30.11.04



Há tempo sem vir por aqui
Preciso escrever palavras que não querem sair de casa. Preciso esquecer de escrever para quem se dispuser a ler. Preciso esquecer da crítica e da auto-crítica. Preciso refazer um caminho. Preciso voltar a sentir os meus pulsos e impulsos. Preciso abandonar a racionalidade e optar pela via que me cabe.

Preciso esquecer que existe um mundo construído. Preciso adornar o contorno de pedras lisas. Preciso dormir cada vez mais para ver se me encontro em meu sono. Preciso de uma dose de coragem primitiva. Preciso sair do aprisionamento dos sentidos. Preciso de um bilhete de viagem para uma realidade distante.

Preciso consumir as letras do meu destino. Preciso sacar do bolso os papéis manchados de umidade. Preciso dizer a mim mesmo que o pouco me basta e que a paz vale mais do que o poder. Preciso concluir um ciclo de movimentos. Preciso dormir mais um pouco para que meu corpo se estenda sobre a quietude. Preciso de mais palavras desarticuladas. Preciso não precisar uní-las. Preciso. O que preciso é precioso. O que preciso é ser pouco preciso. Aquilo que preciso é embaçado e desarticulado. O que preciso é desarmar as conexões e os conceitos que tentam a todo o tempo se estabelecer.

Preciso desestruturar o raciocínio para que algo novo apareça. Preciso ouvir as vozes da inquietação. Preciso estabelecer uma série de novos padrões, para destruí-los logo a seguir. Preciso fazer valer as forças renovadoras de Plutão. Preciso ser impreciso.

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