Os Filhos de Gandhy mudaram de cor. De negros passaram aos brancos-mauricinhos da Barra-Ondina. Incluindo turistas branquelos. O bloco de estivadores agora é de classe média. A imponência ficou mantida. A troca de colares por beijos também. O circuito da Barra ficou salpicado por turbantes coloridos de azul-marinho. Mais importante do que sair no bloco, no circuito do Pelourinho, é desfilar pela Barra com a tradicional vestimenta azul e branco. E ouviu “Olha o Gandhy aí”. E aspergir a alfazema no ar. Ou no pescoço de alguém. A pobre da cultura popular baiana está ficando cerceada pelos camarotes, pelo turismo e seus números milionários.
As cervejarias não se contentam somente em patrocinar os camarotes e trios. Teve uma que lançou o seu próprio bloco, com atrações nacionais e internacionais. Falcão do Rappa comandando a animação. Fãs enlouquecidos. Débora Secco no trio, posando de esposa devotada, low profile, exibindo apliques de dread locks louros, os famigerados bolos de cabelo grudado. Igualzinha ao maridão-rastaman.
Pessoas pagando para brincar no bloco e bancar propaganda para a empresa. Marca exibida pela Tv em todo o país. Uma jogada de mestre. Vale virar “case” de marketing. Não basta ser folião, tem que colaborar com o caixa da empresa.
Camarotes gigantescos com estrutura profissionalíssima. Todos com pista de dança. Em Ondina, um exemplo vivo do que é o Carnaval baiano. Um camarote tocava um som altíssimo que invadia as ruas. E, enquanto os pagantes estavam no maior marasmo, o povo lá embaixo se esbaldava com as músicas tocadas pelo DJ.
Xanddy vestido de gladiador romano, exibindo o regime que teve que fazer durante todo o ano para poder mostrar o físico na avenida. Ele é bom mesmo no pagode. Quando tenta cantar outra coisa, não tem o mínimo jeito. Pessoas que dançam pagode nas ruas parecem ter molas nos quadris. É impressio-nante.
O psicanalista Wilhem Reich, com a sua proposta de libertação das couraças de energia e da revolução sexual, morreria de fome na Bahia. Não teria necessidade de aplicar os seus exercícios para aqueles foliões.
Daniela Mercury filmada por Monique Gardenberg para chegar ao cinema. Crocodilo lotado de foliões e fãs. E ainda com patrocínio do Governo Federal. Isso é que é fazer cultura, nada de teatro ou literatura! Em clima liberal, foliões mostravam para quem quisesse ver o que o que a Globo não quis mostrar na Tv. Até rimou.
Cortejo Afro melhorou bastante o som. A bateria e os cantores conseguiam dialogar. Como de costume, havia presença maciça de estrangeiros. No belo trio estava escrita a mensagem: “Salve as casas de Candomblé”. Não entendi se era uma saudação ou um apelo contra a intolerância religiosa. Ou os dois sentidos. Espirituosamente, os cordeiros, além da numeração, levavam a inscrição “Homens Cordiais” nos coletes. Bloco feito por artistas, com ajuda de antropólogos e sociólogos é assim mesmo. Todo cheio de referências.
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