13.10.04

Dogma da sacanagem

O festejado diretor dinamarquês Lars von Trier, ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes por Dançando no Escuro, agora ataca como produtor de fitas pornográficas. Segundo o site E-pipoca há até mandamentos para a nova modalidade do "Dogma". São eles: emoção e sensualidade prioritárias; roteiro verossímil; proibição de cenas de sexo gratuias em benefício de um incremento sutil do desejo; e a rejeição de toda violência.

O Dogma original causou uma revolução no cinema europeu nos anos 90: foi um movimento de cineastas que pregavam cenários simples, poucos recursos financeiros, poucas e tremulantes câmeras, boas histórias. Cinema simples e eficaz. Trier foi um dos expoentes desse movimento. Foi quem ficou mais famoso e hoje produz filmes com estrelas e recursos de Hollywood, ainda que continuem sendo filmes pouco fáceis para o grande público.

Não deixa de ser interessante ver um diretor tido com "cult" enveredar por uma área tão pouco reconhecida pela qualidade, ainda que de grande poderio financeiro. Enquanto o cinema americano movimenta 30 bilhões de dólares por ano, a indústria pornô (vídeos e DVDs) gira em torno dos 10 bilhões. Não é pouca coisa.

O erotismo sempre foi inspirador das artes plásticas e da literatura. Talvez na indústria do cinema, dominada pelos Estados Unidos, cuja sociedade tem um componente de puritanismo muito forte, haja pouca abordagem de sexualidade nos filmes. É um paradoxo, já que existe uma indústria pornô tão potente, convivendo lado a lado.

Alguns cineastas, uns mais outros menos famosos, já fizeram tentativas de filmes pornôs como obras de arte. Esse parece ser agora o objetivo do dinamarquês. Será que ele consegue? Mais do que uma proposta séria, o novo Dogma parece mais uma jogada de marketing.

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