, com cafés, cinemas e museu. Um oásis no calor de Porto Alegre, uma das melhores opções da cidade. É de dar saudade.

23.3.05

Cantor e pensador

O cantor e compositor - ou melhor, o cantautor, como se diz em espanhol - Jorge Drexler, natural do Uruguai, virou celebridade com direito a ser recebido pelo presidente do país, Tabaré Vazquez, depois de receber o Oscar de melhor canção por "Al otro lado del rio", de Diários de Motocicleta.

Residente na Espanha, ao visitar Montevidéu, Drexler deu entrevista ao El País local (isso mesmo, o maior jornal de lá tem o mesmo nome do grande períodico espanhol). Ele disse que entre as suas maiores influências estão Caetano e João Gilberto. E ainda falou que a produção do Oscar tinha pedido que ele indicasse quatro intérpretes para a sua canção. Na lista estava o baiano de Santo Amaro. Só não estava o ator Antônio Banderas.

Ao ser perguntado sobre como se sentiu na cerimônia, ele saiu com uma resposta genial: "A la ceremonia de los Oscar acudí como un antropólogo que va a estudiar una tribu perdida en el Amazonas: con muchísima curiosidad y sabiendo que ese mundo no es ni será el mío".

Cabra booom! É legal prestar atenção no trabalho dele.

Casa Pueblo

Em Montevidéu, frente às poucas opções atraentes no centro, a melhor pedida foi escolher os passeios de city-tour. Fui então a Punta del Este, a 150 km da capital do Uruguai, famoso balneário internacional, em que as ruas têm nomes do tipo Beverly Hills e Miami Beach. Tudo dolarizado, para milionários de outros países.

A melhor coisa do passeio a Punta foi a visita à casa do pintor, escultor e escritor uruguaio Carlos Paez Vilaró. Aos 81 anos, o artista já montou o seu museu em vida: a Casa Pueblo, em Punta Ballena, debruçada sobre o mar, um pouco antes do balneário. A casa, que também é residência do pintor e hotel, é toda branca e de linhas curvas. Lembra aquelas casinhas gregas incrustadas nos morros sobre as águas.

Vilaró chegou a ser aprendiz de Picasso. É autor de painéis em vários aeroportos e conheceu Jorge Amado e Vinícius de Moares. É bastante reconhecido no Uruguai. Só achei meio estranho transformar a sua casa em atração turística, com venda de gravuras em dólares. É, tem artista que sabe ganhar dinheiro.

Em Punta del Este, as mansões são atrações turísticas. A guia sabia as que pertenciam aos ricos brasileiros, inclusive a do ex-presidente e detonado Collor, uma das mais bonitas e luxuosas. Fiquei me perguntando como os ricos chegam até lá, já que o clima no Brasil é mais propício ao veraneio. A explicação veio de alguém próximo: evasão fiscal. Para se estabeler em um local distante como aquele, com certeza há uma série de vantagens fiscais. A casa provavelmente não entra no rol de bens do imposto de renda.

16.3.05

No Uruguai

De Buenos Aires decido ir a Montevidéu de barco. De "Buquebus", empresa que transporta passageiros pelo Rio da Prata em grandes ferry-boats. Um pouco mais caro que a viagem de onibus, mas vale a pena. Super confortavel, todo acarpetado, com free shop e tudo. Os 200 km de distancia marítima entre as duas capitais sao vencidos em 3 horas de viagem. Os barcos sao um pouco menores do que fazem a travessia do Canal da Mancha, entre Franca e Inglaterra, que transportam até onibus.

Depois desta viagem ao Cone Sul, estou quase me convencendo que o turismo é uma atividade só da terceira idade. Por onde quer que se olhe, há um monte de velhinhos - principalmente estrangeiros - viajando para lá e para cá. Filhos criados e se virando, a aposentadoria sobra para os passeios. Bem melhor que ficar em frente da TV o dia todo, com certeza. O problema é que eles sempre demoram nas filas, fazem um monte de perguntas, deixando atendentes e os demais turistas beirando a irritacao. Mas temos que ter paciencia, afinal todos nos chegaremos lá, mais cedo ou mais tarde.

Os uruguaios sao mais parecidos fisicamente com os brasileiros do que os portenhos. Montevideu nao é tao agitada como Buenos Aires e as lojas da cidade sao bem menos luxuosas. O turismo nao é tao intenso. A vantagem é que os precos sao ainda mais baixos, mas a oferta de produtos é menor. Cada real vale quase 10 pesos uruguaios. Estou me sentindo rico. Rárárá.

Comida de viagem

Estou passando muito bem na viagem. Vinhos a precos baixos e comida bastante acessível. Na Argentina me esbaldei nos alfajores, que sao os doces típicos. Dois ou tres biscoitos redondos, com uma camada de doce de leite entre eles e cobertura de chocolate. Imagine que delícia.

O prato tipico do país é a parrillada, que nao é nada mais do que o nosso churrasco. O problema é que de acompanhamento só sao servidas batatas fritas. Haja gordura. Mas o prato que os nossos vizinhos mais se orgulham é o "bife de chorizo", um bifao enorme de contra-filé, quase do tamanho de um prato! E vem sozinho. As batatas fritas tem que ser pedidas à parte. Gostei das "papas souflée", que sao as fritas mais macias, parecem levar um rápido cozimento antes da fritura.

A carne é excepcional. Nunca comi tao macia e saborosa. Vem servida sem nada de sal, que é colocado pelo comensal - a origem do nome deve vir daí. As razoes para a suavidade sao: o bom corte, a raca do gado (a maioria é Red Angus, europeu) e a idade de corte do animal. A "ternera" argentina é mais jovem que o nosso novilho.

As empanadas sao muito marcantes, talvez o prato mais representativo da culinaria criolla. Criollo, diferente do sentido da palavra crioulo no Brasil, é o descendente de europeu nascido na América. As empanadas sao semelhantes a pastéis, massa de farinha de trigo com recheio, e podem ser fritas ou assadas. A maioria é assada. Há lanchonetes fast-food só de empanadas e elas sao deliciosas. Perto do hotel em que estava, havia a Solo Empanadas, e cada uma delas saía por 1,20 pesos, o que equivale a mais ou menos 1,1 real. A de queijo roquefort era uma coisa.

Ainda havia as massas e os vinhos, mas o texto já tá muito longo.

13.3.05

Calle Florida

Festa nas ruas

Estou hospedado em um hotel no centro da cidade, na avenida Corrientes. Bem próximo da famosa Calle Florida, que é um calçadao com muitas lojas e cafés, um shopping a céu aberto. De dia e de noite, muitos artistas se apresentam na Florida: estátuas vivas, dançarinos de tango, músicos peruanos, tocadores de acordeon e até cantores líricos. Achei uma das partes mais interessantes de Buenos Aires.

Os artistas se apresentam e deixam a caixinha para recolher as moedas e notas. Em San Telmo, onde nos domingos os turistas se aglomeram para ver uma famosa feira de antiguidades, os artistas de rua devem ganhar uma grana legal. Na Argentina em crise econômica, há muitos pedintes na rua, a maioria com caras de indígenas ou descendentes deles. Só que é dureza para para um mendigo concorrer pela "plata" com os talentosos das ruas.

8.3.05

Mi Buenos Aires Querido

Depois de um final de semana rápido em Porto Alegre, estou em Buenos Aires. A cidade é muito linda. Parece mesmo uma Paris na América do Sul. A mesma arquitetura, os mesmos cafés, as entradas de metrô iguaizinhas. Por incrível que pareça, a mistura racial parece ser menor que na França. Deve ser porque há menos migraçoes.

Cheguei em um dia muito agradável. Um pouco de frio e chuva em final de verao, que fez as pessoas tirarem os casacos dos armários, embelezando e dando ainda mais elegância âs ruas. Passei a tarde rodando a Calle Florida, um imenso calçadao com lojas e galerias bem bacanas. Dei um pulo rápido em Puerto Madero, o cais do porto reformado que abriga restaurantes e bares super transados.

Um fator muitíssimo legal na viagem é que os custos, tanto em Porto Alegre quanto em Buenos Aires, estao em geral menores que em Salvador. Como a gente paga caro por viver em uma cidade turística! Em Porto Alegre, um espeto corrido - como chamam por lá o churrasco rodízio - delicioso é servido a 13 reais. Na Argentina, por conta da crise econômica, os preços estao mais baixos que no Brasil: roupas, hospedagem e alimentaçao a valores muito convidativos. Imagine chegar em um barzinho transado e tomar meia garrafa de vinho tinto argentino de ótima qualidade a seis pesos, que correspondem a seis reais...

Estou teclando em um internet café, daí a falta do til, que nao consegui achar, apesar da presença do ñ.

4.3.05

Notas pré-viagem
Ando tão ansioso para viajar que não consigo escrever nada. O dia passa e eu sem um pingo de concentração para organizar os pensamentos e para terminar o livro que estou lendo. Fico direto na internet, procurando informações de viagem e lendo o que outras pessoas escrevem em seus blogs.

Estou de férias mas ainda não consegui relaxar totalmente, ando resolvendo mil coisas. Viajar nas férias é indispensável para esquecer o cotidiano. Não precisa nem ir a lugar muito longe. Uma praia tranquila já resolve. Só assim dá prá se desligar por completo.

Não é que sonhei com o trabalho? Sonhei que estava em maus lençóis por alguém me boicotando no serviço. Era justamente exercendo um cargo para o qual estive concorrendo na realidade e não fui selecionado. Uma mensagem que para mim ficou clara. As coisas chegam na hora certa, quando as condições estão favoráveis e quando estamos preparados. Se forem para trazer intranquilidade, melhor não virem. Prefiro paz a dinheiro. E ainda por cima teria que cancelar a viagem. Imagina se eu ia fazer isso...

2.3.05

Boa vida no Caribe
Uma paradisíaca ilha no Caribe é o refúgio de um dos maiores ladrões de diamantes do mundo. Depois de muitos roubos de sucesso, Max Burdett (Pierce Brosnam) vive a aposentadoria com sua mulher Lola (Salma Hayek, de Frida). Mas, cansado da boa vida de praia, sol e música latina, e perseguido por um atrapalhado agente do FBI, o ladrão volta a agir, atiçado pela cobiça de um diamante gigante, que antes nunca fora roubado.

As chamadas na TV e o trailer de Ladrão de Diamantes (After the Sunset, EUA, 2004) levam a crer que se trata de um filme unicamente de ação policial, mas o que se vê na tela é um forte acento de comédia romântica, com várias referências aos filmes do agente 007, alguns dos quais estrelados pelo próprio Pierce Brosnam.

Vale conferir o visual das praias caribenhas, a presença marcante de Salma Hayek, o ator Woody Harrelson no papel do policial trapalhão e as piadas com boas sacadas, que muitas vezes fazem alusão a algum aspecto da realidade dos atores.