25.1.06

O dia seguinte

Hoje eu acordei sentindo falta de alguma coisa. Do frio na barriga, da adrenalina percorrendo os caminhos do sangue. Senti falta dos meus personagens, das minhas falas. Senti falta de estar perto de todos vocês. Senti falta do palco.

Acordei sentindo falta de Dona Mariélia, de Seu Armindo e Dona Rita. De Dona Marilu, de Telma, de Gracinha, de Dona Vilma, de Dona Sheila, de Doutor Ênio, de Doutor João, de Doutor Frederico, do profissionais de RH, do pessoal do escritório, da contabilidade e tantos outros. Acordei sentindo falta daquelas criaturas que a mente fértil de Filinto criou, com a providencial ajuda das suas vivências e das histórias dos seus alunos.

Antes da estréia, as palavras do diretor concretizaram o que eu suspeitava: apesar da longa preparação, no teatro é tudo muito intenso e rápido. O teatro é volátil. O teatro é um perfume no ar. Por isso, tentei absorver cada instante. Tentei domar a insegurança, tentei controlar os pensamentos para não desconcentrar e facilitar a vida do companheiro de cena.

De uma hora para outra, o meu dia de trabalho voltou a ser rotineiro. Com menos luzes, menos cores, com menos caras e bocas, de gestos mais contidos. Um pouco mais triste, mas um pouco mais feliz. Mais alegre por ter realizado algo que nunca me imaginei disposto a fazer. Mais feliz por ter compartilhado com tantas pessoas bacanas tantos instantes em que o companheirismo é tão importante. O teatro definitivamente não é feito por um só. É o maior exemplo de trabalho em equipe. Algo que as empresas deveriam realmente aprender.

Parafraseando Dr. João: "Ao longo desses meses"... aprendi a soltar os braços, a fazer caretas, a me sentir menos desconfortável em tantas situações sociais, de trabalho ou não. Aprendi a descer o barraco. Aprendi a dizer palavras doces. Aprendi novas frases, algumas exaltadas, outras contidas. Por vários momentos fui pessoas que gostaria de ter sido. Em outros, fui pessoas que detestaria ser. Exercitei ser o outro. Fui vários outros que extraí de dentro de mim - e que nunca pensei que existissem.

A vida é uma grande peça teatral em que a gente vai se vestindo e se despindo dos nossos personagens: o profissional, o filho, o amigo, o namorado, o marido, o amante, o colega de trabalho, entre outros tantos. Com a prática do teatro, a mudança de um para o seguinte fica mais rápida e mais tranquila.

Agradeço aos colegas pelos esforços conjuntos, pelas risadas, pelas piadas, pelas horas de alegria. A Filinto, Renan e Nilton pela força e pelo talento de tantas habilidades para conseguir transformar matéria bruta em um espetáculo de muito brilho.

A gente se vê por aí. Beijos e abraços.

E-mail enviado para os colegas e pessoal do “Todo Mundo Faz Teatro”, após a encenação da peça “Trabalhando sem Parar”.

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