Os Filhos de Gandhy mudaram de cor. De negros passaram aos brancos-mauricinhos da Barra-Ondina. Incluindo turistas branquelos. O bloco de estivadores agora é de classe média. A imponência ficou mantida. A troca de colares por beijos também. O circuito da Barra ficou salpicado por turbantes coloridos de azul-marinho. Mais importante do que sair no bloco, no circuito do Pelourinho, é desfilar pela Barra com a tradicional vestimenta azul e branco. E ouviu “Olha o Gandhy aí”. E aspergir a alfazema no ar. Ou no pescoço de alguém. A pobre da cultura popular baiana está ficando cerceada pelos camarotes, pelo turismo e seus números milionários.
As cervejarias não se contentam somente em patrocinar os camarotes e trios. Teve uma que lançou o seu próprio bloco, com atrações nacionais e internacionais. Falcão do Rappa comandando a animação. Fãs enlouquecidos. Débora Secco no trio, posando de esposa devotada, low profile, exibindo apliques de dread locks louros, os famigerados bolos de cabelo grudado. Igualzinha ao maridão-rastaman.
Pessoas pagando para brincar no bloco e bancar propaganda para a empresa. Marca exibida pela Tv em todo o país. Uma jogada de mestre. Vale virar “case” de marketing. Não basta ser folião, tem que colaborar com o caixa da empresa.
Camarotes gigantescos com estrutura profissionalíssima. Todos com pista de dança. Em Ondina, um exemplo vivo do que é o Carnaval baiano. Um camarote tocava um som altíssimo que invadia as ruas. E, enquanto os pagantes estavam no maior marasmo, o povo lá embaixo se esbaldava com as músicas tocadas pelo DJ.
Xanddy vestido de gladiador romano, exibindo o regime que teve que fazer durante todo o ano para poder mostrar o físico na avenida. Ele é bom mesmo no pagode. Quando tenta cantar outra coisa, não tem o mínimo jeito. Pessoas que dançam pagode nas ruas parecem ter molas nos quadris. É impressio-nante.
O psicanalista Wilhem Reich, com a sua proposta de libertação das couraças de energia e da revolução sexual, morreria de fome na Bahia. Não teria necessidade de aplicar os seus exercícios para aqueles foliões.
Daniela Mercury filmada por Monique Gardenberg para chegar ao cinema. Crocodilo lotado de foliões e fãs. E ainda com patrocínio do Governo Federal. Isso é que é fazer cultura, nada de teatro ou literatura! Em clima liberal, foliões mostravam para quem quisesse ver o que o que a Globo não quis mostrar na Tv. Até rimou.
Cortejo Afro melhorou bastante o som. A bateria e os cantores conseguiam dialogar. Como de costume, havia presença maciça de estrangeiros. No belo trio estava escrita a mensagem: “Salve as casas de Candomblé”. Não entendi se era uma saudação ou um apelo contra a intolerância religiosa. Ou os dois sentidos. Espirituosamente, os cordeiros, além da numeração, levavam a inscrição “Homens Cordiais” nos coletes. Bloco feito por artistas, com ajuda de antropólogos e sociólogos é assim mesmo. Todo cheio de referências.
Crônicas e comentários de Danilo Menezes. Jornalista brasileiro da Bahia, atualmente morando em Toronto, Ontario, Canada.
27.2.06
24.2.06
Feijão e folia
Na quinta-feira de Carnaval, a minha amiga E. tradicionalmente oferece aos deuses da folia - e aos amigos - uma feijoada fantástica. A melhor de todas. Digo sem a menor dúvida. A cozinheira dela produz a melhor feijoada que conheço. Leve e de um sabor que se eleva aos céus.
A feijoada dá forças à turma que sai da Vitória e vai acompanhar Margareth Menezes e o bloco Os Mascarados. Algumas pessoas se fantasiaram, a anfitriã e outras amigas foram vestidas de gueixas estilizadas. Interessante que ninguém é pagante do bloco, ficamos todos circulando na pipoca. Muita gente faz isso, pois cada dia fica mais caro pagar para sair dentro das cordas e ainda bancar a fantasia. Este ano o convidado do trio foi Eduardo Dusek que atacou com vários sucessos antigos.
Não adianta a cantora negar: o bloco dela é 100% GLS. Além da turma GL, os demais com certeza são simpatizantes – ou, pelo menos, tolerantes. Caso contrário, não conviveriam bem com as cenas de beijos, abraços e amassos que rolam por ali.
Fora do bloco havia personagens hilários. Havia a “Madre Pinta”, uma homenagem ao padre que anda fazendo sucesso em Salvador. Havia dois rapazes negros fantasiados de fadas, em vestidos cor-de-rosa berrante, com perucas coloridas e de sapatos altos. Eles brincavam com as pessoas que estavam por perto, fazendo um monte palhaçada. Mas a gozação maior foi quando “as fadas” pararam para mijar. Aí elas é que viraram objeto de brincadeira das pessoas que acompanhavam o trio.
Voltei para casa, dia amanhecendo, andando pela Barra. O exército de limpeza montado pela Prefeitura é impressionante. Minutos depois da passagem do último trio elétrico, desembarcam ônibus cheios dos soldados da vassoura e chegam carros-pipa de limpeza para dar banho nas ruas. O cheiro de mijo some.
Pessoas se aninham no Morro do Cristo e na praia para recuperar as forças. Tem gente que dorme por lá mesmo e nem volta para casa. Para economizar a passagem do ônibus.
Depois de tanto pular e andar, ainda tive que subir a pé uma parte da ladeira da Barra, onde ficava o prédio onde o carro estava estacionado. Cansativo, mas valeu. Acordei no início da tarde. Eu hoje, só amanhã.
A feijoada dá forças à turma que sai da Vitória e vai acompanhar Margareth Menezes e o bloco Os Mascarados. Algumas pessoas se fantasiaram, a anfitriã e outras amigas foram vestidas de gueixas estilizadas. Interessante que ninguém é pagante do bloco, ficamos todos circulando na pipoca. Muita gente faz isso, pois cada dia fica mais caro pagar para sair dentro das cordas e ainda bancar a fantasia. Este ano o convidado do trio foi Eduardo Dusek que atacou com vários sucessos antigos.
Não adianta a cantora negar: o bloco dela é 100% GLS. Além da turma GL, os demais com certeza são simpatizantes – ou, pelo menos, tolerantes. Caso contrário, não conviveriam bem com as cenas de beijos, abraços e amassos que rolam por ali.
Fora do bloco havia personagens hilários. Havia a “Madre Pinta”, uma homenagem ao padre que anda fazendo sucesso em Salvador. Havia dois rapazes negros fantasiados de fadas, em vestidos cor-de-rosa berrante, com perucas coloridas e de sapatos altos. Eles brincavam com as pessoas que estavam por perto, fazendo um monte palhaçada. Mas a gozação maior foi quando “as fadas” pararam para mijar. Aí elas é que viraram objeto de brincadeira das pessoas que acompanhavam o trio.
Voltei para casa, dia amanhecendo, andando pela Barra. O exército de limpeza montado pela Prefeitura é impressionante. Minutos depois da passagem do último trio elétrico, desembarcam ônibus cheios dos soldados da vassoura e chegam carros-pipa de limpeza para dar banho nas ruas. O cheiro de mijo some.
Pessoas se aninham no Morro do Cristo e na praia para recuperar as forças. Tem gente que dorme por lá mesmo e nem volta para casa. Para economizar a passagem do ônibus.
Depois de tanto pular e andar, ainda tive que subir a pé uma parte da ladeira da Barra, onde ficava o prédio onde o carro estava estacionado. Cansativo, mas valeu. Acordei no início da tarde. Eu hoje, só amanhã.
22.2.06
Retorno
Estou de volta a Salvador, ainda tonto pelas curvas da estrada que margeia a Costa do Dendê. Vim dirigindo de Ilhéus até Bom Despacho para pegar o ferry-boat. O percurso é menor do que pela 101, há menos caminhões pela frente, mas as curvas e os quebra-molas deixam os estômagos sensíveis a ver navios.
Passando por Valença senti saudade de Morro de São Paulo e dos seus dias deliciosos, de alegria e poesia. No caminho pretendia conhecer a praia de Pratigi, que conheço de foto aérea e é deslumbrante. Os quilômetros a vencer e o aumento do tempo de viagem me fizeram deixar para outra ocasião. Precisava estar em Salvador até o final da tarde para fazer matrícula no curso que se inicia em março.
Os dias em Ilhéus foram de descanso. A manutenção do peso me fez segurar as extravagâncias gastronômicas. Ficam na lembrança as moquecas de peixe. Uma, em Canavieras, feita de robalo e camarões, com o uso de biri-biri, uma frutinha bem ácida, substituindo o limão. Outra de cavala, feita no fogão de lenha inaugurado em minha presença na casa do tio L. Esta última moqueca foi acompanhada de um divino vatapá de pão. Ah, não posso esquecer do ensopado de camarão com quiabos acompanhado de pirão feito por Dona H., genitora deste cronista.
Nos primeiros dias eu vinha segurando o apetite, almoçando bem e jantando pouco. Nos últimos dias da estadia ilheense enfiei o pé na jaca. Ainda bem que o Carnaval está batendo aqui na porta e me chamando para gastar energias sacolejando para lá e para cá.
As férias continuam.
Passando por Valença senti saudade de Morro de São Paulo e dos seus dias deliciosos, de alegria e poesia. No caminho pretendia conhecer a praia de Pratigi, que conheço de foto aérea e é deslumbrante. Os quilômetros a vencer e o aumento do tempo de viagem me fizeram deixar para outra ocasião. Precisava estar em Salvador até o final da tarde para fazer matrícula no curso que se inicia em março.
Os dias em Ilhéus foram de descanso. A manutenção do peso me fez segurar as extravagâncias gastronômicas. Ficam na lembrança as moquecas de peixe. Uma, em Canavieras, feita de robalo e camarões, com o uso de biri-biri, uma frutinha bem ácida, substituindo o limão. Outra de cavala, feita no fogão de lenha inaugurado em minha presença na casa do tio L. Esta última moqueca foi acompanhada de um divino vatapá de pão. Ah, não posso esquecer do ensopado de camarão com quiabos acompanhado de pirão feito por Dona H., genitora deste cronista.
Nos primeiros dias eu vinha segurando o apetite, almoçando bem e jantando pouco. Nos últimos dias da estadia ilheense enfiei o pé na jaca. Ainda bem que o Carnaval está batendo aqui na porta e me chamando para gastar energias sacolejando para lá e para cá.
As férias continuam.
18.2.06
Mais
Estou em Ilhéus, teclando em uma lan house. Há alguns dias sem me conectar, abro a caixa de e-mail e tem um monte de mensagens. Há novidades. Há atualizações nos blogs, há notícias, há reportagens interessantes. Humm. Eu só não tenho tempo para ler tudo. Enquanto isso, vou contando histórias das minhas férias.
Visitei Canavieiras, que fica a uns 100 km de Ilhéus. Não ia naquela cidade desde que era criança e fiquei surpreso com o local. Cidade organizada, com belas praias, um cais bem bacana, com uma estátua de Iemanjá sobre pedras, no meio das águas. Na rua do cais, há algumas casas em estilo colonial, pintadas em cores vibrantes, onde funcionam bares, restaurantes, lojas e pousadas. É a "Passarela dó Álcool", nome tomado de empréstimo de Porto Seguro.
Depois de provar uma deliciosa moqueca de robalo com camarões, em um restaurante em frente ao mar, parti em busca de uns famosos doces caseiros, preparados por uma antiga doceira. Não consegui localizá-la, mas consegui comprar em outro local. Cocadas, doce de araçá, tablete de chocolate, doce de acerola, de jenipapo, de goiaba. Delícias caseiras.
As luzes da lan house estão se apagando. Está na hora de fechar. Depois conto mais.
Visitei Canavieiras, que fica a uns 100 km de Ilhéus. Não ia naquela cidade desde que era criança e fiquei surpreso com o local. Cidade organizada, com belas praias, um cais bem bacana, com uma estátua de Iemanjá sobre pedras, no meio das águas. Na rua do cais, há algumas casas em estilo colonial, pintadas em cores vibrantes, onde funcionam bares, restaurantes, lojas e pousadas. É a "Passarela dó Álcool", nome tomado de empréstimo de Porto Seguro.
Depois de provar uma deliciosa moqueca de robalo com camarões, em um restaurante em frente ao mar, parti em busca de uns famosos doces caseiros, preparados por uma antiga doceira. Não consegui localizá-la, mas consegui comprar em outro local. Cocadas, doce de araçá, tablete de chocolate, doce de acerola, de jenipapo, de goiaba. Delícias caseiras.
As luzes da lan house estão se apagando. Está na hora de fechar. Depois conto mais.
15.2.06
Eu fui!
Fui parar na Full Moon Party, na Monkey Beach, uma barraca de praia em Gamboa, na ilha em que fica o Morro de São Paulo. Uma festa em noite de lua cheia, com maioria absoluta de gringos e gringas.
DJs estrangeiros pondo um som possível em qualquer lugar do mundo: Ibiza, Bangkok, Brighton, etc. Aliás o Morro parece querer se tornar Ibiza. A expansão imobiliária, infelizmente, parece não ter limite. O turismo agora se alastra para a Gamboa (Gambuena para os argentinos?!). Uma praia belíssima, de poucas ondas e de águas cristalinas, mas que sempre ficou ofuscada pela beleza do Morro.
Para chegar na Monkey Beach caminha-se pela praia, durante a maré baixa por meia hora, ou toma-se um barco. Escolhi a segunda opção, pois a lua toda hora ficava escondida por nuvens, o que diminuía a iluminação da praia.
A animação da festa não decepcionou. O som era basicamente house, com algumas coisas bem conhecidas. Nada de axé ou música latina. Turistas e nativos se esbaldaram em frente ao mar e sob o poder da lua cheia. Agradeci aos deuses pelo privilégio de estar presenciando uma comunhão de paz entre seres humanos de várias nações e culturas e a natureza pujante.
A festa estava programada para durar das 22 h até as oito da manhã. A organização só abriu a portaria à meia noite, meia hora depois que havia chegado. No início, pouca gente, mas, barco após barco, a festa foi enchendo e animando. Um cheiro característico de mato queimado se espalhava pelo ar. O espaço da festa, delimitado por tecidos brancos, ficou pequeno para tanta gente. As pessoas mais que se aproveitavam do aperto. Nativas e nativos da Gamboa, animados com tanta carne nova no pedaço, não deixavam por menos. A mão boba correu solta.
Lá pelas tantas, o som começou a ficar repetitivo, as pessoas mais bêbadas e cansadas. Um pouco antes das quatro da manhã tomei o barco de volta para o Morro. Não sem antes molhar quase toda a bermuda, pois a embarcação estava ancorada na praia e tive que entrar na água.
Às quatro, quando o barco atracou, ainda tinha alguns retardatários querendo ir para a festa.
DJs estrangeiros pondo um som possível em qualquer lugar do mundo: Ibiza, Bangkok, Brighton, etc. Aliás o Morro parece querer se tornar Ibiza. A expansão imobiliária, infelizmente, parece não ter limite. O turismo agora se alastra para a Gamboa (Gambuena para os argentinos?!). Uma praia belíssima, de poucas ondas e de águas cristalinas, mas que sempre ficou ofuscada pela beleza do Morro.
Para chegar na Monkey Beach caminha-se pela praia, durante a maré baixa por meia hora, ou toma-se um barco. Escolhi a segunda opção, pois a lua toda hora ficava escondida por nuvens, o que diminuía a iluminação da praia.
A animação da festa não decepcionou. O som era basicamente house, com algumas coisas bem conhecidas. Nada de axé ou música latina. Turistas e nativos se esbaldaram em frente ao mar e sob o poder da lua cheia. Agradeci aos deuses pelo privilégio de estar presenciando uma comunhão de paz entre seres humanos de várias nações e culturas e a natureza pujante.
A festa estava programada para durar das 22 h até as oito da manhã. A organização só abriu a portaria à meia noite, meia hora depois que havia chegado. No início, pouca gente, mas, barco após barco, a festa foi enchendo e animando. Um cheiro característico de mato queimado se espalhava pelo ar. O espaço da festa, delimitado por tecidos brancos, ficou pequeno para tanta gente. As pessoas mais que se aproveitavam do aperto. Nativas e nativos da Gamboa, animados com tanta carne nova no pedaço, não deixavam por menos. A mão boba correu solta.
Lá pelas tantas, o som começou a ficar repetitivo, as pessoas mais bêbadas e cansadas. Um pouco antes das quatro da manhã tomei o barco de volta para o Morro. Não sem antes molhar quase toda a bermuda, pois a embarcação estava ancorada na praia e tive que entrar na água.
Às quatro, quando o barco atracou, ainda tinha alguns retardatários querendo ir para a festa.
11.2.06
Viajando
Eu estou em Morro e o Morro está em mim. Novamente. Desta vez viajei de carro até Valença e de lá peguei lancha rápida até a ilha. Preferi assim, pois vou para Ilhéus, visitar a família, depois daqui.
Em dois anos, percebo que algumas coisas mudaram. Outras continuam no mesmo estágio. Novas pousadas, novos empreendimentos comerciais, o Morro de São Paulo vai ganhando uma cara de mais conforto - com o inconveniente da inserção do progresso. Por enquanto, as feições estão mais ou menos mantidas. As praias continuam belas e convidativas. As águas quentes são um presente para os sentidos.
O que não muda é a presença maciça de estrangeiros. Ouve-se todo tipo de língua, com destaque para o espanhol dos argentinos e o hebraico dos jovens israelenses que viajam pelo mundo depois de concluir o serviço militar. Adicione-se italiano e alemão. Não muda também o trabalho da rapaziada, mulheres e homens, que vêm da região para fazer a linha nativa-étnica e conseguir algum trocado pelos serviços prestados noite adentro. E ainda se divertir ao som de techno e axé. E, talvez, em um lance de sorte, quem sabe, conseguir algum coração que fale outra língua, que os levem para outras paragens.
Os europeus gostam muito de ler na praia. Para não ficar fora do clima, levei Pequenos Pássaros - Histórias Eróticas, contos da francesa Anais Nin, para ler. A edição de bolso facilitava o manuseio. Tenho certeza que foi uma coisa muito edificante ficar lendo este tipo de assunto diante de tantas beldades passeando à frente. Um parágrafo, uma olhadinha. Outro parágrafo, mais uma olhada. A leitura foi leeenta... Mas prazerosa, para ficar no clima dos textos. Nunca havia levado um livro para a praia, no máximo jornais e revistas. A leitura para mim é um ato solitário, de introspecção, concentração e entrega, quase de fragilidade. Ler na praia foi muito legal.
Conheci uma nova casa noturna, Pulsar, que não existia na última vez em que estive aqui, há uns dois anos. Fica em uma encosta, próxima do Forte. A construção preservou as árvores e tem linhas curvas. O resultado é interessante. Para chegar até os bares e a pista de dança, onde também acontecem shows, é necessário subir vários degraus. Soube que o local pertence a um alemão.
As festas acontecem no Morro quase que diariamente, na Pulsar e nas barracas de praia. As que acontecem na Funny, antiga Caitá, tem concorrência do som gratuito das barracas vizinhas. Em uma delas, a Coco Verde, um DJ alemão colocava um som techno contagiante. Só não sei como o povo aguenta ficar dançando e pulando na areia fofa. Deve ser o E.
Do lado de fora das festas são armadas várias barracas de venda de caipiroscas. Chama atenção a bela arrumação das frutas, tropicais ou não, que formam painéis coloridos. Experimentei jambo branco, que nem sabia que existia e é típico da região.
Os preços são altos, principalmente das bebidas. Uma cerveja em lata chega fácil aos 4 reais. O acesso à internet também é caro, custa R$0,10 o minuto, o que faz uma hora custar 6 reais. Este texto eu digitei off-line em um notebook emprestado. Levei em disquete e só fiz publicar.
Aqui há um clichê que diz que as coisas são caras porque são transportadas via barco. Ironizando, ouvi alguém falar que a internet deve ser cara porque as ondas também devem vir de barco até o Morro.
Comida há de todo preço. Para prestigiar a cozinha local, tenho preferido peixes e mariscos, o que não é nenhum sacrifício.
Estou aguardando a rave que vai acontecer na lua cheia da próxima semana, na Praia do Macaco, na Gamboa.
Em dois anos, percebo que algumas coisas mudaram. Outras continuam no mesmo estágio. Novas pousadas, novos empreendimentos comerciais, o Morro de São Paulo vai ganhando uma cara de mais conforto - com o inconveniente da inserção do progresso. Por enquanto, as feições estão mais ou menos mantidas. As praias continuam belas e convidativas. As águas quentes são um presente para os sentidos.
O que não muda é a presença maciça de estrangeiros. Ouve-se todo tipo de língua, com destaque para o espanhol dos argentinos e o hebraico dos jovens israelenses que viajam pelo mundo depois de concluir o serviço militar. Adicione-se italiano e alemão. Não muda também o trabalho da rapaziada, mulheres e homens, que vêm da região para fazer a linha nativa-étnica e conseguir algum trocado pelos serviços prestados noite adentro. E ainda se divertir ao som de techno e axé. E, talvez, em um lance de sorte, quem sabe, conseguir algum coração que fale outra língua, que os levem para outras paragens.
Os europeus gostam muito de ler na praia. Para não ficar fora do clima, levei Pequenos Pássaros - Histórias Eróticas, contos da francesa Anais Nin, para ler. A edição de bolso facilitava o manuseio. Tenho certeza que foi uma coisa muito edificante ficar lendo este tipo de assunto diante de tantas beldades passeando à frente. Um parágrafo, uma olhadinha. Outro parágrafo, mais uma olhada. A leitura foi leeenta... Mas prazerosa, para ficar no clima dos textos. Nunca havia levado um livro para a praia, no máximo jornais e revistas. A leitura para mim é um ato solitário, de introspecção, concentração e entrega, quase de fragilidade. Ler na praia foi muito legal.
Conheci uma nova casa noturna, Pulsar, que não existia na última vez em que estive aqui, há uns dois anos. Fica em uma encosta, próxima do Forte. A construção preservou as árvores e tem linhas curvas. O resultado é interessante. Para chegar até os bares e a pista de dança, onde também acontecem shows, é necessário subir vários degraus. Soube que o local pertence a um alemão.
As festas acontecem no Morro quase que diariamente, na Pulsar e nas barracas de praia. As que acontecem na Funny, antiga Caitá, tem concorrência do som gratuito das barracas vizinhas. Em uma delas, a Coco Verde, um DJ alemão colocava um som techno contagiante. Só não sei como o povo aguenta ficar dançando e pulando na areia fofa. Deve ser o E.
Do lado de fora das festas são armadas várias barracas de venda de caipiroscas. Chama atenção a bela arrumação das frutas, tropicais ou não, que formam painéis coloridos. Experimentei jambo branco, que nem sabia que existia e é típico da região.
Os preços são altos, principalmente das bebidas. Uma cerveja em lata chega fácil aos 4 reais. O acesso à internet também é caro, custa R$0,10 o minuto, o que faz uma hora custar 6 reais. Este texto eu digitei off-line em um notebook emprestado. Levei em disquete e só fiz publicar.
Aqui há um clichê que diz que as coisas são caras porque são transportadas via barco. Ironizando, ouvi alguém falar que a internet deve ser cara porque as ondas também devem vir de barco até o Morro.
Comida há de todo preço. Para prestigiar a cozinha local, tenho preferido peixes e mariscos, o que não é nenhum sacrifício.
Estou aguardando a rave que vai acontecer na lua cheia da próxima semana, na Praia do Macaco, na Gamboa.
7.2.06
Entre rio e mar
Acabo de voltar de uma praia que não conhecia: Imbassaí, no litoral norte, dez quilômetros depois da Praia do Forte, a 65 km do aeroporto de Salvador. Partindo no sábado pela manhã, deixei para procurar hospedagem na hora em que chegasse. Resultado: preços altos e qualidade discutível. A sorte foi achar a Pousada Tulipa Rosa, de propriedade do holandês Matias e sua esposa.
Três pequenos bangalôs cuidadosamente decorados, com ventilador de teto, banheiro com chuveiro quente, TV, frigobar e rede na parte externa. Café da manhã primoroso, com direito até a banana frita na hora, uma coisa que não provava desde que era criança.
A vila fica entre o mar e o rio Imbassaí e é boa opção para quem procura preços mais em conta que na Praia do Forte. Ruas sem pavimentação garantem o ar de pouco desenvolvimento urbano.
A parte mais procurada pelos visitantes é a região que fica entre o mar e o rio. Nativos, turistas de Salvador e região metropolitana dividem o espaço de banho salgado e doce com os estrangeiros.
Provei uma pizza deliciosa, com massa fina e crocante, feita em forno a lenha, no restaurante italiano Micasa. A porção, indicada como individual, dá para duas pessoas. O preço, excelente, varia entre 9 e 14 reais. Conheci também o “Restaurante da Vânia”, de comida bem-feita e barata.
Para agitar na noite, há o bar e restaurante Temperança, que oferece espaço com pista de dança e DJ. Infelizmente, estava muito cansado e fui dormir. Não me arrependi.
Gostei do local. Boa opção para a baixa estação, quando os preços de hospedagem devem estar melhores. Qualquer final de semana desses volto lá.
Daqui a pouco estou partindo novamente.
Três pequenos bangalôs cuidadosamente decorados, com ventilador de teto, banheiro com chuveiro quente, TV, frigobar e rede na parte externa. Café da manhã primoroso, com direito até a banana frita na hora, uma coisa que não provava desde que era criança.
A vila fica entre o mar e o rio Imbassaí e é boa opção para quem procura preços mais em conta que na Praia do Forte. Ruas sem pavimentação garantem o ar de pouco desenvolvimento urbano.
A parte mais procurada pelos visitantes é a região que fica entre o mar e o rio. Nativos, turistas de Salvador e região metropolitana dividem o espaço de banho salgado e doce com os estrangeiros.
Provei uma pizza deliciosa, com massa fina e crocante, feita em forno a lenha, no restaurante italiano Micasa. A porção, indicada como individual, dá para duas pessoas. O preço, excelente, varia entre 9 e 14 reais. Conheci também o “Restaurante da Vânia”, de comida bem-feita e barata.
Para agitar na noite, há o bar e restaurante Temperança, que oferece espaço com pista de dança e DJ. Infelizmente, estava muito cansado e fui dormir. Não me arrependi.
Gostei do local. Boa opção para a baixa estação, quando os preços de hospedagem devem estar melhores. Qualquer final de semana desses volto lá.
Daqui a pouco estou partindo novamente.
4.2.06
Amor nas montanhas
Lírico, belo e ousado. O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, EUA) traz para o grande público, pela primeira vez, em tons de romance, uma relação entre dois homens, os caubóis Ennis del Mar (Heath Ledger, de Os Irmãos Grimm) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal, de Soldado Anônimo).
O filme escapa ileso da comédia, da violência, da vida promíscua e das doenças que caracterizam os enredos de cinema que abordam os temas gays. Está situado no melodrama fundamentado nos conflitos de identidade, intensificados por traumas, como é sugerido. Pequenos dramas que se transformam em grandes dificuldades para a paz, o amor e a felicidade. Assim como na vida média, algo próximo da realidade.
Os caubóis se conhecem em 1963, durante o trabalho temporário de pastores de ovelhas em Brokeback Mountain, no Estado de Wyoming. Vivem um romance intenso, que se prolonga durante as próximas visitas à região, em pequenos intervalos dos casamentos heterossexuais vividos pelos dois.
As paisagens são belíssimas. Os atores tem desempenhos memoráveis, Ledger está concorrendo ao Oscar de ator principal e Gyllenhaal ao de coadjuvante. Difícil perceber quem está melhor. O segundo só está na categoria de coadjuvante por permanecer menos tempo em cena. O seu desempenho é tão marcante quanto o do primeiro.
O personagem Ennis Del Mar revela o sofrimento de uma pessoa inflexível e de sentimentos travados. A carapaça criada por traumas, em vez de proteger, dificulta a resolução de conflitos internos. Indivíduos como esse são talvez os que mais amem e mais se apeguem.
O cineasta Ang Lee (de Banquete de Casamento, O Tigre e o Dragão) não aprofunda o tom psicológico, perdendo em conteúdo. Ganha na estética e no ritmo, que vai agradar ao grande público.
Brokeback já é um marco, um clássico, mas se ganhar um Oscar será um divisor de águas na filmografia mundial. O grande público hollywoodiano, do mais liberal ao mais conservador, terá que deparar com o romance intenso de dois caubóis, com direito a beijos e cenas quentes. Algo que havia começado em Alexandre, de Oliver Stone.
A sociedade realmente está mudando.
O filme escapa ileso da comédia, da violência, da vida promíscua e das doenças que caracterizam os enredos de cinema que abordam os temas gays. Está situado no melodrama fundamentado nos conflitos de identidade, intensificados por traumas, como é sugerido. Pequenos dramas que se transformam em grandes dificuldades para a paz, o amor e a felicidade. Assim como na vida média, algo próximo da realidade.
Os caubóis se conhecem em 1963, durante o trabalho temporário de pastores de ovelhas em Brokeback Mountain, no Estado de Wyoming. Vivem um romance intenso, que se prolonga durante as próximas visitas à região, em pequenos intervalos dos casamentos heterossexuais vividos pelos dois.
As paisagens são belíssimas. Os atores tem desempenhos memoráveis, Ledger está concorrendo ao Oscar de ator principal e Gyllenhaal ao de coadjuvante. Difícil perceber quem está melhor. O segundo só está na categoria de coadjuvante por permanecer menos tempo em cena. O seu desempenho é tão marcante quanto o do primeiro.
O personagem Ennis Del Mar revela o sofrimento de uma pessoa inflexível e de sentimentos travados. A carapaça criada por traumas, em vez de proteger, dificulta a resolução de conflitos internos. Indivíduos como esse são talvez os que mais amem e mais se apeguem.
O cineasta Ang Lee (de Banquete de Casamento, O Tigre e o Dragão) não aprofunda o tom psicológico, perdendo em conteúdo. Ganha na estética e no ritmo, que vai agradar ao grande público.
Brokeback já é um marco, um clássico, mas se ganhar um Oscar será um divisor de águas na filmografia mundial. O grande público hollywoodiano, do mais liberal ao mais conservador, terá que deparar com o romance intenso de dois caubóis, com direito a beijos e cenas quentes. Algo que havia começado em Alexandre, de Oliver Stone.
A sociedade realmente está mudando.
2.2.06
Dia de Iemanjá
Ainda sob os eflúvios aquosos e etílicos de Iemanjá, eis que me ponho a relatar a festa de dois de fevereiro no Rio Vermelho. Trabalhei até as 14h, vim direto para casa. Provei o bobó de lagosta que a secretária havia preparado. Uma delícia, mas o de camarão, feito na semana passada, estava bem superior. Camarão é mais saboroso que lagosta, não há como discutir.
Marcamos de encontrar E. na pracinha da rua onde ela mora, onde havia a apresentação de um grupo musical. Soube que toda quarta-feira eles se apresentam por lá. Incrível, até deste lado do Red River, onde antes não havia nada, as festas estão acontecendo.
Fomos até a rua Fonte do Boi conferir uma feijoada musical que estava rolando em uma loja de CDs. De lá fomos depositar as flores para Iemanjá nas águas da pequena praia que há naquela rua. Comprei rosas brancas, vermelhas e amarelas. Paz, saúde, amor e riqueza. Pra que mais?
Depois das oferendas, um passeio pela Praia da Paciência. Na varanda da boate Seven Inn foi montado um palco e estava rolando um show com a cantora Daniela Firpo, gratuito para quem quisesse conferir. Um repertório de pop rock muuuuuito bacana. Participação do cantor Alex Góes. DJs tocando música eletrônica. Gringos e nativos se esbaldando. Gente bem interessante no local, divertido ficar observando. Tudo estava tranqüilo. A concorrência com o Festival de Verão parece que tornou a festa do Rio Vermelho mais confortável, com menos gente amontoada.
De lá demos um pulo na rua da Gráfica Venturi, onde o cantor Márcio Melo sempre se apresenta. O astral por ali já foi melhor. Carros e ônibus passando a toda hora quebram o clima da festa. A essa altura, eu já estava com dois “Birinights” e algumas cervejas na cabeça, achando tudo lindo, maravilhoso, a vida é bela, as flores são azuis, os caracóis dos seus cabelos estão mais brilhantes do que nunca, a sua pele morena se enevoa nos meus sonhos.
Comprei um colar de contas de madeira, que veio se juntar aos de miçangas brancas e turquesas, em homenagem a Iemanjá, que repousavam em torno do meu pescoço.
Escureceu, um pôr-do-sol prateado transformou os coqueiros em sombras majestosas. Pela primeira vez vi belos fogos de artifício na festa. Várias faixas de patrocínio do governo federal não deixavam esquecer que estamos em ano eleitoral.
Passamos na pracinha do Bar do Nando, não encontramos o resto da turma. Cansados, caminhamos com destino a casa. A praça da Cia da Pizza estava lotada de gente, rock and roll rolando. Mas estávamos sem energia disponível para conferir. Fui atrás de um beiju com queijo, presunto e catupiry, mas a lanchonete estava fechada. Hesitamos em ir ao McDonald’s. Hambúrguer, que nada. Demos um pulo na padaria em frente. Optamos por um delicioso mistão, uma “vara” (como se chama na Bahia o pão francês grande!) transbordando de queijo e presunto. Agora estou aqui, recolhendo os fragmentos do dia, me esforçando para não esquecer de nada de uma festa sempre marcante.
Marcamos de encontrar E. na pracinha da rua onde ela mora, onde havia a apresentação de um grupo musical. Soube que toda quarta-feira eles se apresentam por lá. Incrível, até deste lado do Red River, onde antes não havia nada, as festas estão acontecendo.
Fomos até a rua Fonte do Boi conferir uma feijoada musical que estava rolando em uma loja de CDs. De lá fomos depositar as flores para Iemanjá nas águas da pequena praia que há naquela rua. Comprei rosas brancas, vermelhas e amarelas. Paz, saúde, amor e riqueza. Pra que mais?
Depois das oferendas, um passeio pela Praia da Paciência. Na varanda da boate Seven Inn foi montado um palco e estava rolando um show com a cantora Daniela Firpo, gratuito para quem quisesse conferir. Um repertório de pop rock muuuuuito bacana. Participação do cantor Alex Góes. DJs tocando música eletrônica. Gringos e nativos se esbaldando. Gente bem interessante no local, divertido ficar observando. Tudo estava tranqüilo. A concorrência com o Festival de Verão parece que tornou a festa do Rio Vermelho mais confortável, com menos gente amontoada.
De lá demos um pulo na rua da Gráfica Venturi, onde o cantor Márcio Melo sempre se apresenta. O astral por ali já foi melhor. Carros e ônibus passando a toda hora quebram o clima da festa. A essa altura, eu já estava com dois “Birinights” e algumas cervejas na cabeça, achando tudo lindo, maravilhoso, a vida é bela, as flores são azuis, os caracóis dos seus cabelos estão mais brilhantes do que nunca, a sua pele morena se enevoa nos meus sonhos.
Comprei um colar de contas de madeira, que veio se juntar aos de miçangas brancas e turquesas, em homenagem a Iemanjá, que repousavam em torno do meu pescoço.
Escureceu, um pôr-do-sol prateado transformou os coqueiros em sombras majestosas. Pela primeira vez vi belos fogos de artifício na festa. Várias faixas de patrocínio do governo federal não deixavam esquecer que estamos em ano eleitoral.
Passamos na pracinha do Bar do Nando, não encontramos o resto da turma. Cansados, caminhamos com destino a casa. A praça da Cia da Pizza estava lotada de gente, rock and roll rolando. Mas estávamos sem energia disponível para conferir. Fui atrás de um beiju com queijo, presunto e catupiry, mas a lanchonete estava fechada. Hesitamos em ir ao McDonald’s. Hambúrguer, que nada. Demos um pulo na padaria em frente. Optamos por um delicioso mistão, uma “vara” (como se chama na Bahia o pão francês grande!) transbordando de queijo e presunto. Agora estou aqui, recolhendo os fragmentos do dia, me esforçando para não esquecer de nada de uma festa sempre marcante.