4.10.04

Vingança americana
Vi Dogville em DVD. Cento e setenta minutos de filme, quase peça teatral, sem cenários, só com marcações no chão e a eventual entrada de veículos no, digamos, palco. O filme passou no cinema e fui adiando, adiando, sem coragem de enfrentar a longa duração. Em casa, assisti em duas partes. Não consegui ver todo de uma vez.

O diretor Lars von Trier consegue criar um clima bem parecido com Dançando no Escuro, com Bjork. As personagens de Nicole Kidman (Dogville) e Bjork (Dançando no Escuro), que agora me escapam os nomes, são subjulgadas, quase escravizadas, por outras pessoas e não conseguem reagir à violência. O mérito do diretor, nos dois filmes, é criar o clima angustiante, quase insuportável.

O ritmo vagaroso de Dogville possibilita acompanhar as reações e as mudanças de comportamento, em uma velocidade que se aproxima da que acontece na vida real.

Se a proposta era uma crítica incisiva à sociedade americana, como foi divulgado, o filme não atingiu seu objetivo. A escravização de pessoas ou povos fragilizados, não é mérito da sociedade americana. Infelizmente, faz parte da natureza humana, das nações européias colonizadoras às tribos africanas. Atualmente englobando as nações credoras que emprestam dinheiro e cobram juros altíssimos aos países pobres por intermédio do FMI.

A reviravolta em Dogville, no entanto, reitera o comportamento de vingança que faz parte da característica bélica da sociedade americana. Nisso, o cinema de Hollywood está cheio de exemplos, dos filmes policiais aos de guerra, passando por Charles Bronson, Stallone e Schwarzenegger.

Novidade teria sido se fosse incorporada à narrativa uma palavrinha que parece não fazer parte do vocabulário americano: perdão. Mas aí estaria configurada a irrealidade. Talvez a lição do filme seja a de que eles não perdoam nem a si mesmos.

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